quarta-feira, 26 de agosto de 2015

05 - POEMÁRIO * O sinal




O sinal implacável chegou.

Quando a luz se apagou,

o regresso do caos percebi.

Apesar do negrume, eu vi

a corrente do rio, ausente, a deslizar

rumo ao mar.

O silêncio absoluto

e sem paz das alturas,

às escuras,

parecia vestido de luto





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 26 de Agosto de 2015.


domingo, 23 de agosto de 2015

05 - POEMÁRIO * Meu Alentejo






No tempo da palavra, os versos são papoilas

que alindam mais ainda os lábios das moçoilas.



A força da palavra inteira que te canta

no tempo feminino, 

no tempo masculino

que vivo se levanta!



No tempo da palavra, o grito que desperta

o dia, à hora certa! 




José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 23 de Agosto de 2015.

01 - LIBERDADE E CIDADANIA * Tormento


Como se fosse uma obsessão, assalta-me a dúvida: terá valido a pena tanta entrega? O Passado volta, agora, com insistência. Regresso à década de quarenta; regresso à década de cinquenta; regresso à década de sessenta. Foram tempos de desespero e de esperança no Futuro. Aquele Presente resistia e nele germinava o Futuro. Para todos, era inquestionável o fim do desespero que se vivia. E resistia-se; e morria-se para que os demais conhecessem o Futuro. Conheci muitos que me diziam: talvez eu não veja, mas tu verás! Um deles, um tipógrafo de assinalável cultura obtida nos muitos textos que compunha de escritores e poetas e ensaístas. Tuberculizara na prisão e a sua vida estava por um fio que teimou em resistir mais do que os médicos previam. Deixou-nos nos meados da década de sessenta, mas deixou também uma saudade imensa em quantos o conheceram, o estimaram, o admiraram.
Em Portugal, o Estado Novo implantara-se em 1933, tal como o Nacional-socialismo, na Alemanha. Em Julho de 1936, a tragédia começava na Espanha Republicana e o seu Governo Popular, legitimado em eleições livres, foi questionado por uma minoria rebelde, mas apoiada pela Itália fascista e pela Alemanha nazi; as Democracias europeias ficaram olhando como se nada fosse. Em Março de 1939, a Espanha Republicana sucumbia. O celebrado grito de Dolores Ibarruri, La Pasionaria, «No pasarán», era sufocado pelas forças alemãs e italianas. Vencera a fórmula desgraçadamente célebre: «Abaixo a inteligência! Viva a morte!» O grande poeta Federico Garcia Lorca era executado nos arredores da sua amada Granada, em Agosto de 1936. A última geração romântica, como ficou conhecida, acorreu a Espanha, em defesa da legitimidade democrática. Muitos e muitos das celebradas Brigadas Internacionais deram as suas vidas, derramaram o seu sangue pelo martirizado povo de Espanha. Acreditaram no Futuro, que não veio; acreditaram nas democracias europeias e americanas, mas em vão. O Futuro não veio e as Democracias tinham mais que fazer do que preocupar-se com o destino do povo de Espanha.
Quem ler «Por quem os sinos dobram», de Hemingway; «Homenagem à Catalunha», de Orwell; «Os grandes cemitérios sob a lua», de Bernanos; «A Esperança», de Malraux... e muitos outros textos de autores que viram claramente vista a tragédia, in loco, poderá perceber muito do que aconteceu.
Nasci durante a Guerra dita Civil de Espanha; cresci ouvindo falar nesses horrores e nos horrores piores ainda, estes a partir de 1 de Setembro de 1939, quando Hitler iniciava a carnificina que foi a II Grande Guerra (1939-1945).
Apesar de todas as tragédias, os povos tinham esperança e acreditavam no Futuro! Extraordinário! Por cá, foi o Tarrafal, foi a perseguição, foi a fome, foi a emigração, foi a Guerra Colonial... outro calvário! Um dia, os cravos floriram e todos sonhámos! Outro dia, os cravos murcharam em nome da democracia e todos perdemos. E hoje? Por onde anda a Esperança? E que Futuro germina nos nossos peitos? Olhemos em derredor e contemos pelos dedos os povos que se consideram felizes e os povos que têm esperança num Futuro de felicidade! 
Este meu texto nada mais pretende do que partilhar a desesperança e apontar estes tempos em negação. Não me demito nem me rendo. Nunca o fiz e não será agora, quase aos oitenta anos, que irei corar de vergonha. E deixo este desejo que me foi transmitido: Muitos verão o fim da tragédia e o alvorecer da dignidade! Eu não terei essa felicidade, o meu tempo está a esgotar-se.
Cordiais saudações.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 23 de Agosto de 2015.


sábado, 15 de agosto de 2015

05 - POEMÁRIO * O cais






Quando cheguei, o cais estava em festa.

O sol já deslumbrava ao meio-dia!

Nos campos calmos, uma paz honesta

que tudo envolve e mansa acaricia.



Esperavam por mim! Que terno abraço!

Que bom, na Vida, é sermos esperados!

Havia na corrente mais um laço!

Um laço entre outros laços apertados.



Cumpria-se a parábola dos vimes,

saber acumulado dos antigos...

Oh, Torre de Marfim, por mais que rimes,

rimar não sabes nuvens com castigos!...



Só este cais, que tanto sofre e canta,

cada manhã acorda e o sol levanta!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 15 de Agosto de 2015.




quinta-feira, 13 de agosto de 2015

13 - REFLEXÕES de G.F. * Os olhos do dono...


«Os olhos do dono engordam o cavalo», aforismo que me chegou, na minha já distante adolescência, como de proveniência árabe, continua válido no seu real contexto e em muitos outros contextos.

Delegar competências é uma responsabilidade comum nos tempos actuais, comum e arriscada como muito bem se comprova no dia-a-dia.

Há afirmações do delegante distante da realidade, estas só possíveis porque o delegado «viu o cavalo» com «olhos» seguramente diferentes dos «olhos do dono do cavalo».

E estas situações nem sempre revelarão incúria do delegado, mas, apenas, uma percepção diversa ou relativizante da realidade.

Abordar esta questão é desagradável tal como será desagradável ler sobre ela. Efectivamente, constrange colocar alguém em xeque, talvez tanto como alguém que é colocado em xeque.

Pese embora, e muito, quanto antecede, é indubitável o imperativo que nos obriga a dizer que «o rei vai nu». Se o erro não for detectado, não mais será corrigido. E ninguém desejará viver no erro só porque constrange apontá-lo.

Hoje, é este registo que deixo à reflexão.

Saudações cordiais.


Gabriel de Foxem


Alentejo, 13 de Agosto de 2015.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

05 - POEMÁRIO * Eternidade



Eternidade
(Cantiga de Amigo)




Bebendo os silêncios frios
das noites de solidão,
meus medos todos venci-os
abrindo o meu coração.


Abri-o como se fosse
um cofre de pedrarias
e o seu refulgir me trouxe
de novo o sol dos meus dias.


Ah, meu amigo querido,
não há desterro paterno
que à vida altere o sentido
do nosso amor que é eterno.



José-Augusto de Carvalho
28 de Outubro de 2006
Viana * Évora * Portugal

Nota: 
Por lapso, este texto não foi incluído no livro «O meu cancioneiro», editado em Setembro de 2009. Se houver segunda edição, dela constará.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

05 - POEMÁRIO * Poeta quero ser!



Na data em que ocorreu um dos maiores actos de terrorismo de estado 
que a História dos Homens regista
*
6 de Agosto de 1945!







Poeta quero ser da dimensão à rima,

do grito da revolta ao grito da recusa...

Que importa se morrer nos braços da Medusa

se há muito eu já morri nas ruas de Hiroshima?



Aqui, recuso ter a paz dos cemitérios.

Aqui, recuso ser um cúmplice comparsa

que aplauda ou represente a náusea desta farsa

que sobre escombros ergue os circos dos impérios.



Vermelho é o meu sangue e vivo se derrama

em versos de emoção, nas aras da recusa,

sem nunca se render à fúria que o vitima.



Do tempo que passou ao tempo que me chama,

que importa o meu morrer nos braços da Medusa

se há muito eu já morri nas ruas de Hiroshima?



José-Augusto de Carvalho
Alentejo * Portugal
in Da humana condição, 2008.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

RETRATO INTEIRO DA ABERRAÇÃO DEMOCRÁTICA DESTES 41 ANOS PÓS 25 DE ABRIL: OU A DITADURA DOS CORRUPTOS.




Caras Amigas e Amigos
Desculpai-me, mas por Portugal e Abril, pelo Abril: DEMOCRACIA; DIGNIDADE; DESENVOLVIMENTO grito, reconheço que a voz já me dói,já grito para além da dor, e o quase Deserto me reponde...mas insisto...

Paulo Morais com linguagem, e discurso directos,com coragem e sem tibieza "Em Janela do Futuro,"obra publicada pela Gràdiva, (10 euros) denúncia a actual situação que mantém para a burguesia com acesso à comunicação social o direito de se exprimir,e para todos,mas ainda com muito mais ênfase,para a mesma burguesia, o direito de reunião. Em tudo o mais é um ESTADO QUE VIVE NA INCONSTITUCIONALIDADE . PRESIDENTE DA REPÚBLICA, GOVERNO, ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA não cumprem a constituição e fazem-no de um modo aviltante e doloso.

Abril está moribundo. Estamos,julgo, a viver numa ditadura partilhada,de um ou de outro modo,mais intensa ou menos intensamente, pelos diversos sujeitos políticos do poder central, ou local.

Nas autarquias também não se questiona a origem dos dinheiros, como acontece com Ricardo Salgado que ao que consta,sempre o que consta,claro, arrola,como testemunhas abonatórias autarcas de partidos de ideologias bem diversas, como também já aconteceu em câmaras com alianças de duvidosa lisura,mas logo abençoadas pelos militantes, depois das explicações dos lideres.

Todavia, aquelas alianças foram feitas com gentes que como autarcas, CONSTA, sempre o consta, que quando saíram de presidentes de câmaras levavam um império imobiliário de dezenas de imóveis, o que, a um dado valeu-lhe o titulo de Presidente do último andar.....Mas sabe-se lá?...

Mas, mesmo a haver tais prédios estão já, ou, desde sempre,nos nomes dos filhos, primos, gato,cão e enteados etc,como também, toda a gente sabe,logo...

Também, Paulo Morais,em discurso directo, como é da linguagem de um grão Capitão,de um capitão General,arrasa e reduz à condição de párias, refugo social, membros proeminentes destas redes dos negócios políticos que, somente num país destruído moralmente, os pode considerar SENADORES, ou comentadores relevantes, são simplesmente perigosos.

Refere entre outros,como senadores e,ou comentadores,simplesmente perigosos: Mira Amaral, Valente de Oliveira,Vera Jardim, António Vitorino,Lobo Xavier,Jorge Coelho etc. etc.etc.etc...

Não sei se Paulo Morais vai ter apoio para fazer o que deve ser feito, de certeza que não, é óbvio (sei/sabemos, muito bem...pudera!). Mas o RETRATO DO PAÍS em que me revejo,e sei que muitos portugueses,diria os 6.666.666 portugueses vitimas, mas em que muitos não votam,é o dele, e, também sabemos,e,agora,TODOS que em 2016 seria preciso um Presidente da República com a coragem, o diagnóstico e a terapêutica constitucional que Paulo Morais apresenta, por isto, leiam (façam esse favor a Portugal e a vocês mesmos)a sua MAGISTRAL OBRA: "JANELA DO FUTURO" ,edições grádiva (voltarei a falar dela) e, em consciência, deixando a retórica,as frases feitas altissonantes, e tocando o osso das coisas, vejamos,então, quem fala melhor DESTA COMPLETA TRAIÇÃO AO 25 DE ABRIL E QUEM MELHOR PODE AJUDAR PORTUGAL A RENASCER

O 25 de Abril é DEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS,que teria de ser muito mais que o acesso ao poder de 500 mil militantes partidários e mais uns 300 mil simpatizantes, que,sobretudo, obedecem ás ordens dos donos do capital financeiro e económico, e se servem a si mesmos,aos seus amigos e partidos; o 25 de Abril da Dignidade que nunca permitiria a destruição de direitos de humanidade e, cidadania, ou alianças com ditaduras execráveis, favorecendo-as; o 25 de Abril do Desenvolvimento e não este, quase 28 de Maio do empobrecimento, que, como Paulo Morais, refere é a rota do desastre que sofreu uma grande aceleração com Barroso, Sócrates e Pedro Passos Coelho.

Sei que muitos vão adoptar a atitude arrogante de não lerem,nem ouvirem Paulo Morais,e, por maioria de razão,a mim: SEREMOS OS RADICAIS, anti-Diabo etc. Nem discutirão outras ideias que não as que são ditadas ou forem Reveladas.

Todavia, se se perder a oportunidade de ter um capitão-general a partir e 2016, como PR, então- que todos os que não contribuírem decisivamente para a situação de RE-NASCER do 25 de Abril que exige combates muito sérios,sem alianças perversas,mas lutas cidadãs decisivas e muito duras pela/o:
- CUMPRIMENTO DA CONSTITUIÇÃO;
- DEFESA DA INDEPENDÊNCIA NACIONAL;
- REVOLUÇÃO MORAL, POLITICA, JURÍDICA, CULTURAL CONTRA A CORRUPÇÃO;
PELA REPOSIÇÃO DA GESTÃO POLÍTICA DE UM AUTÊNTICO ESTADO DE DIREITO E SOCIAL,
- que se calem para todo o sempre, porque não ouviram quem melhor fala e deve ter a coragem para lutar pelos seus compromissos de honra,e,se assim não for; se em Portugal não houver uma dúzia de cidadãos honrados -tudo se acabou!... coisas!..
Continuando leal ao que postei em 31 Janeiro 2015, em 2016, deveríamos eleger um capitão-general militar ou não, mas...

PAULO MORAIS FAZ UM DIAGNÓSTICO CORRECTO, QUE SERÁ O DE 6 MILHÕES DE PORTUGUESES. APRESENTA A TERAPÊUTICA EFICAZ,OU SEJA, SÓ UM PRESIDENTE DA REPÚBLICA HERÓICO, COM A FIRME E INABALÁVEL DECISÃO DE FAZER CUMPRIR A CONSTITUIÇÃO, PODERIA EVITAR A IMPLOSÃO DA DEMOCRACIA, EM PORTUGAL

ACOMPANHO-O NO DIAGNOSTICO E NA TERAPÊUTICA E TENHO QUE O MELHOR GRÃO CAPITÃO PARA PORTUGAL SERÁ QUEM MELHOR FOR CAPAZ DE CUMPRIR O DESÍGNIO NACIONAL DA REVOLUÇÃO RE-NASCER: RE-Nascer da Liberdade,da Dignidade, o do Desenvolvimento.

POR PORTUGAL!!
Asilva

Texto 31 Janeiro 2015:
UM PR EMERGENTE É IMPERATIVO;

terça-feira, 4 de agosto de 2015

05 - POEMÁRIO * Mi Palomita!





Palomita, Palomita,

por que eres tú tan bonita?


Palomita, novia mia,

alas blancas de alabanza,

milagros de dulce danza,

embrujos de Andalucía


Adonde vas en tu vuelo,

en cielos de maravillas,

si me dejas de rodillas,

llorando acá en el suelo?


Palomita, no te vayas

en tus vuelos de ilusión!

Palomita, no te vayas,

que matas mi corazón!

*
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 31 de Julho de 2015.
*
Com a preciosa revisão linguística de Nora Arias Alarcò,
querida Amiga argentina, de Buenos Aires.

domingo, 2 de agosto de 2015

BOM DOMINGO! BOM PORTUGAL!


                                                           Foto:Ponta Gorda/Funchal



HÁ MAR: HÁ IR E VOLTAR!

HAVERÁ SOL E ABRIL:

EM OUTUBRO 2015?....

E EM JANEIRO 2016?.....

BAMOS A ISTO!

PORTUGAL!.....

                                         PORTUGAL!.....

                                                   PORTUGAL!.....


Foto:Ponta Gorda/Funchal

sábado, 1 de agosto de 2015

01 - LIBERDADE E CIDADANIA * A fadiga e os princípios


Os anos que já vivi, os desgostos que carrego e o rosário de frustrações sociais que desfio (desfiamos?) causam-me uma fadiga difícil de suportar e mais difícil de debelar.
Dos anos, dos desgostos, das frustrações sociais não poderei mais livrar-me --- são parte integrante do meu percurso. Não poderei viver uma outra primavera e as perdas que sofri e provocaram os meus desgostos são irreparáveis. Quanto às frustrações sociais será diferente porque aconteceram independentemente da minha vontade e nada nem ninguém poderá garantir-me que não se altere o concerto que as determinou. Se depois da tempestade vem a bonança, haja esperança!, que, segundo dizem, é a última a morrer. E não confundo aqui optimismo com esperança.
Na minha idade, posso dizer estar cansado já de esperar, tantas têm sido as frustrações sociais, mas concedo esta minha «fé» no ditado popular –- depois da tempestade vem a bonança. Que chegue a tempo!
O concerto das frustrações sociais decorre, muitas vezes, de acções e atitudes que muito ficaram a dever à postergação dos princípios particulares e gerais eticamente consagrados e reclamados pelo cidadania.
Nunca interesses materiais ou outros determinaram a minha entrega à cidadania. Para mim, a participação cívica é um imperativo. Outras vontades e outros concertos determinaram o meu afastamento. E esta minha postura não é exemplar único. Muitos se afastaram quando tiveram de afrontar essas vontades e esses concertos. A recusa é uma opção. Cidadão que sou, recusei caminhos que nunca foram os meus, que nunca serão os meus. Hoje, estou onde sempre estive. Afastado? Não, não estou afastado. Quando me chamarem os caminhos que sempre percorri, eu direi «presente!» Aos outros, direi sempre a famosa recusa, ainda que noutro contexto, do Poeta José Régio: «Eu não vou por aí!»

*
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 31 de Julho de 2015.