domingo, 11 de fevereiro de 2018

DIÁLOGOS DE ABRIL,VENCENDO AS SOMBRAS II

                             Agostinho Costa

Agostinho Costa,  jurista, antigo oficial miliciano, no 25 de Abril 74, na Escola Prática de Artilharia(EPA)/Vendas Novas(a), disse:

Esta coisa de burgueses compinchas no ataque à manjedoura pública começou com o documento dos nove. Aí deu-se a inversão do rumo da revolução. Quem saíra para o terreno percebeu que se caminhava para um lodaçal sem destino à vista. De popular a revolução passou a burguesa, e era uma questão de tempo a perseguição dos revolucionários. Houve quem mandasse a família para a fronteira. Por tudo e por nada os quartéis entravam em prevenção à espera da guerra civil, que não veio. O que veio foi a montagem do 25 de Novembro. E para a encenação ser mais convincente meteram uma bandeira de vitória nas mãos de Eanes,  sempre venerador, atento e obrigado! 

Os oficiais que fizeram a revolução no terreno, abandonaram a luta militar. Essa luta era feita pelos soldados. Eles, com meia dúzia de subalternos e capitães a reboque, é que tentaram continuar a luta nos quartéis. Eles é que faziam as reuniões para sanear os oficiais afectos ao regime anterior - que eram mudados de quartel até melhores dias -, eles é que se reuniam e queriam fazer coisas - estava eu de oficial de dia e vieram dar-me conhecimento que tinham cinco pelotões metidos em Berliers para ir cercar o quartel general de Évora, armados com simples G3 e sem oficiais ou sargentos a enquadrá-los. Chamei-lhes à atenção do que lhes ia acontecer mal saíssem do quartel e desmobilizaram.

 E os oficiais que referistes? O Amílcar andava a ler Lenine e responder às chamadas dos  sindicatos para garantir a ocupação das herdades que eles tinham determinado. Os Sales Grade agarrava-se à esperança de que os "nove" salvassem a coisa, ao Ferreira de Sousa tinham-no posto a comandar a bateria de referenciação que estava desarmada há "n" tempo, e só servia para enquadrar os "doutores" do quartel: impedidos, telegrafistas, condutores, escriturários, etc. e também ele estava desmotivado. 

Entretanto, as campanhas de alfabetização tinham terminado - o que não impedia que aos fins de semana não se  fosse aqui e ali para uns copos, uns petiscos e uns bitaites pretensamente de esclarecimento. 

Restou-nos a liberdade, os sindicatos, os variados grupos de pressão, mas quem venceu foi «Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira, a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. 

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.» de que falava Guerra Junqueiro. Sem serviço militar obrigatório, com os mercenários que agora fazem de soldados, não terias agora quem te seguisse até ao Cristo-Rei, nem que te devolvessem os teus 28 anos. Por mim desisto; como dizia o D. Sebastião de Fernando Pessoa, «Minha loucura, outros que me a tomem, com o que nela ia.» 

Abraço, meu General

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                  Idos de Abril Cruzamento de Pegões -Vendas Novas



A minha Resposta: 

Caro camarada Agostinho Costa Bem-hajas!

Concordo com o teu epitáfio para a Revolução, mas os meus tempos da Escola Pratica de Artilharia (tinha 25/26 anos e não os tais 28 que referes, aos 28 prenderam-me na Trafaria) são outros e gloriosos, e, embora, considere louco, absolutamente louco e desvalido falar para tanto chiqueiro, cheio de vendidos e cobardes, das verdades de Abril ainda não me suicidei ,logo...
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Caro Camarada até ao dia 7 Julho 75 nunca a Escola Prática de Artilharia foi, ou comigo o MFA , atrás de qualquer grupo de soldados, sargentos ou oficiais do SMO ou do QP.

No MFA cumpria a parte militar sujeita ao comandante e a do MFA, propriamente dito, sujeito à comissão coordenadoras do MFA, via Major Sousa e Castro e do general Fabião, via Grupo Dinamização do Exército (GDE), e depois no terreno era a manobra, onde, interagiam os meus conhecimentos e auto-consciência, perante os problemas AGUDOS E ESTRUTURAIS que afectavam o povo alentejano localmente.

Só intervim localmente,era tenente tinha 26 anos,logo, era um operacional, e se me permitem um sonhador, como tantos outros soldados,sargentos e oficiais que me acompanharam: furriel Pássaro, Sequeira, Nogueira etc. Alferes Guerra, Alferes Cravo, Alferes Sousa, 1º sargento Guerra (Alentejano da antiga Aldeia da Luz), Capitão Castro Pires, ou em termos de antiguidade militar acompanhei Major Comando Gil- um grande homem, militar e concidadão etc etc.

Fui eleito delegado do MFA por todos os oficiais e tinha a confiança manifesta e maioritária dos militares do SMO, o que, Pezarat Correia conhecia, e me quis expulsar de Évora, dizendo-me que havia duas regiões militares a dele e a minha - a dos soldados e graduados do SMO - uma realidade de facto. ( foto do meu compromisso)


Até ao dia 7 de Julho 1975 não houve SUV activos na EPA. Até ao dia 7 Julho 75 nunca ninguém referenciou: quer a minha equipa do MFA, quer a secção de informações - e eu que sempre andei misturado com soldados, cabos milicianos, e oficiais milicianos, também não, qualquer estrutura paralela ao MFA eleito, que nunca foi a reboque de NINGUÉM.

Comigo isso seria impossível, porque tinha como dado total que a legitimidade Revolucionária estava a nível do Quartel TOTALMENTE NO MFA ,onde, todos Oficiais Sargentos e Soldados do SMO e Quadro Permanente teriam lugar.

Por vezes,antes e depois do 25 de Abril , alguns dos que comandei cumpriram ordens a CHORAREM e a dizerem que só as cumpriam por ser eu a dá- las, como o cabo miliciano L. de Castelo Branco, monitor num dos meus pelotões, Furriel S. no GDU, por causa das pressões do Amilcar Rodrigues. Nunca nenhum soldado oficial ou sargento miliciano ou do QP teve qualquer ascendente sobre mim para além da formal determinada pelo posto militar, à excepção do tenente-.coronel Nascimento um militar enorme que tivemos de deter no 25 de Abril , do coronel Torres de Magalhães pela seu porte de agricultor, um típico pai de família muito preocupado com a alimentação dos tropas,via agro-pecuária,era uma sua grande paixão antes do 25 de Abril, depois dei-lhe algumas dores de cabeça ao cumprir ordens secretas de Sousa e Castro ( meu coronel e depois general, já no cosmos, em sentido e continência!,- "gramei-o" muito, como aos demais que refiro) o general Pacheco Rodrigues pelo seu Humanismo, o general Fabião por tudo e o general Vasco Gonçalves pelo seu sonho e generosidade; com muitos outros partilho os ideias militares e patrióticos em igualdade de níveis e circunstâncias.Desde há alguns anos com um especial afecto, atenção e consideração pelo meu Camarada Comandante Serafim Pinheiro - é sábio e corajoso,combinação excepcional - , e quanto aos soldados,sargentos e oficiais do SMO, RC ou QP na instrução ou nas guerras andei sempre, ombro com ombro, com eles, e nunca me viram mais borrado que o mais destemido e corajoso deles... logo..

Quanto ao Sales Grade é um grande camarada, mas um pacifista global. O Ferreira de Sousa foi muito importante no processo do 25 de Abril .Do Amílcar Rodrigues de quem discordava profundamente, por ora, não faço nenhum comentário,por ser despropositado neste contexto.

Tenho pelos soldados,como pelo Povo Alentejano, com quem aprendi muito,uma elevada consideração e amizade, mas NUNCA DEFENDI QUE OS SOLDADOS, OU OS TRABALHADORES TIVESSEM, OU TÊM SEMPRE RAZÃO,esta, resulta de muitas razões e negociações, com autoridade e verdade. Mantenho por completo o que pensava quanto a LIBERDADE; DIGNIDADE; DESENVOLVIMENTO E JUSTIÇA, disse em Montemor que, da minha parte, não lutava contra Mulheres ou Homens,mas contra estruturas económicas e politicas de poder injustas, e que a minha adesão era dentro do projecto aliança POVO-MFA e não A NENHUM PARTIDO, embora, até Agosto 75 no MFA Alentejo convergiam o apoio implícito do PCP e do PS, facto que não teve qualquer influência no desempenho do delegado do MFA que fui, o que, Álvaro Cunhal, numa entrevista em 75 explica de um modo inteligente e que ao nível do MFA de base foi verdade,ou seja, dizia:- estando o PCP de acordo com o que o MFA ia realizando não procurou influenciar ou determinar o seu comportamento e actos... apoiava o que considerava justo...e, assim, foi no Alentejo.

Comigo,como delegado do MFA, nunca nenhum dirigente do PCP ou PS, directa ou por via de outrem, interagiu. à excepção de Dinis Miranda no Verão quente para me comunicar o nível de ansiedade/receio dos militantes comunistas, e solicitar um aumento de auto-.protecção ilegítimo e ilegal, o que, recusei, garantindo,e, nesta matéria,em nome do comandante da Região,General Pezarat Correia, toda a protecção militar a todos os cidadãos. Compromisso que honramos até ao 25 de Novembro 75 SEMPRE, quanto aos aspectos da violência física, na defesa dos direitos houve falhas que já referia em 1975.

Caro Camarada Bem-Hajas pelo teu depoimento- a história assim se vai fazendo.No dia 25 de Novembro 75 fiquei sozinho com a minha secção no Quartel general de Évora, a 27 Novembro fui corrido a toque de caixa pelo sr.General Pezarat -tive o tempo de agarrar as minhas coisas que estivessem à mão e vir para Lisboa de boleia numa viatura que transportava o tenente -coronel Ramos,madeirense e amigo do meu pai, então, já falecido, e meu conhecido, porém já me detestava, porque Eanes e Pezarat Correia e outros bons camaradas deram aval à acusação que eu andava a reboque não dos soldados,mas do PCP.- coisa bem pior, porque, como diz o sr. General Eanes, foi a "perda da relação de lealdade com as Forças Armadas"- um crime quiçá de traição, punido com fuzilamento na guerra... logo ??????

general eu!!!!!... pudera!!!!!!!!! but... se houvera Revolução estaria nas linhas de combate,o posto ......

Pezarat Correia perguntou-me se queria as estrelas dele, disse-lhe que os meus galões de capitão eram suficientes, não tivessem matado a Revolução, ou se tonado tanto revolucionário em burocratas, pragmáticos e coisas e tais, mas, sobretudo, falsários e covardes.....

Um dia ???????? a sabedoria, a coragem, a dignidade ,o humanismo, a justiça esclarecida terão de regressar a Portugal e, daqui, se em mais nenhum outro lugar houver HUMANIDADE, dimanarem para o mundo.

Podemos fazer melhor - o 25 de Abril teorizado, feito doutrina, poderia dar um contributo, se universalizado, como uma nova práxis de fazer a Revolução, para terminar com a maioria das ditaduras no Mundo, deixando um pouco de fora deste radar de Abril as ditaduras teológicas.

Aquele abraço camarada

andrade da silva

PS:
(a) A EPA foi uma das mais vultosas unidades militares em todo o processo do 25 de Abril. O seu comandante foi detidos às 22h55 do dia 24 de Abril por uma equipa armada de espingardas G3, constituída pelos tenentes Henrique Pedro e Sales Grade,sendo eu o Chefe da equipa em que tive tomar uma decisão crucial, porque à hora exacta faltava um camarada muito operacional, e tive de o substituir por um camarada, o Sales Grade, um pacifista global. Conseguimos. Saímos ás 3 h 00´00´´ para o Pragal ,onde chegamos às 7h, com 6 obuses/canhões) e uma companhia de 150 militares armados com bala real até aos dentes, granadas e lança granadas - uma guerra a sério que não descurei o armamento, como um dos planeadores, No Cristo Rei éramos/fomos determinantes como força dissuasora para proteger a força de Salgueiro Maia na Praça do Povo (antes do comercio) de qualquer ataque de qualquer navio,como veio a acontecer com o caso da Fragata Gago Coutinho problema grave resolvido internamente pela acção do seu imediato Caldeira Santos.(Pergunto- me sempre, porque só gostam os historiadores de investigarem os passados, será para parecerem eruditos,mas não terão o estrito dever de compilarem estes elementos dispersos e quiçá a perderem-se, e, naturalmente, necessários a uma história global destes factos? but... coisas...)


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