sábado, 24 de abril de 2010

VIVA O 25 DE ABRIL DE 1974


Porque os meus colegas de blogue devem ter preparado algo para o 25 de Abril, a minha homenagem ao DIA mais belo, encontra-se no meu blogue

4 comentários:

Marília Gonçalves disse...

ACUSO

Cavalo de vento
Meu dia perdido
O meu pensamento
Anda a soluçar
Por dentro do tempo
De cada gemido
Com olhos esquecidos
Do riso a cantar

Quem foi que levou
A ânfora antiga
Onde minha sede
Fui desalterar
Sementeira de astros
Que o olhar abriga
Por fora dos versos
Que hei-de procurar

Quem foi que em murmúrio
Na fonte gelava
Essa folha branca
Aonde pensar
Quem foi que a perdeu
Levando o futuro
Por onde o meu barco
não quer navegar

Quem foi que manchou
a página clara
Com água das sedes
Que eu hei-de contar
Quando o sol doirava
As velhas paredes
Da mansão perdida
De risos sem par

Quem foi que levou
Os astros azuis
Do meu tempo lindo
Meu tempo a vogar
Por mares de estrelas
Vermelhas abrindo
Quando minhas mãos
Querem soluçar

Não mais sei quem foi
só sei que foi quando
a noite vestiu o dia que era
E todos os sonhos
Partiram em bando
Fugindo de mim e da primavera

Mas há na memória
Da minha retina
A voz que se nega
A silenciar
Com dedo infantil
Erguendo a menina
Diante do réu
Em tempo e lugar!!!


Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

Meio Século

No tempo em que os cavalos
Tinham patas de vento
O vôo ultrapassava a dor
E as raízes
Quando sonhos azuis
não podiam montá-los
A desenhar o sulco
De térreas cicatrizes.
No tempo em que os cavalos
não escolhiam caminho
Levantavam as crianças
Do solo atraiçoado
No tempo dos cavalos
E das imperatrizes, as leis
Eram sombra de quem ia montado.
No tempo em que os cavalos
Desenharam memória
Da cor da sua cinza
Sobre a cinza dos dias
No tempo em que o terror
Era vê-los, olhá-los
Como vento a passar sobre histórias vazias.
No tempo em que os cavalos
Numa cidade inquieta
Galopavam no tempo
Que não queria parar
Uma mancha de sangue
Desenhava-se preta
Nos dias ressequidos
A perder-se no mar.
No tempo em que os cavalos
Eram maiores que a estrada
Havia vozes cegas
Ou olhos por gritar
No tempo em que eram monstros
Que vinham dispará-los
Sobre a esperança nascida
Que não queria murchar
No tempo dos cavalos
No tempo dos cavalos
Na Pátria ia crescendo
A raiva popular.

Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

QUEM SOU ?...: Marília Gonçalves


Marília Gonçalves, nasci em Lisboa, na Avenida da República às mãos do Dr Pedro Monjardino, nome que para quem conhecer bem Lisboa e a sua história, anda ligado à resistência ao fascislmo e ao salazarismo. Comecei bem!

Poeta; militante associativa, declamadora, animadora de Rádio

moro numa cidade-aldeia, com características medievais, conservando o velho castelo, monumento à santa do nome da terra e igreja igualmente medieval, com cerca de novecentos habitantes, convivial, onde todos se cumprimentam e as crianças têm gestos largos de alegria ao saudar quem passa, aldeia no coração da floresta de Rambouillet, rodeada de trigais e florestas com corças a cinco minutos a pé, de casa, por comércio tem a padaria, um café e uma pequeno restaurante.


Comecei a escrever, ou melhor comecei a sentir prazer em escrever, logo na instrução primária, sempre que me davam uma redacção a fazer
para escrever, talvez o facto de ter crescido rodeada de poetas e escritores, o primeiro poeta com quem tive certa proximidade, foi António de Jesus, tinha eu, cerca de quatro anos,fundador do jornal Noticias da Amadora, outro que me marcou com seu vulto de poeta humano, foi Ulisses Duarte, foi membro da direcção da Associação Portuguesa de Escritores e de quem em menina comecei a dizer poesia, meu pai também escrevia contos e o avô perto do qual me criei escrevia romance.
Um livro de poemas - "à Procura do Traço", publicado em 1991;
Editado pela ACAP 77 em França.
outro no Chile, uma antologia "El Verbo Decerrejado"
outra Antologia " Elos de Poesia"

- poemas publicados em revistas: Peregrinação, revista da Diáspora portuguesa, Latitudes; e Traço-de-União, em jornais, publicada, no Jornal do Algarve, no jornal A Avezinha, e entrevistas em Rádios: em Portugal, RDP Sul; Rádio Clube do Sul, em França na Rádio France International e no Rádio Clube Português de Villejuif e em Portugal FM, e Rádio ALIGRE

Mulher, ser humano e mãe, tento não me desviar do ser humano que sempre conheci em mim, solidário e fraterno. Mas recta e enamorada de justiça, apaixonada pela expressão escrita e falada, gosto de declamar diante de público,em teatros ou mesmo quando se limita a amigos e família, creio no ser humano, e creio no futuro que o espera, de fraternidade e igualdade
Creio também que a poesia e a Arte, têm papel fundamental na transformação da sociedade, pela transformação das mentalidades.

escrevo muito, por prazer, o que faz do meu trabalho da escrita um momento de encontro com a minha procura do sentido da vida.

A inspiração não depende de ambiente, para me inspirar, qualquer ambiente pode ser propicio desde que o estado de espírito, lhe esteja receptivo, a inspiração pode surgir por qualquer razão, ou sentimento, desde que algo venha de alguma forma, percutir a minha sensibilidade.

recebi um pequeno troféu da associação 25 DE ABRIL, que me foi entregue, pelo hoje coronel Vasco Lourenço, no Castelo de Silves, onde fui declamar num encontro de poetas há largos anos, recebi há três anos o 1°prémio de Poesia da Diáspora portuguesa, Dar Voz à Poesia




O dia da mais bela Revolução

Nasceu uma criança e era Abril
Nasceu talvez tão cedo e era tarde
nasceu quando era o mês das águas mil
no dia incendiado em Liberdade.

Nasceu duma promessa por fazer
Que estava por cumprir em cada olhar
Nasceu uma criança por haver
Nasceu uma criança pra sonhar.

Nasceu mas tão real, tão verdadeira
Que era o futuro ali à nossa mão
Onde afinal nascia a Terra inteira

Nascia uma criança e era o pão
E era a Luz a arder de tal maneira
O dia da mais bela Revolução.

Marília

Anónimo disse...

Jorge de Sena



CANTIGA DE ABRIL

Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
«Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade»
J. de S.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.

Qual a cor da liberdade?
É verde. verde e vermelha.

Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.

Qual a cor da liberdade?
E verde, verde e vermelha.

Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

26-28(?)/4/1974

Obras de Jorge de Sena
"40 anos de servidão"
Edições 70
1989