segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

DIÁRIO DE GUERRA DE UM ALFERES

 


DIÁRIO DE GUERRA DE UM ALFERES
1° Mês
1971
Dezembro cheguei a Lumbala. A zona pareceu-me engraçada. Quanto ao aspecto militar, por agora ,prefiro nada dizer. ( fui comandar a companhia 23 anos de idade ,responsável pelo comando de 150 militares na GUERRA, onde, acabava de cair.. coisas...)
Dezembro 25,
Dia de Natal, estou em Lumbala, ontem, senti-me um tanto a quanto melancólico. Ontem esteve cá o General Bettencourt Rodrigues. Falei do meu caso, e soube que o Capitão da companhia ia ser evacuado para Luanda.
Confrontei-o com a falta de meios. Disse- me que fazíamos a guerra com os meios que tínhamos. Fiquei aterrado e esclarecido. Éramos uns NADAS. Valiamos 0. (não tinha viaturas para transportar o pessoal ,logo as missões que me atribuíam era de um elevado risco DESNDCESSRIO, teria de levar na viatura rebenta minas 10 ou mais militares, e só deviam ir 2 e cumpri essas missões, mas mal... não tive azares...),)mal
Já fui a uma caçada e em dada parte do percurso julguei-me metido numa emboscada. mas afinal nada foi.
Já estive também no Cazombo, aonde, fui incorporado numa escolta.
Na véspera de Natal levei um pouco de música e 1 golo de Brandy a todos os soldados da companhia.
Dezembro 31

Às 15 horas fui a uma caçada, matámos um cavalo do mato que serviu para o repasto.
1972
Janeiro 1, Sábado

Fiz a passagem do ano juntamente com os soldados do 2º pelotão. Diverti-me eesqueci de certo modo quanto era conveniente esquecer nesta mata perdida de Lumbala.
Fiz ginástica, à tarde dormi, li um pouco, assisti a um pouco de futebol, nada mais aconteceu.
Janeiro 2, Domingo
De manhã fiz ginástica e fui ao banho. Tive uma discussão com o 1º sargento da companhia (muito mais velho que eu) por causa de um roubo que houve na cantina. Nada mais digno de registo aconteceu.
Escrevi uma porção de cartas e choveu imenso durante o dia.
Soube que o Dário Sobral vinha para Angola a 15 de Janeiro.
Verifiquei que o Alf. .... deve ser um grandíssimo básico.
Janeiro 3, Segunda-feira
Entrei de serviço – Oficial de dia ao aquartelamento.
A vida por aqui é muito igual, o tempo custa imenso a passar, sobretudo as noites parecem intermináveis.
Hoje partiu para o mato o 3º pelotão comandado pelo Bexiga com os furriéis Rolo e Peres. Vão fazer uma operação de seis dias. Levam como carregador o
G.M.S. que é um fulano negro simultaneamente porreiro e chato, na medida em que sempre que fala com um tipo é para pedir isto ou aquilo, de um modo especial ,cerveja.
Recebi carta da minha mãe, da Maria das Dores e do Adriano.
O meu primeiro serviço decorreu normalmente, tendo havido um incidente provocado pela estupidez e falta de senso do Furriel ....,
Dei escola e fiz a distribuição do correio à malta.
Hoje por causa da chuva não fiz ginástica e também por me encontrar cansado e indisposto. Fiz 2 rondas aos postos, tendo encontrado toda a malta atenta.
Ouvi mais uma vez a versão dos dois turras que num belo dia passearam junto à vedação de arame. Faz 1 mês que cheguei a Angola.
Janeiro 4, Terça-feira
Levantei-me às 10h. Às 11 horas pratiquei boxe com os soldados, tendo-me aleijado na mão esquerda.
Hoje o almoço é feijoada, estou com isto bem arranjado.
Falei sobre ginástica com um soldado que parece-me um petulante do caneco, porém, é natural que perceba alguma coisa do assunto na medida em que diz
praticar natação no Leixões.
Devia ir hoje ao Cazombo, porém, não houve tal ordem. Tenho já saudades de uma jantarada em Luanda no Hotel Luso.
Ontem o Gabriel ao observar o meu desenho do leproso viu recalcamentos
sexuais.
Da parte da tarde estive muito ocupado com os exames de orientação que fiz aos alunos da 3a e 4a classes.
Truque com cartas:
círculo com cartas, manda-se um indivíduo contar um certo número e depois
contar para trás -......
Janeiro 5, Quarta-feira
Levantei-me às nove horas. Aí pelas 10h dei a 1a sessão de preparação física para a equipa do meu Quartel. A sessão foi um tanto ou quanto pesada, o que originou algumas desistências, entre elas a do Furriel Martins que é o técnico
da equipa. Depois do almoço fui numa coluna militar até ao Cazombo, durante o trajecto fomos sobrevoados por aviões de força aérea. .
Chegámos ao Cazombo por volta das 7h30 da tarde. Às 9 horas fomos jantar ao sr. Nogueira, comemos bifes com ovos a cavalo. Depois do jantar gerou-se uma
discussão muito acesa acerca de problemas tácticos em que o tal sr. Nogueira participou, este. já foi vítima de uma emboscada em que apanhou com 7 balázios, além de muitos estilhaços. Reconheceu nos turras 3 indivíduos das
G.E., mas foi obrigado pela PIDE a calar-se.
De regresso ao Quartel do Cazombo encontrei na camarata dos furriéis o então Cabo Miliciano que no Domingo de Páscoa deu-me muito trabalho no Café Apolo no Funchal. Os madeirenses queriam sová-lo.








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