Entrevista
do general Garcia dos Santos, onde, fala da vertigem do poder e de como o
impoluto Eng, Cravinho não correu com os corruptos da JAE que passavam dinheirinho para
o partidozinho, e, por esta e por outras, podem ter pago com a vida quem estes
tumores quis combater.
EXCERTO DA ENTREVISTA
Mas como é a bebedeira do poder? Pouca gente tem
coragem de falar nisso…
Já senti isso uma ou duas vezes. É assim: quando a
gente está a falar, há uma plateia com duzentas pessoas, e começa a
entusiasmar-se… Às tantas uma pessoa começa a sentir-se rei e senhor daquilo
tudo. É o tipo que manda, o tipo que faz. E isso nalgumas pessoas começa a
dominar as suas personalidades. É preciso muito cuidado.
Há muita bebedeira do poder por aí?
É capaz de haver. Mas de uma total vacuidade. Que é
que a gente vê hoje nos nossos políticos? É só garganta! Nunca fizeram nada
na vida! Falam, falam, falam, mas mais nada. São completamente vazios. É por
isso que eu digo que não vejo no horizonte ninguém capaz de pôr isto a
funcionar como deve ser.
Mas estamos melhor do que há 38 anos…
Claro que sim! Mas vamos pagá-lo muito caro. Nós
estamos a viver do dinheiro que vamos buscar lá fora. E depois como é que é?
Como é que a gente o vai pagar? O que é a gente está a fazer para preparar o
futuro? É que a gente não pode viver só do dinheiro que vai buscar lá fora.
Temos que pensar o que vamos fazer, como é que está a nossa economia. Há
alguma coisa que esteja a ser preparada no sentido de pôr a nossa economia a
funcionar? Zero! Quer outro exemplo? As auto-estradas, as Scuts. Eu tive uma
conversa com o engenheiro Cravinho em que ele me disse que ia pôr a funcionar
as Scuts. Eu disse: “Ó senhor ministro isso é um tremendíssimo disparate!”. A
Scut é uma invenção inglesa, ao fim de pouco tempo os ingleses puseram aquilo
completamente de parte, por causa do buraco que era previsível. Mas disse-me
que o assunto estava exaustivamente estudado sob todos os aspectos, técnico,
financeiro. Está à vista o buraco que são as Scuts.
E as PPP?
É a mesma coisa.
Quando saiu da JAE denunciou uma situação
generalizada de corrupção. Acha que as PPP também se integram nessa situação?
O Tribunal de Contas diz que houve contratos que lesaram o interesse
público...
Tem que se admitir a possibilidade de haver ali
corrupção, e da forte. Como é que se atribui a uma determinada entidade
certos privilégios que não seriam naturais? É porque se calhar há alguém que
se locuptou com alguma coisa. Infelizmente, outra coisa que funciona mal no
nosso país é a justiça. Nunca chega até ao fim.
Foi colega do eng. João Cravinho no Técnico…
Foi por isso que ele me chamou para ir para a Junta.
Sabe o meu feitio e quis que eu limpasse a casa.
Mas o que é que aconteceu? O eng. João Cravinho
chama-o para limpar a casa, o senhor limpa, e depois zangam-se. O que se
passou?
Fomos colegas no Instituto Superior Técnico. Houve
um jantar de curso e nesse jantar o Cravinho a certa altura chama-me de parte
e diz: “Tens algum tempo livre?”. E eu disse: “Tenho, mas porquê?”; “Eu
precisava de ti para uma empresa”; “Que empresa?”; “Agora não interessa, a
gente daqui a uns tempos fala”. Passado uns tempos chamou-me e disse-me: “Eu
quero que vás para a Junta Autónoma das Estradas, mas não digas a ninguém que
o gajo que lá está [Maranha das Neves] nem sonha”. O Cravinho deu-me os 10
mandamentos do que eu precisava de fazer na Junta, limpar a casa, obras que
era preciso fazer, etc. Entretanto, comecei a conhecer a casa, dei a volta ao
país todo e um dia disse-lhe: “Há aqui uma série de coisas que é preciso
fazer e há 11 fulanos que é preciso pôr na rua”. Ele retorceu-se, chamou-me
daí a dois dias, disse que era muito complicado. O problema é que era através
de uma das pessoas que eu queria pôr na rua que passava o dinheiro para o PS.
COMENTÁRIO:
Coisas miseráveis, mas
simplesmente coisas…. talvez misérias… talvez?!….
E os alarves, ainda se riem….
PS:
Entrevista completa:
Garcia dos Santos, um capitão de Abril
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