terça-feira, 31 de março de 2009

A solidariedade dos pobres.


Belém do Pará. Sem abrigo cuida da companheira, deitada dentro das caixas de cartão

ÍNDIA 18 DE DEZEMBRO DE 1961:O DESRESPEITO PERENE E FASCISTA PELA VIRTUDE MILITAR.


Cara Marilia, Carlos Domingos, Amigas e Amigos

Um grande cidadão e advogado, o Dr. Xencora Camotim que com o Dr. Goucha Soares, me defenderam graciosamente das garras da justiça fascista, regressada com o 25 de Novembro 75 ( em 1977 fui condenado a 2 anos de prisão estando inocente, como o próprio juiz presidente do 3º tribunal Militar me disse e aos meus advogados, pelo juiz Gonçalves Pereira ) fez-me chegar às mãos um livro sobre a condenação do comandante de uma barcaça a "Sirius" que Salazar queria que fizesse frente à poderosa marinha da União Indiana.

Salazar condenou o comandante Marques da Silva, o 25 de Abril reconheceu o mérito do seu acto, mas a Marinha Portuguesa nunca lhe fez justiça.

Todavia aquele comandante cumpriu o seu dever, afundando a barcaça, por sinal avariada, e não se deixando fazer prisioneiro, mas segundo os cânones fascistas deviam ter-se exposto a essa expiação. São assim os fascistas e o seus discípulos, desconhecem o dever de consciência, ponto.

Mas outros vieram e nunca olharam estes homens corajosos, como Vassalo da Silva, com a dignidade e honra que lhes é devida, porquê?

Será que este continuado e cobarde salazarismo, não está naquela incapacidade deste regime nascido em 25 de Abril e que foi matado em 25 Novembro de 1975, em julgar o fascismo salazarista, como o General Fabião ( um grande e bondoso cidadão, um grande amigo do povo Alentejano, sei-o muito bem, porque o ouvi em discurso directo, que foi cobardemente traído e humilhado por muitos, vergonhosamente, por muitos e até por partidos) dizia naquelas gloriosas, mas inconsequentes Assembleias do Movimento das Forças Armadas (MFA )- os doutos ladrões de sempre chamam-nas de assembleia de loucos -?

Eles, os tenebrosos donos deste país e dos seus escravos, agem sempre do mesmo modo.


Salazar ainda não morreu. Porque nunca o julgaram está entre nós, como alma penada que, agora, a Acção Nacional Popular recauchutada quer recuperar, com a sua magna assembleia de há alguns dia atrás, tão copiosamente publicitada no Expresso.


andrade da silva 31 Março 09

PS:
“N.R.P. SIRIUS, ÍNDIA 18 de Dezembro 1961”, editora Prefácio. A minha gratidão a esta editora. Leiam a obra é uma forma de protesto.

segunda-feira, 30 de março de 2009

BARQUEIRO DO BARCO NEGRO


Eu estava a cumprir o serviço militar quando Salazar começou a mobilizar tropas para a Índia e foi uma sorte incrível eu não ter sido mobilizado. O poema seguinte não foi publicado na revista Vértice

por ter sido cortado pela Censura salazarista.








BARQUEIRO DO BARCO NEGRO

Barqueiro do barco negro,
quero voltar à minha terra.
Naqueles longes de bruma
tenho os meus irmãos esperando
o estilhaçar do silêncio
que pesa sobre a montanha.

Naqueles longes de bruma
os homens perdem o riso.
Parou o tempo. E o Sol
desmaia logo ao nascer.

Barqueiro do barco negro,
quero voltar à minha terra.

O hálito de fogo e cinza
do monstro que traz a morte
seca os prados, seca os rios,
faz mirrar os pensamentos.

Não há estrela que perdure
na noite densa do medo.
Neva o luar sobre as casas
enregelando a vontade.

Barqueiro do barco negro,
quero voltar à minha terra.

Morrem os rios nas fontes,
morre a semente no chão,
morre o grito na garganta,
morre o protesto no sangue.

Os lobos rondam uivantes
de lanternas apontadas.
Barqueiro, quero voltar
com olhos de fogo-posto.

Barqueiro do barco negro,
ai, barqueiro do barco negro...

Carlos Domingos


ao Alentejo Heróico




À Memória de CATARINA


Meu trigal rosácea amena
Na planura sem confim
Alastra a tarde serena
No geométrico jardim.

Horizonte a germinar
Em agudizar da cor
Árvore erecta a evocar
Alucinação de amor.

Porém no teu solo alonga
Abjecta negação
Rubro sangue de paloma
Que apenas pedia o pão.

Ignóbil pra sempre quem
Ultraja afinal o nome
Que lhe deu no berço a mãe
Só porque alguém tinha fome.



Marilia Gonçalves

sábado, 28 de março de 2009

A VIDA E A MORTE.


A nossa grande amiga Estela e o meu caro amigo Augusto fizeram-me recordar e, bem, o que é a minha posição de sempre, sobre a vida e a morte.

Sei que um dia poderei desejar a morte quer para mim e, ou para uma das pessoas que me sejam mais queridas, todavia como sou, sobretudo, sensitivo, um verdadeiro touro de signo, adoro o tacto, os sabores, o ver e ouvir, sou possessivo, apaixonado, loucamente livre, embora, preso numa sociedade escrava de estúpidos tabus - dos tabus contra a pluralidade do amor que tantos têm morto, como a minha poetisa de sempre, a Florbela Espanca ( a “doente, louca e mórbida”) - só reverencio a vida.

Adoro o mundo, o belo. Não integro a morte na minha vida. É uma vil e terrível impostora e assassina, mas, porque não a prendem, é inelutável e insuperável. É, poderia, ou poderá não ser, mas, por ora, é invencível, ponto.

Há projectos, por aí, talvez loucos, a sonharem com os 800 anos de vida. Não sei bem para quem, nem para quê!? Mas só sei que ontem nasci, pouco ou nada conheço, ou sei, e já estou na lista de espera da partida bem à frente, e tudo começou ontem. Como tão fugaz é a vida!

Invejo a tranquilidade dos que integram a morte na vida. Espero na hora derradeira conquistar essa quase divina serenidade, mas, se nisto há algo de genético, a probabilidade de ser assim comigo, é remota. Não recebo dos meus pais, vigorosos e corajosos na vida, esse ensinamento.

Espero que a natureza, ou a medicina me poupem ao Alzheimer, e que o Serviço Nacional de Saúde e a sociedade evoluam, o que, por imperativo humano, devem progredir, para que neste último rito – e para mim que sou um apaixonado pelos ritos de passagem, paixão que procuro partilhar num Mundo tão certinho e ocupado, onde, nada disto cabe – não esteja a morrer sozinho, e todos tenhamos por perto familia e amigos, mas também uma tão querida amiga e técnica devotada, como a Estela Landeiro, e, nela, refiro, em primeiro lugar, como todos sabem, as psicólogas que trabalharam comigo e em 2º lugar alguns psicólogos, os que têm um cromossoma X e um Y, os que só têm dois cromossomas YY enganaram-se na sua vocação.
Espero também que os médicos, enfermeiros e o pessoal paramédico tenham a dimensão humana das colegas que aqui evoco para além da Estela, a Cristina Vilhena, a Cristina Santos, a Mafalda, a Diana,a Claudia, a Ana Ramos, a Paula Noné e a muito bondosa socióloga Rute Santos, entre algumas mais. Se o Mundo só tivesse gente generosa, como seria maravilhoso!

Penso que ser psicólogo é, sobretudo, um estado de espírito, de amizade, disponibilidade, onde, o feminino faz toda a superlativa diferença, quando é genuíno, e não copia os modelos musculados dos Y.

Queridas colegas que já sóis belas que a natureza ainda vos abençoe mais e mais, infinitamente….

Um grande abraço

andrade da silva

PS: Contrariamente ao generoso retrato que de mim fazem muitas queridas amigas, o que mais reconheço no Mundo é a maldade, o pântano. A maior certeza que tenho é a dúvida sobre a bondade, a fraternidade e a honestidade humanas, por isto tudo, a vida é que muita vezes me pesa, todavia, porque há Sol, alguma, pouca, muito pouca, gente sã, vivo, com alguma satisfação.

A morte não pesa nada, só é uma chatice, quando rouba o pensamento e as sensações, nos demais casos é uma dádiva, porque mais maldita que a morte é a doença incapacitante e que dói física e psicologicamente.

Desnudado, como sempre, me apresento, não como um optimista, mas tão só, como alguém que procura os fugazes momentos óptimos.

sexta-feira, 27 de março de 2009


Ressurreição


A luz cobriu as trevas.
O poder de Lúcifer terminou.
O mundo acabou.

Tudo está consumado.
No sangue do cordeiro resgatado.
Agora tudo está n’Ele.

Eis a nova Jerusalém sonhada!
A Criação renovada.

O Alfa funde-se com o Ómega.
O tempo findou.
A Eternidade germinou!


Filipe Papança

UMA REVERÊNCIA À VIDA E À MORTE (CONCLUSÃO)


O mundo não nos ensina a morrer. A vida não nos ensina a viver. Alguns pensam que o importante é “fazer” e “ter”, mas mais cedo ou mais tarde, todos acabamos por perceber que não basta para conferir um sentido à nossa existência. É assim, que se reconhece da boca de um doente terminal a mágoa de terem passado ao lado do essencial. Começa então a angústia, cheia de brumas vazias ou cheia de marés de memórias.

O que fazemos da vida? Procuramo-nos, fugimos de nós, queremos saber quem somos…não temos tempo, a vida passa tão depressa…e por fim chega a morte. Na sua presença tomamos consciência de que a vida poderia ter sido diferente…mas é tarde…como pode alguém preparar a sua morte, num mundo que a denega? Sim, porque enquanto há vida, há ilusão… (Leloup e Hennezel, 2001).

O tempo de morrer possui um valor…a morte obriga-nos a encontrar um sentido. E ai, é bom que a vida tenha sido uma construção, e não apenas tempo que nos perde.

Trabalhar com doentes terminais obriga-nos a aproximarmo-nos do Outro com mais respeito, o respeito por ele estar mesmo para além daquilo que vemos. Não é a morte que mete medo, ela só requer bom comportamento, mas, para tal, temos de aprender a conviver, respeitar e tolerar o nosso íntimo…aprendemos a estar em silêncio connosco, nesse lugar profundo onde podemos deixar passar os medos, as emoções, a dor das coisas sonhadas e não vividas, as horas que não tivemos para conversar com um amigo, para ler um livro, para ir nadar, para entender a relação das coisas… às vezes, não pergunto o porquê do vazio, porque muitas vezes, ainda estão longe de o saber…basta perguntar: o que fez da sua vida?

Já muitos perceberam que não deram à vida a atenção que ela merece. Tal como descreve Mann (1980), no seu livro A Montanha Mágica, a expectativa da morte amadurece e leva-nos a travar contacto com o mais profundo da fragilidade humana. Também, Tolstoi (2004), descreve Ivan Ilitch, que via que ia morrer e estava desesperado. No fundo da sua alma, estava bem certo que ia morrer mas não só era incapaz de se afazer a essa ideia, não a compreendia sequer. Chorava pela situação desesperada, pela sua horrível solidão, pela crueldade dos homens, pela crueldade de Deus, que o tinha abandonado: “A vida fugia-me…e pronto! Tudo está acabado. Agora morre! É impossível que a vida seja tão estúpida, tão má. E ela é realmente má e estúpida, porque será preciso morrer e morrer sofrendo? Há qualquer coisa que não está certa. Talvez, eu não tenha vivido como devia?”

Para os profissionais de saúde, chega-se a uma altura em que se começa a conviver com a morte como se fosse uma amizade antiga, intima. Mas, ainda assim, cada morte tem um cheiro próprio, uma proximidade distante, uma submissão muda que grita, suspensa até que o coração cesse.

Alguns de nós estão mais em contacto com o seu interior do que outros, e isso dá-lhes um entendimento fatal de que estamos cada dia a viver e a morrer simultaneamente. Quando tal sucede, um milhão de pensamentos correm-nos pela cabeça, entre os quais: quanto tempo me resta? O que faço e o que fiz da minha vida? O mundo não devia parar para eu pensar nisso? E se hoje fosse o nosso último dia na Terra?... Mas, o mundo não pára, nem repara em nada! Continuamos apenas nos entretantos…

Segundo, Morrie (cit in Albom, 2006), quando se está a morrer, despes toda a tralha e concentras-te no essencial. Vemos tudo de maneira diferente, ao aprendermos a morrer, aprendemos a viver. Mas, como aprender a morrer, se nem viver sabemos? Se passamos a vida a correr, se passamos a vida a pensar no próximo carro, na próxima casa, nas próximas modas, no próximo emprego, no próximo jogo, no próximo “fazer muita coisa” sem sentido…depois, descobre-se que essas coisas são vazias, mas continuamos a correr. E uma vez começado a correr, é difícil abrandarmo-nos a nós próprios. Por isso, perdoa-te a ti mesmo antes de morreres. E se possível, toca nos corações de toda a gente que contigo se cruzou enquanto aqui estiveste.

Sabemos que nada é perfeito, aliás, a perfeição cria um vazio… mas, só no silêncio a verdade de cada um vinga… Por vezes, parece que temos mesmo de “morrer”, para podermos renascer emocionalmente…para com outros olhos ver o mundo. Às vezes, é quando nos “perdemos” que descobrimos as coisas mais interessantes...

Contudo, é essencial que nessas pequenas mortes, não nos deixemos cair num vazio ainda maior de sentimentos, tal como relatado por Camus (2006), que parece ter mergulhado num mar vazio, onde a essência da vida tornou-se apenas: (sobre) viver. Sugere-nos a visão de que somos nada mais que animais irracionais na nossa singela existência, em que a morte é apenas uma consequência natural da vida.

A vida é uma viagem e o sentido da vida é sermos nos próprios e termos paz com isso. Assim, cada verdade se fará lentamente…

Tudo dá para alguma coisa mais vasta do que a gente. “Quem demonstra reconhecimento à pedra por ter servido de fundamento ao templo?” (Saint-Exupéry, 2008). E quem demonstra reconhecimento à morte por despertar a metamorfose de nos descobriremos cada vez mais? Será que num mundo ideal, algum de nós desejaria nunca morrer, viver para sempre?

“Mestre, que dor tão grave experimentam que tão alto faz que se lamentem? (…) Dir-to-ei rapidamente: estes não têm esperança de morrer e a sua vida cega é tão ignóbil que invejam qualquer outra sorte que seja” (Dante, 2007, pp.18)

Nunca morrer é muito mais assustador… Todavia, também há, quem tenha medo de viver, medo de escalar a montanha onde descobrimos a nossa verdade, mas é de lá que vemos a vida e a sua magia, o Outro e o Outro em nós. O entendimento do porquê de estarmos aqui.

Assim, será possível a curiosidade de saber o que vem a seguir à morte? Sem sentir a angústia da perda de mais uns minutos que se foram para sempre?



Estela Landeiro
Psicóloga Clínica
Mestre em Psicoterapia e Psicologia da Saúde
Serviço de Medicina Paliativa – Centro Hospitalar Cova da Beira E.P.E

quinta-feira, 26 de março de 2009

UMA REVERÊNCIA À VIDA E À MORTE ( PARTE1)




Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei
no lugar dos meus;
E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos e tu
Ver-me-ás com os meus

Moreno



Quem quer que tenha o mínimo de brio, assume a responsabilidade de interrogar-se e responder: quem sou eu? Sabemos o nome, a idade, o que fazemos na vida, o que gostamos…mas não sabemos quem somos! No momento final, cada acto, cada fôlego da nossa vida, torna-se extremamente claro. Só a morte nos obriga a irmos realmente ao fim de nós mesmos… virar-lhe as costas é simples, assegura-nos, talvez, uma ilusão agradável!? Mas é um insulto à vida…porque só nesse momento compreendemos com alguma clareza quem fomos, e com sorte, encontramos um sentido…houvesse ainda tempo para perguntar: quem era ele e quem era ela? E qual era o sentido?


A partir do momento da nossa concepção até à morte, o nosso percurso de vida desenrola-se no seu modo único.


Nas antigas mitologias germânicas, eram as Mumurantes (deusas do destino), que viviam ao pé da árvore do mundo, que teciam o fio do destino de todos os seres. Os seus nomes: Urôr (a que se tornou), Verdandi (a que está a tornar-se) e Skuld (a que se tornará), estavam relacionadas com o passado, o presente e o futuro. O destino significava que o percurso de vida tinha que ser entendido, aceite e vivido em grande parte como predestinado (Wehowsky, 2005).


Desta forma, a morte está escrita no nosso destino, e não há nenhum poder humano que a impeça.


A maioria de nós nasceu e vai morrer num hospital, quão frágeis somos! Porém, nascer alvitra alegria, mas da morte não se fala. Nascemos com medo das alturas, dos movimentos súbitos, dos sons altos, os restantes, tal como o medo da morte, são adquiridos. A visão sombria e terrífica da morte tem vindo a ser apreendida culturalmente. Foi no final do século XVII que irrompeu uma grande intolerância face a familiaridade entre mortos e vivos, o que não se passava anteriormente. Durante a Idade Média, todos reconheciam a sua mortalidade e ninguém morria sem saber que ia morrer. A pessoa preparava-se e aguardava a morte serenamente na cama ou no chão (no caso de um cavaleiro ferido), mas não sozinha, como hoje em dia (Oliveira, 2008).

O sistema moderno de saúde luta agressivamente contra a doença e a morte. Prolongamos a vida (ou a morte) a todo o custo. Tornamo-nos, claramente, numa sociedade que nega a morte.


Porém, a morte não foi conquistada e todos nós vamos morrer. A maioria de nós morrerá com uma doença crónica com fase terminal curta, com deterioração progressiva, com crises periódicas e com uma dependência média de quatro anos.


Como vemos, a morte saiu do domicílio e foi para o hospital, embora potencialmente poderíamos ser cuidados em casa. Mas, com esta cultura de negação da morte, com a ilusão do controlo sobre a doença e com os novos sistemas familiares…morremos sozinhos, com um número de cama num hospital… e esta solidão, já não é a mesma da Idade Média, em que solidão significava sentir-se estar completo e, em termos religiosos, solitude traduzia a experiência de ser uno com Deus.

Todavia, um cemitério, um quarto de hospital, podem transformar-se em locais inesperadamente interessantes quando se vêem com os olhos de ver e aprender. Porque é que a doença, o doente, metem medo às pessoas? Porque o associam à morte, e esta é no mínimo incómoda, uma chatice!? (Oliveira, 2008).


A morte faz parte da vida, tal como o nascer, a infância, a juventude ou a velhice. No contacto diário com a morte, conhecemo-nos melhor como seres humanos, percebemos que cada momento insignificante tem a sua razão de ser, se o soubermos ler. Contudo, o difícil é aprender a ler, porque todo o resto está escrito…


Cada ser humano tem a sua história única, irrepetível, grandiosa ou modesta, longa como a dos velhos sábios ou curta, ilusória e traída. Quando a morte nos toca, devíamos procurar perceber se mais uma vez, aprendemos alguma coisa sobre a natureza humana (Serrão, 2003).


Nos corredores do hospital há relógios. Um deles marca 13 horas… mas não! Já passou bastante dessa hora. Aquele relógio continua agradavelmente parado. Os seres andam de um lado para o outro, alguns parecem ansiosos, assustados, outros só andam depressa, como se tivessem um relógio louco dentro deles. Outros, andam calmamente, como que num outro universo onde o tempo não faz sentido, onde não há pressa de chegar…parecem esperar que algo ou alguém lhes devolva a luz ao olhar. Outros ainda, estão parados, frágeis, enrugados…resignados ao expirar do tempo, prestes a ser ceifados pelo frio eterno. Mas, não há horror na morte, o corpo só já é um instrumento inútil… são vidas humanas em mãos humanas…Era um momento de solidão geral.



Estela Landeiro
Psicóloga Clínica
Mestre em Psicoterapia e Psicologia da Saúde
Serviço de Medicina Paliativa – Centro Hospitalar Cova da Beira E.P.E

quarta-feira, 25 de março de 2009

NASCI PARA AMAR.



“ Escrevo para esconjurar as minhas escuridões, e nunca para salvar quem não posso salvar, se eu próprio me perco e morro.

Escrevo para exprimir a minha gratidão aos que tão generosamente me lêem;

Escrevo, ainda, para ouvir a palavra forte de quem sendo bem mais do que sou, na sua força, na sua grandeza, na sua coragem, como sois vós, os que me ledes e tendes uma longa história, me dizeis palavras de conforto imenso, ao considerarem como amigas e úteis as minhas mensagens. Que honra e prazer! Que é o tudo a que aspiro. Bem-haja!”



Quanto ao mais, sou um mero cidadão que sobretudo ama, mas por amor retiraria da face da terra todo o ódio e, enquanto, este existir, como não poderei ser brusco, Marília, se o ódio de tanta raiz que tem nas almas e nas gentes não sai de outro modo?

O que mais gosto é de cantar o amor e ser generoso. Adoro poder ajudar com os meus saberes, e tenho sempre a oportunidade de o fazer nos grupos de excursionistas, onde, me insiro. Esta seria a minha vida, porque esta é a minha vocação.

Fui durante 20 anos psicólogo militar e durante 40 um amigo, por vezes, muito duro, outras, injusto por impulso ou má avaliação, mas sempre amigo, como centenas de soldados o reconhecem em documentos anónimos, em que se aproveita para dizer o pior.

De facto é para mim muito natural amar as pessoas, como respirar, mas também sei odiar quem é injusto e ditador e, de facto, odeio-os, ponto.

Tenho uma profunda alergia e fobia a esses malvados, nem lhes posso ver os rostos velhacos. Eles eclipsam o belo, a paz, a harmonia. Sei que sem eles não haveria diamantes de sangue e o Mundo seria um sorriso.

Sei também que quem está de pé, pode cair antes de quem está de cócoras, mas também sei que dentro de um ventre de uma mulher escrava vive já, quem dará um novo passo em frente, ao raiar da aurora, e, isto, é tudo e o todo que basta para prosseguir.


Com todo o amor, infinito, vermelho, do Mundo abraço-vos, e canto convosco o hino da alegria, por ter nascido e vos ter conhecido. Uma pessoa generosa apaga as agruras de centenas de vilões.

25 Março 09, a um mês da comemoração do 25 de Abril de 1974


andrade da silva

terça-feira, 24 de março de 2009

Quem ama a liberdade


Quem ama a liberdade conhece que é idêntica

Quem ama a liberdade conhece que é idêntica
a verdade e a não-verdade o ser e o vazio
e por isso na sua celebração a metáfora expande-se
na liberdade de ser a ténue sabedoria
desse momento e só desse momento em que o arco cresce
Há então que procurar a chuva dessa nuvem
ou desdizê-Ia não para o nosso olhar
mas para um outro rosto de areia que cresce no vazio
e poderá ser de pedra ou de ouro ou só de uma penugem
O poema é o encontro destas duas faces
de nenhuma substância quando no vazio do céu
os anjos se diluem com as mãos despojadas



António Ramos Rosa
As espirais do silêncio

NEM PAPA, NEM CRISE, MAS OS ESCRAVOS DIRIGEM-SE PARA OS ALTOS FORNOS.


Andei por Itália e não vi o Papa, mas mais preocupante que não ver o Papa, é verificar que a crise de que os donos do dinheiro nos falam, é um grande e velhaco embuste. É uma crise parcial e vitíma, e, vai vitimar ainda mais, os mesmos, ou seja, os menos ricos, até nos encostarmos cada vez melhor à Idade Média.

Em Cannes, no Mónaco e em Nice os ricos continuam ricos, mesmo mais ricos, com o seus poderosos iates e a gastarem aos milhões nos casinos. Nestas debochadas casas, ontem mesmo, marcavam as máquinas como prémios mínimos os cento e tal mil euros.

Na casino de Monte Carlo, espantosamente, os mais mal vestidos são os mais bem recebidos, porque chegam em bentley`s, porches etc. Eu próprio por estar vestido à desportiva fui confundido com um desses barões e, logo, o porteiro fez-me um rasgado sorriso, abriu-me as portas do casino, só que com os meus poucos euros no bolso limitei-me a retribuir-lhe o sorriso, e não me atrevi a entrar, talvez tenha feito muito mal. Talvez?....

(Neste aspecto esta gente é bem diferente daquela gente do edifício, na minha opinião, abarracado do Casino Estoril).

Mas mais grave ainda é que todos os escravos estão as ser dirigidos para os altos fornos pelas mãos dos mesmos dirigentes de sempre. Nem à esquerda, nem nos sindicatos aparecem líderes emergentes. Os actuais dirigentes é gente calculista pós- revolicionária, proto-totalitária, a ensaiar os mesmos passos de sempre, e a tratarem das suas vidinhas.

Todavia três milhões de pessoas gritaram em França que a Humanidade está na mudança. Pura ilusão!

Há, de facto, milhões de pessoas cansadas e disponíveis, mas não há nenhum projecto de mudança novo, com lideres emergentes que queiram realizar a equidade, a segurança, mas garantindo a LIBERDADE e o primado das leis justas sobre os humores dos ditadores e do totalitarismo dos que tiranamente só ouvem os seus eunucos e os cangados, o que é a regra entre os detentores de poderes, nomeadamente nos partidos, organizações sindicais, culturais e profissionais.

Portugal é a mais perversa e acabada obra da Inquisição e do Salazarismo. Ambas estas trágicas realidades continuam vivas e recomendam-se. Até quando ?....

O FADO repete-se, a hora é outra vez a de todos os traidores travestidos e de toda a cambada de oportunistas que “chupam o sangue fresco da manada”.

Ouvi às dezenas de pessoas do grupo com quem fui, que esta riqueza era um escândalo. Provavelmente algumas delas pertencem a partidos políticos, em que militam, mas não são capazes de ver a estrumeira que os faz submergir no pântano.

Nesta atmosfera, em Portugal, pode e deve organizar-se uma nova força partidária e, ou um grandioso e forte movimento de cidadania que conquiste os portugueses e depois a Europa, e varra para debaixo do tapete da história toda esta gente que no seu proveito nos aprisionou.

Talvez nada disto aconteça, e o regresso à Idade Média com todo um restrito número de senhores, exércitos de cortesãos e multidões de servos aconteça. Assim, regressará a harmonia da servidão, e a ordem da espoliação será imposta à força.

Mas como será possível chamar de República a alguns regimes, como o português, quando os cidadãos livres valem menos que os súbditos de suas majestades medievas?

PORTUGAL!

Não há nenhum Português com história e mérito que queira pôr tudo isto de canelas para o ar, para que todos os quistos cancerosos que vitimam esta semi-democracia caiam?

Não falo de nenhum D. Sebastião, mas sim de um LÍDER, que dê um sentido democrático e efectivo aos milhões de gritos que soam nas ruas, porque sem essa liderança ou tudo se manterá tão podre, ou uma deriva totalitária, não desejada, e nenhuma é desejada, pode tomar a dianteira, e pôr um fim a tanto e tão inaceitável jogo táctico.

A hora é de decidir e agir. Continua a faltar no arco do rotativismo da Governança uma verdadeira força social –democrática. Todo este espaço está ocupado pelos neo-liberais confessos e os convertidos, e, estes, são ainda mais fervorosos, e, assim, não há alternativa ao desastre. Será uma questão de tempo.

PORTUGAL!

Asilva
Ps: Louvo-me no grande esforço de Marilia.

segunda-feira, 23 de março de 2009

DESPERTA POVO!



























Chamar por ti Poesia! Poetas estro, musa, em defesa da cidade, pedir-te verve e força duradoira, que a batalha é de

brio, de amor logrado, um grito na cidade obscura, aberta a desaires e esquecimento. Lisboa te chamaram, cidade

que atravessou os tempos, épocas, a história, resistiu a cercos e à fome, viu investir suas muralhas, viu séculos de

gesta, Restelos de advertência, poetas de faces veras, a soluçar à porta de tuas verdades; heróica foste resistindo. A

voz de teus bardos te guiava, rumo a ti, à tua construção, quando nos ares se desfiava em luz, cidade rosa, cidade

flor, amor cidade. Resististe, que afinal a força é resistir, e nas longas noites, as tertúlias eram ainda voz tua, a

percorrer os bairros e os becos, nossa cidade de sede

Que o Tejo apazigua ou acomete, cidade de portos e de canoas que te levam no longe, à tua procura, cidade, de

partidas e chegadas, quando chegas a ti?

Muito haveria a dizer, pelos teus prédios, as tuas velhas casas (não estarei a recordar a Velha

Casa desse grande génio da música em Portugal, que é António Vitorino de Almeida) e quem não

tem uma velha casa a lembrar a infância, aqueles que a povoaram e não voltam mais?

As tuas velhas casas, teus belos edifícios, que o tempo afronta, como larva a desfazer-te na nossa

lembrança, a paisagem humana vai-se perdendo, modifica-se até nela não nos reconhecermos,
preservemos pois a voz das pedras que abrigaram nossos avós; guardemos

A memória de seu esforçado viver, preservando a beleza das construções que nos deixaram, que

nos dignificam e nos distinguem, de outras vivências, de mérito, sem dúvida, mas nestas paredes

que desabam estão inscritos os sonhos dos que nos precederam, está o nosso próprio

reconhecimento cultural e regional, em suma o eco de tudo o que nos fez, e tantos poetas

cantaram, Lisboa, reconhece-se pela paisagem, pelas colinas, pelo Tejo, mas também pela luz

que doira as suas casas, porque as pessoas, de cidade em cidade, cada vez se parecem mais umas

com as outras. Preservemos pois aquilo que nos diferencia e enriquece, o que não deve

perder-se, o nosso Património arquitectónico.

E que a voz dos poetas nos guie e dê alento, para defender a história de uma magnifica cidade:
LISBOA!

Marília Gonçalves

sábado, 21 de março de 2009

Dia Mundial da Poesia

















OLIVAIS





Ai, olivais de prantos ao luar
quando chão lembra neve a desfazer
rouxinóis estremecem a cantar
junto à fonte esquecidos de beber.
Acendem no andar passos estranhos
memória de bailado em luz do dia
o branco casario tem o tamanho
de véus a esvoaçar na noite fria.
Eleva-se murmúrio universal
som de água a deslizar suavemente
mas água que é sangue vegetal
a enrolar-se em elos de serpente.
Há sonhos vegetais na noite branda
gritos de vida, ainda por nascer
na seiva pressentida que se espanta
em braço circular de anoitecer.
Os olivais desenham o abraço
ameaça se sombra que não finda...
Uma ogiva medonha cobre o espaço
na derradeira escolha que há ainda

Marília Gonçalves