Mas de que me acusaram?
Há sempre uns grandes amigos do dia 24 de Abril, ou do 25 de Novembro 75 que dizem
que nada do que me aconteceu, suspensão de
funções; deportação para a Madeira; processos disciplinares; duas idas
à prisão e duas preterições na promoção com a perda de dois ou mais
anos na antiguidade e nos vencimentos - um ano ou mais, como
major ( 2.100 contos), um ano ou mais como coronel ( 28 mil euros), nada tem a
ver com a minha participação no 25 de Abril, mas com actos, para
alguns mesmo tresloucados, no PREC, (para alguma boa rapaziada
de uma certa esquerda marcelista sem marcelo, eu até sou mesmo alguém estranho, pudera! Quanto ao pensamento são mesmo uma piolheira,
discos riscados; e quanto à coragem gostam bem mais de uma sala de
jantar, ou de uma boite do que da rua,e pior do conflito) todavia eles, estão
mesmo OFICIALMENTE ENGANADOS, porque oficialmente fui acusado pelos
actos que pratiquei entre 25 de Abril 74 e o 25 Novembro 75, nem mais
um dia para a frente, nem para trás,e, então, de que me acusam? Segundo o
relatório do general Ajudante general, de 14 de Março 1977, acusam-me:
- de ter praticado
actos que justificam que seja submetido ao vosso
julgamento ( Conselho Superior e Disciplina o Exército)
- assim este
oficial ...no período entre 25 Abril 74 e
25 Novembro 75 (sic) , é acusado de ser
directo responsável pela conduta e actos que facilitou
directa ou indirectamente, que a seguir se indicam em
resumo:
- participação destacada
em algumas ocupações ilegais e violentas de
herdades, nomeadamente do Hotel Planície em Évora , em
1 Agosto 75 ( a verdade participei em muitas acções para colocar as terras incultas a produzirem, então, o MFA não abordava a questão da titularidade da posse da terra que seria discutida em sede da lei que até Agosto 75 não fora promulgada, aumentando nesta data os movimentos, estes sim, gigantescos de trabalhadores, como foi o caso do Couço)
-em 15 de Outubro 75 incita os trabalhadores a participarem numa manifestação SUV ( nunca ouvi falar
da sua existência em Évora) a fim de contestar o comandante da RM Évora ( brigadeiro
Pezart Correia);
- Em 25 Novembro 75 desloca -se de Évora a Vendas Novas sem a devida autorização, e, aparentemente troca impressões genéricas sobre situação com vários elementos da Escola Prática de Artilharia (A verdade desloquei-me, porque o Quartel em Évora era dos 9, não sabia nada do que se passava, e o Pinto Sá (pai) de Montemor disse-me que os capitães Ferreira de Sousa e Amílcar tinham sido presos e a seguir seria eu. Como delegado do MFA em toda a região militar não precisava de autorização para me deslocar, aliás, fiz muitos movimentos sem guia de marcha, para não receber ajudas de custo);
- ter interferência na tentativa de desmobilização dos Soldados
do Regimento de Cavalaria de Estremoz que às ordens do PR, em 26 de Novembro se
dirigiam para Lisboa (falso nunca os contactei);
- ter telefonado para o Copcon avisando da passagem daquela coluna
pelo Vimeiro:( uma verdade, pois devia fazê-lo)
-è acusado de ser um individuo ( deixei de ser capitão ou oficial) exuberante, ( esta, ADORO) imbuído de fanatismo ideológico, impulsivo e imponderado, sendo os próprios superiores que se pronunciam desfavoravelmente em relação à sua personalidade e
maneira de ser ( tinha 25/26 anos) que pretende impor a sua opinião contra tudo
e todos ( dizem estes bons amigos,e os bons democratas de hoje e sempre, nisto há uma santa e diabólica aliança, entre abúlicos e covardes sou pior
que o diabo, porque eles sabem o que penso sobre essa gentalha, são um vómito) abusando das suas atribuições
Não se inibiu de mandar prender civis por motivos estranhos às autoridades
militares, fixando até prazos para essas prisões ( se pudesse prender teriam
ido dentro muitos latifundiários por puro roubo e sabotagem e militares, ditos
de Abril, por traição e comportamentos em
favor dos fascistas e os pides –os torturadores . Pedi o julgamento destes
criminosos - que mataram nacionalistas africanos às postas - nas assembleias do MFA ao Generais Costa
Gomes,Vasco Gonçalves e Fabião);
- em 1975, num comício (?) em Coruche declarou que os trabalhadores poderiam assaltar
a casa dos patrões e apropriarem-se dos bens, quando não lhes pagassem os
vencimentos ( nunca o disse, mas... de qualquer modo pagaram, quando intervim
milhares de contos de vencimentos em atraso, como, por exemplo, no restaurante o Fialho de Évora,etc etc Então quem trabalha não tem de receber um justo, que rara vezes é, vencimento? Exigir isto é ser comunista, ou imponderado, ou impulsivo?
- em 13 Março 1975 em Coruche incitou à violência e ao saneamento de várias individualidades ( a verdade: neste dia, após o 11 Março 1975, o povo
derrubou as estátuas do major Oliveira fundador da PVDE e a de Veiga Teixeira, pai, pedi
para guardarem as estátuas, podiam servir para obter fundos, mas pura e simplesmente acompanhei as populações, quanto à do Major sem nenhuma hesitação);
-Promoveu um plenário da associação de Regantes do vale de Sorraia, introduziu elementos estranhos e segundo indicações do PCP local saneou os corpos gerentes (
a verdade: houve o plenário, sei lá eu quem lá estava, para pedir contas ao filho do engenheiro Rapazote, ele próprio, perante a pressão, demitiu-se, o que, até considerei
precipitado, mas...eu não era Deus, nunca
fui, logo...)
- procurou impor um contrato ruinoso de arrendamento rural (falso
nunca estive em nenhum, mas neste caso esteve um elemento da minha equipa, o furriel Sequeira, sobre
a queixa nada sei, porque foi feita contra mim, pós 25 e Novembro, já lá não estava,
mas a orientação estrita era respeitar os direitos das partes e o furriel Sequeira falou do
livre consentimento do dono, o que, julgo ter sido o caso, naturalmente do modo que sendo justo cobrisse a injustiça que estes proprietários provocaram durante anos contra os alentejanos);
Interferiu num interrogatório na EPA, fazendo comentários não reproduzidos que levou um seu superior a ter necessidade de intervir ( Falso, o que
aconteceu é que uma herdade do Sr. Vacas Carvalho de Montemor foi ocupada pelos trabalhadores, e quem lá esteve foi o meu camarada capitão Castro Pires e não eu, mas a este capitão o sr. Vacas de Carvalho tece rasgados elogios, todavia, porque estavam armados com espingardas automáticas, o capitão Castro Pires traz toda a
gente para o quartel de Vendas Novas, onde, me encontrava. Neste caso, como em quase
todos os complicados foi- me pedido para intervir pelo tenente coronel Segurado, 2º
comandante da EPA, e a frase não reproduzida, mas que devia ter sido foi esta: SE TENTAREM, COMO
PRETENDEM, REOCUPAR A HERDADE PELA FORÇA, TERÃO PELA FRENTE UMA FORÇA POR MIM COMANDADA COM AS ARMAS APONTADAS PARA VOCÊS, PORQUE JÁ SE DERRAMOU MUITO SANGUE DE TRABALHADORES, E AGORA, SE
HOUVER DERRAMAMENTO DE SANGUE JÁ NÃO VOLTARÁ A SER DO DELES - honro- me desta declaração, e eles desistiram do seu intento, porque sabiam que não haveria contemplações.)
- Chamou ladrão e fascista a um civil que manteve preso durante 5
dias ,é referido um tal António Vicente de Carvalho ( como podia prender se não tinha
nenhuma prisão ou coisa parecida? Chamar ladrão e fascista raras vezes o fiz, mas
admito que tenha feito umas quantas vezes, ninguém é de ferro);
- no Escoural intimou o dono do cinema a dar as chaves deste ao povo, sem cuidar dos seus direitos
(os factos: é verdade, o cinema estava transformado em celeiro, ficou assente que o povo do Escoural, pagaria uma renda, mas o cinema teria de funcionar, obviamente );
- em 13 Março 75, pelas 4 da Madrugada dirigiu-se com vários civis e
militares a casa de Vacas Nunes em Montemor,
tendo arrombado uma janela e entrado na mesma, antes tinha dado uma rajada para o ar ( Os factos: recebi do Capitão Duarte
Mendes, oficial de dia à EPA, mais uma vez, como quase sempre acontecia ,neste tipo de missões, uma ordem para deter
3 indivíduos que estavam cercados pela população em Montemor, um deles era o Sr Vacas Nunes, outro
um Dr. Álvaro Cunhal( latifundiário),e um outro. Quanto ao Sr Vacas Nunes diziam que ele era responsável pela morte de um trabalhador nos anos 50, e que, então, tinha até alterado o trajecto
do cortejo fúnebre A raiva era muita e os populares acusavam-no de ter armas e
ser do ELP. Para lhe garantir a segurança depois e dar tiros para o ar, de dizer quem
éramos, assaltamos a casa, conforme está descrito. Lamento que à frente dele no
cimo das escadas ele apresentasse uma criança, que lhe pedi que retirasse, o que ele
não fez. Expliquei-lhe ao que vinha e que era para lhe garantir a segurança física. Nunca o compreendeu. O dr. Cunhal não estava em Montemor, logo não foi detido,
e, ainda, veio connosco, a seu pedido, um
latifundiário, de nome Godinho.
E pronto. Haverá Portugal, SEMPRE! Mas com Abril arranjei alguns
amigos e muitos sarilhos, mas valeu e valerá a pena, sobretudo, se Portugal vencer. No meu Abril não cabem os fascistas, nem os pós-pseudorevolucionários protofascistas.
andrade da silva
1 comentário:
A tortura e a morte começaram cedo, muito cedo, para alguns, mas estavam quase todos bem, esqueceram-se que eles iam regressar, demoraram algum tempo, mas vieram,e estão aí. CULPADOS: OS COVARDES, OS EUNUCOS e OS MERCENÁRIOS.
Enviar um comentário