sábado, 30 de agosto de 2008

DA BONDADE HUMANA, DO SOL, DO MAR, DAS SERRAS E DA COR




(Queridas amigas e amigos é fim-de-semana, recebei este humilde tributo, como pétalas do meu jardim da afectividade, que também pode ser um pouco louco, desculpem-me, como na canção, “qualquer coisinha”…)


Sou um nativo da Madeira, sou um individuo sexuado com um cromossoma X e Y, felizmente não tenho dois cromossomas YY , e, por maioria de razão, nenhuma trissomia Y.

Por todas estas circunstâncias adoro o SOL, o MAR, as ESTRELAS, AS SERRAS, O ACO-IRIS, O SEXO, AS MULHERES. SOU UM COMPLETO SELVAGEM.

Selvagem sou, talvez aquele bom selvagem de Rousseau, talvez um selvagem made in Madeira, sem de longe, nem de perto, penso, seguir o modelo mais conhecido do soba lá da terrinha, com o pensamento esquizofrénico de que é rei. Seja como for , sou um selvagem que adora tudo o que à vida diz respeito, e fica fascinado com uma noite estrelada, mas sobretudo com a natureza humana.

Adoro o Mundo, mas sobretudo a bondade humana e os humanos bondosos, particularmente, quando este humano toma a sua forma mais diáfana de uma linda mulher, perdoem-me se desiludo alguém, mas num primeiro momento o que me fascina são as linhas físicas. Nisto sou tão Sarkozy, como Sarkozy, só que quando ele tem todo o êxito, o meu pólo é o dos sonhos. Confesso que, deste ponto vista, se criticar os Sarkosys é por pura dor de cotovelo.

Mas para este selvagem perdido na cidade, deslumbra-o os pequenos actos belos de que vos vou falar.

Um dia destes subia o Chiado, em dado ponto, um jovem com uma enorme ninhada de cães recém-nascidos pedia esmola para ele e para os seu amiguinhos – muito enternecedor – entretanto, aproxima-se do local das oferendas um homem idoso, vestido com um fato gasto, e trazendo dobrado um jornal dos gratuitos. O idoso fez uns gestos que me pareceram de quem ponha uma moeda, mas fazia troco. Pura ilusão de óptica.

Quando vi a mão do jovem, sobre a do idoso, forçando-o a colocar uma moeda de um euro que retirara do tapete, percebi o que se passou. Aquele idoso queria apropriar-se de um euro. Fiquei fascinado com a atitude do rapaz que não disse uma palavra. Conclui que há almas pobres que conhecem e reconhecem as necessidades de outros desesperados.

O velhote subiu o Chiado, e eu seguiu-o. Já na Brasileira circundou nervosamente entre as mesas, apalpando-as com os dedos. Vi que os empregados o seguiam a alguma distância, já o deviam conhecer. Observei por mais algum tempo toda esta hiperactividade até que conclui que o homem precisava mesmo de uma moeda. Discretamente aproximei-me dele, dei-lhe um euro, não trocamos nenhuma palavra, e ele desapareceu num ápice. Amei este jovem e este velho, a este dei o que dei, e, enfim, não sei pronunciar-me sobre este acto.

Neste mesmo dia, há dias em que o Sol brilha e as noites são de luar com céu estrelado, entrei no Metro e sentei-me à frente de uma rapariga com uma cara cheia de felicidade, e que me pareceu ser um pouco raquítica. Logo a amei, coisa a que sou muito dado, mas… ponto final… nisto sou tão parvalhão, como todos os selvagens genuínos que são diferentes dos boçais que se julgam uns Casanovas.

Enquanto naquele sonhar acordado a amava, e não verbalmente ia comunicando o que podia, sem ser entendido, nem sei se sequer se visto, aqueles olhos olhavam, mas podiam estar a ver o infinito e não este ser finito, já gasto, entrou um jovem que por ali anda a cantar julgo que RAP e a pedir esmolas, também parece raquítico. Como uma mola aquela rapariga se levantou e com aquela cara, lua de felicidade, lhe deu uma esmola.

Li neste seu acto uma certa identificação quanto a um eventual abandono da Natureza. Depois a rapariga pareceu-me ainda mais feliz. Amei-a ainda mais. Umas estações à frente saiu, e eu fiquei com a sua imagem de estrelinha humana bondosa. Que a bondade cósmica nunca a deserde!

Num outro dia, também no Metro, um rapaz com 18, 19 anos passeava o seu lagarto entre a T-shirt e o peito. Esta e outras tão bondosas e magníficas imagens retiram-me ao pesadelo das maldades humanas, e fazem-me acreditar que no “after-day” da desumanidade, há sempre um humano jovem ou idoso, mulher ou homem a dizerem que os HUMANOS continuam a existir.

Na Madeira, no promenade da praia do Lido, todos os dias pelas 9 e 30 cruzava-me com um casal que ia alimentar uma carrada de gatos domesticados e mansos que por ali, preguiçosamente, vivem no jardim ao Sol. Como reconhecimento por este acto cumprimentava-os com um alegre bons dias. Acto meramente simbólico que nem sequer sei se como tal foi entendido, espero que sim, porque no Funchal, como em Lisboa, não se cumprimenta quem não se conhece.

Estas são coisa do quotidiano que apesar de as viver sempre condicionado pelas regras que me são impostas e que cumpro automaticamente, me dão algum alento. Espero que também sejam balsâmicas para quem as ler, e, já agora, não levem muito a sério a confissão do pinga amor, que, com certeza, é mais uma das minhas tonteiras.

Abraços e flores para quem as quiser receber.

andrade da silva

2 comentários:

Ana Daya disse...

Ja era tempo de escreveres algo sobre a bondade humana! Obrigada!

O teu Balsamo chegou as Arabias!
Um texto ternurento, cheio de ti nas linhas e nas entrelinhas, mostrando a tua nobreza de caracter, boa indole e forte inclinacao que tens para o bem de todos.

Nos, as pessoas estamos cada vez mais a ficar com um terrivel defeito – ausencia de reflexao. Tudo eh feito e vivido muito rapido, esquecendo-nos das coisas que sao essenciais para viver bem connosco proprios - uma delas eh ser bondosa para os outros. Os sentimentos sao mais lentos que as emocoes…

Deixo-te um texto escrito por um padre brasileiro:

“”PORQUE A BONDADE?
Ser bom e ter gestos de generosidade,na mentalidade de alguns, tornou-se coisa ultrapassada. Isto me lembra uma antiga história: "Um pobre viajante parou ao meio-dia para descansar à sombra de uma frondosa árvore. Ele viera de muito longe e sobrara apenas um pedaço de pão para almoçar. Do outro lado da estrada, havia um quiosque com tentadores pastéis e bolos; o viajante se deliciava sentindo as fragrâncias que flutuavam pelo ar, enquanto mascava seu pedacinho de pão dormido. Ao se levantar para seguir caminho, o padeiro subitamente saiu correndo do quiosque, atravessou a estrada e agarrou-o pelo colarinho.
- Espere aí! - gritou o padeiro. - Você tem que pagar pelos bolos!
- Que é isso? - protestou o espantado viajante. - Eu nem encostei nos seus bolos!
- Seu ladrão! - berrava o padeiro. - É perfeitamente óbvio que você aproveitou seu próprio pão dormido bem melhor, só sentindo os cheirinhos deliciosos da minha padaria. Você não sai daqui enquanto não me pagar pelo que levou. Eu não trabalho à toa não, camarada!
Uma multidão se juntou e instou para que levasse o caso ao juiz local, um velho muito sábio. O juiz ouviu os argumentos, pensou bastante e depois ditou a sentença.
- Você está certo - disse ao padeiro. - Este viajante saboreou os frutos do seu trabalho. E julgo que o perfume dos seus bolos vale três moedas de ouro.
- Isso é um absurdo! Objetou o viajante. - Além disso, gastei meu dinheiro todo na viagem. Não tenho mais nem um centavo.
- Ah... - disse o juiz. - Neste caso, vou ajudá-lo.
Tirou três moedas de ouro do próprio bolso, e o padeiro logo avançou para pegar.
- Ainda não - disse o juiz. - Você diz que esse viajante meramente sentiu o cheiro dos seus bolos, não é?
- É isso mesmo - respondeu o padeiro.
- Mas ele não engoliu nem um pedacinho?
- Já lhe disse que não.
- Nem provou nem um pastel?
- Não!
- Nem encostou nas tortas?
- Não!
- Então, já que ele consumiu apenas o perfume, você será pago apenas com som. Abra os ouvidos para receber o que você merece.
O sábio juiz jogou as moedas de uma mão para outra, fazendo-as retinir bem perto das gananciosas orelhas do padeiro.
- Se ao menos você tivesse a bondade de ajudar esse pobre homem em viagem - disse o juiz -, você até ganharia recompensas em ouro, no Céu."
Pense nisso: espalhe bondade!
Pe. Sérgio Jeremias de Souza””

Obrigada!
Eu recebi flores!
AnaRute

andrade da silva disse...

Ana

Obrigado pela tuas palavras,todos os dias vejo actos bondosos, mas todos os dias vejo o contrário.

Neste preciso momento estou preocupado com uns gatos da rua que alguns de nós tratavamos e há dois dias que não os vejo e receio que algum maldoso tenha feito mal.

Sempre disse que o mundo será belo quando houver algumas pessoas bondosas. Nunca deixarei de dar noticia do que vejo de bom e de mal
é a vida. Falar só do que é negativo seria deprimente, mas falar só ou inventar coisas cor de rosa seria desonesto e alienante.

Todavia de um modo equilibrado tenho trazido boas novas e delas um dis destes vou falar mais, através da descoberta de um conto de Dostoievski - o sonho de um homem ridículo- .

Estes também funcionaram para olharmos para a bondade os Santos Graal: o da bondade dos pobres e o da amizade animal, o que num dia só já é bastante sol e lua de bondade.

Falarei ainda de gente bondosa que esquecendo as suas comodidades são voluntários em partes inóspitas e de outros que até sendo muito ricos lutamn por causas justas. Todos estão nos nossos corações, mas escrever exige tempo e também interessa que quem aqui vem tenha tempo para ler o que se escreve.

Não esquecerei nunca os actos bondosos, podes estar certa.

abraço
asilva