Naquele distante verão, o sol queimava as esperanças e o desespero crescia. Houve quem morresse por nada, houve quem morresse por tudo, houve quem desistisse, houve quem suportasse resignado... e houve quem, numa indiferença cúmplice, não desse por nada.
A dita harmonia celeste continuou indiferente. Sucediam-se as rotações e as translações; sucediam-se as ilusões e as frustrações; sucediam-se os consertos dos desconcertos.
Depois daquele distante verão, outros vieram. E não se aprendeu nada. Como sempre, em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. E a receita parece simples: se não há pão, o caminho será semear, depois ceifar, depois debulhar, depois moer, depois amassar, depois cozer e… depois pôr o pão na mesa.
Depois daquele distante verão, muito mais tarde, eu descobri e escrevi: “Quando tu gritaste Isto é meu!, logo a discórdia corrompeu o nosso da fraternidade.” Não sei se tenho razão, mas sei que acredito no amanhã.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 3 de Outubro de 2016.
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