segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

PORTUGAL E OS PORTUGUESES EM 1ºLUGAR, OU A TRAGÉDIA E A CATÁSTROFE. (PARTE I)




                                            NOTA PRÉVIA: “escrever aqui, neste agora, sobre a crueldade e o desastre dos tempos de hoje é como deitar ácido sulfúrico sobre o coração nu, mas é preciso DIZER – Basta de cegueira, o abismo está a dois passos, dar três passos no seu sentido, será a catástrofe.”


Como diz Eduardo Lourenço, a história é sempre cruel, mas se a crueldade não se auto-limitar, ou se ninguém a limitar, os países caem na tragédia, assim, já foi em Portugal, e pode volta a ser.

 A crueldade do regime anterior sobre os portugueses e os africanos levou-nos a uma guerra de 14 anos, num ambiente envolvente de 40 anos de ditadura, e, agora, como seria?

As crueldades, dos tempos que passam, e vêm de há décadas, são: as más governações; a  imoralidade; a corrupção; a mentira; a grave desigualdade social;  incompetências várias; a falta de mérito; o desemprego; o abandono das populações, sobretudo dos idosos; a falta de futuro para os jovens; a quase completa ineficácia da justiça, a geral falta de cidadania e de democracia, com democracia. Se esta é a crueldade, a tragédia  e a catástrofe  resultarão, como consequência directa da não alteração destes tumores, e da luta que eles provocarão entre os que, como o comandante do navio grego Concórdia que naufragou, saíram, desde há muito,  da rota justa, e seguem por caminhos cheios de escolhos que farão um grande rombo na nau Portugal.

A diferença entre o barco grego e Portugal não está a nível dos seus comandantes, mas sim dos mares. Os mares em que Portugal navega são muito mais tumultuosos e o rombo poderá resultar  do confronto entre posições radicais que só encontrarão uma saída provável num regime ditatorial.

Neste ambiente não é mais possível chegar mais fogo ao incêndio, e mais caos ao caos, é preciso compreender que os trabalhadores, como 66% dos portugueses, têm o direito e o dever de protestarem contra a actual governação que cada vez mais nos enterra, também por razões externas da especulação financeira, e da crueldade Alemã.
 Todavia, se todos deverão ser exigentes nas suas reclamações e criticas, têm de associar a sua luta de protesto à solução politica. Deixar de fora a solução politica, isto é, a constituição de um governo de emergência nacional, seria um desastre.

Governo de emergência nacional que com VERDADE faça o retrato do estado do país nos domínios financeiro, económico , industrial etc; com VERDADE diga qual de facto é a grelha salarial e condições de trabalho nas empresas públicas de transportes e em todas as outras; com DETERNINAÇÃO e VIGOR combata a corrupção e a economia paralela; com DETERMINAÇÃO E RIGOR ponha a justiça a funcionar de modo que todos sejam justamente julgados e condenados; com completa e transparente MORALIDADE reparta equitativamente os sacrifícios por todos .

Se a governação continuar só a proteger um dos lados – o dos poderosos – o conflito social poderá elevar-se a patamares tão graves com consequências económicas desastrosas que rapidamente nos poderão colocar na mesma situação da Grécia, onde, a população está actualmente num estado bem mais grave que a nossa.

Naturalmente que em Portugal todos os sectores, incluindo, e de um modo muito pertinente as Forças Armadas, precisam de ser reestruturados, mas o que tem acontecido em Portugal, pela mão de incompetentes é que reestruturar significa destruir, e passar a fazer as coisas mais aldrabadas, como de um modo geral são muitos dos produtos chineses, com uma poupança fictícia para os serviços. Fictícia, porque a médio prazo a incompetência não compensa, e é um grave prejuízo para os cidadãos que passam a ser muito mais mal servido.

A situação em Portugal é de uma extrema gravidade, porque o Sr. Presidente da República faz muitos discursos, alerta para as situações, mas depois não age, ou porque não tem poderes, ou porque falta-lhe força moral ou vontade para fazer; ou não tem nenhuma alternativa, ou pura e simplesmente concorda com as análises optimistas dos membros do governo e suas práticas.

Governo que se escusa a fazer, ou a apresentar as contas que estão feitas para a Grécia, que com todo o esforço que  está a fazer, se nada na politica europeia  mudar, os juros se mantiverem ao nível actual, a  sua divida externa até 2016, terá uma contracção  mínima, dos 160% actuais do PIB, para os 120% ,mesmo com o perdão de 50% da divida ( Visão 19 Janeiro 2012, pp 61), facto que revela que os países mais fragilizados teriam de ter governos mais aptos para a governação dos seus países, e fazerem  mais pressão sobre o eixo Bona-Paris, no sentido de uma maior mutualização das dívidas, e atribuição de outro papel ao Banco Central Europeu para evitar a implosão social na Europa.

Neste contexto e na ausência de uma força que modere o governo, na sua sanha liberal de destruição de quase tudo, até do querer ser português por parte dos portugueses; pela completa obediência ou fé dos deputados que sustentam o governo; inacção efectiva do Sr. Presidente da República - mais por omissão, face aos seus alertas, do que por convicção - com um Partido Socialista completamente perdido nesta encruzilhada  - porque abraçou o neo-liberalismo, fez mal o que devia, sente-se comprometido com tudo isto, e não tem nem capacidade para ser competente, nem moralidade para fazer o que deve ser feito - o país está num  dilema assaz perigoso : de um lado um mau governo, do outro uma luta que partindo de pressupostos justos, pode lançar o país numa catástrofe.

      ( CONTINUA)

Andrade da Silva

PS: PARTE II -QUE FAZER?