terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Consciencialização




Consciencialização

Agostinho Neto

Medo no ar!

Em cada esquina
sentinelas vigilantes incendeiam olhares
em cada casa
se substituem apressadamente os fechos velhos
das portas
e em cada consciência
fervilha o temor de se ouvir a si mesma

A historia está a ser contada
de novo

Medo no ar!

Acontece que eu
homem humilde
ainda mais humilde na pele negra
me regresso África
para mim
com os olhos secos.

3 comentários:

andrade da silva disse...

cara Marilia

Infelizmente por vezes a alma do poeta se desencontra com a desalma do político, o que parece que foi o triste e dramático caso.

Quem consente na execução dos opositores políticos com o rotúlo de que seriam rapazolas, como ao que consta aconteceu com Nito Alves não merece perdão.

E isto confirmou a mulher de Agostino Nerto, embora diga que ao palácio presidencial só chegava o silêncio, mas os presidentes têm de romper o slêncio.

Um dia também gostei bastante de Agostino Neto,por isso a minha desilusão foi maior e a condenação mais total se é que o pode ser.

abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

Estranhos Poetas
parece have epidemia de amnésia politica entre poetas de esquerda?
Medo? de quê?
Toca a agir, senão quanto se escreva fica desmentido, como dom que se tenha enganado de destinatàrio
Mailia Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Negro irmão

Um olhar firme e directo
Para dizer o teu nome
O respeito só completo
Ao dizer a tua fome.
Se falar da tua história
Dói a quem lhe sente a culpa
Se em mar de tua memória
Tua inocência resulta;
Se te escrevem e descrevem
Sem chegar ao que tu és
É que ficaram aquém
Da essência das marés.
Lavraste a história do mar
Com o teu nome cativo,
Mas trazes no teu olhar
O mundo em que sobrevivo.
Tu sim, conheces o preço
Do amor e da família
Perdidos desde o começo
Dos que eram tua matilha.
Tu que és ainda o olhar
Da frescura juvenil
Que semeaste no mar
O teu coração viril
Tu meu irmão, que és o filho
Da mãe de todas as mães
Trazes nos olhos o brilho
Dessa ternura que tens.
Tu que da tua pobreza
Fazes riqueza de tantos
E abres a tua mesa
Ao causador de teu espanto
Tu que sabes repartir
Dando do pouco que tens
E que choras a sorrir
Porque sabes donde vens;
Eu quero ser tua irmã
Tua mulher, tua amiga
Pra levantar amanhã
Ao que hoje o pensar me obriga.
Mas eu nem sei se o mereço...
Apesar de querer o esforço
Pró mundo futuro e moço.
É a ti negro, que falo
É a ti que me dirijo
Pois cada verso que calo
No porão do esconderijo
Não vê nunca a luz do dia
Não chega à tua verdade
Nem à voz que principia
Numa nova sociedade.
Tu tens o valor da terra
Trazes o respeito em ti
Numa alegria sincera
Que extravasa quando ri.
Como é pequeno o poema
Para dizer coração
Pra cantar pele morena
Do negro que é meu irmão.

Marília Gonçalves