Eis uma pequena história que fala da situação de angústia e abandono de muitas crianças e também, não menos, de milhares de idosos, a quem muitos, mesmo muitos dedicam menos atenção do que às suas TV’S. Tamanha solidão leva muitos a desejarem tornarem-se naquela objecto para serem, como hoje acontece na maioria das casas, o centro das atenções. Esta a tragédia dos nossos tempos.
Todavia este abismo TV também engole muita e muita gente, e milhares de jovens que para estarem dentro das TV’S, e serem heróis, dão de si o retrato de cromos, como acontece, entre muitos outros, nesse programa da SIC dos Ídolos, em que um dos membros do júri vomita literalmente insultos sobre esses pobres jovens que talvez também pelo lugar que as TV’S tiveram nas suas casas, sujeitam-se a essas humilhações. Estes Jovens também são vitimas desta solidão que consome as crianças e os idosos.
Eis a história:
Uma professora do ensino básico pediu aos alunos que fizessem uma redacção sobre o que gostariam que Deus Fizesse por eles..
Ao fim da tarde, quando corrigia as redacções, leu uma que a deixou muito emocionada. O marido, que, nesse momento, acabava de entrar, viu-a a chorar e perguntou: - O que é que aconteceu?
Ela respondeu: - Lê isto. Era a redacção de um aluno. 'Senhor, esta noite peço-te algo especial: transforma-me num televisor. Quero ocupar o lugar dele. Viver como vive a TV da minha casa. Ter um lugar especial para mim, e reunir a minha família à volta... Ser levado a sério quando falo... Quero ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções nem perguntas. Quero receber o mesmo cuidado especial que a TV recebe quando não funciona. E ter a companhia do meu pai quando ele chega a casa, mesmo quando está cansado. E que a minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar. E ainda, que os meus irmãos lutem e se batam para estar comigo. Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado, de vez em quando, para passar alguns momentos comigo. E, por fim, faz com que eu possa diverti-los a todos. Senhor, não te peço muito...Só quero viver o que vive qualquer televisor!
Naquele momento, o marido de Ana Maria disse: - 'Meu Deus, coitado desse miúdo! Que pais'!
E ela olhou-o e respondeu: - 'Essa redacção é do nosso filho'
4 comentários:
Caro João
Temos dois problemas diferentes.
A criança quer ser TV, no meu entender, demonstra que pretende que a família lhe dispensa a mesma atenção que dá aos programas de televisão. Esse é um dos males dos tempos que correm. Não existir um relacionamento afectivo na família, principalmente entre pais e filhos.
Quanto ao programa os Ídolos, é uma cópia de um programa que havia no Brasil e não sei se ainda continua, chamado “chacrinha” que para gozo dos telespectadores, que era campeão de audiência, destruíam, digo, destruíam perante as câmaras, os candidatos a cantores da forma mais horrível que possas imaginar, enquanto as gargalhadas da assistência eram delirantes. Dizer que só lá vai quem quer, é uma falsa verdade, pois as pessoas actualmente já não são senhoras da sua vontade, mas do apelo que a vida lhes faz, transformando-as num receptor de sonhos que, por sua vez são transformados em aspirações. E como tu sabes, é na aspiração que a vida se baseia, em que a felicidade não tem um só significado, mas tantos quanto as pessoas existem. Penso ser muito importante, para compreendermos melhor este fenómeno, estudarmos o fenómeno da “segunda vida”, que talvez venha a fazer uma palestra para a tertúlia.
Depois diz que não leio o que tu escreves.
Um abraço
Augusto Dias
Caro Augusto
Julgo que me lês e obrigado a tua opinião e conhecimentos são muito importantes, e devem ser partilhados por muitos. Também te leio e oiço com muita atenção.
Concordo com o que dizes, quanto à segunda vida julgo que todos ouviremos com redobrada atenção, o que tens para dizer.
Obrigado
abraço
joão
Como eu dosto de uma "boa provocação". É só agendar...
Domingos
Andrade da Silva,
Aprecio profundamente a forma como aproveita as histórias no intuito de nos alertar para as graves questões do nosso quotidiano.
Concordo em absoluto com a sua exposição em relação às crianças, bem como com a referência que faz aos Idosos. E, nesse sentido, permito-me expressar que , neste ultimo caso, a carência existe em maior escala e transporta magoas muito sentidas. Sem generalizar, nem culpabilizar os familiares, sobretudo os filhos, o certo é que , pelo stress em que vivem têm dificuldade em arranjar tempo para dedicar a seus Pais . No entanto, estes, mesmo já em idade avançada, são-lhe muitas vezes úteis. É normal verem-se à porta das escolas as crianças a serem levadas de manhã pelos Pais e à tarde serem as Avós ou os Avôs quem estão lá para os trazerem . Contudo, os referidos Avós e Avôs quando deixam de poder ser prestimosos ficam mais sós. Isto, porque os seus filhos, hoje também Pais, têm uma vida demasiado assoberbada, devido à actividade profissional acrescida do trabalho que uma casa envolve e ainda pelo carinhoso acompanhamento, absolutamente necessário, que têm de despender com as suas crianças, tarefas hoje partilhadas pelo casal, vendo-se assim obrigados a relegá-los para 2º plano . E, embora adivinhem que os seus progenitores, se possam sentir tristes, não conseguem alterar o que se passa. No entanto, os Pais Idosos compreendem a situação, embora a lamentem. Não quer dizer, que conheçam a solidão. Pois, muitos encontram -se felizes em acolhedores e agradáveis Lares da 3ª Idade, onde são acarinhados, onde estabeleceram amizades e onde ainda conseguem encontrar objectivos. Não estarão carentes, mas sentem a injustiça de terem dado mais do que recebem e sentem uma enorme saudade do ambiente familiar, reconhecendo que a grande culpa reside no Sistema.
Amigo Abraço
Maria José Gama
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