quarta-feira, 31 de março de 2010






BOAS PÁSCOAS




ABRAÇO-VOS


andrade da silva

terça-feira, 30 de março de 2010




                                                                  Com o abraço fraterno

Marília






A minh’alma é tão velhinha

que me lembra a esvoaçar

a asa duma andorinha

a cair no alto-mar.


Marília Gonçalves

segunda-feira, 29 de março de 2010

VIDA!....VIDA!.... VIDA!...



Vida

A vós… segundo os vossos corações e,ou almas….”


Vida,
mero sinal,
passageiro,
vago,
ténue,
indecifrável,
no entroncamento,
das palavras soltas, ridículas:
amar,
volúpia,
respirar,
contemplar,
tocar,
ser teu, seres minha,
no instante fugaz,
pleno, eterno…


A eternidade é um ápice.
Só a estupidez tem
um espaço
e um tempo,
sem fundo, nem fim.


Ser livre, é ser eterno,
No instante que morre…
…antes do ai…
… antes do orgasmo….
… depois… depois …
…. Amor!…
poisamos na terra,
no quotidiano,
na penumbra:
foi teu, fostes minha,
talvez sim,… talvez não….
É sonho…. Talvez!…


Hei-de amar,
sempre, sempre,
sem regras, sem canga,
sem dono, sem donatário,
no mar, nas serras,
no ar,
no fogo,
na boca do vulcão.
Só sei que o magma da vida
é o orgasmo.


Ridículo e louco,
assim me fiz,
e, assim, me fino,
no cabo da boa esperança
das virtualidades
e das realidades proibidas
e desejadas, mas….
não vivo num cabo em África,
moro, por nenhures,
em Lisboa,
bem longe do cais das colunas.


Se houvesse barco,
manhã, partia,
partia….
para onde a lua fosse
minha amante.
Não parto e fico desta banda,
do quase-poema,
da prosa analfabeta.


Sendo eu,
sempre eu,
ridículo, plebeu,
filho de Conceição e João,
que honra!...
Mas sei que nasci
de um orgasmo pleno, vulcânico,
eterno.
jamais se extinguirá.


A loucura, sobrevive
à moral podre
das catacumbas dos reinos
e do desvario
de quem riscou,
com negro traço
o ténue sinal da vida.

CANTO A VIDA!…

22 MARÇO 2010


andrade da silva

domingo, 28 de março de 2010

CANTATA E PRANTO PELO SANGUE QUE TINGIU A PLANÍCIE ALENTEJANA.




CARAVELA E CASQUINHA FORAM BALEADOS. VIVAM!




Casquinha

foi de pé
que morremos

Caravela

Sim
Estávamos de pé
Sobre a terra
Quando nos mataram

Ambos

Agora
jazemos por terra
Corpos já sem força
Almas já sem querer

“ Filipe Chinita e Manuel Gusmão, 2009”

Casquinha tinha dezassete anos, ainda nem imputável era, e mataram-no. Mas qual o seu crime?

Queria terra para trabalhar, mataram-no, e deram-lhe a terra que ele queria para produzir pão, como sepultura. Gritamos a impotência e a dor: MALDITOS!

Caravela homem feito, por tanto andar e sofrer era, já, caravela de mar alto, também protestava por terra, trabalho e pão, não ameaçava ninguém, e, morto foi, à terra fria desceu.

Estávamos nos idos de Setembro de 1979, e o Alentejo estava ocupado por poderosas forças da GNR com cavalos, bastões e armas pesadas. Até 25 de Novembro de 1975, apesar de todas as convulsões, nenhum agrário, feitor ou rendeiro foi agredido. Disto dou testemunho presencial, porque lá estive, todos os dias, entre as 8h e as 24 horas. Era a jornada diária das equipas do MFA de Vendas Novas.

O poder brutal dos senhores, levando à frente a Lei Barreto, do académico António Barreto, feita de um modo perverso para tudo destruir, e não para corrigir eventuais excessos, matou os sonhos, matou Caravela e Casquinha, e espancou centenas, milhares, de pessoas, sobretudo mulheres, sempre as mais decididas, porque sempre desejaram melhores dias para os filhos que geraram no seu ventre. E com que sacrifícios, quando o pão era escasso.

Caravela e Casquinha jazem, os seus executores nunca foram julgados. António Barreto continua a ser um ilustre académico, professor doutor, a falar da história, como se nada disto o incomodasse, e a sua odienta lei que matou a agricultura no Alentejo e uma melhor agricultura no país não fosse um seu filho monstro e tirano, e também a progressista primeira-ministra Lurdes de Pintassilgo, nem sequer demitiu o ministro da administração interna, o Sr. coronel Costa Brás, nem o comandante da GNR. Nada aconteceu, para além do martírio daqueles pobres trabalhadores.

Embora nada incomode os corações de pedra e as almas escuras de breu Caravela e Casquinha vivem, agora, pelo poema de Filipe Chinita, homem bom, cidadão probo, amigo de sempre, filho do Escoural, que há um ano, dois, falou-me desta obra, que, entretanto, com Manuel Gusmão adquiriu outra forma literária, mas com o mesmo sentido, o de trazer à vida estes nossos queridos companheiros – EI-LOS: CARAVELA E CASQUINHA. PRESENTES!

CARAVELA E CASQUINHA JÁ MORTOS NÃO SÓIS, ESTAIS VIVOS, E AO NOSSO LADO CAMINHAIS.

CARAVELA E CASQUINHA TAMBÉM VOS CONHECI. TAMBÉM VOS FALEI DA ESPERANÇA DE ABRIL. CHORO O VOSSO DESTINO, MAS A ESPERANÇA ESTÁ DE PÉ E COM ELA E POR ELA ESTAIS VIVOS ,ENTRE NÓS.

ABRAÇO COMPANHEIRO.

andrade da silva


Nota bibliográfica.

Filipe Chinita e Manuel Gusmão: “ CANTATA PRANTO E LOUVOR em memória de Casquinha e Caravela”, edições avante, Lisboa, 2009

quinta-feira, 25 de março de 2010

PEC, O ASTERÓIDE CONTRA MUITOS PORTUGUESES.



Segundo um bonito texto do inimigo público, o PEC é o asteróide que nos vai cair em cima. Boa e oportuna comparação, com alguma desmesura catastrófica, mas percebe-se a metáfora. Todavia, pelo seu desmesurado pessimismo muitos, muitos, não acreditam que tal esteja a acontecer, ou possa sequer vir a acontecer, pelo que fazem de conta que nada se está a passar, adiam a angústia e o sofrimento, e quando se aperceberem do que realmente os espera, poderá ser, já, demasiado tarde.

Talvez que o asteróide que nos coube por desgraça, para salvar os ricos, mantê-los, mas, sobretudo, torná-los ainda mais ricos não seja tão catastrófico, mas será sempre um desastre moral e ético, uma ignomínia e vai custar muito caro em grandes sacrifícios aos trabalhadores, à classe dita média baixa, pensionistas e pobres. De 2011 em diante vai ser a matar, 2010 é um pré- aquecimento, depois será ainda mais a doer. Como sempre joga-se numa certa acalmia pré-eleitoral.

Contudo a questão mantém-se em aberto que é da alternativa, e com Rangel ou Passos Coelho no PSD, desenha-se uma alternativa à direita, onde, o populismo de Rangel pode desempenhar um papel decisivo.

A realidade tem de ser encarada e não mistificada, as alternativas politicas e económicas têm de ser pensadas e expostas aos portugueses a dois níveis: 1- como podem ser efectivadas em Portugal 2- como podem influenciar e alterar as politicas da União Europeia.

Sem um real sucesso nestes dois campos será um devaneio, pensar-se que é possível conseguir a adesão massiva dos portugueses para uma mudança politica, alternativa ao neo-liberalismo. A realidade tem de ser lida e um grande número de portugueses está mais preocupado com o seu cabaz de compras do que com a transparência da vida pública. Portugal é Portugal, não é a Suécia, e, entre nós, tem larga carreira histórica a corrupção da pequena à grande, a aldrabice e a trafulhice.

Mas é preciso fazer compreender aos portugueses que por este caminho, sem a efectivação de uma alternativa não neo-liberal, caminhamos para o desastre, pela conjugação de dois factores: a drástica degradação da situação socio-económica de muitos portugueses; e tão, ou mais grave, ainda, uma severa limitação aos direitos e garantias que em termos da cidadania, a constituição da República, já, como última reserva, consagra, ao nível do direito, do espírito do 25 de Abril.

Os tempos são perigosos, difíceis e a direita populista prepara-se para o assalto final ao poder, o que, exige às esquerdas comportamento inteligente, corajoso e convergente que lendo os sinais comportamentais do Povo o mobilize, para levar a que Portugal deixe de ser um feudo de estagnação e subdesenvolvimento.


Claro que ao dizer isto, e tudo o que neste blogue tenho vindo a escrever, sei que não estou a fazer mais que um quase diário que é partilhado por meia dúzia de amigas e amigos, o que, considero lamentável, não porque queira ser líder do que quer que seja, como peregrinamente um comentador sugeriu, mas sim, porque não sendo bruxo tenho dito algumas coisas que vieram a acontecer, contrariamente, ao que pensavam e diziam todos os políticos de longas carreiras.

São estes factos que fazem pena, não em função de mim, quem sou eu? Mas sim do país que somos e desses que mais sofrem e vão sofrer, e isto, por mais estúpido, ridículo e estranho que possa parecer é o que me interessa, de resto, o mais são coisas que para mim já passaram de moda, ser rico, ou corrupto, ou líder, depois de 40 anos na mesma luta, qual o sentido que isso faz ?

Sou plebeu, quero morrer plebeu, não quero, nunca quis outra condição. Vou morrer na condição de honra e dignidade, como antes aconteceu com o meu pai, e um dia acontecerá com a minha mãe.

Somente pretendo viver para além da esperança de vida, primeiro, porque gosto muito, muitíssimo, de viver, segundo, porque tenho um filho jovem licenciado, mas não sei quando ganhará a sua autonomia, e também para poder acabar de pagar, exactamente aos 75 anos, o T2 que habito, numa zona de habitação módica e de construção de qualidade média, portanto, o que me move é um profundo apego à liberdade, à justiça social, à fraternidade e à solidariedade para com todos os meus concidadãos de Portugal e do Mundo, e a minha ligação à Terra, aos animais e às plantas, numa palavra ao cosmos, ao fim e ao acabo, os mesmos motivos inteiros que me levaram ao 25 de Abril 74.

É também por tudo isto que estes textos não ultrapassam a dimensão de um quase- diário, digo-o nem sequer como queixa, é tão só uma dolorosa constatação, mais dolorosa ainda, quando é verificável que qualquer blogue reaccionário, neo-fascista tem significativa audiência.

Tempos….


andrade da silva

quarta-feira, 24 de março de 2010

OS PLEBEUS, AS COISAS E OS TEMPOS...




" AOS PLEBEUS, MEUS IGUAIS"



Alguma elite com roupagens progressistas descarrega muito a sua bílis no povo, mas talvez o problema do subdesenvolvimento Nacional, não resida no povo-plebeu, mas sim noutro domínio.


Talvez as esquerdas progressistas tenham de estudar bem mais, e muito melhor, as ciências humanas: a psicologia e a sociologia, ciências que a par do direito, a classe dominante usa e abusa, em doses massivas e de um modo eticamente reprovável, para reinar.

Claro que dirão, e bem, que ela usa com muita eficiência os aparelhos ideológicos que o poder que detém disponibiliza. Os banqueiros e a direita que politicamente os suporta dispõem da Comunicação social, da escola, da Internet, do cinema, do divertimento, do consumo e da Igreja para convencerem as vitimas da bondade do seu jugo.

Pois é, mas, se assim é, como creio que é, torna-se imperativo lutar no terreno, com muito força, pela democraticidade da comunicação social e da escola, e no mais fazer-se ao caminho, talvez como as testemunhas de Jeová, de porta em porta, de aldeia em aldeia, pela palavra, pelo exemplo, recriando as comissões de moradores, de bem estar e, agora, de luta contra a corrupção e pelo desenvolvimento.

Por estes caminhos talvez se chegue ao cais das colunas para desembarcar numa nova era. De outro modo, sobra em retórica, o que, falta em acção eficaz. É a partir dos lugares que se tem de reconstruir a democracia e o estado de justiça e progresso. O 25 de Abril ensinou muito isto. Porque o esquecem?

O discurso dirige-se sempre a pessoas concretas, e a elas deve ser realmente dirigido e não aos mitos.

Os discursos das elites que acusam o povo, são isso mesmo, discursos de elites. ou não- elites, medíocres e incapazes. O problema em Portugal, na Europa e no Mundo é de falta de elites e não por culpa do povo.

A burguesia radical, pseudo- revolucionaria, não conhece o cheiro do povo, tem por ele desdém. Se mesmo já gente dessa burguesia se esquiva a cumprimentar antes de um dos seus pares, quem não é um camponês ou um analfabeto, como fará com as gentes do povo mais humilde?

Há um grande equívoco no Mundo e sobretudo na República que não desfez o complexo monárquico da qualidade de nascimento, isto é, a plebe entrega sempre o poder à nobreza, ou aos seus testas de ferro. Esta tem sido a fatalidade das Revoluções: da Revolução francesa, do 5 de Outubro de 1910 e do 25 de Abril 74.

Naturalmente que há coisas que já não se repetirão em Portugal. Um 25 de Novembro não faria nenhum sentido, como também não fez repetir-se o 28 de Maio, durante os 50 anos de fascismo. Hoje vivemos num regime Novembrista, desviado, afastado, contrário ao 25 de Abril. O que faz falta não é mais Outono, mas sim mais primavera.

Os caminhos do Futuro são insondáveis, mas a questão em Portugal é sobretudo dos 5 milhões que não votam. São gentes expectantes, à espera de quê? Ou são párias? Mas como poderiam ser párias? Algum país pode sobreviver com 50% de população pária ?

Não, portanto esta hipótese deve ser rejeitada, logo a questão apesar da sua circularidade tem a ver com estas elites que temos parido. Vivemos num dilema, por um lado temos muitas vezes a alucinação, a mitologia, por outro, elites que não o são, mas conquistam o poder, e usam com proficiência e eficiência os saberes das ciências humanas, como Hitler, tão bem fez, ao nível da psicologia colectiva.

As ciências humanas desempenham um papel instrumental central nos comportamentos da direita, e são esquecidas à esquerda que gosta mais de baladas e valsas, o que, sendo muito importante e de que bebo e me alimento também, são um instrumento com mais pujança nos regimes totalitários do que nos democráticos ou semi-democráticos. Neste tempo, como diz Mário Soares, pode cantar-se tudo e com toda a gente fazer um qualquer boneco que até dá prazer aos representados irem às TV, cumprimentarem o seu boneco, como Portugal já viu, logo…

Estes senhores de agora sabem fazer muito bem o jogo do chamado humor: amarelo, branco, negro o humor arco-íris, é só cor, espuma, não fere, é bacteriologicamente puro.

É necessário fazer leituras objectivas, afectivas e racionais, sem mistificações dos quotidianos de hoje. Os heróis são menos, os pragmáticos são mais, mas nem a inteligência, nem a afectividade desapareceram de todo, pelo que, jogando com esses dois vectores, de um modo superior, inovador, postado no futuro, se possa encontrar a chave que abra a porta do progresso e da justiça, e esta, é a missão que compete, sobretudo às elites dos países. Elites que não podem sê-lo, refugiando-se nos seus títulos e academias, têm e devem de descer ao terreno, aos terreiros do Povo, e aos plebeus falarem-lhes e os ajudarem a libertarem-se da alienação e da mentira que os escraviza.

GENTES!....

andrade da silva

terça-feira, 23 de março de 2010

ONTEM.... HOJE?!... AMANHÃ?!....


Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO

Soneto (quase inédito), escrito em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos.
Enviado por e-mail, por uma amiga.

segunda-feira, 22 de março de 2010




Ó curva do dia

maré toda branca

sempre a extravasar

de que pólo vem tua fantasia

se apenas em sonho a pude encontrar.


De que serra agreste

de que vale outeiro

vêm tuas velas

azuis cor do ar

de que aldeia estranha

onde sou moleiro

vem a poesia da cor do luar?


Marília Gonçalves

sábado, 20 de março de 2010

MULHER,SIMPLESMENTE MULHER

Inverno 2010 no Funchal: A deusa em fúria.


Gabriela

Uma estrela, todas a Estrelas do Firmamento.

“Gabriela ama o movimento do corpo ama os homens que gosta de amar” (António Murteira 2010).

Gabriela Divina, eterna.



VadiusKa

“Vadiuska tinha amantes nas cidades africanas do indico
era o tempo da última guerra colonial” ( idem)

Vadiuska mulher dos meus sonhos da guerra. Queridas vadiuskas. Sonhei sem pecado, puro, ingénuo. Era ainda um rapaz, muito, muito jovem, a defender a vida de 150 homens, filhos de outras mulheres, almas gémeas da minha mãe na dor e na angústia do momento que se pode seguir ao do sopro de vida, que me permitia sonhar com vadiuska, sem nunca ter tido tempo, ou espaço para a amar.

A minha guerra foi toda no chamado mato. Em Lumbala só o rio nos servia de companhia, e a amada, diziam, que era a canhota ( a arma), dormia ali connosco, bem perto, ou na mesma cama/esteira, por vezes, quando nos chateávamos de pu.., a chamávamos.

Era a guerra em África… querida Angola, querida África, como te amei: a liberdade, a informalidade e todos os rios de libido, de que a guerra me privou, e eu… as minhas paixões, os meus desejos, o meu fogo que ardia e me consumia… Camões e a sua poética…


Mulher, simplesmente Mulher

Todavia também para mim se Deus houvesse, seria uma Deusa, como o canta António Murteira e o vidente da Madeira que às 0h do dia 1 de Janeiro de 2010 me disse, que, segundo o Céu lhe mostrou, Deus não era Deus, era uma Deusa esplendorosa, uma Diana, uma Vénus, uma Maria, uma Ângela – quanto te amei, apesar da diferença do tamanho das tuas pernas, mas a tua cara e a tua bondade eram toda a beleza do Mundo, Ângela – mas e sempre, e, sobretudo, uma mulher, simplesmente mulher:

“ o feminino marca a nossa existência no que tem de mais singular e belo as estrelas a natureza a água a terra a luz a árvore as flores a mãe a amante a amada a paixão a solidariedade a cidade a aldeia a casa a pureza a ideia mítica da pureza

por isso digo: se tivesse de haver um deus ou uma deusa essa seria a deusa água a amante da deusa terra aquela que a ama e fecunda” (idem)

Sempre também amei a água azul do oceano Atlântico que banha a Madeira, e sempre invejei aquela água que noite e dia fecundava, sem falsos tabus, a terra, ali mesmo, à vista de todo o mundo, e ora brandamente, ora de um modo selvagem, como neste inverno de 2010.

Tudo devo à mulher, a vida, o carinho, a heroicidade, à minha mãe, agora, vencida pelo Alzheimer, mas não convencida, luta, luta, sempre a lutar, não se rende, à mãe do meu filho, este filho que me diz que me escolheria sempre como pai, e eu, a ele, como filho e a todas as amigas devo tanto, tanto, que, por muitas vidas que tivesse, as amaria sempre, sempre, sem reservas… este é o meu fado, fado de quem se definiu um dia e, em definitivo, como vento, e o vento ninguém o prende, nem o vento sequer é seu. O vento é do vento, do Mundo, dos anti-ciclones…. Mas tudo isto é quase-poesia, utopia…

Mulher, simplesmente mulher, a minha Deusa, se Deus ou Deusa houver
.


andrade da silva


Nota: António Murteira : “ Até Amanhã em laetoli no Alentejo numa Lua”. Edições Colibri, lançado na casa do Alentejo, em 20 de Março de 2010.

Dedicatória do autor: Para o Andrade da Silva, companheiro muito estimado de combates pela liberdade com amizade A. Murteira.
Recebe também o meu abraço.

sexta-feira, 19 de março de 2010

ABRIL EXISTIU, EXISTE, RESISTE E...




Desde 1972 que gritava e trabalhava por Abril. No dia 24 de Abril de 1974, exactamente às 22h e 55m, mal Paulo de Carvalho cantava e “Depois do Adeus”, comandei a equipa que, com armas na mão, assaltou o gabinete do comandante para o prender, missão cumprida com risco, coragem e ousadia. Disto só sabe quem nestes palpos de aranha- viúva andou, e que antes, muitos anos antes, foi tão mal sucedido em Beja.

E mais orgulho e honra, embora esquecidas pelos que se julgam os donos dos actos históricos, sinto no cumprimento desta missão, porque foi feita, apesar de um meu camarada, o mais operacional, não se ter apresentado no local e hora aprazadas para cumprir esta missão.

É também a fuga dos oficiais na Rotunda, que hoje me faz admirar Machado dos Santos. Também aqui só quem se viu em tão angustiante situação sabe quanto custa a decisão de não abortar a missão.

Mas uma vez mais nestas circunstâncias se traça a fronteira entre os heróis de pacotilha que acham aquele ficar postado no seu posto de comando, pese traição de outros, como uma mera vulgaridade, e os que só podem louvar, admirar e honrar quem tais actos de superior coragem e emulação praticam, são os que conhecem a dor limite do sacrifício.

E como depois da tomada da unidade, da Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, no dia 25 de Abril 74, marchamos sobre Lisboa, logo se há alguém que não tem dúvidas que houve o 25 de Abril sou, naturalmente, um deles, e como também estive na boca do vulcão com o povo Alentejano na Revolução popular entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro 75, sei que houve uma Revolução que foi esmagada naquela data, isto é, a Revolução foi encerrada pela força das armas naquele Outono, mas Abril não morreu e resiste, e, enquanto, houver Democracia Abril vive, por vezes, sobrevive.

Sobre o futuro é preciso lutar e mobilizar os descrentes, e trazê-los à luta pela dignificação da democracia e pela promoção de um desenvolvimento justo, porém, nada disto será feito com negativismo ou pensando que Abril caminha em frente.

Não! Abril está a ser severamente atacado, mas a democracia apesar de coxa, porque a justiça está doente e a corrupção é campeã, ainda existe, e deve ser utilizada para regenerar o país.

São precisos mobilizar para a mudança pelo menos 2,5 milhões, dos 5 milhões de portugueses que voltaram as costas à política. Sem isto, tudo continuará como até agora, uns resistem, outros, impõem uma politica económica e social contra os mais fracos, para que os poderosos sejam cada vez mais ricos, até que um dia aconteça a LIBERTAÇÃO ou o DESASTRE.

Sobre o mais provável dos caminhos é muito pouco claro qual seja, em Portugal e na Europa, com a Chanceler Alemã a ameaçar com a expulsão da União Europeia dos países que não apertem até à asfixia ou à morte o garrote que espreme muita gente.

Portugal precisa de politicas de verdade, feitas com competência e honestidade. O nosso modelo de desenvolvimento está condenado, é, por um lado, imoral, e, por outro, insustentável. Portugal vive muito acima das suas capacidades produtivas com base no endividamento, que um dia poderá fazer de todos nós escravos.

Naturalmente que a esperança e alegria das Alentejanas da Revolução de Abril está limitada, mas não morre, elas e eles continuam a lutar. Lutemos …

2010-03-18

andrade da silva
Nota: (colocada em 19 Março pelas 13.40)
Este texto não se refere às lutas dos alentejanos, como se verifica, mas às que travei histórica e comprovadamete para que Abril existisse, e que tenho o direito e o dever de contar, são do meu património, pessoais e que ninguém mas roubará ou calará, até quando o fascismo não impuser o silêncio.
Todavia a minha posição não fui de mera solidariedade com o POVO Alentejano, como se pretende num comentário a este post. Estive durante 6 anos a ser julgado por causa da Reforma Agrária, fui deportado para a Madeira e preso por duas vezes, 2 anos de prisão e outros 6 dias pelo general Chefe do Estado Maior General Garcia dos Santos, pelo modo como me defendi das acusações sobre a minha actuação no Alentejo. Ainda este texto foi produzido por causa de alguns comentários ao post A ALMA DE ABRIL É ETERNA.

quinta-feira, 18 de março de 2010

A ALMA DE ABRIL É ETERNA.



À MEMÓRIA


Partiu do nosso convívio um antigo combatente da Liberdade Cor. Pestana, um dos corajosos participantes do assalto ao Quartel de Beja, com ele e por ele continuamos no mesmo caminho. Falar de Abril, é também falar deles.

À Isabel e Luísa Pestana nossas amigas e leitoras deste blog e a toda a sua família o nosso grande: VIVA PARA TODO O SEMPRE A MEMÓRIA DE UM HOMEM QUE LUTOU PELA LIBERDADE. SEJA LEMBRADA E RESPEITADA.

O nosso abraço solidário








Podem os reaccionários e fascistas-sociais ( estas realidades e conceitos ainda existem) dizerem que os jovens de Abril, os muitos tenentes, os bastantes capitães, os alguns majores e os muito menos coronéis são uns párias, ou, como esse outrem, que também de Abril foi, mas chama de rapaziada aos seus camaradas.

Julgo que a este capitão de Abril e de Novembro, como agora se auto denomina, Novembro ofuscou-lhe o espírito, como a tantos outros que participaram nesse golpe contra-revolucionário, que nada teve a ver com a pureza do 25 de Abril, mas com a reposição dos interesses dos grupos económicos depostos em 25 de Abril 74, e regressados ao poder após o 25 de Novembro.

Mas será que também à esquerda não se quer ver esta realidade, e andam ao colo com os que pariram a mando do capitalismo internacional o Portugal de hoje, sempre melhor, mais justo e próspero que o do regime fascista. Realidade esta que deve ser declarada sem tibiezas, para cortar cerce o passo ao radicalismo pequeno burguês, irresponsável ou fascizante, que quer fazer crer que uma ditadura poderia ser mais honesta e justa para os portugueses. A democracia terá de vencer a crise moral e civilizacional em que vivemos. A Democracia, Abril, Portugal têm de encontrar forças para limpar o que fôr, ou estiver podre.

É preciso falar claro, deixar de ouvir os discursos redondos e cobardes, e provar, claramente e sem gaguez, que as barbaridades de hoje são filhas ou netas do 25 de Novembro. Nunca em Abril haveria um BPN, com uma fraude gigantesca de milhares de milhares de milhões de euros, que bastavam para pagar todos os sacrifícios que o governo vai pedir a muita gente do país até 2013.

Mas pergunta-se, para além de Oliveira e Costa, que em casa goza com tudo isto, quem tendo dado umas lebres ou uns gatos para comprar acções do BPN, e levou para casa bezerros de oiro, não tem nada a ver com isto? Parece que Ninguém sabe quem foi, mas a imprensa disse e até a revista Visão fez uma pirâmide no topo da qual estava um amigo do coração de Dias Loureiro e dos portugueses. Ninguém o conhece, ou sabe disto? Não acredito, mas ….

Creio, como certo, que podem todos os corruptos, todos os polvos que para aí se pavoneiam, sugando ao país milhões de euros ano e vencimentos de duzentos mil euros mês,( o que um coronel, um médico normal do SNS vai ganhar ao fim de 10 anos, e como só se chega a coronel entre os 47 anos e os 50 de idade, logo se vê o que é este descalabro, já, para não os comparar com o salário mínimo, que, então seriam precisas várias vidas) dizerem o que quiserem da gesta heróica dos capitães de Abril e do Povo Plebeu, mas nada conseguirão, porque apesar da ignomínia que o presente encerra, o POVO sente que Abril significou a conquista da dignidade, que agora nos querem roubar, mas vai dar trabalho a conseguirem esse objectivo.

Mas Abril vive na emoção de Francisco Ceia, cantor de Portugal e da Revolução, que recorda com lágrimas os tempos do ultraje. Ele tinha 18 anos, quando Abril foi luz, mas ele recorda bem a escuridão do fascismo salazarista, também corrupto.

Ser corrupto, como ontem um antigo camaradas de armas, hoje professor doutor, me dizia, não é só meter dinheiro ao bolso, é também usar todo os poderes do Estado ao seu serviço e dos seus boys, como fazem todos os ditadores, os de ontem e de hoje, em África e muito perto de nós, não é preciso sair do Atlântico , nem se meter em naves espaciais para encontrar por aí bokassas, estão à mão de semear, e vêem-se a olho nu, basta querer ver. Mas que fazem eles? Oferecem as melhores tetas aos amigos, calam todos os que se opõem à sua tirania, provocam crises e desastres ecológicos e depois são os salvadores.

Todavia, como Francisco Ceia, em Montemor, em 13 de Março de 2010, exactamente 35 anos depois de todo o Povo de Montemor ter vindo para a Rua exigir que a Revolução avançasse, que os crimes dos agrários fossem julgados e punidos e que da Terra brotasse pão, quem comigo esteve, quando era muito jovem, era um recém promovido capitão, voltou ali a estar, e perante eles proclamei, de cara levantada, os mesmos princípios de justiça, solidariedade e respeito pela dignidade humana, e, assim, se reviveu com emoção e exaltação esta gloriosa experiência.

Então, como hoje, alguns concidadãos e companheiros que estiveram na boca do vulcão, o Inocêncio de Vendas Novas, o Negraxa do Escoural, algumas mulheres anónimas da Reforma agrária das que sofreram na carne e na alma as pancadas dos cacetetes e as mentiras sobre tudo quanto ali aconteceu, deram vivo testemunho, pelo seu comportamento verbal e não verbal que para os mais maltratados de todos, o 25 de Abril significou um renascer para a vida, e, nesta perspectiva, falou alto aqueles que depois de Abril compreenderam que eles próprios e os seus filhos não iriam fazer morrer outros, ou morrerem.

Uma vez mais foi dado claro testemunho do abandono das terras naquela altura, em que todas as mulheres do Ciborro durante 10 semanas não tiveram trabalho, ou a “casa da malta” nos montes, onde, se obrigava os homens casados a pernoitarem, para guardarem as coisas dos senhores, enquanto as mulheres e os filhos ficavam longe dali. Então, para eles não falavam alto os valores da defesa da família, ou será que os camponeses não tinham direito a terem família?

Também esteve presente o presidente da câmara Dr. Pinto Sá, filho de um homem valoroso e corajoso que acompanhou todo o movimento social do Alentejo e em 25 de Novembro 75 quis que eu chefiasse a revolta popular no Alentejo, contra o golpe contra-revolucionário. No caso de não morrer havia um plano para a minha passagem à clandestinidades para fora do país, depois de uma passagem pelas grutas do Escoural. Todavia entendi, e entendo, que este movimento seria heróico, mas estava condenado ao martírio, por isso, e também porque não fazia parte de um exército de libertação, declarei que não os acompanharia, e tudo correu o curso de todos conhecido que, naquelas circunstâncias, foi o melhor.

Um outro lutador, Custódio Gingão, com vivências no terreno falou das suas experiências de antes e depois do 25 de Abril, e António Murteira, homem de espírito aberto e conhecedor da situação agrícola no Alentejo e em Portugal, falou das perspectivas que se põem neste campo para diminuir outra vez a grande extensão de terras incultas no Alentejo. Neste Alentejo, onde, o desemprego é outra vez muito grave.

António Murteira ainda reconheceu que a construção do futuro não depende exclusivamente de um ou outro grupo, mas precisa sim do contributo de muitos

Com este pensamento de que o futuro exige o contributo de muitos e com um abraço às mulheres e homens que servem a liberdade deixo o grito deste dia. Que ecoe…


andrade da silva


Notas:
Este encontro em Montemor foi patrocinado pela Cãmara de Montemor e Organizado pelo Dr. Eduardo Raposo, autor de uma obra sobre o cancioneiro da revolução, editado Jornal Público.
Deveria apresentar uma foto do 1º de Maio de 1975 em Vendas Novas em que sobre o mesmo tractor estavam o Capitão Andrade da Silva a falar, o Sr. Cor. Sousa Teles e o Sr. Ten- Cor Segurado, comandante e 2º comandante da EPA, respectivamente, a escutarem, logo…, e ainda estava o Ti Pedro, pai do Inocêncio que nunca deixou de acompanhar os militares de Abril de um modo discreto e generoso, todavia não a apresento, agora, porque não tenho os meios técnicos adequados, mas por um dia destes as postarei.

terça-feira, 16 de março de 2010




QUASE

Quase me perdi de mim
Quase esqueci os cachos de caracóis
Quase deixei de sentir a areia entre os dedos
Quase desfiz o aroma das ondas
Quase fechei a Pandora na caixa de ser
Quase larguei o coração
Quase deixei a criança de ser eu
Mas as palavras tomaram a minha forma
E bateram nas têmporas
Sentiram o pulsar de vida e escreveram-me poema luz
O Ser passou a ser e fui e sou e serei



Vanda Caetano Vaz Carvalho

segunda-feira, 15 de março de 2010


Indício

Notícias nos jornais

é mês de Junho

crianças e pardais

de irmão destino

aprendem asas desiguais.

Notícias nos jornais

assassinato dor prostituição

fome na terra

e guerra.

Há mesmo quem, sem torneira

à mão numa parede

morra à sede.

E os dias tão bonitos

joviais

esmorecem na tristeza

dos jornais.



Marilia Gonçalves

domingo, 14 de março de 2010

RECORDEMOS UMA HEROÍNA


Irena Sendler
Nota: Irena morreu em Maio 2008
Irena foi uma heroina, poucos a conhecem, falemos um pouco dela.



Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Mas os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos dos nazis relativamente aos judeus (sendo alemã!)



Irena trazia meninos escondidos no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira, na parte de trás da sua camioneta (para crianças de maior tamanho). Também levava na parte de trás da camioneta, um cão a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto.


Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruido que os meninos pudessem fazer.Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.


Por fim os nazis apanharam-na e partiram-lhe ambas as pernas e os braços e prenderam-na brutalmente.


Irena mantinha um registo com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, que guardava num frasco de vidro enterrado debaixo de uma arvore no seu jardim.

Depois de terminada a guerra tentou localizar os pais que tivessem sobrevivido e reunir a familia. A maioria tinha sido levada para aa camaras de gás. Para aqueles que tinham perdido os pais ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adoptivos.


No ano passado foi proposta para receber o Prémio Nobel da Paz... mas não foi seleccionada. quem o recebeu foi Al Gore por uns diapositivos sobre o Aquecimento Global Não permitamos que alguma vez, esta Senhora seja esquecida!!


NOTA: vários e-mail recebidos, referiam a sua morte e o desconhecimento sobre esta personagem. O desconhecimento é real e a sua morte já se deu em 2008, como recorda um nosso leitor nos comentários, e não agora, como suposemos. Mas como o mais importante é recordar e homenagear esta heroína, fica aqui a nossa homenagem de sempre. Obrigado

sexta-feira, 12 de março de 2010

A VIDA, A JUSTIÇA E O MUNDO: COSTA MARTINS


Costa Martins partiu ontem, estiveram no seu funeral alguns, muito poucos, homens de Abril, entre outros estiveram presentes camaradas seus de sempre, o Costa Neves, seu grande amigo, como Costa Martins me confidenciou entre Março e Junho de 2008, o Contreiras, o Cuco Rosa, o Pardal, o Duran Clemente, Otelo, Almeida Contreiras,  o inseparável comandante da marinha sempre presente (cujo nome, de um modo imperdoável não recordo, mas ele na nossa idade é o mais notado, porque ocupa muito mais espaço, pesa bem mais e, por força disto tudo. fala mais alto, todos te conhecemos e estimamos, teu nome ao vento vou perguntar) e o Carvalhão.

Ao Carvalhão já não via há muitos anos, mas nunca me esqueci da visita que lhe fiz ao Ralis, para onde foi preso após o 16 de Março de 1974. Fiquei contente por o ver e por saber que era leitor deste blogue e que reconhecia-me no que aqui escrevo, como o mesmo de sempre, obrigado, dizendo  depressa e de um modo chão o que tenho para dizer, o que, exige do leitor compromisso e implicação..

Também é por esta inteireza que oculto não por omissão, mas por dúvida outras presenças de outros camaradas de Abril que pelo menos nunca se mostraram muito interessados em defender a honra deste nosso camarada no blogue da Associação 25 de Abril que após publicação da última carta de Costa Martins (e que trabalho deu para que a mesma fosse publicada) fechou em 13 de Junho de 2008, para reestruturação, que até hoje não se efectivou.

Mas logo que a liberdade de expressão sem peias chegou àquele blogue deixaram de postar textos o Cor. Matos Gomes, por causa do contraditório com Duran Clemente, aqui, Vasco Lourenço ainda interveio defendendo o contraditório, depois saiu Pezarat Correia, porquê ?... e, ainda, Gertrudes da Silva, porquê? … Que importa?...Fizeram-no no uso da sua liberdade, ou da sua tendência de liberdade, enfim … grandes feitos…

Costa Martins foi um homem de uma coragem incrível, uns dirão de um mau feitio que ultrapassa o mundo, seja como for, este homem no período em que conversamos mostrou-me toda a documentação que o ilibava da calúnia do desvio de dinheiro ,(a) e ainda da sua recusa em bombardear aldeias africanas com Napalm. Este facto mereceu-lhe um processo para expulsão da Força Aérea por loucura. Pretendeu o Estado Maior da Força Aérea obter esse desidrato através de uma Junta Hospitalar de Inspecção, todavia, segundo o próprio Costa Martins, o psiquiatra terá dito que se louco havia era quem o acusava de tal enfermidade. Um psiquiatra de coragem e ética.

Falou-me ainda do seu papel no 25 de Novembro de 1975, e que tendo saído a última vez de Belém para ir cumprir uma missão às ordens de Costa Gomes, que lhe terá telefonado antes e lhe comunicara que não sabia muito bem em que situação se encontrava em Belém, se em liberdade ou preso. A missão levava-o aos pára-quedistas, para onde já não se dirigiu, porque foi perseguido por um grupo de civis armados de cujas intenções desconfiou, e, assim , os despistou em Benfica e, aqui, entrou na casa de um amigo, donde partiu para Angola.

Em Angola, aquando do golpe de Nito Alves, é identificado pela policia secreta Angolana, sem provas, como apoiante de Nito. É preso e esteve à beira de ser executado, porque as palavras de Agostinho Neto contra estes insurrectos apontavam claramente para o seu fuzilamento,segundo Costa Martins . Escapa por um triz a esta sorte macabra e depois por intervenção do general Eanes, Melo Antunes e Vasco Lourenço (b) também diz que interveio, é libertado. Seja como for a história de Angola mantém-se num certa penumbra, ao abordá-la com outros camaradas que lá estiveram só me foi possível, ouvir estas palavras: isso foi muito complexo, ponto. O que querem dizer estas palavras?....

Nestas conversas Costa Martins mostrava-se muito preocupado com a situação do país, mas referia que seria preciso cerrar fileiras em redor de uma personagem que não tem desempenhado nenhum papel decisivo nesta crise, conquanto a revista visão se diga que através de uma entrevista, na minha opinião, muito gaga, concedida a Judite de Sousa se mostrou um grande estadista. Discordo da revista Visão, como discordei em 2008 de Costa Martins quanto a esta personagem. Mas claro, como todos os que fazem que andam, mas não andam, são quem marca pontos, estará, talvez, tudo certo.

Mas, Costa Martins também foi o Ministro do trabalho que lutou por conquistas sociais importantíssimas para os trabalhadores, mas poucos estiveram neste último adeus, todasvia um deles era o Inocêncio de Vendas Novas, iria até ao fim de Mundo para estar no funeral. Honrosamente estiveram presentes Carlos Carvalhas – não nos conhecemos, somos estranhos um para o outro – e Casanova, honraram o PCP, que teve também como suas bandeiras estas justas causas, e honra-se com a sua defesa.

Partiu Costa Martins e quanto choro a sua partida com as suas muito queridas filhas, filho, mulher e demais família e com o seu amigo do coração Costa Neves, um amigo sincero, porém Costa Martins parte aos 72 anos, num Portugal desigual, apesar de tantas lutas, um Portugal que se esqueceu de Abril. Quem viu o funeral de Ramiro Correia e participou no de Costa Martins, compreenderá do que falo. Com Ramiro Correia as ruas eram pequenas para tanta gente, embora Ramiro Correia não tenha feito tanto pelos trabalhadores Portugueses como Costa Martins, mas, então, eles estiveram lá, mas ontem não, porquê?... Silêncios, capelinhas, disputas, mas sobretudo muita, muita injustiça.

Mas neste dia que parte Costa Martins vivemos sob a ditadura terrível dos Bancos, o signo das guerras, da crise, do desemprego, da falta de respeito pelos direitos das crianças, por manifestações sociais na Grécia, pela duplicidade na politica internacional, com empresas dos EUA a apoiarem o governo fascista do Irão, presos de delito de opinião em Cuba, e na Nigéria são massacrados 500 cristãos por fanáticos muçulmanos e o mundo roda, como se só houvesse um Sol livre e bonançoso. Todavia quando ele nasce também mostra o muito sangue inocente que nestas noites da e de civilização se vai derramando.

Camaradas, companheiros um abraço.

COSTA MARTINS! OS TEUS FILHOS SÃO BELOS COMO O SOL. VALEU A PENA TERES NASCIDO E SERES PAI. DEIXASTES A TERRA MUITO MAIS RICA E UMA MELHOR HUMANIDADE. ELES AMAM-TE ETERNAMENTE E ISTO É O QUE MAIS CONTA. NÓS TAMBÉM OS AMAMOS.

andrade da silva

(a) Costa Martins sempre me confidenciou que no Ministério do Tralho no tempo do Ministro Tomás Rosa o comportamento deste foi escorreito, e que o processo de inquérito que lhe moveram por causa do destino das verbas do "Dia de Trabalho para a Nação, tinha sido rigoroso e justo, feito  por um instrutor reconhecido como conservador (muito) ,e que o ilibava de todas as acusações que segundo ele  foram uma cabala que os nove lhe montaram, contando com a  cumplicidade da comunicação social YURD  como já antes era e se mantém inalterável até hoje.