sábado, 18 de abril de 2009

O NEO-LIBERALISMO PERDE PAIS:


O Mundo é composto de mudança, mas tanta e tão rápida confunde.

Quem poderia supor que o Sr. Presidente da República pudesse, de algum modo, fazer um diagnóstico tão preciso, igual, mesmo igual, que é muito mais que idêntico, ao que outros e também, modestamente, eu, andamos a fazer, no deserto, há mais de um ano? ( Da minha parte desde pelo menos Janeiro 2008 no calado blogue Avenida da Liberdade da Associação 25 de Abril, por causa exactamente desses e de outros temas tratados sem peias)

Tirando as videntes de serviço ninguém. Só que uma vez mais, o Sr. Presidente da República sabe que o diagnóstico está correcto, mas é contraditório nos seus próprios termos, e peca por várias incoerências, desde logo, porque há alguns anos atrás, o Sr. Prof. Cavaco da Silva cooperou com grande entusiasmo na construção das bases deste monstro sonegador, sem qualquer ética, dos capitais públicos em proveito de políticos, banqueiros e empresários e de Chairman-políticos; e porque sabe que o sistema partidário português está bloqueado, quer porque não há alternativas, só há rotativismo e alternância, quer porque os velhos partidos interiorizaram e estruturaram a perversidade humana, o que é algo de terrível, e torna a politica num instrumento de dominação e escravização, e não de liberdade e desenvolvimento.

Sem desmerecer das criticas pertinentes e justas que o Sr. Presidente da República faz, e que têm dois claros destinatários, o governo do Sr. Eng. Sócrates que tem sido mais neo-liberal que alguns partidos liberais da Europa, e o PSD que, desde há muito, abandonou as práticas social-democrátas para realizar também as políticas económicas e sociais liberais, assim, com um ou outro, estaríamos globalmente na mesma, mas em alguns sectores pior com o PSD.
Neste momento se a segurança social estivesse privatizada, em parte ou no seu todo, o desaire a nível das famílias portuguesas mais frágeis seria de uma dimensão excepcionalmente dramática, portanto, a quem se dirige o Sr. Presidente para a alternativa?

Obviamente que tem toda a razão o Sr. Presidente, quando denuncia que os agentes económicos responsáveis por esta crise continuam a influenciar as decisões políticas, mas esqueceu-se de acrescentar que isso é assim, porque os responsáveis políticos pelo desastre estão, desde sempre, conluiados com os banqueiros e os grandes empresários, e continuam a seguir as mesmas politicas, para, eventualmente, no fim dos mandatos terem lugar nos Conselhos de Administração dos bancos e das grandes empresas.

Sem a liquidação desta dança de cadeiras e sem mudar de politicas e políticos, as correctas palavras do Sr. Presidente da República, ou serão lançadas ao vento com arrogância, ou serão aproveitadas por todos para as integrarem no seus discursos políticos, a favor das políticas que seguem.

Denunciar as dificuldades das famílias, a fome é uma virtude de cidadania.

Saber no concreto que há pessoas que se apresentam nas caixas registadoras dos supermercados exactamente com 3 euros, para comprarem e satisfazem as necessidades básicas da alimentação, destrói qualquer coração por mais empedernido que seja, até o do Presidente do BES, porque de facto isto não é ficção, são casos reais que tenho presenciado, e sabido por quem nas caixas dos supermercados trabalha.

Todavia, se ao cidadão humilde e perdido no deserto só lhe resta gritar a sua dor e a sua impotência perante tanto crime e vilanagem impunes, o dever ético exige a quem, há tanto, é votado sucessivamente pelo povo Português que seja um agente de mudança, e se realmente pensa e vive o que diz, deverá trabalhar ou dar evidentes sinais aos cidadãos que é preciso produzirem-se alternativas politicas, porque denunciar o actual estado de coisas já fazemos muitos a que se juntaram, em muito boa-hora, Rui Veloso e os Xutos e Pontapés, com canções inspiradas.

Enquanto os gritos de impotência dos cidadãos anónimos, a que agora se associa o Sr. Presidente da República morrem na margem, não atravessando ou vencendo o oceano da arrogância dos poderosos, os que podiam e deveriam promover uma alternativa a este caos de desumanidade, desordem financeira e impunidade, passam umas férias eternas no paraíso da ausência e, assim, tudo fica adiado até que o povo guiado pelo desespero ou por algum titã da ocasião se aventure por ínvios caminhos que podem ser de mais sofrimento e não de mais liberdade e desenvolvimento.

Se as denuncias são importantes o fundamental seria criar alternativas ao paradigma de poder e partidocracia que mina e destrói a sociedade portuguesa. Os actuais partidos estão contaminados pelos vírus da perversidade humana, o egocentrismo, o desinteresse efectivo pelas pessoas concretas e os seus dramas. As pessoas são tratadas como meros peões nos jogos de poder dos secretários gerais e das máquinas administrativas dos paridos. Sem uma mudança profunda no funcionamento dos partidos, a rotação de uns por outros na Governança terá consequências limitadíssimas.

Mas será mesmo que os pais do neo-liberalismo abandonaram os seus dilectos patronos –os banqueiros e os grandes empresários, ou tudo isto é um mero jogo de espelhos?

andrade da silva 18 abril

PS: Não resisto a supor que daqui a alguns dias se comece a dizer que o PR é do Bloco de Esquerda, ou que este olhando para esta aparente dissidência do Sr. Cavaco o convide para apadrinhar a convenção da grande esquerda. Não é preciso ser bruxo.

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