quinta-feira, 25 de março de 2021

IDOS DE MARÇO (74/75) EM POFRTUGAL !

      Um encontro com a história,

um encontro com companheiros e concidadãos,

um encontro com PORTUGAL
um encontro com a eternidade,
um encontro com Salgueiro Maia,

UM DIA 25 DE ABRIL 74, em 2021.

Um bem-haja a todos e muito especialmente ao nosso anfitrião joão Baptista, às nossas companheiras mais jovens , ao nosso companheiro da Diáspora Serafim - a todos
.UMA JORNADA HISTÓRICA Longa, como foi aquela noite de 24 de Abril 74.

Aconteceu Abril.!

TEMAS ABORDADOS:
16 MARÇO 1974
Tenente-Coronel Carlos Carvalhão
Alferes Firmino Mendes.
07 MARÇO 75 - Setúbal
Coronel Andrade da Silva
(com depoimento de João Imperial)
Alferes Eduardo Fernandes
Aspirante de José Miguel Cravo.
11 MARÇO 75
Comandante Serafim Pinheiro.
13 MARÇO 75 - Operação em Montemor
Vitor Pássaro.
Pode ser uma imagem de 17 pessoas, barba, óculos graduados e texto que diz "TERTÚLIAS DA ASSOCIAÇÃO SALGUEIRO MAIA Is Idos de Março 一"
Decorreu ontem mais uma tertúlia realizada pela Associação Salgueiro Maia, cujo tema foi "Os Idos de Março".
MEMORÁVEL IMORTAL
Aconteceu 25 de Abril 74
Aconteceu História viva, da vivida
Aconteceu Camaradagem de Abril e Mátria
Aconteceu Amizade
Aconteceu dar vida a páginas mortas da história da Revolução de Abril
Aconteceu Salgueiro Maia
Aconteceu ASM
Saudações ASM
EIA! ABRIL :
SERVIR A PÁTRIA/MÁTRIA E A HUMANIDADE
Cumprimos!
A ASM Cumpriu-se
Salgueiro Maia ficou feliz
HONRAMOS A SUA HERANÇA!
...somos todos capitães...

3 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Caríssimo Companheiro de Abril João Andrade da Silva
Dirijo-me em especial a si, porque foi magoado após o 25 de Abril
Que isso possa ter acontecido a um dos Homens da Liberdade dos que nos ofertaram a Luz há tanto negada, que nos deram a possibilidade de beber Ar de o sorver, como nunca dantes havíamos feito, parece-me de tal modo absurdo e ridículo, tão ingrato como falto do mais elementar sentido humano para quem tal fez
Mas como no outro dia referi numa resposta a si também
O 25 de Abril foi decerto a mais bela página de História que se escreveu em Portugal e até no Mundo
Uma Revolução em que quem detinha as armas tudo fez para nunca ter que servir-se delas!
Mas nem a melhor revolução pode operar milagres, as mentalidades foram parte da herança desse quarenta e oito anos de sofrimento do nosso País.
Por isso pelo vosso humanismo exemplar é o meu coração de menina que foi magoado também e prematuramente que vos diz Obrigada!
Por isso que mais uma vez vou escrever aqui mais um pedacinho de acontecimentos da minha vida de menina filha de antifascista ;
O meu pai pertencia ao MUD. Se é certo que as simpatias políticas eram vermelho vivo
era esse o Movimento a que estava ligado.
Meu pai foi preso a 22 de Maio de 1958. Lembro-me de tudo como se fosse hoje e se não esqueci a data, é que na véspera 21 por conseguinte , tinha sido o aniversário de meu pai.
De manhã nesse dia 22 fui para o Externato que frequentava . Vivíamos na Amadora
Do que na classe se passou nessa manha não me lembro de nada de especial porque não havia razão para isso. Uma manhã em que a vida decorria como em todas as outras manhãs e tardes escolares.
À hora de almoço fui a casa para cerca das 14 horas entrar nas aulas outra vez.
Quando cheguei a casa , eu tinha então dez anos, minha mãe veio abrir-me a porta.
Nada havia na expressão de minha mãe que me alertasse para o que quer que fosse.
Foi por isso com espanto que ao ir entrando corredor adiante, comecei a ver a casa virada dos pés para a cabeça, tudo entornado no chão! Tudo fora do sítio habitual. Gavetas fora dos móveis roupas por todo o lado Dirigi-me à cozinha. O mesmo espanto! Tudo revirado e até a despensa tinha as prateleiras esvaziadas. Tudo, tudo espalhado por todo o lado
Enquanto fui observando aquele estado de coisas não me lembro de mais uma vez ter notado algo de estranho no rosto de minha mãe. Mas as palavras que o espanto havia retido, acabaram por sair em forma de pergunta. O que é que aconteceu? E minha mãe o mais naturalmente do mundo respondeu-me:
- Nada! Foi o papá que teve que teve que ir para o Porto de repente e não sabia de umas coisas importantes que tinha que levar e com a pressa foi isto que deu.
- Lembro-me de um mutismo que me tomou, crédula mas estranha. Eu era uma criança sensível que já dizia poesia há alguns anos e em vários sítios. A própria directora do externato que era uma pessoa extraordinária de rectidão e justiça que fazia desabelhar as crianças assim que aparecia pela sua expressão que podia à primeira vista parecer dura, me chamava quando havia algum momento livre para ir declamar para ela. E quanto mais o poema apelasse para sentimentos humanos mais ela exultava. Pois mesmo essa sensibilidade não conseguiu captar senão aquela sensação de espanto que me invadiu.
Marilia Gonçalves
(continua)

Marília Gonçalves disse...

(continuação)

- É verdade que não muito antes, uma tarde, meu pai chegara a casa com o fato manchado de azul e algo ofegante. Ouvi-o a dizer a minha mãe que na manifestação em Lisboa a guarda republicana lançara os cavalos sobre a multidão e que lhe parecia que umas crianças que iam a passar não teriam ficado bem.
- Mas a conversa não era comigo e nada mais fiquei a saber.
Não percebia patavina de política nessa idade. O que me ensinavam era a proteger os mais fracos, os pobres a gostar das pessoas Mas política, daquilo que pensavam ou faziam até aí nada soube.
Minha avó materna apareceu (para mim inopinadamente e levou-me para casa de familiares onde vivia a sua irmã Josefa, ( a viuva do Alfredo Dinis, mas isso na altura ainda sabia menos, nem que tal pessoa tinha existido. Nessa casa que era a da irmã do Alex, fui recebida com carinho muito mais intenso que o habitual. É possível que bem no fundo de mim começasse a germinar alguma sementinha de ideia, mas sem mais. Uma impressão, uma estranha impressão.
Não voltei à escola até ao fim de semana. No Domingo seguinte minha mãe que estava grávida, tinha mandado fazer um vestido e um casaco comprido rosa velho, parece que o estou a ver...
Disse-me:
- vais ao casamento da prima mas assim que chegares dizes que o papá foi para o Porto e que por conseguinte nem sei se tenho que ir ter com ele, portanto não vou ao casamento, embora tenha muita pena.
É claro que essa minha frase à chegada perto da família tinha a finalidade de os prevenir da minha ignorância dos factos. Assim aconteceu. Acabado o recado fizeram-me um sorriso meigo e nada mais.
Na segunda-feira de manhã, minha mãe completamente tranquila quanto ao meu estado de desconhecimento preparou-me e lá fui para a escola. Externato ou não externato nunca me lembro de dizer senão vou para a escola.
Acabada de sentar na minha carteira, entra a Isabelinha, neta dum amigo de meu pai, e rápida
Lança-me;
Então o teu pai foi preso? De repente num salto estava em pé, e sem hesitar, numa verdade luminosa que não sabia donde me surgia retorqui enérgica:
- Está ! Mas não foi por matar nem roubar! Mas porque é bom!
- Companheiro, nesse momento ergui alto a cabeça e os olhos num jeito que me ficou até hoje e nunca mais em nenhuma circunstância, alguém conseguiu vergar-me a cabeça nem fazer-me baixar os olhos.
Marilia Gonçalves
(continua)

Marília Gonçalves disse...

(fim)

E era apenas o início de uma época de provações e de privações que mesmo nesse momento não podia prever. A prisão embora curta, a tortura a perda do emprego que adveio e as suas consequências agravaram a saúde frágil de meu pai!
E tudo a dado momento se fechou à minha frente.
Até que com catorze anos depois de passarmos por muita falta, vim com minha mãe abrir caminho para a vinda de meu pai que começara com vómitos de sangue pouco tempo depois de ser libertado.
À chegada a França em 62 não era já a menina ingénua que chegava
Era uma mulher que a dor as privações haviam amadurecido prematuramente
E deitei-me ao trabalho! Sempre com o mesmo olhar bem erguido!
Mas o que recordo mesmo de casa de mais familiares de casa de meu avô, o tal que era enfermeiro, avô emprestado de segundas “núpcias” de minha avó mas avô de coração era aquela frase que voltava sempre: isto já está por pouco Não tarda cai!
Pois mas os anos foram passando e o fascismo não caía, armado de pedra e cal parecia ser!
Até que foi Abril. (1)
Como duvidar de Abril? Como duvidar do futuro ridente de Portugal! Abril é uma conquista que nunca se perderá! poderá passar e atravessar trilhos tortuosos, mas há-de erguer –se sempre à luz do dia
Porque Abril foi a palavra justa que restituiu a voz a todos os que a dor tinha silenciado
Eu fui apenas uma entre casos e casos sem fim de crianças de quem conheço historias que só muita maldade podiam provocar.
Essa maldade que fechava os olhos ao povo de Portugal era o salazarismo o fascismo de uma hipocrisia ímpar, de falsos sorrisos, de palavras que se fingiam mansas para enganar incautos.
Os outros os que sabiam, e calaram e participaram, mesmo para a consciência própria que durante anos não tiveram, no momento da morte às vezes ela acorda de dedo acusador e não queria estar no lugar deles.
E isso amigos e Companheiros o povo de Portugal há-de sempre, porque é bom generoso e fraterno, vir lembrar a quem tente ofender ou ferir Abril, que Abril é para sempre a Voz da Liberdade a Voz de Portugal!
Até hoje nunca tinha querido escrever estes factos, (salvo em poema que escrevi para crianças da minha rua quando meus filhos eram pequenos).
pensei que a dor que mora nestes acontecimentos me faria estoirar de aflição.
Como vê resisti a esta primeira prova do fogo! Quem sabe talvez um dia venha contar mais alguma página da minha vida infantil
Até sempre Capitães!!!!
Marília Gonçalves
(1) um dia contarei como se viveu na família e à nossa volta o decorrer de amanhecer único
que nos devolvia às nossas próprias vidas, de história desviada e em muitos campos interrompida.

Marilia Gonçalves