terça-feira, 28 de julho de 2009

PONTE AÉREA 1975: O SONHO, SONHADO, VOLTA PESADELO,QUE CONTINUA VIVO.



“Um pedaço da dura e negra história que o Expresso na sua última edição recorda, e que também, aqui, quero alembrar (adoro este erro)”


Estive na guerra, em Angola, considerei-a perdida em carta escrita em 13 Novembro 72, vi a escravatura nas fazendas de Mucaba, que a quase totalidade dos colonos brancos impunha aos negros, vi os negros a viverem na Idade Média, vi entre muitos colonos opulência e riqueza imoral ( como acontece hoje lá e cá) mas também vi os massacres da FNALA sobre negros, pensei, quis e sonhei que com fim da guerra, se poderia constituir um estado federado com interesse para todos.

Depois disseram que isto era inegociável para os movimentos independentistas, e acreditei na boa fé de alguém que se dizia próximo de Portugal, como Agostinho Neto, e aceitei a independência .

Todavia a expulsão generalizada da população branca e a guerra civil, cujos germens se encontram também na politica imoral de pôr angolanos negros contra outra angolanos da mesma raça, mas de etnias diferentes, planeada pelo general Bettencourt Rodrigues, veio pôr todo o sonhado em causa, e em Angola nasceu um inferno de corrupção, guerra e ditadura e, Portugal passou a fazer pouco para que o caminho pudesse ser outro, e, aí, os responsáveis Portugueses fugiram às suas responsabilidades.

De qualquer modo por muito mérito dos portugueses que regressaram, mas também pelo grande valor e novas possibilidades da Democracia muito destas grandes heroínas e heróis que tornaram à terra de seus pais ou à sua, e que nunca tinham participado na escravização dos africanos, venceram, e com elas e eles e com a democracia, Portugal também venceu.

Tragicamente os países africanos que deviam ser os primeiros beneficiários com a independência, só têm perdido e continuam a perder. A tragédia continua e, uma vez mais, a isso não são estranhos os negócios que os dirigentes desses países fazem com os donos da capital sejam ocidentais, seja também dessa China dos escravos.

A África ESPERA E DESESPERA PELO SEU LUTRHER KINK, enquanto isso, dirigentes, como Agostinho Neto foram também obreiros da grande tragédia africana que deveria merecer de cada um de nós e da comunidade europeia outra abordagem e outra intervenção.


asilva

4 comentários:

jorge correia disse...

Meu caro senhor Andrade da Silva,Também estive na guerra colonial em Angola. Normalmente aprecio muito os seus escritos, mas desta vez, permita-me que esteja quase, totalmente em desacordo consigo. Estado Federativo: impensável, não dá nem para começar a argumentar, por total falta de sentido,..quem é que anda uma vida inteira a lutar pela independência do seu país para ficar noutro status dependente do seu colonizador?? um non sense completo.  Depois, a situação que se gerou foi fruto dos interesses e influências de potências estrangeiras que se quiseram apoderar do país cada um apoiando a sua facção. " para mim o grande erro foi termos dado legitimidade a 3 movimentos de libertação, quando na verdade só um tinha legitimidade o MPLA que lutava efectivamente nas matas, uma vez que a FNLA já há muito estava desmantelada, apenas com um escritório em Kinshaza e a UNITA como sabe era um movimento fantoche ao serviço do exército português. Só depois do glorioso 25 e graças ás tais potências, se ergueram e organizaram para lutarem pelo poder. Nesta altura sim,...poderíamos ter tido um papel determinante, embora mesmo assim não fosse nada fácil, pois as pressões vinham de todo o lado e dos mais diversos sectores. Depois da independência a não ingerência era essencial e de bom tom, não havia nada mais a fazer, e que eu saiba as pessoas que vieram foi porque quiseram,...óbviamente a situação não lhes era nada propícia e setir-se-iam desconfortáveis por várias razões. O Andrade da Silva é o próprio a dizer que viu escravatura em Angola, sintomático !! mas isso em qualquer situação semelhante acontece é histórico.
Bem, não vou maçá-lo mais, este comentário já vai longo, tenho a certeza que teríamos coisas muito interessantes para conversar.

Um grande abraço!

andrade da silva disse...

Caro Jorge
(Trate-me por andrade da silva, já temos idade para deixar os senhores de férias)

Estou de acordo consigo, mas isso não impede que de facto tivesse desejado e muito que tivessemos tido outra forma de continuarmos a nossa cooperação de outro modo, mas também como digo após o 25 de Abril e perante os argumentos dos povos das colonias aceitei a independência,alíás, os povos é que conquistam a independência que naturalmente saúdo, mas condeno com todas as forças que quase todos os colonos tenham sido tratados como inimigos dos povos e tenham sido escorraçados,como lamento e acho criminoso se for verdade que as forças armadas portuguesas tenham assistido sem intervirem, como aliás hoje fazem as forças da ONU, á execuçao de pessoas, como me dói muito que depois em vez de haver paz e progresso tenha havido uma guerra civil, de que num dos meus textos também responsabilizo os generais portugueses que puseram etnias contra etnias e criaram a UNITA para combater o MPLA, um acto imoral, inqualificável, altamente responsável pela guerra civil.

Caro jorge

Este espaço é um espaço de liberdade conte o que sabe para todos aprendermos. Tenho um amigo branco de Moçambique que por ser um militar de Abril me ataca por causa da descolonização, mas se as coisas se passaram como ele diz, naturalmente também foi uma vitima destes processos históricos e Portugal não os protegeu como devia, como aliás fez com os negros que combateram integrados nas forças armadas portuguesas, como infelizmente nem sempre apoia os portugueses que andaram nessa guerra.

Quanto à guerra e á nossa politica em Africa condenei-a, tinha 24 anos, em novembro 72.

Defendi e defendo a descolonização, mas obviamente que quanto ao sonho dos meus 24 anos tanta coisa que aconteceu desiludiu-me.

Mas agradeço-lhe que conte a história que conhece, devemos conhecê-la.

Abraço
ailva

jorge correia disse...

Caro Andrade da Silva,Antes de mais muito obrigado pela sua simpatia e abertura. Na verdade eu sou um modesto ex-furriel miliciano com a especialidade de atirador de infantaria que prestou o serviço militar obrigatório em Angola de 72 a 74.Quando cheguei a Luanda vindo de Cabinda em finais de Agosto de 74, chegaram quase ao mesmo tempo delegações dos 3 movimentos de libertação que tinham a missão de controlar os vários bairros populares de Luanda (vulgo musseques)é verdade pelo que sei, que as tropas portuguesas pouco actuavam no terreno, no caso do meu Batalhão não fazíamos rigorasamente nada, limitámo-nos a esperar pela data do regresso definitivo que se deu em Novembro de 74. A nossa vida era praia durante o dia e cinema e boites à noite.O Andrade da Silva referiu-se a uma coisa importante, na qual aliás tive envolvimento directo. A situação das tropas africanas que nos estavam agregadas,..este aspecto quanto a mim, foi totalmente desprezado. Que lhes terá acontecido ?? tive alguns problemas de consciência devido a estes factos,..que aliás tenho muito gosto de o convidar a ler num artigo que foi publicado no blog do meu Batalhão http://forum4611.blogspot.com  penso que determinadas situações não teriam sido devidamente acauteladas,mas....numa situação altamente conflituante, com interesses variados, e certamente muitos acontecimentos para nós desconhecidos passados nos bastidores, não seria normal haver descontentamentos principalmente vindos dos bens instalados, até então, que viram a desintegração do seu modelo de vida, baseado no colonialismo? ou seja na exploração do homem pelo homem ? claro que eu compreendo-os, mas nas guerras e nos períodos revolucionários, existem alterações do quotidiano, mudanças de rumo geram incómodos vários, mas para mim há que fazer o que é certo e justo e lutar por uma maior justiça da humanidade...tenho a certeza que o Andrade da Silva faz o mesmo.

Um abraço!  

andrade da silva disse...

Caro Jorge

Obrigado pelo seu depoimento. Também como o jorge sou um homem do terreno, nunca estive nos gabinetes geo-estratégicos.

Não sei qual o destino dos negros que serviram em Angola o Exército Português, espero que tenham sido poupados,mas não sei se terá sido assim,não o foi para outros pobres desgraçados que estiveram ao serviço de Portugal na Guiné. Todavia o seu responsável,segundo o acusam, Nino Vieira, esteve exilado em Portugal sem que nada lhe tivesse acontecido - quanta falta faz em Portugal um juiz garçon?

Caro Amigo partilhe connosco os seus conhecimetos e sentimentos este espaço também é seu.
abraço
asilva