segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Jorge de Sena -A Porugal: Esta é a ditosa pátria minha amada

 
 
A Portugal

Esta é a ditosa pátria minha amada.
Não, nem é ditosa porque o não merece,
nem minha amada, porque é só madrasta
nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de ter nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
Quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela
Saudosamente nela,
Mas amigos são por serem meus amigos
e mais nada.
Torpe dejecto de romano império,
Babugem de invasões,
Salsujem porca de esgoto atlântico,
Irrisória face de lama, de cobiça e de vileza,
De mesquinhez, de fátua ignorância.
Terra de escravos, de cú para o ar,
Ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto.
Terra de funcionários e de prostitutas,
Devotos todos do Milagre,
Castos nas horas vagas, de doença oculta.
Terra de heróis a peso de ouro e sangue,
E santos com balcão de secos e molhados,
No fundo da virtude.
Terra triste à luz do Sol caiada,
Arrebicada, pulha,
Cheia de afáveis para os estrangeiros,
Que deixam moedas e transportam pulgas
(Oh!, pulgas lusitanas!) pela Europa.
Terra de monumentos
em que o povo assina a merda
o seu anonimato.
Terra-museu em que se vive ainda
com porcos pela rua em casas celtiberas.
Terra de poetas tão sentimentais
Que o cheiro de um sovaco os põe em transe.
Terra de pedras esburgadas,
Secas como esses sentimentos
De oito séculos de roubos e patrões,
Barões ou condes.
Oh! Terra de ninguém, ninguém, ninguém!
Eu te pertenço.
És cabra! És badalhoca!
És mais que cachorra pelo cio!
És peste e fome, e guerra e dor de coração!
Eu te pertenço!
Mas seres minha, não!

Jorge de Sena
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é   de crer que há mesmo muitas e dolorosas verdades neste poema de Jorge de Sena, quem senão, ladrões, vendidos ou gente prostituída, para votar continuamente em governos tais, depois de terem mais que tempo, de ver para onde está a ser levado Portugal, para a miséria, para a desonra, para a ignomínia, para uma total carência de valores humanos, onde quem vai às urnas, nem tem responsabilidade e capacidade de assumir os filhos que fez, roubando-lhes, aos próprios filhos o futuro luminoso, com o qual, bons pais, sonham para seus filhos. Pois toda essa gente, que vota nesta direita hiper corrupta, por compadrios, por migalhas caídas da mesa dos grandes, hipotecam, o Direito dos Jovens, que puseram no Mundo, lançando-os para o desespero, drogas, seitas e total falta de confiança no ser humano! e isso não tem perdão! porque se são capazes de trair, o olhar que um dia poisaram sobre o berço, duma criança, inocente e confiante, tudo serão capazes de atraiçoar e de vender. Corja imunda, que não há palavras suficientes para denunciar, o que não escusa o silêncio! Por isso vamos à Luta: porque nós somos coerentes! nós somos capazes de Amor: nós somos de Esquerda porque somos o Amor Universal, que começa talvez num berço pequenino, mas que potente e altivo, seguro de si, se alastra pelo Mundo! 
Marília Gonçalves 

3 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Hoe faz 50 anos foi assassinado o escultor José Dias Coelho
uma lembrança presente no facebook
http://www.facebook.com/isaura.kikas/posts/218708204870737?notif_t=like



a minha, e penso que a de muitos amigos e gente justa e honesta, é esta terrível frustração, da PIDE/ SALAZAR/FASCISMO E TODOS OS QUE COMIAM DA MESMA POCILGA, não terem sido julgados,por todos os crimes cometidos, por todas vidas destruídas, por todas as consequências de quanto mal fizeram, aos melhores e mais corajosos filhos de Portugal! que não tenham sido julgados pelo medo, pelo silêncio, por quanto silenciava e acarneirava o povo de Portugal! tal julgamento, justo, correcto, resposta ponto por ponto a todo o mal feito e causado: magoa-me profundamente, que não tenha tido lugar! até porque era indispensável à História, e à compreensão das gerações presentes e vindouras, da trágica, horripilante realidade que foi o fascismo em Portugal

Anónimo disse...

marília
o maldito regime salazarista, que por meio século nos governou e nos apoucou, fez de nós um povo mesquinho, incapaz de reagir ás injustiças e à destruição do seu próprio futuro. tal como o descreve jorge de sena, no seu poema de 1961, tão actual como nunca.
esse regime fascista odioso, que assassinou dias coelho e encarcerou tantos portugueses, parece querer voltar, para nos ameaçar.
quando eu nasci, o meu pai estava preso, nas cadeias da pide.
o que mais me horroriza, e atormenta, é ver a indiferença dos portugueses, perante o rumo que o país, e o mundo tomam. será que a história vai voltar a repetir-se?

o que será preciso para que as pessoas acordem?

será que, se acordarem, ainda iremos a tempo...?

abraço, querida marília
rc

andrade da silva disse...

Os pides nunca poderiam ser julgados por cumplicidades e verdades escondidas que com o desaparecimento e roubo de muitos arquivos da PIDE, ficaram perdidas na história, o que de um modo claro os membros da comissão de extinção da PIDE, deveriam explicar e referir, porque dizem saber coisas vergonhosas.
tenho um texto sobre isto que postarei.