sexta-feira, 19 de março de 2010

ABRIL EXISTIU, EXISTE, RESISTE E...




Desde 1972 que gritava e trabalhava por Abril. No dia 24 de Abril de 1974, exactamente às 22h e 55m, mal Paulo de Carvalho cantava e “Depois do Adeus”, comandei a equipa que, com armas na mão, assaltou o gabinete do comandante para o prender, missão cumprida com risco, coragem e ousadia. Disto só sabe quem nestes palpos de aranha- viúva andou, e que antes, muitos anos antes, foi tão mal sucedido em Beja.

E mais orgulho e honra, embora esquecidas pelos que se julgam os donos dos actos históricos, sinto no cumprimento desta missão, porque foi feita, apesar de um meu camarada, o mais operacional, não se ter apresentado no local e hora aprazadas para cumprir esta missão.

É também a fuga dos oficiais na Rotunda, que hoje me faz admirar Machado dos Santos. Também aqui só quem se viu em tão angustiante situação sabe quanto custa a decisão de não abortar a missão.

Mas uma vez mais nestas circunstâncias se traça a fronteira entre os heróis de pacotilha que acham aquele ficar postado no seu posto de comando, pese traição de outros, como uma mera vulgaridade, e os que só podem louvar, admirar e honrar quem tais actos de superior coragem e emulação praticam, são os que conhecem a dor limite do sacrifício.

E como depois da tomada da unidade, da Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, no dia 25 de Abril 74, marchamos sobre Lisboa, logo se há alguém que não tem dúvidas que houve o 25 de Abril sou, naturalmente, um deles, e como também estive na boca do vulcão com o povo Alentejano na Revolução popular entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro 75, sei que houve uma Revolução que foi esmagada naquela data, isto é, a Revolução foi encerrada pela força das armas naquele Outono, mas Abril não morreu e resiste, e, enquanto, houver Democracia Abril vive, por vezes, sobrevive.

Sobre o futuro é preciso lutar e mobilizar os descrentes, e trazê-los à luta pela dignificação da democracia e pela promoção de um desenvolvimento justo, porém, nada disto será feito com negativismo ou pensando que Abril caminha em frente.

Não! Abril está a ser severamente atacado, mas a democracia apesar de coxa, porque a justiça está doente e a corrupção é campeã, ainda existe, e deve ser utilizada para regenerar o país.

São precisos mobilizar para a mudança pelo menos 2,5 milhões, dos 5 milhões de portugueses que voltaram as costas à política. Sem isto, tudo continuará como até agora, uns resistem, outros, impõem uma politica económica e social contra os mais fracos, para que os poderosos sejam cada vez mais ricos, até que um dia aconteça a LIBERTAÇÃO ou o DESASTRE.

Sobre o mais provável dos caminhos é muito pouco claro qual seja, em Portugal e na Europa, com a Chanceler Alemã a ameaçar com a expulsão da União Europeia dos países que não apertem até à asfixia ou à morte o garrote que espreme muita gente.

Portugal precisa de politicas de verdade, feitas com competência e honestidade. O nosso modelo de desenvolvimento está condenado, é, por um lado, imoral, e, por outro, insustentável. Portugal vive muito acima das suas capacidades produtivas com base no endividamento, que um dia poderá fazer de todos nós escravos.

Naturalmente que a esperança e alegria das Alentejanas da Revolução de Abril está limitada, mas não morre, elas e eles continuam a lutar. Lutemos …

2010-03-18

andrade da silva
Nota: (colocada em 19 Março pelas 13.40)
Este texto não se refere às lutas dos alentejanos, como se verifica, mas às que travei histórica e comprovadamete para que Abril existisse, e que tenho o direito e o dever de contar, são do meu património, pessoais e que ninguém mas roubará ou calará, até quando o fascismo não impuser o silêncio.
Todavia a minha posição não fui de mera solidariedade com o POVO Alentejano, como se pretende num comentário a este post. Estive durante 6 anos a ser julgado por causa da Reforma Agrária, fui deportado para a Madeira e preso por duas vezes, 2 anos de prisão e outros 6 dias pelo general Chefe do Estado Maior General Garcia dos Santos, pelo modo como me defendi das acusações sobre a minha actuação no Alentejo. Ainda este texto foi produzido por causa de alguns comentários ao post A ALMA DE ABRIL É ETERNA.

15 comentários:

Anónimo disse...

os Alentejanos nao têm dono
não se aproprie de seus valorosos combates para fazer valer sua imagem pessoal e impor seu nome como líder
seja solidário, mas nao se aproveite de tal
Alentejano não é parvo

Francisco Santos

andrade da silva disse...

Caro Santos
Não entendo o seu comentário estou a narrar factos historicos onde agi como agi, respondi a comentários que pareciam dizer que eu negava Abril, de resto apropriar-me de quê?

Falo dos combates que travei ao lado dos alentejano como tantas vezes reconheceu e até quis estar presente em 13 de Março em Montemor para me ouvir, mas que estranho bicho lhe mordeu se foi mesmo o meu amigo Francisco que escreveu isto.
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

Andrade da Silva, não surgiu na ultima maré ao lado do povo Alentejano
estamos realmente a atravessar uma época de desconfiança, que é contagiosa, não neste caso que nem tem mais conversa, mas no geral
as pessoas se são infelizes é porque não acreditam em nada
e não acreditar em nada é uma forma de pobreza absoluta
o tempo que atravessamos é de Unidade!
Ponham os olhos na Grécia!
quando os povos querem o direito à vida torna-se possível, e a seguir ao combate a alegria de viver

Marília

andrade da silva disse...

Marilia

Registo a sua solidariedade, de facto como vou passar a narrar em post sobre a Revolução, não fui um mero cidadão solidário com os alentejanos, como deles sabem e reconhecem e se deslocaram de longe de Vendas Novas e do Escoural a Montemor para me verem e ouvirem não me limitei a ser solidário, de facto fui tão alentejano e camponês, como o alentejanos e camponeses, razão porque aquele comentário de Francisco Santos não é injusto.

Não preciso de evocar a minha história para me afirmar como o quer que seja,porque nunca pretendi ou pretendo vãs glórias, mas é meu dever contar a parte da história que vivi e protagonizei, farei mesmo que outro fascismo se levante.
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

o fascismo não volta mais!
Abril está vivo, apenas dormita em alguns
mas volto de novo à Grécia, sejamos amplamente solidários dos trabalhadores gregos! Por eles, pela sua coragem, pela sua consciência politica, por saberem onde se encontra e apontar o inimigo!
e pelo magnifico exemplo que estão a dar que vence todas as descrenças!
Abril Universal possível!
Marilia

Marília Gonçalves disse...

A força da Resistência

Tem toda a razão quem diz a verdade
apenas lamento que os milhares de presos políticos muitos deles alentejanos, não tenham blogues e contem todos sua história
dos deportados no TARRAFAL
E TODOS OS ASSASSINADOS, que sem voz precisam de testemunhas que lhes contem a História dos que jà não a podem contar!
Consigo deu-se o inesperado, o seu sofrimento foi depois do 25 de Abril? não! foi depois do 25 de Novembro! e isso é também uma monstruosidade, mas prova, que por dentro das forças de Portugal continuavam muitos reaccionários.
Isso sim, foi uma falha de Abril, não ter expulso do seu seio os fascistas disfarçados, que em paz ficaram, sem julgamento e sem que se lhes tenha tirado a força de morder de novo!
e quanto à Solidariedade nao tem nada de ofensivo, é um belo sentimento que nos leva a partilhar com outros as suas lutas e os seus sofrimentos!
Que para o povo do Alentejo foram inúmeros e desmedidos.
Marilia

Anónimo disse...

Os Alentejanos participaram e ainda hoje participam com plena consciência, do papel que cada um deve ter na transformação desta sociedade capitalista que discrimina os que menos têm.Todos somos poucos, para dar combate ás politicas de direita.O 25 de Abril fez-se com a luta travada de anos e anos de luta de muitos democratas,que não desistiram para que o 25 de Abril viesse a ser uma realidade e graças á intervenção dos militares acabou por ser um eixito com a participação em massa dos populares.Se estamos lembrados muito se repetiu, na aliança do pvo com o MFA.Penso que nos tempos que correm ninguem anda á procura de medalhas,mas sim com uma responsalilidade renovada de unir os trabalhadores, para dar combate ás politicas de direita.
Para que não destruam mais as conquistas de abril temos que estar atentos todos os dias da nossa vida.A Luta É o Caminho.

andrade da silva disse...

Francisco Santos 19/3 às 20:05
João fiquei muito admirado com essa história eu há 2 dias que não ligava o computador e agora ao ligá-lo fiquei espantado com isso.

A internete tem esse inconveniente qualquer reacionário pode fazer isso. Eu conheco o teu passado como lutador anti-fascista sempre ao lado dos trabalhadores alentejanos e não só.
.um abraço

Caro Francisco

foi uma mera confusão de nomes, uma mera coincidência, qualquer pode dizer o que quiser, o que, importa é que não sejam os homens justos a dizerem o que são ignominias.

O nosso leitor tem direito à sua opnião, neste caso julgo que foi injusto, mas isso é com a consiência dele, e se fôr uma pessoa de bem compreenderá que errou, se for um individuo maldoso continuará com a sua sanha.

Caro Francisco não te preocupes com este incidente, está ultrapassado.
abraço
asilva

GiaSantos disse...

Andrade da Silva
Ainda há pouco o meu mano, Francisco, me ligou preocupado pois não sabia se teria recebido o esclarecimento dele em que nada tem a ver com o comentário inicial do Francisco Santos.
Conquanto haja vários com o mesmo nome Face e com Skype, também não entendo o que se passou será pirataria da Net?
Pediu-me para verificar se tinha recebido o esclarecimento, pois ele tem rede móvel e no monte é fraca, estava preocupado por pensar que fora ele que enviara o tal comentário.
“Liberdade de expressão e igualdade de oportunidades para todos” sempre, sempre.
Um abraço
Luzia

Marília Gonçalves disse...

ola amigos
ante a confusão estabelecida com o nome Francisco Santos fiz procuras no Google e é um nome tão usual em Portugal, Brasil e até nos países da América Latina
terá sido uma coincidência
mas por exemplo o meu nome Marilia Gonçalves até já encontrei com uma garagem de automóveis e mais, pondo todo o meu nome, com os de casada também continuam a aparecer Marilia Gonçalves por todo o lado com as mais diversas profissões
por isso o que é amigo aqui do blogue, não se preocupe, até há uma cidade com o seu nome, aliás com parte do meu também no também, no Brasil, não conheço as Marilia Gonçalves que povoam o Mundo e isso possivelmente dá-se com quase todos os nomes
o estranho seria que um nome tivesse sido criado para uma só pessoa
coincidências, e não se aflija mais
abraço
Marilia Gonçalves

andrade da silva disse...

Cara Gia

Não se preocupem está tudo esclarecido, foi pena o tal Franscisco que tem direito à sua opinião não ter vindo esclacerer a confusão, está tudo esclarecido.

O comentário só doía se fosse do nosso Franscisco, não sendo é mais um comentário de quem tem o direito a ter a sua opinião, devia, se tivesse moralidade no caso de ter voltado a ler o blogue, de esclarecer que não há só uma pessoa com o mesmo nome na Terra.

Mas de tudo isto fica o grande facto positivo o de terem intervido. Apareçam sempre e deixem a vossa opinião e se tiverem um texto um poema enviem para se publicar. Um grande beijinho e um abraço para o Francisco.

abraço
aailva

Marília Gonçalves disse...

A Resistência é Possível

Cidadãos, Cidadãs
Chegado o momento de resistir activamente
Camponeses, Pescadores, Operários,
Estudantes, Desempregados, Reformados
Mulheres, Trabalhadores, Mães de Família....(continua)

http://nossaspoesiaslibertarias.blogspot.com/2010/03/resistencia-e-possivel.html

Marilia Gonçalves

AAA disse...

Caro Andrade da Silva,
não percas essa força, amigo!
E a psicologia e a história ensinam-nos que só diz que não tem dono quem anda de canga às costas!
O ex-alferes da EPA,
F. Mendes

andrade da silva disse...

Caro Firmino

Cada um usa a força no ponto onde pensa que melhor pode mover o Mundo, uns são mais inteligentes escolhem o melhor ponto, ou nenhum, outros mais burros escolhem o pior, as tais circunstâncias históricas são também determinantes.

abraço fraterno para ti que também fostes e és um obreiro de Abril e por aquelas terras e unidade ( a Escola Prática de Artilharia)andastes até às veésperas do 25 de Abril, pois de lá só saístes depois o 16 de Março 74 ( o Movimento das Caldas) a tal Segurança do Estado não quis que na EPA participasses na gloriosa arrancada, sempre eras mais um, e às vezes mais um faz a diferença.

Agradeço o teu comentário, mas eu sou assim, sem emenda, sou madeirense por..!...
abraço
asilva

Unknown disse...

Aos comentaristas, aos visitantes.

Não me foi passado mandato de defesa, mas tenho a certeza que o Andrade Silva foi dos militares de Abril no Alentejo mais defendeu como ainda hoje defendeu e defende ao Nobre causa de Abril.
Estou á vontade com o que digo, eu estive lá, eu vi, eu tomei parte na defesa das nossas ideias dentro do quartel de Beja contra o comandante da unidade que era um Hitlerseco.

Um forte abraço ao Andrade Silva e um muito obrigado pela tua coragem.

João Artur