segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Visão do Cidadão Comum XXIX... Apresenta-se Um Novo Cavaleiro.






Mais uma semana que se passou sem que houvesse uma luz ao fim do túnel...embora as evidências indiquem que a situação actual se assemelhe mais a um poço sinuoso do que propriamente um túnel. Quando parecia que estaríamos a bater no fundo eis que somos confrontados com duas notícias que no mínimo são alarmantes: uma eventual reunião de emergência do G20 devido ao aumento do preço dos cereais, e as declarações do BCE na passada quinta-feira, dia 09, defendendo a necessidade para a uma rápida implementação de medidas que venha a reduzir os custos unitários do trabalho (leia-se salários nos países fortemente afectados pela crise, nos quais naturalmente estamos incluídos
.
Se a primeira apanhará a maioria dos portugueses desprevenida em virtude de ser pouco noticiada a segunda já era esperada, desejada e temida por muitos...

Não falarei da segunda pois, vem na sequência das alterações aos códigos do trabalho e consequentes atropelos constitucionais que os executivos dos países que se encontram sobre programas de resgate financeiro aprovaram com a ajuda do patronato e de indivíduos imorais que pertencem a organizações sindicais. Indivíduos, esses, que há muito deixaram não só de ser trabalhadores como de defender os interesses dos associados dos seus sindicatos, passando a ser sindicalistas profissionais.Vivem de mãos dadas com o poder instalado numa atitude de vassalagem e subserviência em relação ao mesmo.

Aliás e só para rematar este assunto em jeito de ilustração de como esta farsa vem sendo cozinhada, no passado fim-de-semana Michael Fuchs, vice-presidente da coligação do governo alemão, em declarações ao jornal diário Handelsblatt, afirmou que a Alemanha vai vetar uma nova ajuda à Grécia, caso Atenas não cumpra na íntegra os termos acordados com a troika no âmbito do pacote de resgate financeiro, mesmo que outros países decidam fazê-lo. Disse ainda ser contra a possibilidade de o Banco Central Europeu (BCE) poder ajudar os países em dificuldades através da compra de títulos de dívida soberana, conforme tinha sido na semana passada anunciado pelo presidente do BCE - Mario Draghi.

As declarações anteriores - autêntica sentença de morte para os Helénicos- foram feitas ao mesmo tempo que vinha a público noutro periódico alemão, o Die Welt, um artigo a mencionar que bancos alemães estão a preparar-se há mais de um ano para uma eventual saída da Grécia da Zona Euro. O referido artigo afirma ainda que os Bancos de maior dimensão começaram a considerar seriamente a saída de Atenas há cerca de 18 meses, estando já bem preparados para um cenário previsível da saída da Grécia…”crónica de uma morte anunciada”... Se já sabiam do desfecho provável desta crise qual a razão para deixar que esta situação  se arrastasse durante tanto tempo?!

 A resposta é simples. Porque ganharam tempo, prepararam-se para o acontecimento e porque a Alemanha e França têm ganho valores astronómicos com esta crise, não se limitando aos juros cobrados mas principalmente por conseguir manter a sua indústria a laborar em pleno.

Para que se tenha uma ideia sobre os milhões de euros que as respectivas indústrias têm encaixado, basta observar atentamente as aquisições para o sector da defesa Grego (sem pôr em causa a legitimidade da necessidade do material encomendado): O Relatório sobre a Exportação de Armas em 2010, publicado em Janeiro do presente ano, apontava a Grécia, e depois Portugal, como sendo os maiores  compradores de equipamento militar alemão.

Os jornais espanhóis e gregos chegaram mesmo a fazer eco de um rumor segundo o qual, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy em Outubro de 2011, terem convidado, à margem de uma cimeira, o primeiro-ministro grego de então, George Papandreu a honrar os contratos de armamento existentes, e até mesmo a concluir contratos novos.

Recorde-se que a Grécia tem, ou tinha, encomendado cerca de 60 aviões de combate do tipo Eurofighter, que rondaram os 3,9 mil milhões de euros. Fragatas francesas por mais de quatro mil milhões, navios patrulha por 400 milhões. A isto se juntam as munições para os tanques pesados Leopard e bem como os famigerados submarinos alemães (que tantos problemas e sustos nos têm dado) por um preço total de dois mil milhões de euros. Estas encomendas nunca foram alvo de contestação por parte da frau Merkel ou mesmo por parte da Troika.

Em suma, mesmo sabendo que os países com programas de resgate financeiro (i.e. Portugal e Grécia) não conseguem fazer face aos financiamentos com juros usuários, continuam a emprestar-nos dinheiro pois o mesmo retorna imediatamente à fonte fortalecendo ainda mais a sua economia. Ao mesmo tempo que destrói a economia do país que deveria estar a sanear o seu deficit nas contas públicas fortalece duplamente as economias de quem os financia numa espiral sem fim.

Pegando agora na temática da crise dos cereais (que não é de agora) a situação é preocupante pois se conjugada com a crise das dívidas soberanas estarão reunidos os elementos para aquilo que alguns analistas chamam uma “tempestade perfeita”: insolvências de estados, depressão económica e social, desempregam acima dos 30% e fome. Irei mais um pouco mais longe e arriscaria a dizer que corremos o risco de ver os quatro cavaleiros a se reagruparem novamente...

Os Estados Unidos atravessam um grave período de seca, que está a afectar a maioria do país, e que já levou a Administração Obama a tomar medidas extraordinárias. Entre elas, conta-se o financiamento de 30 milhões de dólares (24,4 milhões de euros) para ajudar os agricultores. As mais recentes previsões russas indicam que as condições meteorológicas para as próximas semanas são "satisfatórias" para a fase final da colheita de milho. A Rússia, que no ano passado foi o terceiro maior exportador de trigo, deverá registar uma colheita entre 75 milhões de 80 milhões de toneladas, muito abaixo das 94,2 milhões de toneladas produzidas em 2011.

O que poderia ser apenas um mau ano agrícola com uma escassez limitada quer no tempo quer no impacto económico e alimentar, tenderá a ser agravada no seu impacto dada a especulação financeira que existe em torno dos bens alimentares que são considerados desde da crise de 2008 um mercado altamente rentável e a explorar de forma a maximizar os lucros dos especuladores, isto porque os preços não são definidos pelas existências actuais do mercado mas sim nas estimadas a prazos previamente estabelecidos pelas bolsas de comodities e futuros (designação dada às bolsas que negoceiam matérias primas).

A seca nos EUA e Rússia com a consequente redução da produção de milho e trigo, fizeram disparar os preços em Julho (informação da FAO ).O que ainda estará a conter os preços dos cereais será a produção recorde de arroz em países como a Tailândia, sendo o preço do arroz que é a única coisa que nos separa de uma crise alimentar global à semelhança do que aconteceu em 2007-2008 com a agravante de estarmos agora numa recessão à escala planetária embora todos os outros cereais estejam com preços que constituem máximos históricos.

Recorde-se que a crise alimentar de 2007-2008, que se propagou a todo o mundo, gerou protestos e tumultos sociais em mais de 30 países com especial predominância em Africa, no continente Asiático, América Central e América do Sul mas afectando também os EUA e Europa (a denominada pasta strike em Itália).

O que ainda me surpreende, choca e revolta é a passividade, negação e conformismo com que os meus concidadãos encaram estas e outras noticias (como a situação no médio oriente) cujas ondas de choque, caso não sejam impedidas de deflagrar, libertarão os restantes cavaleiros atirando-nos a todos para um cenário dantesco em tudo idêntico ao final dos anos trinta/quarenta do século passado!

Os sinais são por demais evidentes e não podem continuar a ser ignorados…

Um Abraço,
Nuno Melo
13 de Agosto de 2012.

Nota: Interrompo por umas semanas estas reflexões semanais regressando à Vossa companhia no final do mês de Setembro, ou antes se assim se justificar.


PS:
Boas Férias Nuno, em nome de todos nós, daqui deste cantinho de Liberdade  e cidadania. asilva

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