Viver é, sempre,
algo de muito critico, mas a questão das crises em Portugal também junta outra dimensão - não temos conseguido
ser justos e honestos, e temos permitido que nos
roubem, muitíssimo, em nome de crises, no caso da actual provocada por ladrões financeiros.
Na minha opinião é
objectiva e subjectivamente falso que se tenha
vencido qualquer crise em Portugal,
à excepção de três: a Revolução de 138-85, a da ocupação
de Portugal pelos espanhóis e a do regresso dos portugueses
das colónias, após o 25 de Abril 74 , as outras, nunca
foram superadas, entre estas, refiro, a da 1ª República que continuou, de
outro modo, pelo fascismo dentro, e a presente, se for como muitas das outras,
terá o mesmo desfecho: remoção espontânea, por esgotamento e
malabarismos dos poderosos, mas depois vai continuar de um outro modo, ou
seja, com 66,66% das pessoas mais pobres, uns países e uns quantos
mais ricos, os servidores destes, gestores etc. também bastante melhor. Depois
lá virão uns quantos dizerem que Portugal, o mundo continuaram (pudera!),
logo se venceu a crise, até a próxima.
Todavia, isto é uma
ilusão, um número de magia feito pelos poderosos, e servido como
lição de história aos demais, mas é MENTIRA HISTÓRICA E HUMANA,
VIL E GIGANTESCA que precisa de ser combatida, e só o será,
quando se perceber que vencer uma crise, seria vencer o mecanismo que a
produz, e, sobretudo, a fatalidade da sua superação ser sempre do mesmo modo:
injusta, cruel, dramática para mais de 2/3 da população,
e trágica para os que viram a suas vidas suprimidas, muitos pela morte,
a fome ,o desespero e o suicídio, e para estes as crises nunca foram
superadas, isto é, só a mudança do paradigma cognitivo, moral e comportamental
dos cidadãos, da generalidade destes, dos 66,66% expostos a estas
tragédias, poderia alterar o curso da história, até lá, esta será um vil engano
de crueldade e tragédia, para aqueles dois terços que se deixam embalar pelos
restantes, muito embora, nestes, ainda alguns apanhem com os
estilhaços desta gigantesca ópera bufa.
Numa palavra, a
encenação democrática não é qualitativamente diversa da ditatorial,
é simplesmente muito mais inteligente, muito mais técnica e
tecnologicamente perfeita de um ponto vista psicológico,
do condicionamento psicológico , intelectual e mental que aquela,
como a actual campanha da coca-cola sobre o glorioso Portugal (que existe)
prova.
Embora, reconheça toda
a perda de tempo neste esforço de falar diferente de oráculos e pitonisas, estupidamente,
reconheço, insisto nestas temáticas, porque por uma obsessão moral
não me sinto capaz de ficar indiferente ao que,
os psicólogos conhecem como a negação: a doença está lá, o tumor está
a matar, mas o heróico condenado, para poder sobreviver nega, diminui o
desassossego, morre tranquilamente.
Todavia, se este mecanismo no plano individual, no caso das doenças terminais,
é balsâmico, quando transposto para
a sociedade é uma tragédia, que vai continuar.
Como Eduardo Lourenço
diz - a história é um contínuo
de crueldade e, por vezes, tragédia, e, alguma vezes, as
duas coisas em simultâneo… Enfim, se à crueldade não podemos
fugir, tentemos evitar a tragédia.
Força. Abraço fraterno para todos no início deste 2012 e sempre.
andrade da silva
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