quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A AGONIA DOS MISERÁVEIS



  " Sem jeito, mas com verdade nua e pura, mas também sem depressão ou desespero (ainda hoje comi tripas à moda do  Porto com vinho corrente de borba, e com os meus primos e muito povo andei por feiras a comer castanhas assadas, e a provar pelas terras do norte o cabrito assado, o serrabulho, etc., isto é, muita vida portuguesa dos que nunca se dão por vencidos)  portanto, para além das doutas palermices dos que nos aconselham a ver o que eles vêem dos seus luxuosos observatórios ( como é coerente observar Portugal do luxo, mui coerente, claro), fica aqui o grito que se levanta do chão, dos invisíveis. "


Pela constituição
somos iguais,
logo, tu - miserável -
não existes.

Também pelo discurso politico
dos que dizem
que não existes,
tu - miserável,
és uma ficção.

Mas, nos meus pesadelos,
pelas minhas deambulações,
pela cidade,
vejo-te, jovem, velho,
mulher, criança
curvados,
cabeça entre as pernas,
braços podres expostos ao sol.

Vejo-te ainda cego, coxo,
maltrapilho, louco,
sem abrigo, com fome,
vejo-te real,
tu estás ali,
és um miserável, vivo,
que a Constituição
diz cidadão,
outros dizem que
não podes, ou devias existir,
logo não existes.

Mas tu estás ali,
real, sofredor,
alguém te dá uma sopa,
outros uma moeda.

Quero ser solidário,
não sei como,
as ONG dizem ser desonestas
e os honestos nada querem
com este tumor social.

Logo miserável,
Morre!
E na tua agonia chama-nos,
a todos:
Malditos!

Que as forças infernais
nos queimem,
enquanto o ceptro
dos que tudo podem:
um a um,
um após outro,
atirarão  ao
inferno ou purgatório da exclusão
6.666.666 portugueses.

Ainda há tempo e caminho
amanhã ?....

COISAS!... 

andrade da silva




    

1 comentário:

andrade da silva disse...

Há todo um dantesco cenário que se vive nas ruas da baixa de Lisboa, a todas as horas, mas sobretudo à noite.
É chocante, para quem observa o que se passa ali à saída do Rossio, do lado direito para quem sobe para a Avenida da Liberdade, ver como dezenas de pessoas se desviam de um homem ali sentado com as pernas putrefactas expostas e estendidas sobre o chão, como se ele fosse um monte de esterco, o que, mais se nota quando os transeuntes vêem aos pares.
Também observei para os lados do Chiado um homem bem vestido a escorraçar um “farrapo” humano, quando buscava no lixo, comida. Mas o que o podia salvar este homem, seria o tal estado que não existe, ou uma moeda. Tendo visto esta cena optei pela moeda, nada resolvi, mas dei um pouco de pão àquele homem que logo se sumiu dali.
Foi esta imagem de total insensibilidade humana que observei em 12 e 13 Setembro 2011, que me levou a produzir este grito, sobre a agonia dos miseráveis.
andrade da silva