terça-feira, 16 de março de 2021

HISTÓRIA: O NÃO RELATÓRIO DA PJM SOBRE OS ACONTECIMENTOS DE 7 MARÇO 75, em SETÚBAL

 

                                                      7 Março 75 - Cerco à esquadra da PSP Setúbzl 

Pensando no 16 Março 1974 , hoje, e ainda, os feridos e o morto do 7 Março 1975
Por:
Joao Imperial
Na sequência dos acontecimentos do 7 de março em Setúbal, foi determinado pelo Estado Maior General das Forças Armadas a realização, por parte da Polícia Judiciária Militar, de um “rigoroso inquérito” sobre os factos ocorridos.

GOSTARIA MUITO DE SABER QUEM FORAM OS MEUS CAMARADAS MILITARES QUE CONDUZIRAM ESSE INQUÉRITO.

Eu nunca fui ouvido. Que eu saiba nenhum dos feridos foi ouvido e nunca foi feito um estudo balístico dos muitos buracos de balas existentes nas paredes em frente à esquadra da policia.
Apesar disso a Polícia foi totalmente ilibada dos acontecimentos ocorridos em Setúbal, num relatório cheio de incongruências e falsidades, que durante muito tempo foram notórias para qualquer pessoa que, mesmo sem que aos acontecimentos tivesse assistido, passasse mais tarde pelo local e olhasse, com olhos de ver, para as paredes da Avenida Luíza Tody onde se encontravam os buracos de bala.

VEJAMOS.

O PONTO 3 do relatório final refere a “obstrução ao comício do Partido Popular Democrático”, e “tentativa de assalto à 1ª Esquadra da PSP de Setúbal”.
A existência da obstrução ao comício é, sem sombra de dúvida, uma realidade que, quando cheguei ao local, eu verifiquei como evidente.
Porém, quanto à tentativa de assalto à 1ª Esquadra, eu pessoalmente nada vi acontecer enquanto lá estive e nem sequer me apercebi de qualquer indício sobre a sua existência antes de eu lá chegar.
Mas também, se essa tentativa efectivamente aconteceu antes da minha chegada, não consigo ver como credível que a polícia só viesse a reagir a essa alegada tentativa de assalto quase uma hora depois dela ter acontecido.

O PONTO 4 refere a existência de uma “manobra de agitadores visando o desprestígio da corporação policial” e apresenta como prova dessa manobra o seguinte facto “panfletos distribuídos logo na manhã seguinte, dia 8, onde se exigia o desarmamento e dissolução imediata da PSP e GNR”.
Isto é uma autêntica ofensa à inteligência das pessoas e não abona nada a favor da inteligência dos autores do relatório.
Como é que uns panfletos distribuídos no dia 8 conseguem acicatar os ânimos da população para atacarem a polícia no dia 7? Simplesmente ridículo este argumento.

O PONTO 5 refere a existência de “atiradores postados em locais escolhidos que começaram a disparar sobre a Esquadra e os agentes que se encontravam na rua”.
Esta é outra ofensa a todos os setubalenses ou a todos aqueles que frequentavam o mercado de Setúbal e que durante muito tempo, tal como eu depois de restabelecido, puderam ver que as paredes do mercado e dos outros edifícios em frente à esquadra da polícia se encontravam repletos de buracos de balas e do outro lado, no da esquadra da polícia não havia um único buraco de bala.
Eu vi com os meus próprios olhos, milhares de pessoas terão visto.
Só os inquisidores é que não viram. Pelos vistos viram precisamente o contrário daquilo que toda a gente viu.

O PONTO 6 afirma que “Todos os civis feridos por tiros, foram-no em consequência de ricochetes”.
Afirmação que não elucida absolutamente nada. Esses tiros foram feitos por quem? A polícia ou os alegados agitadores? E esses ricochetes aconteceram em que obstáculos? No chão? Nas paredes da Esquadra da Polícia ou nas paredes em frente à esquadra da polícia?
Foi feita peritagem? Quais os dados da peritagem que os levaram a concluir que o morto e os 20 feridos foram todos atingidos por balas de ricochete?
A mim, pessoalmente, ninguém me analisou os buracos de entrada e de saída da bala que me atingiu.
Ainda o mesmo PONTO 6 refere a existência de “projéteis que atingiram a parede da Esquadra em número de vinte e oito”.
Eu, sendo um dos feridos, logo que tive condições para tal, andei a investigar os buracos das balas nos dias seguintes.
Não encontrei um único buraco nas paredes da esquadra e antes pelo contrário encontrei imensos nas paredes contrárias.
Pergunto aos inquisidores: Foram lá? Viram? Tiraram fotos?

O PONTO 7 refere que “O projétil que atingiu um civil na fronte, causando-lhe a morte, revela-se, em face do diâmetro do orifício de entrada, ser de um calibre inferior ao de qualquer arma utilizada pela polícia”.
Pergunto: Quem, como e onde foi feita essa peritagem?
A verdade é que, também eu, pelo diâmetro dos buracos de entrada e de saída, fui atingido por uma bala de pequeno calibre.
Além disso, quando fui atingido, eu estava de costas para a esquadra e a bala entrou na parte de trás da perna (buraco mais estreito) e saiu na parte da frente (buraco ligeiramente maior). Portanto não tenho dúvida nenhuma de que fui atingido por uma bala da polícia e não dos alegados agitadores, a não ser que esses agitadores fossem alguns dos próprios polícias.

O PONTO 8 refere a existência de “vários outros indícios demonstrando que foram usadas pelos manifestantes armas de diverso calibre”, mas não refere que indícios foram esses e pelos vistos também não admite o uso de diferentes calibres por parte da polícia.
Ainda o mesmo PONTO 8 refere “durante o tiroteio foi referenciado um civil, na Rua do Mercado, deslocando-se em corrida e empunhando uma espingarda G-3”.
Eu estava lá e não vi nenhum civil armado, nem sequer com paus e pedras. Gostaria de perguntar aos inquisidores qual foi a origem e a fonte dessa informação.

O PONTO 9 refere “É falso que a PSP tenha feito uso de metralhadoras sobre a população”.
Não posso corroborar nem desmentir tal afirmação, mas que ouvi tiros de rajada isso sim, ouvi.
Ainda o mesmo PONTO 9 refere “O que se verificou foi um graduado da PSP ter feito, com fim intimidativo, duas rajadas de pistola-Metralhadora para o ar, com pontaria muito alta, por cima do Mercado Municipal, consumindo um total de 8 cartuchos”.
Outra autêntica ofensa à inteligência das pessoas. Sem buracos de bala na esquadra da polícia, com dezenas de buracos nas paredes contrárias, com vinte feridos a tiro e um morto, como é possível que a polícia só tenha disparado 8 tiros e ainda por cima todos eles para o ar com pontaria muito alta.
E assim terminou o processo de inquérito, sem qualquer procedimento disciplinar ou criminal contra os agentes da PSP intervenientes na ocorrência.
Gostaria de saber quem foram os meus camaradas inquisidores e gostaria de entender as correlações existentes entre estes acontecimentos e as manobras de bastidor que culminaram com os incidentes ocorridos 3 dias depois no dia 11 de março.

NOTA:
por asilva:

De metralhadora HK NÂO FIZERAM porque avisado pelo Alferes Pauleta logo ordenei de um modo MUITO CLARO a desmontagem dessa metralhadora que ia ser montada ns janela do 1º andar. Depois de chegarmos não houve mais nada
Vergonhosamente também não fui ouvido nesse rigoroso inquérito para declarar que os policias me disseram que receberam ordens do sr. Major Casanova Ferreira para fazerem fogo de metralhadora HK sobre a população, seria UM RIO DE SANGUE VERMELHO,
Escandalosamente e .... quiçá ?? todos calaram este gravíssimo incidente, porquê???
Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas, pessoas em pé e ao ar livre
M

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