Aristoteles e Platão
Nota: Na sequência do texto anteriormente publicado (https://liberdadeecidadania.blogspot.pt/2017/12/aristoteles-maquiavel-pensamentos.html )formulei um pedido ao nosso grande amigo Dr. José António para responder a questão que lhe apresentei , ao que acedeu fazendo este maravilhoso trabalho com que todos podemos beneficiar Bem-Haja!
Responder às questões que nos
atormentam e nos levam a reflectir sobre a sociedade actual no presente, não
tem natureza fácil. Em primeiro lugar, temos que considerar a natureza humana,
cujo raciocínio e exercício é complexo. Em segundo lugar, levar em consideração
as raízes sociais e culturais, isto é, a origem da nossa cultura, cuja origem
tem os seus fundamentos na cultura romana, ou melhor, Greco-Romana.
Face ao desafio lançado pelo meu
caríssimo amigo Dr. Andrade da Silva, numa tentativa de resposta perante “.... o diagnóstico, o prognóstico linear que
resulta do mesmo, mas, assim, estamos sem futuro e Maquiavel teria razão
absoluta. Todavia acredito na possibilidade de futuro, mesmo que mínima, portanto
que fazer para superar esta morbidade. Deixo-te o desafio para um texto de
resposta a esta questão. Se isto é
assim, então , o que fazer? Logo pedia-te este exercício.”
Tal de facto, não tem resposta fácil,
mas penso que talvez seja possível perceber este problema, nos pensadores do
passado e presente para talvez compreendermos o futuro.
Platão afirma:
“Em primeiro lugar vem a timarquia (…); a
oligarquia que lhe sucede não tarda, em geral, a ser suplantada pela
democracia; enfim, no último grau, a tirania consuma o triunfo da injustiça.
A estes quatro tipos de constituições viciosas correspondem quatro caracteres
da alma nos quais se afirma o progresso na ignorância e do mal. Do abalo
inicial, que provoca a decadência do governo e dos costumes da aristocracia,
produz-se no dia em que as raças de ferro e bronze ascendem ao poder.” A República, Platão, pp. 44.
“A passagem da timarquia à oligarquia
efectua-se da maneira mais simples. O gosto pelas riquezas, transformando-se em
avareza, converte-se no móvel principal da actividade dos cidadãos. Eles
acumulam, entesouram, e, quanto mais estima concedem à fortuna, menos dessa
estima conservam pela virtude. O peculiar ao governo oligárquico é adoptar o
censo como medida de capacidade para o exercício do poder. Mas o absurdo deste
critério, que priva o Estado de grande número de talentos aptos a servi-lo,
quase não carece de demonstração. (…) Assim a oligarquia repousa sobre um
principio vicioso. Dividindo os cidadãos em dois clãs adversos, dos ricos e dos
pobres, quebra irremediavelmente a unidade do Estado cuja segurança é, aliás,
incapaz de garantir. (…) A constituição oligárquica opõe-se portanto, à
manutenção da divisão do trabalho. Cumpre, além do mais, denunciar, como seu
maior vício, o liberalismo económico que introduz no Estado.” A República, Platão, pp. 45.
“Ao terceiro grau de decadência corresponde a
democracia. Ela é o produto dos mesmos factores que a oligarquia, porém
elevados, se se pode dizer, a maior potência. A oposição entre ricos e pobres
cresce dia a dia, sem que a classe dirigente, preocupada unicamente em
enriquecer, cuide de conjurar os temíveis efeitos deste antagonismo. (…) Gente
sobrecarregada de dívidas ou manchada de infâmia – assumem a chefia do povo e o
incitam à revolta. Esperam, graças à revolução política, recuperar a posse dos
bens que dissiparam, ou apagar a vergonha que lhes enodoa os nomes. (…) Quais
são, agora, as características deste governo nascido da guerra ou da sedição?
Ele pode pretender a tudo menos à unidade, porquanto é um composto de
instituições das mais diversas e das mais inconciliáveis. Daremos uma justa
ideia dele representando-o como uma espécie de “bazar de constituições” onde o
amador só tem o trabalho de escolha. É comparável, ainda, a estas variegadas
vestimentas que constituem a alegria das mulheres e das crianças, mas que os
homens de gosto acham ridículas. E isto será exibi-la à luz mais favorável,
pois se esta variedade, esta rica policromia, representa um defeito aos olhos
do filósofo, não carece de encanto para o artista que se compraz no domínio das
aparências. Mas o exame nos revela uma realidade muito menos sedutora: é da
essência da democracia conceder aos cidadãos uma liberdade demasiado grande que
degenera fatalmente em licenciosidade. Que ordem com efeito, continua possível,
quando toda coerção é abolida, quando as regras morais são abandonadas ao juízo
do primeiro a chegar, que as adopta ou as rejeita, conforme os caprichos de seu
humor ou dos propósitos que concebeu? (…) Para alcançar as mais altas
funções, não é preciso estar preparado por longos trabalhos, ter auferido os
benefícios de excelente educação e ter-se exercitado, desde a infância, na
prática de todas as virtudes. Ao homem que ingressa na carreira política,
ninguém pede que dê prova de sua ciência e sabedoria, assim como da honestidade
de seu passado. (…) E não tarda a vir o momento em que, “a estes sábios
embaixadores enviados por sábios anciãos, ele fecha as portas do recinto real
da sua alma”. Nesta acrópole, os desejos pródigos reinarão doravante sem
freio nem lei.” A República,
Platão, pp. 46-47.
“Está, com efeito, da ordem da natureza que
à licenciosidade extrema suceda extrema servidão. Por seus excessos mesmos, a
democracia engendra inevitavelmente a tirania. O povo, alterado pela
liberdade, tendo prestado ouvidos a maus escanções que o embriagam com este
vinho puro para além de toda a decência, perde logo o controle de seus actos,
apavora-se com a menor sombra de coerção e trata por oligarcas os que gostariam
de mante-lo nos caminhos da prudência. Seu favor bafeja, em compensação, os
espertos que afectam maneiras simples e lhe lisonjeiam os pendores grosseiros.
(…) Crendo assim aumentar a própria força, aumenta na realidade,
desmesuradamente, a do homem que se tornará o senhor dela. (…) Com efeito,
celebram eles os louvores da tirania e gabam a sorte dos tiranos “aos quais o
comércio dos hábeis torna hábeis”. Acabamos de verificar de que espécie de
habilidade se trata e quão invejável é! Os que a apreciam, pois que procurem
outros Estados para trabalhar pelo advento da tirania e da democracia. Sob
estes regimes, são honrados e enriquecem. Mas à medida que remontam o declive
das constituições, o renome deles enfraquece “como se a falta de fôlego o
reduzisse à impotência de ir adiante”.” A República, Platão, pp. 48-49.
Aristóteles afirma: "Os homens começaram a filosofar, tanto
agora como na origem, por causa do maravilhamento: no principio, ficavam
maravilhados diante das dificuldades mais simples; em seguida, progredindo
pouco a pouco, chegaram a se colocar problemas sempre maiores, como os
relativos aos fenómenos da lua, do sol e dos astros e, depois, os problemas
relativos a origem de todo o universo."
Assim, a raiz da filosofia é
precisamente esse"maravilhar-se",
surgido no homem que se defronta com o Todo. Seguindo o raciocínio de
Aristóteles: Não apenas na origem, mas também agora e sempre, a antiga pergunta
sobre o todo tem sentido? E terá sentido enquanto o homem se maravilhar diante
do ser das coisas e diante do seu próprio ser.
"Não se deve dar ouvidos aqueles que
aconselham ao homem, por ser mortal, que se limite a pensar coisas humanas e
mortais; ao contrario, porém, na medida do possível, precisamos nos comportar
como imortais e tudo fazer para viver segundo a parte mais nobre que há em
nós." Aristóteles.
A Politica foi uma das obras mais
lidas e mais apreciadas. Afasta-se notavelmente da República de Platão, que tem
um carácter idealista extremo e que, em certos aspectos, revela-se utópico, e
avizinha-se mais ao espírito do Político e das Leis que, em certa medida, levam
em conta as instâncias realistas.
Devemos salientar a grandiosa
representação do homem como "animal
politico", o homem não é autárquico e por isso tem a necessidade da
relação com outros e de entrar em comunidade. Da relação de homem e mulher que
leva à família, passa-se à comunidade da aldeia, e da comunidade das aldeias se
chega à Cidade (ao Estado).
O Estado, que é o último
cronologicamente, é, ao contrário, primeiro ontologicamente, porque é como o "todo" da qual as aldeias e a
família são as partes, e é justamente o "todo",
e apenas o "todo”, que dá
sentido às partes.
A ética a Nicómaco constitui uma das
grandes obras filosóficas de Aristóteles que se impôs como ponto de referência
imprescindível para qualquer pessoa que trate desta problemática de modo
sistemático.
O bem supremo para o homem, afirma
Aristóteles, concordando com a convicção de todos os pensadores gregos em
geral, é a felicidade. Esta, porém, não consiste, como comummente se diz, nas
riquezas ou nos prazeres ou nas honras, e sim na virtude, ou seja, na
explicação e actuação das peculiaridades do homem, ou seja, em uma vida e
actividade da alma segundo a razão.
A este respeito, Aristóteles
distingue as "virtudes Éticas"
e as "virtudes Dianéticas",
as primeiras referindo-se às partes irracionais da alma, as segundas, pelo
contrário, à parte racional. As virtudes éticas consistem em encontrar e
adquirir o meio justo entre os excessos e as faltas nos quais nos levariam os
apetites e as paixões nas nossas acções. As virtudes dianéticas consistem na
actuação da razão considerada em si mesmo.
Segundo o professor José Hermano
Saraiva, (1999), “os romanos dominaram
completamente toda a Península Ibérica durante mais de 5 séculos. Costumam
referir-se as datas de 146 a.C. e depois 409 d.C., que é quando veio os
Bárbaros. Durante esses perto de 600 anos, a influência que os romanos têm na
península é tão grande, tão grande, que nós hoje nem sequer conseguimos saber
qual seria a linguagem que falávamos antes da vinda dos romanos. Porque o que
hoje falamos é a que os romanos nos ensinaram, falamos o latim. Claro, um latim
já muito corrompido e estropiado, mas é Latim que nós falamos.Mas não foi só na
linguagem, as técnicas de construção civil, as leis, que ainda hoje são
decalcadas nas leis romanas, a agricultura, a organização das cidades. Foi
tudo!Depois da vinda dos romanos passamos a ser uma colónia da Itália, uma
região onde se fala o latim, em que se pensa em latim, em que os homens se
divertem à maneira dos latinos, e é claro, que isso tem consequências decisivas
na história da civilização peninsular.Portugal hoje é uma nação românica, isto
quer dizer, somos uma Pátria filha de Roma.”
A civilização romana passou de uma
monarquia para uma república clássica e, em seguida, para um império cada vez
mais autocrático.
A história da república romana, por
mais de dois séculos após a sua fundação, consistiu quase totalmente em
guerras. As causas determinantes dessa série de conflitos não são fáceis de explicar.
Não muito tempo após o advento da
república, teve início uma luta dos cidadãos comuns por uma maior participação
no poder político. Antes do fim da monarquia a população romana fora dividida
em duas grandes classes: os patrícios e os plebeus.
Como diz Theodor Mommsen, os romanos,
desde o tempo de Tarquínio até o de Graco, "nunca
abandonaram realmente o princípio de que o povo não devia governar, mas ser
governado". Graças a essa atitude a atribuição de amplos poderes
legislativos à assembleia parece não ter passado de mera formalidade, pois o
senado continuou a governar como antes. Nem teve também qualquer efeito
liberalizador a admissão dos plebeus à senatoria. Tão alto era o prestígio
dessa instituição e tão profunda a veneração romana pela autoridade, que os
novos membros logo submergiram no conservantismo dos velhos.
Em consequência dessa revolução
económica e social, Roma passou de uma república de pequenos fazendeiros a uma
nação composta em grande parte de parasitas e escravos. Embora a propriedade
nunca tivesse sido equitativamente distribuída, o abismo que então passou a
separar ricos e pobres foi muito mais profundo do que antes.
“O último século da república romana é um
período de revolução. Desmorona-se o velho mundo para se formar outro com
traços ainda pouco definidos. Coligações, tiranias e ditaduras sucedem-se tão
rapidamente que não parece possível que algo orgânico surja de um conflito tão
longo. Surpreende o vigor de Roma e a abundância de grandes homens. Os Gracos,
Mário e Sila (ou Sula), César e Pompeu, Cícero ou Catilina, são nomes
conhecidos por toda a gente. Todos os que participaram nas conspirações, nos
motins e nos escândalos da revolução, colaboraram na grande obra de estender a
influência de Roma pelo Oriente e pelo Ocidente da Europa.”, In História Universal, 2005, Vol. VI,
pp.167.
José António Bragança
Na parte II , a publicar
Como pode ser
explicado esse quase fracasso do génio político dos romanos no melhor período
de sua história?
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Comentário:
Parece que a regra de oiro se mantem
Ao homem que ingressa na carreira política, ninguém pede que dê prova de sua ciência e sabedoria, assim como da honestidade de seu passado. (…) E não tarda a vir o momento em que, “a estes sábios embaixadores enviados por sábios anciãos, ele fecha as portas do recinto real da sua alma”. Nesta acrópole, os desejos pródigos reinarão doravante sem freio nem lei.” A República, Platão, pp. 46-4......
logo???? o risco da democracia se tornar ditadura parece ser uma regra fatal????
as
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