" Compreendo que algumas más consciências, e outros muito puros e angélicos, altruístas incondicionais - a estes saúdo-os-, achem as minhas palavras duras, truculentas até, até mesmo, como sou Madeirense, um outro Jardim de outras cores,ou não. Todavia o que me leva a falar assim, não nasce do que povoa a minha alma e coração, porque creio povoadas pelo belo, a música, a harmonia, mas sim o que me obriga a estas palavras é a crueldade do real que me entra pelos olhos adentro e me rouba a capacidade de desfrutar a beleza do baile das estrelas nos céus".
A minha querida mãe, perdida na confusão do Alzhmeir, e depois, durante sete meses no seu estado de coma profundo, nunca esteve só, porque à sua cabeceira esteve sempre a minha irmã Fátima; um suporte do SNS/ Madeira inestimável e de outro serviço particular com profissionais humanos, o que, também correspondeu a uma despesa mensal superior a mil euros.
Quem não tem mais de mil /euros mês, ou não tenha a disponibilidade de tempo e psicológica para tão dura experiência, tem de deixar os seus idosos algures .
No caso da minha mãe, uma idosa de 89 anos, tinha um lugar perdido entre muitos outros idosos perdidos, num andar do Hospital dos Marmeleiros, Monte/Funchal, onde, há décadas foi feliz por ter dado à luz aos seus filhos, mas neste transe final da sua vida aquele hospital seria uma pré morgue.
Para além da minha mãe idosa, também recordo aquele velho que segue à minha frente e procura comer no caixote do lixo, e que lhe dou algo para o saciar e que está perdido, neste Mundo de traços, discursos e berraria, mas berra quem tem pulmões.
Recordo este abandono dos idosos numa das últimas manifestações da Inter, na do seu aniversário, indo eu num sector de idosos aquelas vozes dos speakers só falavam de trabalho, salários e emprego, o que, me descontentou, e me levou a dirigir-me ao heróico gritador a pedir-lhe que gritasse contra as pensões de miséria.
Falei-lhe várias vezes, e nada aconteceu, mas sabendo quanto são heróis estes lutadores quando estão com as costas quentes, antes que lhe tirasse das mãos o micro, e fosse chamado de fascista reaccionário, indignado, mas não heroicamente, saltei dali, e desta revolta fui dando conhecimento a quem ia encontrando. Disseram-me que devia comunicar à Inter, mas como já antes fiz e a resposta que obtive foi a soberba de um silêncio, nada disse.
Outras centenas de idosos sós, no fim da linha estão condenados à morte por solidão, fome etc., mesmo nas zonas onde o serviço ambulatório do SNS chega, mas o que chega são os cuidados de enfermagem e médicos e não os de higiene, e os alimentares, como tantas vezes já o disse, por conhecimento desta realidade, através de quem trabalha neste sector do SNS.
Ainda centenas de idosos sós, no fim da linha, também estão condenados à morte e ao sofrimento, porque se tem investido pouco nas doenças das idades mais avançadas: Alzheimer, Parkinson e cancro ( em cada 3 europeus, um vai ter cancro, ao longo da sua vida). Felizmente parece que agora despontam novas linhas de tratamento, uma já conhecemos, a da Fundação Champalimaud, mas parece que vai ficar fora do SNS.
Todavia, por estes idosos que não têm quem lhes dê nenhum apoio, não se levanta nenhum movimento forte de Indignados, até os partidos e as centrais sindicais ficaram gagas com os cortes nas pensões, nenhuma voz com força se levantou contra esta injustiça.
Aquando do movimento dos jovens indignados, conhecendo os duros sacrifícios da juventude, porque sou pai, apelei para que não esquecessem esta condenação à morte dos Idosos. Creio que os esqueceram, não considero um acto justo.
Contudo, o que mais me espantou foi ver Marias da Fonte, já com meia idade, dialogarem com o M12 e não levantarem a necessidade da luta intergeracional, nomeadamente a favor dos idosos.
Julgo que estas Marias da Fonte esquecem os idosos, para parecerem aos jovens, como gente ainda fresca, mas mais não são que uma fraude.
Dou o meu apoio aos jovens, a eles cabe operarem as mudanças, mas na sua agenda de lutas e aspirações têm de incluir os seus pais, avós e bisavós. A vida de todos é para ser vivida do nascimento até à morte com dignidade, como também já publiquei neste blogue um quase- manifesto, feito em 2009.
Porém, quando morrem alguns de fome e abandono as lágrimas de crocodilo correm, contudo estas situações só poderão ser superadas com outras politicas, mas também com as redes de apoio social de vizinhança, de que tanto tenho falado, e até fui riscado da lista de amigos de alguns pseudo-revolucionários, para quem a solidariedade é um crime contra o Futuro.
Seja como for, porque há falta de solidariedade e de relações de vizinhança nas cidades, acaba de morrer na zona de Benfica uma idosa por uma doença de coração, e a sua irmã acamada por fome, com a irmã morta ao lado, e neste caso, como em muitos outros, matou-as o desinteresse público, mas nós todos, os seus vizinhos que nem olhamos para as suas caras.É sempre mais fácil dar 2 kg de arroz ao Banco Alimentar, do que fazer algo a quem está próximo de nós.
Como tenho gritado há muita gente, idosos e outros, mesmo jovens, que estão fora de qualquer tipo de rede de apoio, estão SÓS E CONDENADOS À MORTE, SE OS SEUS VIZINHOS OS ESQUECEREM.
Infelizmente coisas... coisas...
andrade da silva
1 comentário:
coisas...
também existem os idosos abandonados por familiares em deprimentes depósitos de hospitais.
sei porque como enfermeiro, é-me dado constatar a completa degradação a que chegam esses idosos, abandonados pelas famílias, que, como muito bem diz, se esqueceram que aqueles já "foram" seus pais, ou avós.
não se pode fazer nada num hospital publico por esses idosos, as instruções são claras e maquiavélicas, num quarto bem no fundo da enfermaria X, correm-se cortinas, apagam-se luzes, e os idosos, ficam ali, sem luz, sem ar renovado, sem água (casos de desidratação são a maior percentagem de morte, entre esses depósitos humanos). estão apenas dependentes de um/a enfermeiro/a mais humano que os ajude no seu triste fim.
a família desses idosos provoca-nos a nós, enquanto profissionais de saúde, um asco e uma revolta, de nos sentirmos incapazes e até culpados, de situações imperdoáveis, indignas de um ser humano.
concordo quando afirma que nem inter nem indignados, levantam a voz contra a situação dos idosos, mas permita-me que afirme que o estado deveria ser o primeiro a zelar pelos seus idosos, tendo um serviço nacional de saúde em condições. sendo isso uma utopia neste país da treta, parecer-me-ia bem que os mais velhos, os de meia idade, e qualquer cidadão interessado, se juntasse ao movimento dos indignados. os indignados não discriminam nem idade, sexo, ou raça. assim cada um dá voz à sua voz, em assembleias públicas e populares, onde você ou eu, ou qualquer cidadão pode dizer quais os problemas, e daí sair um novo movimento de indignados.
os indignados são jovens, defendendo os problemas dos jovens neste país, ninguém dos seniores (excepto raríssimos casos), se mostrou ainda interessado a juntar-se à fileira dos indignados. nesta altura, e dado o descalabro a que o nosso país chegou, causa bastante admiração aos jovens, que a eles não se juntem os pais, que perderam o emprego, os tios, os primos, e os outros, aqueles que falam, mas não fazem nada.
sendo assim, fica o convite: apareça na próxima manif de os indignados, e experimente falar no problema dos idosos.
abraço
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