segunda-feira, 25 de junho de 2018

A LEVEZA E LUMINOSIDADE DA ALMA DE ABRIL


                                             Fragata Gado Coutinho 25 de Abril 74


Falo da alegria que tive, através do meu camarada António Moura, ao saber que o Comandante Louçã - o comandante da fragata Gago Coutinho que pairou ao largo do cais das colunas no 25 de Abril, ameaçando Salgueiro Maia) saiu da Marinha a seu pedido, o que, muitos fazem. É uma decisão pessoal ,legitima.

Pensava que tinha sido afastado compulsivamente . Um abraço aos meus camaradas da Marinha e aos da Fragata naquela data Caldeira Sanros e António Moura, entre outros,por não terem praticado esse acto, face a toda a história que alguns referem do comandante Louçã - um homem austero, integro, um republicano e nunca um salazarista.


Em sentido e continência por todos e também pelo militar comandante Louçã e pelo 2º Comandante da EPA tenente-coronel Nascimento que detivemos no 25 de Abril e foi afastado compulsivamente .


Creio que nunca foi reintegrado . uma GRAVE INJUSTIÇA. (a)

Por volta de 2004 abraçamo-nos.. Respeitava.-o e gostava muito dele,como militar, mas ABRIL ERA BEM MAIOR... e .nem que fora meu irmão, teria cumprido a missão que recebi de chefiar a equipa que o deteve, com a dolorosa dor - nada foi fácil, mesmo emocionalmente - de planear as várias acções de detenção, conforme os cenários, e em alguns a acção era muito,muito, dura, porque constava que estava em casa armado com pistola metralhadora, para nos fazer frente, e tínhamos a CONVICÇÃO que se defenderia a tiro,por uma questão de honra militar, e nunca por ser um aderente ao regime Salazarista-Marcelista... coisas.... aliás, quando me procurou queria saber se tinha sido traído pelo comandante. Informei-o que não, e que todos o tínhamos em grande conta militar, mas Abril era uma missão Maior e REVOLUCIONÁRIA, logo.. ele o compreendeu ,e o nosso "zé da fisga" porque andava muito depressa, apresentou-se no meu gabinete com uma mochila às costas, depois de ter feito uma peregrinação por África.... coisas.. assim, humanas... que somente a humanos interessa.Voltei a procurá-lo, mas já tinha partido... a vida.... é finita...

E tanto esforço!!!!!... coisas....

Abraço-vos .

andrade da silva

(a) Todavia no relatório da operação 25 de Abril,assinado por todos os oficiais do QP participantes, logo, também por mim, para além dos aspectos militares que já referi fizemos considerações inadequadas de ser violento e capaz de fazer represálias.Todavia  concordo com o Dinis de Almeida que considerou que confundimos determinadas características militaristas - que pessoalmente aceitava,como é do conhecimento geral, os meus pelotões eram conhecidos pelos Jacarés, face à dura instrução que também  impunha a mim próprio-  com qualidades negativas.

Se tivesse, posteriormente, sido  ouvido, num qualquer processo, diria com Dinis de Almeida  (Origens e Evolução do Movimento dos capitães pp 356)que o considerava um apaixonado pela instrução militar. sei-o, foi meu comandante no grupo de instrução, honesto, competente e exercia e exerceu, no meu caso, o apoio que um superior hierárquico deve prestar em caso de acidentes na instrução - foi um grande e leal comandante.

Também, aquando da apresentação disseram-me que não a receberia se não o tratasse por V.Exa- Meu Major( 1970) . Disse que só o trataria por meu Major e que ele receberia a apresentação. Confiava em duas coisas:  no barrete à Alemão e na super- energia da continência, e ,assim, foi. com ele e muitos outros.

 Foi-me permitido, sempre, não ser muito formal,o que, na minha opinião revela  qualidades essenciais da liderança:  visão, percepção de realidades de 2º nível,  inteligência e plasticidade.

 Em continência aos meus comandantes: tenente- coronel Nascimento.( fomos muito injustos no relatório que agora releio)  Coronel Machado - um avô, em 73, falhei-lhe da greve dos mineiros em Londres. não me denunciou à PIDE-  Coronel Torres de Magalhães - um apaixonado pela agro-pecuária, com uma costeleta ou mais de  camponês;  tenente-coronel Segurado; Coronel Sousa Teles até Agosto 75 e, entre todos e, bem acima de todos, Carlos Fabião;  como amigo e camarada o general Vasco Gonçalves, e, ainda, de um ponto de vista estritamente militar, o então, Major Júlio de Oliveira meu comandante no Grupo de Instrução; de África registo o tenente-coronel Borda de Água - um bom homem duplamente derrotado -Índia-Angola, e nos tempos modernos os Coronéis Altinino - também um avô  - e o Carlos Clemente um camarada de Abril. Aprendi convosco e também vos dei dores de cabeça,mas foram camaradas e bem tolerantes,reconheço. Bem-Hajam.. memórias como e porquê fugir delas?




1 comentário:

Serafim Silveira Pinheiro disse...

Muito bem , caro camarada e Amigo!!!
Mais uma vez dás exemplo de cidadania completa e da tua coragem. No tempo dos saneamentos também vivi junto do então CEMGFA momentos de muita emoção por causa da apressada nomeação/eleição dos representantes para as "comissões de saneamento" e dos resultados das suas decisôes na vida de camaradas e amigos. Foram momentos difíceis que recordo com amargura e que poderiam ter sido evitados se nos gabinetes do Poder tivessem sido consideradas outras soluções. Esgotei na altura meus argumentos junto de interlocutores com possibilidade de intervir. Infelizmente o tempo veio sublinhar minhas razões quando tomei conhecimento das emendas feitas para reparar estragos provocados na vida de muitos militares, "emendas" feitas ao abrigo do programa de revisão das carreiras, que nalguns casos são bem piores que o "soneto".
Considero ser um dos importantes assuntos que justifica a abertura de um Livro Branco sobre o 25 de Abril.
Forte abraço, com saudade