domingo, 3 de agosto de 2008

05 - POEMÁRIO * A barca da esperança





Cidadão vulgar deste país,

tenho sonhos de Abril e pesadelos de Novembro.

Da noite sem estrelas nem luar,
guardo a tristeza da escuridão
e os sobressaltos do medo
de ser aqui a renúncia de mim.

Por caminhos de malandar,
gastei metade da vida...
De outros caminhos eu soube,
mas nunca os quis para mim.

Panteísta por desígnio da esperança,
sempre entrevi as flores silvestres
atapetando as estradas da vida...

Na madrugada de um Abril já distante,
soube da cidade a despertar
e do milagre das flores encravando os canos das espingardas
com aromas de fraternidade.
Maldesperto, vi o clarear do dia
e acreditei...
Acreditei na primavera.

E, na barca da esperança, lá fui, sobre as ondas da liberdade!
E quando ventava rijo, a barca estremecia, mas ia...
Mas, uma noite, os vigias de quarto não souberam ler o mar...
E o homem do leme, porque não quis ser mais do que ele,
temeu o mar e rendeu-se aos escolhos de Novembro.

Na noite do pesadelo, quando o vento sopra rijo,
ainda se ouvem os gritos dos náufragos da barca da esperança...




José-Augusto de Carvalho
3 de Agosto de 2008.
Viana * Évora * Portugal

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