quarta-feira, 26 de novembro de 2008



O Monstro


Que voz o silêncio em eco levanta
Tremenda feroz gelada sombria
Que nos fecha a mão
nos cala a garganta
E torna a manhã gélida,
mais fria
Que vozes de túmulo
Há tanto caladas
Levantam ao cúmulo
O pavor dos dias
E tornam opacas
As brandas paisagens
E tornam as noites tredas
E vazias
Quem anda por dentro
Dos sonhos que temos
Semeando algemas
Que são dessa cor
Em que se amalgamam
Os prantos as penas
Nesse sofrimento
cada vez maior
Em nome de quem
Que monstro severo
Traz em seu sudário
De horrendo luzir
As asas cortadas
Do loiro canário
Que livre pelos ares
Ouvíamos rir
Quem é que nos chega
do mundo dos mortos
com baba de réptil
colando-se em nós
e faz sementeira
no solo que fértil
construímos limpo
sem peias nem pós
na ronda dos dias o povo
cantava
cantando bailava
bailando não via
que o monstro rasteiro
pelos ares espalhava
essa pestilência
de que ele vivia
enquanto a manhã
não amadurar
a luz que se infiltra
nos olhos ao fundo
o monstro escondido
ainda tentará
cobrir de seu bafo
o tempo perdido
e calar o Mundo.




Marília Gonçalves

3 comentários:

Ana Daya disse...

Ha uns bons tempos atras, usavamos a palavra “monstro” para situacoes extremas de crueldade humana, ou para coisas feias.

Porque sera que hoje usamos esta mesma palavra com tanta frequencia?

“Quem anda por dentro dos sonhos que temos semeando algemas??”

AnaRute

andrade da silva disse...

Ana
Não me vou meter no poema, não sou seu autor.Sou leitor atento e com muita honra e prazer. Falo agora para saudar a tua palavra e agradecer à Marília o poema.
Obrigado a ambas.
ailva

José-Augusto de Carvalho disse...

Em cada cabo há sempre um velho Adamastor,
gritando que o caminho ousado é interdito!
Saibamos todos ir avante, além da dor,
e às Índias aportar, buscando um novo mito...

Grande abraço.
J-A