quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

SANGUE, ASSERTIVIDADE, CORRENTE DE IDEIAS


Embora discordando, como já o manifestei, das estratégias eleitorais para Presidente da República de todos os partidos e da cidadania, esta, pela sua passividade, que apesar de tudo emergiu nestas eleições com alguma dinâmica, com Fernando Nobre e o madeirense - grande proeza - Coelho, há alguns comentários que gostaria de fazer ao debate entre Cavaco da Silva e Manuel Alegre.

Como todos viram, o candidato Cavaco da Silva num país de touradas quis pôr o candidato Manuel Alegre a sangrar , acusando-o de várias falsidades e de enganar os portugueses, nomeadamente quanto à destruição do estado Social e da cooperação estratégica com o governo, enquanto, Manuel Alegre iniciou o seu debate com uma questão lateral, dando hipóteses a Cavaco para desferir as suas farpas.

Num país, onde, se gosta de maltratar os adversários, foi exemplar que Cavaco da Silva use uma estratégia de agressividade muito comum a outros seus semelhantes na arte da má governação, como é o estilo do pensamento semi-único de João Jardim.

Manuel Alegre levantou questões pertinentes quanto ao estado social, à justiça, ao serviço nacional de saúde, às questões civilizacionais, à falta de respeito pela representação democrática na Madeira, às quais o candidato Cavaco da Silva não respondeu em substância, não tendo o candidato Manuel Alegre feito o essencial e, absolutamente, indispensável, na minha opinião, para que o candidato Cavaco da Silva, se sentisse sugestionado, a assertiva e claramente, dizer o que pensava sobre esses assuntos, sob o risco de ficar claro que queria manter omisso o seu pensamento sobre assuntos nucleares, o que, demonstrado, poderia pôr em causa a sua auto-apregoada transparência.

Também quanto à pobreza e o desenvolvimento Cavaco da Silva nitidamente politizou a pobreza, através da instrumentalização dos dirigentes das misericórdias e das organizações de apoio social, as quais apoio como posso, como muitos outros, e não sou um dos apoiantes deste candidato, pelo que, não parece uma marca de comportamento ético, quer os apoios destes senhores, enquanto representantes daquelas organizações a uma qualquer candidatura, e o facto do candidato Cavaco da Silva referir, como sua intervenção, ao nível do estado social, enquanto presidente, o seu apoio às organizações de solidariedade social, quando sobretudo se exige ao Presidente da República que faça cumprir a Constituição, promovendo e apoiando todas as medidas que consagram a igualdade real, como a Constituição refere, e declarando, contrariamente, inconstitucionais todos as leis, ou artigos de leis que violem a Constituição, como é, entre outros o casos, o do OGE, no que aos cortes de vencimentos dos funcionários públicos diz respeito.

De igual modo, a questão do BPN e das escutas telefónicas só mereceram referencias gerais que pouco adiantaram, e às quais Cavaco nada disse a não ser uma afirmação que perante muita gente o favorece, ou seja, a declaração dos seus rendimentos no Tribunal Constitucional, quando o caso seria como pode um Professor de Economia e Finanças aceitar que num curto espaço de tempo as suas acções tenham um retorno, segundo o deputado Semedo do BE , de 140%?

De tudo resulta por um lado, na minha opinião, a pouca assertividade ou insistência de Manuel Alegre na exploração dos assuntos essenciais para o futuro, como o da nossa posição perante os especuladores, o FMI e a União Europeia, bem como na co-responsabilização de Cavaco pelo estado das coisas a que chegamos, e pela pouca utilidade da sua acção, como diz Carlos César, e, por outro, Cavaco da Silva entrou e saiu a matar, revelou que não dialoga, só quis vitimizar-se pelo que considera ofensas, quanto são divergências de opinião. Neste campo, revelou um grave défice para os tempos que aí vêm em que o diálogo social universal será essencial, estilo que pelos dados referidos por Manuel Alegre não será o de Cavaco da Silva que recebeu dezenas de vezes as corporações empresariais e meia dúzia de vezes os representantes dos trabalhadores.


Fica a imperiosa, muito imperiosa necessidade de Manuel Alegre e os demais candidatos da área republicana e democrática demonstrarem e convencerem os portugueses, mesmo muito daqueles que aparentemente gostam mais de quem faz sangue, de que a melhor solução para a actual situação é ter um Presidente mais identificado com a República, a Democracia, a Justiça Social do que Cavaco da Silva, o que, será um valor nuclear e crucial para os tempos que aí vêm.


Neste contexto a má feitura e, ou a má intenção da lei de apoio às escolas privadas foi também um grande presente de Natal do governo à candidatura de Cavaco da Silva.... coisas....
andrade da silva

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