NOTA PRÉVIA: “escrever aqui, neste agora, sobre a crueldade e
o desastre dos tempos de hoje é como deitar ácido sulfúrico sobre o coração nu,
mas é preciso DIZER – Basta de cegueira,
o abismo está a dois passos, dar três passos no seu sentido, será a catástrofe.”
Como diz Eduardo Lourenço, a história é sempre cruel, mas se a
crueldade não se auto-limitar, ou se ninguém a limitar, os países caem na
tragédia, assim, já foi em Portugal, e pode volta a ser.
A crueldade do regime
anterior sobre os portugueses e os africanos levou-nos a uma guerra de 14 anos,
num ambiente envolvente de 40 anos de ditadura, e, agora, como seria?
As crueldades, dos tempos que passam, e vêm de há décadas, são:
as más governações; a imoralidade; a
corrupção; a mentira; a grave desigualdade social; incompetências várias; a falta de mérito; o
desemprego; o abandono das populações, sobretudo dos idosos; a falta de futuro
para os jovens; a quase completa ineficácia da justiça, a geral falta de
cidadania e de democracia, com democracia. Se esta é a crueldade, a tragédia e a catástrofe resultarão, como consequência directa da não
alteração destes tumores, e da luta que eles provocarão entre os que, como o
comandante do navio grego Concórdia que naufragou, saíram, desde há muito, da rota justa, e seguem por caminhos cheios de
escolhos que farão um grande rombo na nau Portugal.
A diferença entre o barco grego e Portugal não está a nível
dos seus comandantes, mas sim dos mares. Os mares em que Portugal navega são
muito mais tumultuosos e o rombo poderá resultar do confronto entre posições radicais que só
encontrarão uma saída provável num regime ditatorial.
Neste ambiente não é mais possível chegar mais fogo ao
incêndio, e mais caos ao caos, é preciso compreender que os trabalhadores, como
66% dos portugueses, têm o direito e o dever de protestarem contra a actual
governação que cada vez mais nos enterra, também por razões externas da especulação
financeira, e da crueldade Alemã.
Todavia, se todos
deverão ser exigentes nas suas reclamações e criticas, têm de associar a sua
luta de protesto à solução politica. Deixar de fora a solução politica, isto é,
a constituição de um governo de emergência
nacional, seria um desastre.
Governo de emergência
nacional que com VERDADE faça o retrato do estado do
país nos domínios financeiro, económico , industrial etc; com VERDADE diga qual de facto é a grelha
salarial e condições de trabalho nas empresas públicas de transportes e em
todas as outras; com DETERNINAÇÃO e
VIGOR combata a corrupção e a economia paralela; com DETERMINAÇÃO E RIGOR ponha a justiça a funcionar de modo que todos sejam
justamente julgados e condenados; com completa e transparente MORALIDADE reparta equitativamente os
sacrifícios por todos .
Se a governação continuar só a proteger um dos lados – o dos
poderosos – o conflito social poderá elevar-se a patamares tão graves com consequências
económicas desastrosas que rapidamente nos poderão colocar na mesma situação da
Grécia, onde, a população está actualmente num estado bem mais grave que a
nossa.
Naturalmente que em Portugal todos os sectores, incluindo, e
de um modo muito pertinente as Forças Armadas, precisam de ser reestruturados,
mas o que tem acontecido em Portugal, pela mão de incompetentes é que
reestruturar significa destruir, e passar a fazer as coisas mais aldrabadas, como
de um modo geral são muitos dos produtos chineses, com uma poupança fictícia
para os serviços. Fictícia, porque a médio prazo a incompetência não compensa, e
é um grave prejuízo para os cidadãos que passam a ser muito mais mal servido.
A situação em Portugal é de uma extrema gravidade, porque o
Sr. Presidente da República faz muitos discursos, alerta para as situações, mas
depois não age, ou porque não tem poderes, ou porque falta-lhe força moral ou
vontade para fazer; ou não tem nenhuma alternativa, ou pura e simplesmente
concorda com as análises optimistas dos membros do governo e suas práticas.
Governo que se escusa a fazer, ou a apresentar as contas que
estão feitas para a Grécia, que com todo o esforço que está a fazer, se nada na politica europeia mudar, os juros se mantiverem ao nível actual,
a sua divida externa até 2016, terá uma
contracção mínima, dos 160% actuais do
PIB, para os 120% ,mesmo com o perdão de 50% da divida ( Visão 19 Janeiro 2012,
pp 61), facto que revela que os países mais fragilizados teriam de ter governos
mais aptos para a governação dos seus países, e fazerem mais pressão sobre o eixo Bona-Paris, no
sentido de uma maior mutualização das dívidas, e atribuição de outro papel ao
Banco Central Europeu para evitar a implosão social na Europa.
Neste contexto e na ausência de uma força que modere o governo,
na sua sanha liberal de destruição de quase tudo, até do querer ser português
por parte dos portugueses; pela completa obediência ou fé dos deputados que sustentam
o governo; inacção efectiva do Sr. Presidente da República - mais por omissão,
face aos seus alertas, do que por convicção - com um Partido Socialista
completamente perdido nesta encruzilhada
- porque abraçou o neo-liberalismo, fez mal o que devia, sente-se
comprometido com tudo isto, e não tem nem capacidade para ser competente, nem
moralidade para fazer o que deve ser feito - o país está num dilema assaz perigoso : de um lado um mau
governo, do outro uma luta que partindo de pressupostos justos, pode lançar o
país numa catástrofe.
( CONTINUA)
Andrade da Silva
PS: PARTE II -QUE FAZER?
2 comentários:
tudo certo :)
Abraço
asilva
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