segunda-feira, 30 de abril de 2018

MEMÓRIAS DE UM MILITAR DE ABRIL(2): O 25 ABRIL 74 -A REVOLUÇÃO EM MARCHA-.HERÓICA!





Uma nota no último texto: 

 O Furriel Pássaro veio na Coluna de Vendas Novas, cumpriu a sua missão,  e depois no regresso, também, por sua vontade integrou-se na minha equipa do MFA e,  nesta,  de facto só podiam estar sob o meu comando, como sempre, os melhores entre os melhores, em competência, honestidade, Espírito de Sacrifício, sublimação do seu eu e ego, em prol da causa Comum- Portugal . e, também, aqui o  meu camarada e amigo Pássaro cumpriu, e continua a ser um indómito combatente pelas causas sagradas e imortais do nosso sonho de Abril: LIBERDADE, DIGNIDADE .DESENVOLVIMENTO. Um depoimento que DESMENTE as teorias de Pezarat Correia quanto à Revolução agrária, e, também, quanto  á vergonhosa e FALSA (delirante) versão dos acontecimentos  do 7  Março em Setúbal,  da Policia Judiciária Militar,  publicada  na obra  .Setúbal Cidade Vermelha,.

 AOS 30 DIAS DE ABRIL 2018
bem-hajas. Aquele abraço
andrade da silva


 MEMÓRIAS

Após o regresso a quartéis, iniciou-se o processo de consolidação da democracia. No âmbito estritamente militar foi criado o Gabinete de Dinamização da Unidade, (G.D.U.) que visava promover o debate e esclarecimento dos militares da unidade e proporcionar-lhes também momentos de lazer como a projecção de filmes até então proibidos pelo regime fascista, bem como iniciativas de outro tipo. Reiniciámos a publicação do jornal da unidade “A Sulipanta”, que incluía artigos de opinião e informação diversa. A unidade deu ainda apoio e incentivou diversas iniciativas de cariz social, pela habitação, saúde, educação, pelo saneamento básico e pelo emprego. 


                         O REGRESSO
Com o decorrer do processo democrático, destaco o episódio conhecido da “Maioria Silenciosa” em 28 de Setembro de 1974, promovido pelo General Spínola e seus apoiantes e que visava destruir algumas conquistas já alcançadas e destituir o General Vasco Gonçalves de Primeiro-Ministro. Na sequência desta situação, a E.P.A. entrou de prevenção rigorosa e do lado certo da democracia.

A vida decorria dentro da instituição militar e a dado momento a Direcção de Instrução da E.P.A. determinou que o Tenente Andrade da Silva fosse o Comandante do pelotão de instrução do Curso de Oficiais Milicianos (C.O.M.), cabendo a mim próprio a honra de ser adjunto de um oficial altamente prestigiado entre os militares da E.P.A..

Em 7 de Março de 1975 a E.P.A. foi chamada a Setúbal para uma intervenção. A força comandada pelo Tenente Andrade da Silva e de que fazia parte também o Alferes Pauleta, entre outros militares, pôs fim a um conflito entre a população civil e a P.S.P. de Setúbal, que já tinha instalado uma metralhadora e se preparava para actuar contra os populares. O conflito teve origem numa manifestação de desagrado da população contra um comício do então P.P.D..(a)


                       7  MARÇO 75 -SETÚBAL

Spínola voltou à carga contra democracia consubstanciado no ataque ao Ralis, em 11 de Março de 1975, havendo ainda a expectativa de que pudesse fazer o mesmo à E.P.A. por ser uma unidade altamente empenhada na consolidação do processo democrático. Na sequência desta acção sobre o Ralis, o comandante da E.P.A., coronel Sousa Teles, saiu à frente de uma coluna militar que se foi posicionar nas proximidades de Bombel, pois temia-se que a unidade viesse a sofrer o mesmo que o Ralis.

O ambiente existente no seio da equipa do G.D.U. era muito saudável e de grande empenhamento na consolidação da democracia e entre todos reinava um espírito de grupo muito forte, destacando-se o papel do Tenente Andrade da Silva. Por vezes, interrogávamo-nos qual seria o partido que o Tenente apoiaria e quando lho perguntávamos respondia que o seu partido era o P.P.P., Partido do Povo de Portugal.

Após o 11 de Março de 1975 deu-se início à Reforma Agrária, promovida pelos sindicatos e pelas forças democráticas e apoiada pelo M.F.A.. As lutas dos trabalhadores rurais por um posto de trabalho, por salários justos, foi inteiramente apoiada pelos militares da E.P.A., que procuraram entendimentos entre os agrários e os trabalhadores, nem sempre com os resultados desejados devido às posições altamente conservadoras e reaccionárias dos agrários. Após a ocupação de algumas herdades improdutivas e da formação de cooperativas, a actuação conjunta dos trabalhadores rurais, dos seus sindicatos representativos e do I.R.A. (Instituto de Reorganização Agrária), e ainda com o apoio da E.P.A., por forma a garantir a segurança de todos, sem excepção, foi possível levar por diante a consolidação daquelas organizações de trabalhadores, graças ao grande empenho destes e que a famosa Lei Barreto acabou mais tarde por destruir.

 COUÇO AGOSTO 75 . A LEI DA REFORMA AGRÁRIA SAIU BASTANTE RETARDADA.

Em 13 de Março de 1975 uma força de intervenção da E.P.A. foi enviada a Montemor-o-Novo,por ordem do Copcon, de que o agrário Vacas Nunes estaria na  posse de um arsenal de armas para fazer frente aos trabalhadores rurais que rodeavam a sua casa numa manifestação de desagrado por ter tido alegada participação na morte de um trabalhador rural nos anos 50 . A força comandada pelo Tenente Andrade da Silva intimou o agrário a abrir a porta para se verificar da veracidade da informação. A custo, as forças da E.P.A. acederam ao interior da habitação e quando se procurava esclarecer a situação, o agrário Vacas Nunes colocou à sua frente, numa atitude ignóbil, uma sua neta de tenra idade como pretenso escudo de protecção pela acção dos militares. Vacas Nunes, grande agrário de Montemor-o-Novo, que proporcionava grandes caçadas nas suas herdades aos dignitários do fascismo (Américo Tomás e muitos outros), facto reconhecido por uma sua filha no momento e que pude testemunhar, foi levado para Vendas Novas, presente ao Oficial de Dia à unidade, Capitão Duarte Mendes e ficou às ordens do Copcon, que mais tarde o mandou regressar a casa.

Os militares da E.P.A. e, particularmente, os que faziam parte do G.D.U. (Capitão Andrade da Silva, Capitão Amílcar Rodrigues, Furriel Sequeira, Furriel Pássaro e outros) procuravam promover sessões de esclarecimento na área de actuação da Unidade (Vendas Novas, Lavre, Montemor-o-Novo, Couço, Casebres, Escoural, Pias, etc), também com a participação de Sargentos do Quadro Permanente, com o objectivo de dar a conhecer o projecto de sociedade que o M.F.A. pretendia implementar.


.
Com o objectivo de conhecer e procurar resolver os problemas dos trabalhadores rurais, foram realizadas múltiplas iniciativas conjuntas de militares da E.P.A. e delegados sindicais por forma a encontrar soluções para os trabalhadores desempregados, visitando campos e herdades e dialogando com os agrários.

Com o decorrer do chamado PREC foi designado comandante da Região Militar Sul (R.M.S.) sediada em Évora, o brigadeiro Pezarat Correia, membro do Grupo dos Nove e do Conselho da Revolução. No G.D.U. sentíamos que essa nomeação procurava conter (e até fazer andar para trás) todo o apoio que a E.P.A. manifestava aos trabalhadores e ao povo em geral e que tal nomeação era o corolário das divergências, que se vinham acentuando, entre o Grupo dos Nove e os militares revolucionários. Como consequência deste crescendo de divergências, em especial com o Capitão Andrade da Silva e o Furriel Sequeira, o comandante da R.M.S. comunicou que estes destacados militares seriam transferidos para o Quartel-General da Região Militar Sul, mantendo-se como Delegados do M.F.A. das respectivas classes. Com esta transferência foram designados Delegados do M.F.A. na E.P.A. o Capitão Amílcar Rodrigues pelos oficiais e eu próprio pelos Sargentos.

As divergências, cada vez mais acentuadas, entre os militares do chamado Grupo dos Nove (e os seus apêndices reaccionários) e os militares revolucionários, eram sempre confirmadas nas reuniões em que pude participar quer no âmbito da Assembleia do Exército quer no âmbito da Assembleia do M.F.A..Em 5 de Setembro de 1975, no chamado pronunciamento de Tancos, essas divergências atingiram proporções tais que ao Primeiro-Ministro em exercício, General Vasco Gonçalves, foi retirada a confiança política depois de este ter recusado a nomeação para o cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas que tinha sido apresentada pelo General Costa Gomes, Presidente da República. A Assembleia do M.F.A. decidiu ainda afastar do Conselho da Revolução o Brigadeiro Corvacho, o Capitão Ferreira de Sousa, o 1º. Tenente Miguel Judas, entre outros apoiantes do General Vasco Gonçalves, ficando os elementos do Grupo dos Nove em maioria .

Passei à disponibilidade em Outubro de 1975, ainda a tempo de, na vida civil, poder assistir ao golpe de direita promovido pelo Tenente-Coronel Eanes, Coronel Jaime Neves e muitos outros e também ao desterro dos militares revolucionários que tinham “cometido o erro” de estarem ao lado do povo por melhores condições de vida, pela dignidade e pela democracia.


Vitor Pássaro
Furriel-miliciano em Abril de 1974









domingo, 29 de abril de 2018

05 - POEMÁRIO * O trágico delírio


(TEMPO DE SORTILÉGIO) 


O trágico delírio 


Pintura que descreve o momento em que 
a cavalaria portuguesa é cercada e envolvida 
pelas forças muçulmanas. 





Antiga, jaz a terra despojada. 

O Sol em chamas --- arde o céu azul! 

Dói em minh’alma ainda angustiada 

o fascínio do Sul. 



Que ceptros, que linhagens, que deidades 

caminhos de desterro determinam? 

Que feiras de opulências e vaidades 

amanhãs exterminam? 



Calaste a voz do Velho do Restelo 

que no poema grita ainda viva. 

Tragou-te o caos --- ergueste o pesadelo 

duma pátria cativa. 



No desamparo, a noite triste vela. 

Na imensidão do céu, lucilam círios. 

De Leste, o vento as nuvens acastela 

predições e martírios. 



Oh ânsia tresloucada de poder! 

Oh trágico delírio a sucumbir 

no palco inconquistado do não-ser, 

em Alcácer-Quibir? 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 28 de Abril de 1018.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

EIA O 25 DE ABRIL VIVIDO EM ALMA E CORAÇÃO-


 VIEIRA DO MINHO -PORTUGAL-MUNDO

UM GRANDE DIA INTEIRO 25 DE ABRIL 2018 EM VIEIRA DO MINHO HONRA E GLÓRIA AOS PORTUGUESES.
 Um abraço a todo o povo de Portugal, à Diáspora e a todos os Povos de Mundo que lutam pela paz, a justiça e o desenvolvimento.

Todos os militares de Abril, mesmo os que depois... e todo o POVO de Portugal, das colónias e do Mundo ESTIVERAM PRESENTES NA MINHA INTERVENÇÃO ( registada aos 50 minutos. ) estão sempre presentes a todas as horas, mas evoco-os especialmente nesta data. evoco-os publicamente.

Um Bem-Haja a Vieira do Minho aos jovens da Rádio.Alto Ave, ao Sr. Presidente da Câmara. antigo camarada dos comandos, à vice-presidente Professora Elsa, às vereadoras Ana Ribeiro e Aurora Marques, ao comandante dos Bombeiros, aos professores e alunos da Escola os Super... que me elegeram como um super.-MY GOD!- ao grupo coral sénior, em que uma cantadora me redimiu da minha nota de mau cantador com falta de castigo na aula de 5ªano, aos meus camaradas coronéis presentes , que há muito já não  os via, e foi possível falar daquelas conversas tradicionais do inter-armas - Bem -Hajam. E muito especialmente ao meu camarada Tenente-coronel Pinto da Costa que me desassossegou para este VIVER ABRIL HOJE..

OS PRESENTES SENTIRAM O PALPITAR DE ABRIL E EU CONVOSCO:

PS: o General Vassalo e Silva é um nosso grão capitão na Índia...

https://www.facebook.com/RadioAltoAve/videos/1922226027840185/UzpfSTEwMDAwMDA3MzYxMDgxNDoxOTYzMDU3MzM3MDQwMDM0/



-1:33:46

MEMÓRIAS DE UM MILITAR DE ABRIL(1): O 25 ABRIL 74




 A vida continuou e os contactos entre gente que se considerava antifascista e pelo fim da guerra colonial prosseguiu, ainda que com as cautelas que a situação impunha, pois o regime fascista existia, a repressão mantinha-se e a Pide continuava a existir.
 Até que chegou aquela noite mágica de 24 de Abril de 1974.

                              “ESTA É A MADRUGADA QUE EU ESPERAVA
                                O DIA INICIAL INTEIRO E LIMPO
                                ONDE EMERGIMOS DA NOITE E DO SILÊNCIO
                                E LIVRES HABITAMOS A SUBSTÂNCIA DO TEMPO”
Sophia de Mello Breyner Andresen

 Desconhecendo por completo o que estava planeado, foram todos os Furriéis chamados para uma reunião urgente a realizar na messe de Sargentos e onde o Tenente Andrade da Silva expôs a situação.
 - “Está em curso uma acção militar com vista a derrubar o regime, pôr fim à guerra colonial e instaurar a democracia”, pelo que se impunha saber quem aderia à iniciativa.
Depois de alguns esclarecimentos adicionais e de sabermos que os comandantes da E.P.A. já tinham sido detidos, todos os Furriéis-Milicianos deram de imediato o seu apoio a tal desiderato. Dado mais este passo pela E.P.A. para dar cumprimento ao Plano de Operações definido e enquanto de procedia à formação das equipas que iriam partir para o Cristo-Rei, pude conversar com outros militares sobre a iniciativa em curso e a expectativa da deposição do regime, do fim da guerra colonial e da instauração da democracia. O desejo de participar activamente nas operações militares ficou, inicialmente, posto em causa, pois o Tenente Andrade da Silva já tinha formado o seu pelotão, tendo eu e o Furriel Sequeira ido manifestar-lhe o desejo de partilharmos com ele a honra da nossa participação na iniciativa, o que foi atendido. 
Pelas 03H00 da manhã de 25 de Abril de 1974 partiu a coluna militar com destino ao Cristo-Rei, no Pragal, Almada, onde chegámos pelas 07H00. O trajecto desde Vendas Novas ia sendo monitorizado pelo Tenente Nave e Aspirante Nuno, em viatura civil, de modo a tentar evitar qualquer obstáculo que a G.N.R. pudesse vir a criar, obstáculo que se verificou de forma inesperada quando a coluna militar ficou “partida” por ter encerrado uma passagem de nível, mas que, após a abertura da mesma, rapidamente foi retomada.
No acesso ao Pragal e Cristo-Rei os militares da E.P.A. tiveram logo os primeiros sinais de apoio do povo quando uma funcionária de padaria nos veio entregar, com um enorme sorriso de satisfação (talvez por já ter ouvido os comunicados do M.F.A. na rádio), um grande saco de plástico com mais de cem carcaças. Foi este o primeiro sinal de que o povo de Almada estava com os militares, estava com o 25 de Abril.


Instalada e em posição a bateria de obuses 8,8, com os obuses apontados para os objectivos previamente definidos na Ordem de Operações, coube à companhia de artilharia o cumprimento  das acções determinadas pelo Posto de Comando. A primeira acção consistiu em ir ao Forte da Trafaria libertar os militares detidos na sequência do 16 de Março. Apesar de ter havido algumas dificuldades criadas pelo comandante do Forte para a libertação dos detidos e tendo este verificado a colocação do obus 8,8 em tiro directo dirigido para os portões do forte, o objectivo foi alcançado, os militares detidos foram libertados e, depois de breve passagem pelo Cristo-Rei,foram apresentar-se no Posto de Comando do Movimento.Também na Trafaria e por iniciativa exclusiva dos oficiais da E.P.A., todos os militares do Posto da G.N.R. local foram detidos e levados para o Cristo-Rei, por forma a desmobilizar qualquer eventual iniciativa que pudessem tomar contra o 25 de Abril, sendo mais tarde mandados regressar ao seu Posto de trabalho.
Durante a nossa estadia no Cristo-Rei, retenho o episódio passado com os fuzileiros, (que na altura ainda mostravam grande ambiguidade em relação aos objectivos do Movimento), e que pretendiam atravessar a Ponte sobre o Tejo de modo a atingirem objectivos (para os militares da E.P.A.) pouco claros. Para o poderem fazer, teriam que efectuar o sinal combinado de agitação das boinas sem o qual nunca poderiam atravessar a ponte e gerar-se-ia um conflito bélico entre militares. Na eventualidade deste conflito ocorrer, os portageiros da Ponte seriam confrontados com uma situação delicada pois ficariam no meio de fogo cruzado, sendo responsável por esta situação o Capitão Mira Monteiro, comandante da companhia de artilharia, que impediu que chegasse a informação aos portageiros para abandonarem os seus postos de trabalho. 
Ultrapassada esta dificuldade, pela correcta actuação dos fuzileiros, houve novo episódio marcante na memória e que foi o relacionado com a fragata Gago Coutinho. Estacionada em frente ao Terreiro do Paço, a fragata estaria pronta para afrontar as forças do Capitão Salgueiro Maia. Se o fizesse, os três obuses 8,8 apontados para a mesma por ordem do Posto de Comando, tê-la-iam afundado. Felizmente e por acção do imediato, comandante Caldeira Santos, (conheci-o 40 anos mais tarde) e dos restantes militares do navio, tal acção foi abortada.
Na sequência das operações militares que o Movimento desenvolvia e à medida que algumas dificuldades surgiam, o Posto de Comando determinou-nos a tarefa da deslocação da companhia de artilharia até ao quartel da Polícia Militar, já que, até aquela altura, a atitude desta unidade não era totalmente clara em relação aos objectivos pretendidos. A companhia de artilharia sob o comando do Capitão Mira Monteiro, ficou estacionada no largo próximo, tendo à sua frente a Polícia Militar e no lado oposto o Regimento de Cavalaria 7, uma unidade leal ao regime fascista. Felizmente que não houve qualquer conflito entre militares, já que a decisão de estacionar entre duas unidades militares hostis não foi a decisão acertada do ponto de vista militar. Ultrapassada esta dificuldade, os nossos oficiais procederam a demoradas conversações com os militares da Policia Militar, tendo os restantes militares da E.P.A. esperado ao frio e á chuva pelo seu resultado e que, sendo positivo, terminou com os graduados de ambos os lados em aberto convívio.
Durante a permanência da E.P.A. no Cristo-Rei, os militares puderam sentir o carinho e apoio das gentes do concelho de Almada (bem como dos concelhos próximos), quando puseram de parte as rações de combate de que eram portadores e foram alimentados com comida quente confeccionada durante os três dias de estadia naquelas paragens.
Terminadas as operações militares e antes da partida para o regresso a Vendas Novas, toda a gente queria ter uma recordação daquele período inesquecível e pediam aos militares uma bala. Após autorização dos nossos comandantes, a cada bala era retirada a pólvora e desactivado o detonador, após o que era entregue a quem tinha solicitado tal lembrança, notando-se a presença de muitos jovens.
Dada ordem de regresso à unidade, todo o trajecto foi percorrido entre alas de gente que ladeava as estradas. A despedida do Pragal foi emocionante, com milhares de pessoas a vitoriarem o Movimento da Forças Armadas e os militares da E.P.A.. À entrada de Setúbal, um homem irradiando alegria pelo derrube do fascismo e vitoriando as Forças Armadas, foi ao bolso e retirou um punhado de moedas, que atirou para a viatura, dizendo:
                “Tomem lá, bebem qualquer coisa. Vivam as Forças Armadas!”
Atravessámos Setúbal no meio de um mar de gente, seguindo-se Alto da Guerra, Gâmbia, Águas de Moura, Pegões e Vendas Novas, sempre com muito povo a ladear a estrada. Somos vitoriados por onde passámos e quando estamos na casa dos vinte anos temos tendência para nos sentirmos heróis. Pela minha parte, para além da grande honra de ter participado no 25 de Abril, o meu grande orgulho foi este facto ter permitido o derrube do fascismo, um regime hediondo que levou à prisão, tortura e morte de muitos portugueses, entre os quais amigos e familiares meus.


Vitor Pássaro
Furriel-miliciano em Abril de 1974





segunda-feira, 23 de abril de 2018

MEMÓRIAS DE UM MILITAR DE ABRIL (I): OS ANTECEDENTES





MEMÓRIAS DE UM MILITAR DE ABRIL DE  VÍTOR PÁSSARO: OS ANTECEDENTES

Ao integrar um grupo de jovens que, no Barreiro, procuravam desenvolver um conjunto de actividades que permitissem uma consciencialização política mais desenvolvida, fui ganhando a noção de que da discussão e análise dos problemas que afectavam o país antes da queda da ditadura, e em particular os jovens, pontificava o fim do regime e da guerra colonial.


O fim da guerra colonial, só possível com a queda do regime fascista, era o que preocupava grandemente os jovens em idade de terem que entrar nas fileiras e, não raro, as preocupações centravam-se na formação militar após a recruta, que era tema de conversa quase obrigatória entre todosos que se encontravam nesta situação.

Para além disso, o ingresso no Serviço Militar Obrigatório (S.M.O.) e a eventual partida para a frente de guerra, era um obstáculo grande que se punha na vida profissional ou de estudante de quase todos durante um período de cerca de quatro anos.


Ingressei no S.M.O. em 17 de Julho de 1973 no Destacamento da Escola Prática de Cavalaria (E.P.C.), em Santarém, onde fiz a recruta como instruendo do Curso de Sargentos Milicianos (C.S.M.). As memórias desse tempo não são as mais agradáveis, desde logo pela mudança radical que a minha vida, tal como a de milhares de jovens, sofreu. As instalações onde os recrutas estavam alojados eram muito desagradáveis já que as camas estavam equipadas com “modernos” colchões e almofadas de palha, os “armários eram pequenos caixotes de madeira que se guardavam debaixo das camas e os beliches estavam permanentemente providos de percevejos que nem os insecticidas que levávamos de casa conseguiam exterminar por completo. No refeitório, as mesas eram de pedra e com um aspecto tenebroso mas, em contrapartida, a parada interior devia estar permanentemente limpa. Retenho o episódio de o Tenente Migueis me chamar para que retirasse um  “barrote” (feito pau de fósforo) do seu caminho para que pudesse passar.

 Quero referir que nunca percebi em que é que este tipo de atitude por parte de alguns oficiais possibilitaria uma melhor formação de âmbito militar. Também a qualidade da comida era sempre posta em causa e tivemos a oportunidade de fazer um levantamento de rancho no dia em que a dobrada cheirava a merda. Chamado o comandante do Grupo de Instrução, Capitão Tavares de Almeida, fomos todos ameaçados com fins-de-semana cortados, mas por fim acabou por reconhecer que tínhamos razão e mandou fazer uma refeição rápida para todos.
 
Terminada a recruta , seguiu-se a especialidade, transmitida, após grande expectativa, pelo comandante de pelotão e lá segui para Vendas Novas para a Escola Prática de Artilharia (E.P.A.), onde frequentei a especialidade de P.C.T.-Posto Central de Tiro. As instalações na unidade não eram comparáveis com as do Destacamento da E.P.C., pois as camas tinham colchões e almofadas de espuma, armários metálicos para cada um e as mesas do refeitório, sendo de tampo de pedra, tinham toalhas plásticas a cobri-las. Recordo-me de um camarada dizer que parecia que estávamos num hotel, por comparação com a unidade de Santarém. Naquela altura, o comandante do Grupo de Instrução era o major Oliveira, mais tarde comandante do Regimento de Comandos e um dos oficiais instrutores era o Tenente Andrade da Silva, que ministrava técnica de combate e minas e armadilhas, entre outras. Na época, a E.P.A. era conhecida como os Comandos do Sul, tal o rigor da instrução. Concluída a especialidade em Dezembro/73, fui colocado na E.P.A. e na Bateria do Capitão Duarte Mendes, transitando mais tarde para o Grupo de Instrução já sob o comando do tenente Jesus Silva, de quem fui seu adjunto.


Com o passar do tempo vamos estabelecendo contactos com outros militares e foi assim que em contacto com o Furriel Sequeira íamos falando sobre a situação política e as perspectivas que o futuro nos reservava, enquanto militares, em função da especialidade de cada um.



  É então que chegamos ao 16 de Março de 1974, conhecido como o golpe das Caldas, tendo a E.P.A. entrado de prevenção como consequência da iniciativa daqueles militares. Recordo-me que, pela entrada da noite, estava a conversar com o Furriel Sequeira na parada interior e em frente ao bar de sargentos, sobre o ocorrido, quando se aproxima de nós o Tenente Andrade da Silva. Perguntámos -lhe o que se estava a passar, pois falava-se na possibilidade de um golpe de extrema-direita dirigido pelo General Kaúlza de Arriaga, mas a abertura do Tenente não foi grande, nem dando qualquer informação sobre o que deu origem aquela iniciativa militar, (compreensível porque a Pide ainda existia) mas sempre comentou que “vinha observar o estado de espírito dos Furriéis”. 


Vitor Pássaro

Furriel-miliciano em Abril de 1974


                                  ABRIL VIVO!

 PS:  No dia 25 Abril 74 estarei na cerimónia da Câmara  de Vieira do Minho a Evocar o Glorioso e Vitorioso 25 de Abril 74.

No dia 21 estive nas Caldas com o patriotca  e empenhada Associação MVC : Movimento Viver o Concelho - um momento extraordinário de VIVER ABRIL HOJE. Um grande bem- Haja a todas e todos particularmente à Dra. Teresa Serranho ao meu antigo camarada de armas em Vendas Novas Serranho e ao Dr. Paulo Morais que mediou este encontro

No dia 20 estive na Escola Básica de À dos Loucos/ Alhandra com crianças com um comportamento de muito felizes e bastante conhecedoras de muitas realidades um Bem- haja ao Bento,homem incansável que promoveu este encontro, às professora da Escola,  ao meu camarada Borges que nos deliciou e encantou com a sua voz de tenor e à Mel Besuga pela sua companhia.

No dia 25 de Abril 2018, o Jornal de Noticias, através da Jornalista Helena publicará uma entrevista minha sobre o 25 de Abril. Seria bom ,não por mim, mas pelo facto que comprassem o jornal nesse dia e sempre 


                             








sexta-feira, 20 de abril de 2018

EVOCANDO ABRIL

NO REGRESSO DO PRAGAL PARA VENDAS NOVAS   - A FESTA (Esta foto é a prova acabada de quanto este dia era esperado e foi festejado pelos militares.)

·
REGRESSO A UM LUGAR HISTÓRICO PARA FALAR DE ABRIL - CALDAS DA RAINHA

Associação MVC - Movimento Viver o Concelho

dia 21,pelas 21h na junta de freguesia de Nª Srª do Pópulo -Caldas
Foto regresso a Vendas Novas: A festa dos militares em que o Serrenho e a sua mulher Teresa são promotores desta iniciativa, através da Associação MVC. 

 Bem-Hajam e ao Dr. Paulo Morais que mediou este encontro.

Com Abril,de Abril e por Abril> pela Democracia,, O Estado de Direito , a Liberdade e a Dignidade -SEMPRE!



ELES ESTIVERAM LÁ:  NO CRISTO REI À HORA CERTA:



                                              FURRIEL MILICIANO PÁSSARO


                                                    CABO MILICIANO (a)DO SMO  SERRENHO

OFICIAIS, SARGENTOS E SOLDADOS DO SMO,  DA EPA ,ESTIVERAM TODOS OU NO CRISTO- REI, OU EM VENDAS NOVAS A FAZEREM ABRIL  
VIVAM!.

(a) A história dos cabos milicianos é uma ACUSAÇÃO ao regime salazarista e marcelista de uma gravidade extrema, era um mero abuso inqualificável..Estes militares desempenhavam todas as funções de sargentos , tinham os deveres de sargentos, mas recebiam o pré de insulto das praças. bem como,   quanto aos restantes direitos. Uma descriminação negativa intolerável e inaceitável..
                             

quinta-feira, 19 de abril de 2018

O Algoritmo- Mestre



A nossa história é a procura de nós próprios e do deus que, eventualmente, nos criou 


Transformar tudo em ouro já é possível para uma ínfima minoria e, não tarda muito, pelo menos para esses, será possível a vida ad eternum. Ojectivos antigos, ainda do tempo da alquimia.


Andamos agora em busca do Algoritmo-Mestre (A_M) que não deixa de ser o toque de Midas da Inteligência Artificial , isto é, este A_M condensaria em si todo o conhecimento, mesmo o  que ainda não possuímos.


Para tal usaremos métodos ditos cerebrais e outros analógicos ou evolutivos, sendo que os primeiros serão utilizados no sentido de preparar as máquinas para, pela introdução de biliões de dados e com a ajuda do segundo método nos irem fornecendo sucessivos algoritmos que, por mera comparação e iteratividade, nos fornecerão finalmente o próprio A_M.


Isto é o que o professor Pedro Domingos chama uma Academia Militar para robôs. Podia ser uma Escola ou Universidade mas não ( deve ser aquela coisa da praxe: infra não pensa, obedece). Isto é vão-se injectando dados e sem pressa de tirar conclusões.  As  conclusões relativamente ás analogias observadas pelas máquinas chegarão com o tempo, fornecidas por elas próprias.


Se duas coisas são semelhantes a ideia de uma trará a outra como dizia Arquimedes, e não gastes tempo e cérebro em vão, isto é,não faças hoje o que podes adiar, o contrário do que  a tua Avózinha te aconselhava.


Nesta busca existem várias teorias e escolas de pensamento( no caso cinco diferentes) que se pretendem unificar. Uma espécie de nova teoria das cordas? A teoria das cordas pretendia chegar a uma teoria quântica da gravidade e unificar todas as forças e a matéria e durante alguns anos povoou espaço de comunicação e sonhos de muita gente.



Há cerca de dezoito anos foi publicado em Portugal um livro fora de série, ao mesmo tempo difícil de ler e cuja leitura nos torna dependentes. Chama-se “Gödel, Escher e Bach”- Laços Eternos e diz-se uma fuga metafórica sobre mentes e máquinas no espírito de Lewis Carroll.

Como é que um ego pode emergir duma máquina?


O que é que tem de semelhante a matemática de Gödel e o seu teorema da imcompletude( também demonstrou que a democracia contém em si o gérmen da sua destruição), as voltinhas estranhas dos desenhos de Escher ou certas repetições na música de Bach.


Este livro foi essencial para começar a compreender a maior parte do que estes cérebros da era digital referem.


Tudo é ao mesmo tempo realidade e engano, clareza e sombras, sol e névoas tipo “Zenão e a Tartaruga”, o que parece uma metáfora da vida actual.


Apesar de eu achar que o mais importante está tudo naquele livrinho pequeno chamado “ A morte de Ivan Illich”


José Lameirinhas

PS: Ao postar este texto do meu camarada Lameirinhas, capitão de Abril  de sempre, só posso confessar o meu deslumbramento por nesta síntese fazer uma previsão mui luminosa  do porvir.