segunda-feira, 12 de abril de 2010

MARROCOS: SOL,VERDE E MISÉRIA


Na mesquita de Hassan II em Casablanca



Marrakech



NÃO DISFARCEIS A VERDADE COMO FALSO, NEM OCULTEIS A VERDADE, SE A SABEIS” ( Alcorão, cap I, vrs 42)


Neste exercício de procurar dizer verdades e não ocultar as que sei, me tenho empenhado e merecido às maldições. Em Portugal, houve um tempo, que se dizia que só a verdade era revolucionária, julgo que é mesmo deste jeito, mas mesmo que não fosse deveria ser praticada, como o caminho mais certo, mas sabemos que não é assim.

Todavia para que possa haver cinismo e hipocrisia lá a burguesia e os bem pensantes atiram contra todos nós que não há a verdade, mas somente verdades. Todos vimos a mesma coisa, mas temos o direito de ver sobre a mesma coisa, realidades diferentes. Que seja assim.

Andei por Marrocos numa excursão “ low cost”, com pessoas do povo, mas com umas centenas de euros para custearem a viagem e comprarem umas coisas. Nas compras somos sempre muito generosos. Compramos tudo, mesmo lixo e, ainda bem, assim, salvamos alguns necessitados que a maioria olha como meros vendedores aldrabões que precisam de ser aldrabados no regateio, a ver quem é melhor.

Estes portugueses fazem esta disputa, e se o vendedor pede 10 unidades monetárias e acabam por comprar por 3, é uma festa. Pessoalmente fico constrangido com uma coisa e com outra, porque entendo a aldrabice do necessitado, já não compreendo a esgrima do aparentemente mais forte contra o desgraçado que precisa de algumas moedas para sobreviver.

Sei que dizem que, culturalmente, se não regateáramos o preço, os árabes sentem isso, como não reconhecimento do mérito. Não sei se é assim.

Há tanta coisa para aprender, mas para mim as coisas deviam ser diferentes. Defendo o preço justo, a ser tablado, regulado pelo estado, ou por alguém com ética e autoridade. Seja na Bósnia, quando por lá passei, comprava as coisas ao preço apregoado, o que, me levou a ficar admirado, quando um soldado que no mesmo lugar comprava, depois de ter regateado significativamente, e deixar menos dinheiro no vendedor, foi recompensado com imensas recordações. Coisas da humana gente, ou capacidade de sedução daqueles soldados… enfim.

Desde que haja várias verdades até dá para cada um ficar na sua, e ninguém se aborrecer, mas há verdades quantificáveis, e, aí, a filosofia é um fraco instrumento, para suster a torrente.

Marrocos tem as suas quantidades trágicas. É um país com uma dimensão a perder de vista, uma costa de muitos quilómetros. Tem 40 milhões de habitantes, 65% trabalham numa agricultura de subsistência, 60% são jovens, idosos são muito poucos, morrerão cedo ? ( a esperança de vida publicitada na Internet é dos 70 anos. Não vi ninguém que aparentasse tal idade, aliás, a gente de meia idade com que nos cruzamos, com 50 anos dá muitos sinais de envelhecimento precoce e não eram camponeses ).Os trabalhadores dos serviços ganham 200€ / mês, como os preços são idênticos aos de cá, logo se vê para que chega tão pouco.

Mas que futuro aguarda os jovens? Em cada cidade há três distintas: a Medina, ( a velha) a Moderna e a Judia. Sempre viveram coexistindo, facto importante. Na Medina, nos bairros periféricos a azafama é enormíssima. À noite Gente e mais gente por aquelas ruelas estreitas. Todos os dias, a partir das vinte até às 22h superpovoam aqueles caminhos, onde, aos montes, as coisas umas ao lado das outras se encontram expostas para venda, são milhares, milhões de tâmaras, peixe , roupas , ouro etc. e claro pó, vírus e bactérias. Que aparelho imunológico terão para resistir a tanta ameaça!

Por entre toda esta festa de cores, cheiros e sabores corre um cordão humano de gente absolutamente prensado, se é turista, por verdadeiras tenazes de vendedores, o que, de facto, cria alguma pressão sobre quem gostaria de acudir àquelas pessoas, seres humanos à beira do colapso, mas não quer comprar lixo, e nem pode, nem sabe muito bem o que fazer entre tanta gente. Se dá algo a um, não sabe o que acontecerá logo de seguida. Dei uma moeda a um jovem que conhecia a Ronaldo, e depois vi-me atrapalhado com outros. A atitude defensiva é, parecer indiferente, mas isso é-me quase impossível.

Tudo em Marrocos é feito na base trinaria: três prefeituras: a antiga, a moderna e a judia; três religiões: a Muçulmana, a católica e a judia, três classes os camponeses e os pobres, a classe média baixa que só com expedientes ou muita ginástica pode ser classe média, porque ganham cerca de 400 € mês e os poderosos da família real com palácios e mesquitas privadas por todas ou quase toda as cidades; as mesquitas com três ou cinco bolas, quando são três representam os elementos terra, mar e ar, e com cinco representam os cinco mandamentos; por aquelas ruas estreitas também correm três grupos de pessoas diferentes os visitantes, os vendedores metidos em lojas, onde, só cabem um ou dois vendedores, tão minúsculas que são e os impingidores de objectos que enxameiam toda o espaço e cercam nitidamente as pessoas, normalmente caminhamos rodeados por dois vendedores, mas muitas vezes por três e raras vezes por um; nas cidades também falam de três cores uma a predominante na pintura das casas que em Marrakech é o ocre para absorver o calor, o azul do céu e o verde dos jardins, como proclamava o guia árabe que falava bem português.

Só posso ver globalmente Marrocos como um país enorme, para milhões de pessoas sobreviverem por uns muito estreitos anos. 60% da sua população tem 18 ou menos anos, não vi idosos.

Marrakech, então, supera tudo em pobreza e na completa desorganização da sua vida urbana, esta é um caos, nas ruas da praça principal todos avançam para os cruzamentos aos memo tempo e aos montes, pessoas, automóveis ligeiros e pesados, carroças. É uma realidade que só vivida se sente e compreende, de resto contada é inimaginável e contraditória.

É intrinsecamente uma cena da idade média, em termos da organização urbana, estando ali a mais, completamente fora daquele caos, os automóveis, o resto estaria certo, se pensarmos em termos de século XVII ou talvez, mesmo antes. Mas se pensar que na África e na Índia estes cenários ainda podem ser mais expressivos, fico mesmo confuso, sobre a capacidade de os vivênciar.

Não creio ter visto alegria, vi por todo lado, por aquelas extensas paisagens, povoações muito dispersas com aquele ocre dos pobres e muitos, imensos, pequenos rebanhos sempre acompanhados por homens e, ou crianças, dando como sinal que a pastorícia será uma actividade muito importante e difundida.

Ao nível monumental temos as mesquitas a da Cotovia em Marrakech, aqui, em honra dos livreiros, nesta sentiu-se os efeitos do terramoto de 1755, mas imponente é a de Hassan II, em Casablanca, sobre o mar, “porque o trono de deus é sobre o mar”, como diz um versículo do Alcorão.

Nesta mesquita para além da brilhante e muito bonita guia, com uma ironia fina, para explicar sem chocar ninguém a razão da separação dos homens e mulheres nos templos, que nesta Mesquita ficam num primeiro andar, enfim, para melhor observarem os homens.

Na sua construção foram usados muitos materiais naturais como ovos, a clara para segurar o estuque e para absorver a humidade as gemas, e as tintas foram feitas com pimentos etc. Esta maravilha da arquitectura foi construída por 2500 obreiros e 10000 artesãos.

Por estas terras os táxis, na sua maioria Mercedes 240 D, muito velhos, são os verdadeiros transportes públicos, levam varias pessoas para sítios diferentes. As pessoas que vivem fora das cidades e nestas trabalham devem ter grande dificuldade em deslocarem-se pela pouca oferta de transportes públicos, parecem ficar muito tempo à beira das estradas à espera de transporte.

Ao cair da tarde há muita gente nos passeios, e, de um modo geral, as/os jovens usam roupas ocidentais. As vestes tradicionais são mais usadas pelas mulheres e por homens de meia idade. Também vesti a túnica. Lá era maioritário, vou tentar fazer a experiência por aqui, a ver como me sinto.

Marrocos como país independente é muito jovem e em todas as cidades a parte moderna tem um tipo de organização urbana muito semelhante à nossa. Os movimentos por todo o território são plenamente livres.

Em Marrakech os jovens reúnem-se à noite para ouvir os narradores contarem histórias de encantar que não podem falar de politica, se não a policia intervém , segundo o guia não bebem álcool que é proibido, mas outros líquidos ou fumos para fazerem longas viagens pelo Mundo da dependência.

Outras histórias, como é óbvio aconteceram no grupo dos portugueses, mas desta vez vou resistir à tentação de as contar, porque como sou irrequieto, intervenho, podendo até parecer que vou ao encontro das coisas, mas não é. Estou ali e sinto que devo fazer alguma coisa, e, logo, faço. Uma das cenas tem a ver com o atraso de duas raparigas de cor, mas isso merecerá um conto à parte.

Como sempre quando de Portugal saio desejava que o regresso fosse dilatado, não fora a incapacidade do meu aparelho digestivo para habituar-se à alimentação dos hotéis e o receio da qualidade dos serviços de saúde que com médicos a ganhar 400 €/ mês deve ser dramática, do que a ausência de idosos deve ser um sinal de mau augúrio, por qualquer lado ficaria bem mais tempo, talvez o resto da vida, desde que nunca parasse em lado nenhum, um errante, um cigano… nos anos 60 ser hippie era algo que me fazia todo o sentido, mas…

MARROCOS como desejaria um 25 de ABRIL planetário, mas que posso fazer, se nem sequer no meu país o 25 de Abril vinga? Em Portugal também tudo está controlado e bem. Desgraçadas das ovelhas fora dos rebanhos.


andrade da silva

PS:

No regresso fui comprar um alcorão, andei por 3 livrarias a Fnac do Chiado, a Bertrand e a Sá da Costa, nestas duas últimas não havia nenhum tradução fosse, qual fosse a língua. Na Fnac só havia duas traduções uma em francês e outra nos livros de bolso da Europa-América, disseram-me que única. Fiquei admirado, se é assim , como há tanta gente a saber sobre o alcorão sem lê-lo, ou só lêem na Internet?
Nos hotéis a alimentação é do tipo ocidental servida em bufete para mal da gula dos portugueses que depois ficam doentes. Tive dificuldades em resistir às tentações dos pequenos almoços com tâmaras figos secos em calda, ameixas tipo de Elvas, etc, mas tive de resistir e resisti. Fui um “gande” H.

Não posso, nem quero esconder a beleza da guia, quer de algumas raparigas que nos acompanhavam. Por toda a parte confessarei a minha paixão pela beleza e é no feminino que mais se expressa, enfim coisas…

21 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Companheiro Amigo

que grande narrador, além do grande SER HUMANO que desde há muito sei ser
aqui são cinco e vinte da manhã
mas amanhã terei mais qualquer coisa a dizer
abraço amigo
Marília

Marília Gonçalves disse...

Capitão Amigo, Leitores, Companheiros
havia dias que o Pirandello com Para Cada Um Sua Verdade me andava a trotar na cabeça, hoje o nosso Coronel trouxe-nos de sua viagem a Marrocos, conclusões que me fizeram mais uma vez Pensar no autor acima e na peça que escreveu.
Não é minha intenção fazer critica literária. Apenas uma breve observação sobre a vida!
A verdade é o facto tal como ocorreu!
As verdades que cada um pode tirar desse facto segundo sua conveniência, são meras interpretações do que foi um facto concreto!
Compreendo por conseguinte perfeitamente o ponto de vista de Andrade da Silva! um facto é um facto e nenhuma interpretação do mesmo o pode alterar
por agora sem mais
o meu fraterno abraço
Marília

só planície disse...

então está explicada a longa ausência da blogosfera! o capitão, ou deverei dizer o coronel, peço desculpa das minha ignorância em termos de hierarquias militares, para mim prefiro capitão de abril!, andou numas belas férias e fez muito bem.
quanto aos factos... em história ensinava-se que podiam ser analisados de muitos pontos de vista. cabe-nos fazer a nossa própia interpretação. mas segundo a famosa escola historiográfica francesa Les Annales um historiador é antes de tudo um ser humano e logo...cada um tem a sua interpretação dos factos.

Marília Gonçalves disse...

CARÍSSIMOS DO MUNDO DE BLOGUES PARA ADULTOS
afasto-me definitivamente
e fico pelo Mundo inocente e puro das crianças

Espero que reconquistem a voz e juntos reconstruam Abril
Marília Gonçalves


Perdigão perdeu a pena

Luís Vaz de Camões

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.

Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.

andrade da silva disse...

Rosalina

Tina um comentário que a maquina comeu,agora reduzo-o sou simlesmente o joão ou andrade da silva, sinto orgulho em ser reconhecido como militar de Abril, mas enoja-me que por exemplo a Camara de Almada tenha dado destaque a quem no 25 de Abril faria fogo sobre os portageiros da ponte, do que já referi, ma a verdade é incomoda é melhor vivermos mais duzentos anos nesta podridão amansando o povo.

Marrocos férias e observação, uma viagem importante.
bjhno

Marilia
As crianças beneficiarão com os seus poemas de encanto e fantasia, mas este espaço também é seu, logo aqui se deve manter.

Abril, Abril....

abraço
asilva

E.Miranda disse...

Marília os seus poemas e os seus textos dão brilho a este blogue.
Continue a escrever para nós.

Beijo amigo

Marília Gonçalves disse...

MEUS AMORES, meus queridos amigos
a verdade é que nem vocês que adoro, nem Abril a minha LUZ TAO QUERIDA? têm culpa de minhas dores.
Peço-vos desculpa, eu volto a escrever, assim a vida me acompanhe
Capitão o meu respeito por si, o primeiro homem de Abril a estar na rua com as suas tropas (não o soube por si mas pelo Pedro Lauret, por quem tenho grande estima e ternura) você conhece-lhe bem a dimensão e a profundidade.
E o meu Amor por Abril de 1974!
é incrível! A 24 de Novembro morreu-me um filho, a 25 de Novembro começou a morte do que o Mundo pariu de mais belo e grandioso
Apenas penso que por traz do que pode parecer, há forças ocultas, mais fortes e poderosas, lembre-se como o representante maldito dos USA NÃO LARGAVA Portugal nessa época e por similitude vem-me à memôria que aqui em França sempre que medidas sociais fortes, impulsionadas pela Esquerda eram anunciadas pelo Presidente Miterrand, logo no dia a Seguir o patrão do MEDEF, subia as escadas do Eliseu e nas medidas anunciadas, esperança do povo retrocediam!
Para cúmulo
hoje preside a França um dos favoritos do MEDEF!
Aqui no hospital ontem um maqueiro que me transportava perguntava-me até quando. Apenas lhe respondi: até ao povo perceber e acordar! Com Portugal é o mesmo
acabo aqui vieram agora chamar-me, tenho que ir
beijos de Abril de papoilas e cravos
Marília

Anónimo disse...

oiça cá Sr Coronel prante o senhor uma foto sua para a gente saber se é bem bom
fala bonita tem mas mostre se é catita mas uma de coronel com farda e tudo
vamos cair como moscas
que nos perdemos de vez
ai ai

ginita

andrade da silva disse...

Oh ginita oh ginita tanta gente diz que nunca me viu, agora ponho uma foto e lá vem o seu discurso oh ginita não foi essa a intenção, but...

de qualquer modo para fazer alguma prova de factos vou publicar outras do PREC onde está o ten Andrade da Silva, mas isso já lá vai há muito tempo, mas de coronel já estou no google, pode ver Coronel Andrade da Silva, Ginita.... Ginita....

Marilia

Aqui deverá continuar, gostamos de si e da minha parte penso como a Marilia, quanto ao 25 de Novembro, mas como vou faLar sobre abril e Novembro com as tais fotos do ten. Andrade da silva. P0r ora me calo, até para dar tempo à ginita de ir ao Google ver-me fardado.

abraço
asilva

andrade da silva disse...

Marracos

Algumas pessoas têm comentado, e sobretudo pessoas muito amigas, quanto lhes sensibilizou a expressão terra de Sol para se viver uma vida estreita, com 60% de jovens e nenhum idoso à vista, e com as pessoas de 50 anos com ar muito cansado, sendo guias oficiais.

Todavia o que senti e me perturbou foi muito, muito pior, mas que não registei, porque me faltam muitos dados, mas o que senti é que aqueles 65% de subditos desgraçados só têm a liberdade para morrerem, o que, pode fazer deste país, como de muitos outros verdadeiros campos de exterminio ao SOL, e, isto, é o que sinto e me deixou em estado de choque.

Mas outros só vêem a riqueza dos poderosos e chamam Marrocos de muito liberal ao nivel dos negócios, obviamente se aquela gente ganha tão pouco e os preços que consultei são idênticos aos de Portugal, ou pelos impostos ou pela acumulação iligitima das mais valias alguém está podre e imoraLmente riquissimo, não há volta a dar...

abraço
asilva

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
andrade da silva disse...

O comentário da suposta Marta viola principios fundamentais do estrito respeito da liberdade de expressão que não pode ser usada para vómitos, pelo que peço ao administrador do blogue que o retire deixando este comentário, dado que esta suposta Marta produz um comentário indigno, sem humor nenhum e sem piada, constitui um mero e simples abuso indigno do direito à liberdade de expressão, que naturalmente tem de respeitar a liberdade dos outros.

Não é tolerável, nem pode ser tolerada a ultrapassagem de dados limites de razoabilidade. Não vale tudo, isso não é liberdade é arrogãncia e prepotência.

asilva

Marília Gonçalves disse...

menina a quem faltou o chá em pequenina
Faltar ao respeito a um Homem de Abril, OS HOMENS SEM SONO, traz assinatura de 24 de Abril
Respeito pelos que lhe facultaram o direito à palavra, para respeitar-se a si mesma
Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

COMPANHEIROS

estou chocada! se se continuam a verificar ataques pessoais ou menos dignos, que afinal degradam quem os faz, pela calada e com malévola intenção, a de ferir, ou pior de criar confusão nos espíritos, quase seria melhor pôr um filtro a certas palavras. Para dizer o que senti, assustei-me, porque o falar numa bota, expressão que desconheço, pensei que houvesse alusão a algum ferimento de guerra, e senti-me ainda pior, por receio que a pessoa que tentavam atingir fosse ainda mais magoada. Como sabem estou no hospital, porque não estou bem, se dos amigos alguém tiver vontade e apitar o Sr Coronel Andrade da Silva tem o meu telefone
abraço a todos e espero que as brincadeiras de mau gosto, estúpidas e absurdas cessem
a vossa
Marília

Marília Gonçalves disse...

Companheiros, Amigos, Leitores

acontece que aqui por França tenho uma empregada turca há uns oito anos.
Turca e muçulmana. Casada, é uma rapariga de um asseio extremo e da maior confiança, as casas onde trabalha, nada têm a ver com a minha, são palacetes, e é ela que tem os códigos dos alarmes a cargo todas as chaves de casa e jardins de hectares. Assim trabalha e disso vive, além do marido operário que perdeu um olho em acidente de trabalho (nunca se é prudente demais, na segurança no trabalho)Não sei como se passam as coisas com os muçulmanos em Marrocos, mas o meu pai que por aqui passou anos pelos hospitais, gabava a higiene e o asseio dos muçulmanos, mesmo por princípios religiosos, lavam-se várias vezes por dia.
No que toca o regatear sei que esta rapariga, vai comprar em lojas onde encontram produtos da alimentação deles, as carnes são preparadas de modos diferentes e as minhas filhas que nada têm de muçulmanas são, as únicas que comem, os judeus têm também um modo de matar e preparar as carnes o que lhes confere um paladar mais suave.
quanto à senhora turca que me limpa a casa,
E ao contrário do que seria de esperar chega-me a casa com todo o tipo de prendas, sempre que faz doçaria vem carregada de coisas para eu provar e quer por força que va com eles de férias à Turquia, a casa deles fica a cem metros do mar negro,se ainda não aceitei é por motivos de saúde os mesmos que há anos me impedem de ir a Portugal, se tenho alguma avaria em casa ela telefona ao marido que vem lesto e sorridente reparar o que precisava de o ser.
Nunca os vi interesseiros, vi-os gratos e reconhecidos, passam a vida a convidar-me a casa deles, porque para eles dar e receber bem quem os visita, faz parte das tradições religiosas.No ocidente o prazer é receber eles têm a franca alegria de dar.
é uma pequena achega, para mostrar que dois dias ou mesmo uma semana é muito pouco para compreender as diferenças dum povo. Se os convido para vir tomar café e comer bolo, vêm sorridentes quase como crianças a quem se fez uma surpresa agradável. e quando estou pior leva a telefonar-me e faz uns poucos de km para vir dar um jeitinho nem que seja uma hora.
Não é pela fortuna que vem ganhar, é porque não suporta que me esforce.
às vezes anda a trabalhar e vem agarrar-se a mim aos beijos, como uma garota.
Não creio que seja modelo exclusivo criado para mim, é que nos outros povos também há muita coisa boa. A filha mais velha já entra agora para o próximo ano para a escola veterinária e todos os filhos estudam e são bons alunos
E pronto dei-vos a conhecer um pouco dos filhos da Turquia, onde há quem use véu e quem não use, segundo a vontade dentro da mesma família e posso garantir que não escondem o rosto. Não precisam disso, e não são as burkas, mas véus transparentes e coloridos
são simplesmente diferentes e para acabar há muitos turcos loiros e de olhos azuis, tal como na Argélia na região da Kabilia
Afinal em todo o lado há bom e mau como na Europa ocidental, tal como em Portugal ou em qualquer parte do Mundo
abraço fraterno
Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Pobres dos nossos ricos




Mia Couto - Poeta Moçambicano

POBRES DOS NOSSOS RICOS

A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.


Mas ricos sem riqueza.


Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.


Rico é quem possui meios de produção.


Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.


Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. ou que pensa que tem.

Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".


Aquilo que têm, não detêm.



Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.


É produto de roubo e de negociatas.


Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.


Vivem na obsessão de poderem ser roubados.


Necessitavam de forças policiais à altura.


Mas forças policiais à altura acabariam por lança-los a eles próprios na cadeia.



Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.



Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem (...)






MIA COUTO

Jerónimo Sardinha disse...

Marília,

Que tal dar forma ao Mia Couto e postar ?

As melhoras.

Vá dando novas, da saúde e da vida.

Beijo,
Jerónimo Sardinha

Marília Gonçalves disse...

O fim último da vida não é a excelência!

O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista. Vale a pena ler!

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos.
A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"



(enviado por amigo, a quem agradeço)

Jerónimo Sardinha disse...

E tem razão o João Pereira Coutinho!

Há anos, muitos, que tento fazer compreender essa verdade incontornável e insofismável. A razão última da existência neste torrão, é, será sempre, a busca da felicidade. Esta, no entanto, devido a muitos factores e equívocos humanos, mostra-se cada vez mais inatingível.
E continuamos a remar e ensinar os nossos filhos a remar ao contrário.
Daí os últimos dois séculos serem conhecidos pela época das depressões, da inconstância, da incoerência, do egoísmo, etc.

Tenho dúvidas que se vá a tempo de emendar a mão. Mas nada custará tentar. Seguramente seremos todos mais cordatos e, talvez, um pouco felizes.

Abraço, grande,

Jerónimo Sardinha

Marília Gonçalves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Conforti disse...

Olá, gostei muito da tua narração. Estava pensando em ir visitar o país e tinha dúvidas, mas agora não tenho mais.Gostaria de saber sobre uma parte que começou a contar e não terminou, sobre as pessoas de 'cor'. De que cor eram? brancas,verdes, negras, amarelas, azuis, rosas, laranjas? não entendi.