sexta-feira, 15 de julho de 2022

05- POEMÁRIO * As estrelas apagadas

 


NA ESTRADA DE DAMASCO
*
As estrelas apagadas






Tantos anos depois, me interrogo:
Que desígnio fatal nos maldisse?
Nem de Deus, o supremo a quem rogo,
um sinal que eu ouvisse ou que eu visse.
 

Primaveras, estios, outonos
ou invernos sucedem-se iguais:
em catarses, morrendo abandonos;
em ousios, inépcias demais.


De naufrágios e de perdições
falam fartas as folhas volantes.
Vagalumes sonhando-se estrelas,
no silêncio sem luz nem pregões,
alumiam uns pés claudicantes
que se arrastam tentando acendê-las.



José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 14 de Julho de 2022.

terça-feira, 12 de julho de 2022

05 - POEMÁRIO * In extremis

 


NA ESTRADA DE DAMASCO

*
In extremis





De sobressalto em sobressalto, aqui cheguei.
Foi quando, morto de exaustão, adormeci.
Depois, aos poucos, entrevi a Tua Lei
e a graça dada, confortado, agradeci.


Nos quatro rios do teu Éden mergulhei.
Nas mansas águas cristalinas, percebi
quantas vorazes tentações em mim lavei
para sentir-me, aqui, mais próximo de Ti!...


Tentei usar o livre arbítrio que me deste,
sem infringir a rectidão da Tua Lei,
na comunhão do verbo e sacros mandamentos.


Sem culpa nem pecado, a lama que em mim reste
lavada seja no mar morto onde salguei
o fel que insiste em perdurar no uivar dos ventos...



José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 11 de Julho de 2022.