quinta-feira, 28 de agosto de 2008

13 - REFLEXÕES DE G.F. * A minha leitura possível da História de Abril



Do Portugal de Abril ao Portugal de Novembro



Aquela madrugada, que tanto prometia, trouxe um alento indescritível aos humilhados e ofendidos.
Era o fim do pesadelo!
Era o acordar ao sol de um dia lindo de primavera!
E o Povo saiu à rua, reencontrando-se; e abraçou-se, sem hesitação nem timidez.
O Bastião do Carmo caíra!
Mas essa queda trouxe o primeiro espinho da rosa anunciada na cedência do Movimento Militar ao então General António de Spínola.
Acontecimentos ulteriores demonstrariam que não houvera qualquer alteração na personalidade do Presidente da Junta de Salvação Nacional.
O general não pôde ou não soube redimir-se do seu passado de «observador», na impropriamente chamada Guerra Civil de Espanha, junto das tropas fascistas, nem em Estalinegrado, junto das tropas sitiantes do III Reich.
O Povo, crédulo e ignorante, reconheceu-o como primeiro Presidente da República de Abril.
Em 28 Setembro de 1974, o mesmo Povo ficou a saber que havia uma «maioria silenciosa». Era a minoria daqueles que estiveram sempre com a ditadura fascista, há meses expulsa do Poder. E, como seu «inspirador», lá estava o general António de Spínola.
Com esta «jogada democrática», o general ficou sem condições de exercer o cargo de Presidente da República de Abril... e renunciou.
Entretanto, os partidos políticos representados no Governo de Vasco Gonçalves não se entendiam na clarificação dos caminhos apontados pela madrugada de Abril.
Em 11 de Março de 1975, o general «inspirador» de nova «jogada democrática», é obrigado a refugiar-se em Espanha, ainda a Espanha fascista de Franco. E o Movimento Militar determinou a tomada de medidas enérgicas, designadamente junto do poder económico capitalista.
Todavia, agudizavam-se as querelas entre os partidos. E entre os militares, também. O chamado Grupo dos Nove foi o segundo espinho da rosa.
E Vasco Gonçalves é substituído.
Com Pinheiro de Azevedo, Abril caminha inexoravelmente para o ocaso.
Em 25 de Novembro de 1975, o ajuste de contas é implacável.
O General Ramalho Eanes será eleito o primeiro Presidente da República de Novembro. E depois, até hoje, cresceram na rosa vários espinhos. O Povo, desiludido, resignou-se. E vai votando, de 4 em 4 anos, maquinalmente, a perpetuação do Portugal de Novembro, que se não cansa de anunciar o frio e o desconforto do inverno de Dezembro, democraticamente...


Gabriel de Fochem
19/9/2207

1 comentário:

andrade da silva disse...

Caro José

Há muitas histórias do 25 de Abril por contar, até agora falaram as figuras graúdas dos vários grupos vitoriosos e dos derrotados, arregimentaram os seus escribas e têm dito facciosamente o que lhes convém.
Infelizmente aquela ideia que só a verdade é revolucionária é um mero slogan que ninguém, nenhum partido pratica, todos sem nenhuma excepção reescrevem a história como lhes convém.

Os partidos de Novembro lá arranjaram a intentona do golpe comunista para fazerem o golpe do 25 Novembro e trazerem o país ao redil da ordem capitalista, quando o que se passava em Portugal era uma verdadeira bagunça que poderia ter tido outra soluções mesmo com a vitória do 25 de Novembro, se a intenção dos seus executantes tivesse sido a de retomar os valores mais genuínos do 25 de Abril, o que claramente não foi.

Os poderes emergentes a partir daquela data, têm mais a haver com o 24 Abril, basta olhar, por exemplo, para o Exército em que um dos seus CEMES era e foi coerentemente, até como professor, um divulgador apaixonado da excelsa figura de SALAZAR, ouvi-o a ele próprio dizer isto mesmo numa conferência, mas este sr. general é um, num leque muito alargado.

Hoje os derrotados: personagens e partidos vêm naqueles heróis do 25 de Novembro âncoras, quando a direita que lhes encomendou o servicinho já os esqueceu.

Se houver tempo também irei contando o que sei, de qualquer modo é bom saber-se que quanto ao gen Spinola há várias e sucessivas clivagens no MFA, a 1ª logo no inicio do movimento em que os mais jovens defendiam que os destinos da revolução deviam ser conduzidos pelo mais ilustre dos capitães e não por nenhum general, 2ª já mais conhecida foi a de que o MFA escolheu Costa Gomes e não Spínola, mas alguém deu o golpe e Costa Gomes permitiu ser ultrapassado, com este golpe as tensões entre o gen e a comissão coordenador e os mais jovens do MFA foram permanentes.

A tensão e com os mais voluntariosos do MFA foi muito evidente na reunião do Conselho da Revolução e o MFA na manutenção militar, em que entre outras coisas tendo subido ao palco para ver de perto Sá Carneiro ,ou mesmo pôr-lhe alguma questão, fiquei negativamente impressionado, porque o sr. tremia tanto que não compreendi o que ele fazia ali, perante tanto herói das guerras e da Revolução… Era tenente e tinha 25/26 anos, … enfim…coisas, por certo, muito inteligentes…logo, como poderei, eu, entendê-las!?...

Histórias que não interessam nada aos surdos, mudos e cegos em que nos tornamos.

Obrigado por estas recordações.

abraço
andrade da silva