domingo, 10 de dezembro de 2017

Pensamentos: Platão, Aristóteles e Maquiavel (I)

Aristoteles e Platão

Nota: Na sequência do texto anteriormente publicado (https://liberdadeecidadania.blogspot.pt/2017/12/aristoteles-maquiavel-pensamentos.html )formulei um pedido ao nosso grande amigo Dr. José António para responder a questão que lhe apresentei , ao que acedeu fazendo este  maravilhoso  trabalho com que todos podemos beneficiar Bem-Haja!



Responder às questões que nos atormentam e nos levam a reflectir sobre a sociedade actual no presente, não tem natureza fácil. Em primeiro lugar, temos que considerar a natureza humana, cujo raciocínio e exercício é complexo. Em segundo lugar, levar em consideração as raízes sociais e culturais, isto é, a origem da nossa cultura, cuja origem tem os seus fundamentos na cultura romana, ou melhor, Greco-Romana.

Face  ao desafio lançado pelo meu caríssimo amigo Dr. Andrade da Silva, numa tentativa de resposta perante “.... o diagnóstico, o prognóstico linear que resulta do mesmo, mas, assim, estamos sem futuro e Maquiavel teria razão absoluta. Todavia acredito na possibilidade de futuro, mesmo que mínima, portanto que fazer para superar esta morbidade. Deixo-te o desafio para um texto de resposta a esta questão.  Se  isto é assim, então , o que fazer? Logo pedia-te este exercício.”

Tal de facto, não tem resposta fácil, mas penso que talvez seja possível perceber este problema, nos pensadores do passado e presente para talvez compreendermos o futuro.

Platão afirma:

Em primeiro lugar vem a timarquia (…); a oligarquia que lhe sucede não tarda, em geral, a ser suplantada pela democracia; enfim, no último grau, a tirania consuma o triunfo da injustiça. A estes quatro tipos de constituições viciosas correspondem quatro caracteres da alma nos quais se afirma o progresso na ignorância e do mal. Do abalo inicial, que provoca a decadência do governo e dos costumes da aristocracia, produz-se no dia em que as raças de ferro e bronze ascendem ao poder.” A República, Platão, pp. 44.

“A passagem da timarquia à oligarquia efectua-se da maneira mais simples. O gosto pelas riquezas, transformando-se em avareza, converte-se no móvel principal da actividade dos cidadãos. Eles acumulam, entesouram, e, quanto mais estima concedem à fortuna, menos dessa estima conservam pela virtude. O peculiar ao governo oligárquico é adoptar o censo como medida de capacidade para o exercício do poder. Mas o absurdo deste critério, que priva o Estado de grande número de talentos aptos a servi-lo, quase não carece de demonstração. (…) Assim a oligarquia repousa sobre um principio vicioso. Dividindo os cidadãos em dois clãs adversos, dos ricos e dos pobres, quebra irremediavelmente a unidade do Estado cuja segurança é, aliás, incapaz de garantir. (…) A constituição oligárquica opõe-se portanto, à manutenção da divisão do trabalho. Cumpre, além do mais, denunciar, como seu maior vício, o liberalismo económico que introduz no Estado. A República, Platão, pp. 45.

“Ao terceiro grau de decadência corresponde a democracia. Ela é o produto dos mesmos factores que a oligarquia, porém elevados, se se pode dizer, a maior potência. A oposição entre ricos e pobres cresce dia a dia, sem que a classe dirigente, preocupada unicamente em enriquecer, cuide de conjurar os temíveis efeitos deste antagonismo. (…) Gente sobrecarregada de dívidas ou manchada de infâmia – assumem a chefia do povo e o incitam à revolta. Esperam, graças à revolução política, recuperar a posse dos bens que dissiparam, ou apagar a vergonha que lhes enodoa os nomes. (…) Quais são, agora, as características deste governo nascido da guerra ou da sedição? Ele pode pretender a tudo menos à unidade, porquanto é um composto de instituições das mais diversas e das mais inconciliáveis. Daremos uma justa ideia dele representando-o como uma espécie de “bazar de constituições” onde o amador só tem o trabalho de escolha. É comparável, ainda, a estas variegadas vestimentas que constituem a alegria das mulheres e das crianças, mas que os homens de gosto acham ridículas. E isto será exibi-la à luz mais favorável, pois se esta variedade, esta rica policromia, representa um defeito aos olhos do filósofo, não carece de encanto para o artista que se compraz no domínio das aparências. Mas o exame nos revela uma realidade muito menos sedutora: é da essência da democracia conceder aos cidadãos uma liberdade demasiado grande que degenera fatalmente em licenciosidade. Que ordem com efeito, continua possível, quando toda coerção é abolida, quando as regras morais são abandonadas ao juízo do primeiro a chegar, que as adopta ou as rejeita, conforme os caprichos de seu humor ou dos propósitos que concebeu? (…) Para alcançar as mais altas funções, não é preciso estar preparado por longos trabalhos, ter auferido os benefícios de excelente educação e ter-se exercitado, desde a infância, na prática de todas as virtudes. Ao homem que ingressa na carreira política, ninguém pede que dê prova de sua ciência e sabedoria, assim como da honestidade de seu passado. (…) E não tarda a vir o momento em que, “a estes sábios embaixadores enviados por sábios anciãos, ele fecha as portas do recinto real da sua alma”. Nesta acrópole, os desejos pródigos reinarão doravante sem freio nem lei.A República, Platão, pp. 46-47.

Está, com efeito, da ordem da natureza que à licenciosidade extrema suceda extrema servidão. Por seus excessos mesmos, a democracia engendra inevitavelmente a tirania. O povo, alterado pela liberdade, tendo prestado ouvidos a maus escanções que o embriagam com este vinho puro para além de toda a decência, perde logo o controle de seus actos, apavora-se com a menor sombra de coerção e trata por oligarcas os que gostariam de mante-lo nos caminhos da prudência. Seu favor bafeja, em compensação, os espertos que afectam maneiras simples e lhe lisonjeiam os pendores grosseiros. (…) Crendo assim aumentar a própria força, aumenta na realidade, desmesuradamente, a do homem que se tornará o senhor dela. (…) Com efeito, celebram eles os louvores da tirania e gabam a sorte dos tiranos “aos quais o comércio dos hábeis torna hábeis”. Acabamos de verificar de que espécie de habilidade se trata e quão invejável é! Os que a apreciam, pois que procurem outros Estados para trabalhar pelo advento da tirania e da democracia. Sob estes regimes, são honrados e enriquecem. Mas à medida que remontam o declive das constituições, o renome deles enfraquece “como se a falta de fôlego o reduzisse à impotência de ir adiante”.”    A República, Platão, pp. 48-49.

Aristóteles afirma: "Os homens começaram a filosofar, tanto agora como na origem, por causa do maravilhamento: no principio, ficavam maravilhados diante das dificuldades mais simples; em seguida, progredindo pouco a pouco, chegaram a se colocar problemas sempre maiores, como os relativos aos fenómenos da lua, do sol e dos astros e, depois, os problemas relativos a origem de todo o universo."

Assim, a raiz da filosofia é precisamente esse"maravilhar-se", surgido no homem que se defronta com o Todo. Seguindo o raciocínio de Aristóteles: Não apenas na origem, mas também agora e sempre, a antiga pergunta sobre o todo tem sentido? E terá sentido enquanto o homem se maravilhar diante do ser das coisas e diante do seu próprio ser.

"Não se deve dar ouvidos aqueles que aconselham ao homem, por ser mortal, que se limite a pensar coisas humanas e mortais; ao contrario, porém, na medida do possível, precisamos nos comportar como imortais e tudo fazer para viver segundo a parte mais nobre que há em nós." Aristóteles.

A Politica foi uma das obras mais lidas e mais apreciadas. Afasta-se notavelmente da República de Platão, que tem um carácter idealista extremo e que, em certos aspectos, revela-se utópico, e avizinha-se mais ao espírito do Político e das Leis que, em certa medida, levam em conta as instâncias realistas.

Devemos salientar a grandiosa representação do homem como "animal politico", o homem não é autárquico e por isso tem a necessidade da relação com outros e de entrar em comunidade. Da relação de homem e mulher que leva à família, passa-se à comunidade da aldeia, e da comunidade das aldeias se chega à Cidade (ao Estado).

O Estado, que é o último cronologicamente, é, ao contrário, primeiro ontologicamente, porque é como o "todo" da qual as aldeias e a família são as partes, e é justamente o "todo", e apenas o "todo”, que dá sentido às partes.

A ética a Nicómaco constitui uma das grandes obras filosóficas de Aristóteles que se impôs como ponto de referência imprescindível para qualquer pessoa que trate desta problemática de modo sistemático.

O bem supremo para o homem, afirma Aristóteles, concordando com a convicção de todos os pensadores gregos em geral, é a felicidade. Esta, porém, não consiste, como comummente se diz, nas riquezas ou nos prazeres ou nas honras, e sim na virtude, ou seja, na explicação e actuação das peculiaridades do homem, ou seja, em uma vida e actividade da alma segundo a razão.

A este respeito, Aristóteles distingue as "virtudes Éticas" e as "virtudes Dianéticas", as primeiras referindo-se às partes irracionais da alma, as segundas, pelo contrário, à parte racional. As virtudes éticas consistem em encontrar e adquirir o meio justo entre os excessos e as faltas nos quais nos levariam os apetites e as paixões nas nossas acções. As virtudes dianéticas consistem na actuação da razão considerada em si mesmo.

Segundo o professor José Hermano Saraiva, (1999), “os romanos dominaram completamente toda a Península Ibérica durante mais de 5 séculos. Costumam referir-se as datas de 146 a.C. e depois 409 d.C., que é quando veio os Bárbaros. Durante esses perto de 600 anos, a influência que os romanos têm na península é tão grande, tão grande, que nós hoje nem sequer conseguimos saber qual seria a linguagem que falávamos antes da vinda dos romanos. Porque o que hoje falamos é a que os romanos nos ensinaram, falamos o latim. Claro, um latim já muito corrompido e estropiado, mas é Latim que nós falamos.Mas não foi só na linguagem, as técnicas de construção civil, as leis, que ainda hoje são decalcadas nas leis romanas, a agricultura, a organização das cidades. Foi tudo!Depois da vinda dos romanos passamos a ser uma colónia da Itália, uma região onde se fala o latim, em que se pensa em latim, em que os homens se divertem à maneira dos latinos, e é claro, que isso tem consequências decisivas na história da civilização peninsular.Portugal hoje é uma nação românica, isto quer dizer, somos uma Pátria filha de Roma.”

A civilização romana passou de uma monarquia para uma república clássica e, em seguida, para um império cada vez mais autocrático.

A história da república romana, por mais de dois séculos após a sua fundação, consistiu quase totalmente em guerras. As causas determinantes dessa série de conflitos não são fáceis de explicar.

Não muito tempo após o advento da república, teve início uma luta dos cidadãos comuns por uma maior participação no poder político. Antes do fim da monarquia a população romana fora dividida em duas grandes classes: os patrícios e os plebeus.

Como diz Theodor Mommsen, os romanos, desde o tempo de Tarquínio até o de Graco, "nunca abandonaram realmente o princípio de que o povo não devia governar, mas ser governado". Graças a essa atitude a atribuição de amplos poderes legislativos à assembleia parece não ter passado de mera formalidade, pois o senado continuou a governar como antes. Nem teve também qualquer efeito liberalizador a admissão dos plebeus à senatoria. Tão alto era o prestígio dessa instituição e tão profunda a veneração romana pela autoridade, que os novos membros logo submergiram no conservantismo dos velhos.

Em consequência dessa revolução económica e social, Roma passou de uma república de pequenos fazendeiros a uma nação composta em grande parte de parasitas e escravos. Embora a propriedade nunca tivesse sido equitativamente distribuída, o abismo que então passou a separar ricos e pobres foi muito mais profundo do que antes.

“O último século da república romana é um período de revolução. Desmorona-se o velho mundo para se formar outro com traços ainda pouco definidos. Coligações, tiranias e ditaduras sucedem-se tão rapidamente que não parece possível que algo orgânico surja de um conflito tão longo. Surpreende o vigor de Roma e a abundância de grandes homens. Os Gracos, Mário e Sila (ou Sula), César e Pompeu, Cícero ou Catilina, são nomes conhecidos por toda a gente. Todos os que participaram nas conspirações, nos motins e nos escândalos da revolução, colaboraram na grande obra de estender a influência de Roma pelo Oriente e pelo Ocidente da Europa.”, In História Universal, 2005, Vol. VI, pp.167.

José António Bragança

Na parte II , a publicar

Como pode ser explicado esse quase fracasso do génio político dos romanos no melhor período de sua história?

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Comentário:

Parece que a regra de oiro se mantem 


Ao homem que ingressa na carreira política, ninguém pede que dê prova de sua ciência e sabedoria, assim como da honestidade de seu passado. (…) E não tarda a vir o momento em que, “a estes sábios embaixadores enviados por sábios anciãos, ele fecha as portas do recinto real da sua alma”. Nesta acrópole, os desejos pródigos reinarão doravante sem freio nem lei.” A República, Platão, pp. 46-4...... 

logo???? o risco da democracia se tornar ditadura parece ser uma regra fatal????
as

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