terça-feira, 28 de julho de 2009

PONTE AÉREA 1975: O SONHO, SONHADO, VOLTA PESADELO,QUE CONTINUA VIVO.



“Um pedaço da dura e negra história que o Expresso na sua última edição recorda, e que também, aqui, quero alembrar (adoro este erro)”


Estive na guerra, em Angola, considerei-a perdida em carta escrita em 13 Novembro 72, vi a escravatura nas fazendas de Mucaba, que a quase totalidade dos colonos brancos impunha aos negros, vi os negros a viverem na Idade Média, vi entre muitos colonos opulência e riqueza imoral ( como acontece hoje lá e cá) mas também vi os massacres da FNALA sobre negros, pensei, quis e sonhei que com fim da guerra, se poderia constituir um estado federado com interesse para todos.

Depois disseram que isto era inegociável para os movimentos independentistas, e acreditei na boa fé de alguém que se dizia próximo de Portugal, como Agostinho Neto, e aceitei a independência .

Todavia a expulsão generalizada da população branca e a guerra civil, cujos germens se encontram também na politica imoral de pôr angolanos negros contra outra angolanos da mesma raça, mas de etnias diferentes, planeada pelo general Bettencourt Rodrigues, veio pôr todo o sonhado em causa, e em Angola nasceu um inferno de corrupção, guerra e ditadura e, Portugal passou a fazer pouco para que o caminho pudesse ser outro, e, aí, os responsáveis Portugueses fugiram às suas responsabilidades.

De qualquer modo por muito mérito dos portugueses que regressaram, mas também pelo grande valor e novas possibilidades da Democracia muito destas grandes heroínas e heróis que tornaram à terra de seus pais ou à sua, e que nunca tinham participado na escravização dos africanos, venceram, e com elas e eles e com a democracia, Portugal também venceu.

Tragicamente os países africanos que deviam ser os primeiros beneficiários com a independência, só têm perdido e continuam a perder. A tragédia continua e, uma vez mais, a isso não são estranhos os negócios que os dirigentes desses países fazem com os donos da capital sejam ocidentais, seja também dessa China dos escravos.

A África ESPERA E DESESPERA PELO SEU LUTRHER KINK, enquanto isso, dirigentes, como Agostinho Neto foram também obreiros da grande tragédia africana que deveria merecer de cada um de nós e da comunidade europeia outra abordagem e outra intervenção.


asilva

quinta-feira, 23 de julho de 2009

CASTIGO, CROMOS E OUTROS, OU QUANDO DEUS EXISTE.


Segundo a religião medieval, Deus castigaria de vários modos os pecados, assim, era crença que filhos com trissomia e outros graves defeitos ao nascimento advinham de pecados ou promessas não pagas pelos progenitores. Enfim a Idade Média já passou, e creio que terei alguma formação cultural e académica para ultrapassar essas crenças, mas será assim, ou, talvez não?

Não sei, quando vejo, o que vejo, hesito nas minhas certezas e dúvidas. Fico confuso e completamente ignorante quanto aos porquês de tudo isto, assim, aconteceu no último sábado no metropolitano. Corria o comboio barulhento a alta velocidade, quando reparei num ser humano, um homem adulto com pouco mais de um metro, tal era a curvatura da sua coluna, todo ele estava dobrado sobre si próprio.

Mas como tamanho defeito não bastasse tinha um dos pés dobrado a noventa graus e sobre ele se deslocava, e como se ainda não bastasse o braço, sobre que se apoiava numa canadiana, tremia todo. Era feio e como, se ainda, fosse preciso mais dor e tormentas era pobre, pedia esmola. Olhando para todo este Mundo de indecifrável conjugação de factores negativos, só posso mesmo pensar ao nível da idade média. Este homem nasceu assim, para expiar por pecado que não cometeu, mas é culpado, quiçá, é filho de um incesto.

DEUS vingou-se!

Corria o dia, e antes que a lua aparecesse e os lobos uivassem, no jardim zoológico, eis se não quando, uma mulher com uns 50 anos atravessa transversalmente a minha vista, deslocando-se a grande velocidade e ia também com um pé dobrado a 90º. Então, começo a pensar, porque tenho os olhos tão abertos e vejo tanta coisa que não gostaria de ver e pior o que, através daqueles olhos tristes e aquelas caras fechadas, leio de dor alheia que tanto me dói? Também expio os meus pecados ou os de outrem, ou quer Deus dar-me sinais? Quem me responde?

Hoje, dia 21 de Julho 09, passei pela capela da nossa senhora da saúde, a dos artilheiros, e vi cromos, homens com pernas todas embrulhadas em trapos a recusarem o transporte numa ambulância dos bombeiros para algures, e outros cromos da idade média, com rádios que aparentemente não funcionavam tal era a porrada que o seu dono lhe dava, a barafustarem pelo facto do outro desgraçado não querer embarcar, o que, segundo este ET da idade média, devia ser punido com um tiro, porque o homem era porco e sujo, cheirava mal.

Fico parvo, mas em que época e país estou? Duvido que seja 2009 e esteja em Portugal, mas não me engano é 21 de Julho 2009 e estou em Portugal.

Desço mais um pouco, e vejo um conjunto de corpos disformes, aos montes, gorduras podres, carnes maceradas, a expressão humana da decadência a venderem aquelas carnes infectas de sida, gonorreia a outros escolhos.
A pensão fica ali, diz uma voz sumida a um velho derreado, e esta desgraça transacciona-se a outros desgraçados. Isolada, só, do outro lado do passeio, uma rapariga mais jovem, mas com o mesmo destino já traçado, olha tristemente o seu futuro, a decadência do seu espírito e corpo.

Expiam estas desgraçadas os pecados de quem? Será do pecado da miséria e do abandono?

Subo ao Chiado, são 15 e pouco, e, por ali, gente bonita, belas mulheres compram bijutaria cara às dezenas, para ficarem mais belas, são a expressão da beleza da face de Deus. São angélicas, não têm pecados, com estas dormia um sonho de glória a Deus, era um sonho na ilha dos amores, lânguido, sem nenhuma nota conspurca. Conseguiria amar, de um dado modo, sonhar ao lado destas lindas mulheres abençoadas por Deus e pela Beleza. Deus ama-as, Vénus embeleza-as. As outras são pecado , estão infectadas, não as posso amar, libidinosamente, nunca.

E a verdade suprema se desenha na minha mente, a rebentar, DEUS EXISTE, e abençoa as mulheres bonitas para serem amadas por homens bonitos e ricos, e condena à imundície, à putrefacção as pecadoras. Como percebo, agora, os saberes da idade média ou a voz dos padres, em Lisboa, no dia 1 de Novembro de 1775: PECADORES! EIS O CASTIGO!

Bondosos frades sois a verdade e a luz, agora, acredito, mas mais acreditaria se uma das beldades do Chiado me escolhesse para um sonho de passagem. Mereço o milagre, porque, agora, acredito.

Estarei louco?
DEUS!

Asilva 21julho 09

quarta-feira, 22 de julho de 2009

CORRUPÇÃO- A BOMBA ATÓMICA CONTRA A DEMOCRACIA.



Nesta pais de brandos costumes, com a quase totalidade dos cidadãos distantes de tudo o que é cidadania - para a maioria esta reduz-se a sobreviver, e tanto melhor se por perto houver uma cartão de crédito, e se possuir uma casa hipotecada que dizemos nossa, um carro a prestações, férias pagas em 5 prestações, como a benemérita agência de viagens Abreu oferece - os governantes e outros banqueiros, grandes empresários fazem o que lhes dá na real gana.

Como a especulação e a corrupção são tão vergonhosas e evidentes, é preciso que alguns senhores, embora tardiamente, façam algum ruído, para que tudo fique na mesma, e, então, ouvimos o Sr. Oliveira Martins a falar, agora, que o Tribunal de Contas deve ter mais poderes para aplicar multinhas , isto é, uma aldrabice de milhões de euros terá uma coima de umas centenas de milhar, logo o saldo é: o crime compensa.

No entanto o Sr. Oliveira Martins diz algo de mais substantivo não se pode combater a corrupção sem o levantamento do segredo bancário, diz, parece que parcial e com a criminalização de alguns crimes de enriquecimento ilícito, parece que alguns ficariam de fora, ainda fala do fim dos offshores, tarde mas acabou por falar. Mas o Sr. Oliveira Martins ainda diz algo de substantivo: CRIMINALIZAR.

Noutro lado do quadrado fala o Sr. Ministro das Finanças, proclamando que o nosso sistema financeiro está sólido. Por agora já se sabe dos jogos escuros do banco comercial, do BPN, do BPP, de uns negócios esquisitos da Caixa Geral Depósitos; e ainda a operação furacão não acabou, páginas tantas já foi arquivada; há uns milhões de crédito mal parado; e mais não se sabe, porque o banco de Portugal não vê nada que os inspeccionados não queiram mostrar e ,ou o Banco Portugal não queira mesmo ver, mas apesar de tudo diz o Sr. Ministro que o sistema financeiro está de boa saúde, porque apresenta resultados positivos. Pudera! Pagam impostos amigos e aplicam sobretaxas aos clientes e, também e, sobretudo, porque é uma pequena banca que não permitiu uma grande internacionalização e a defendeu da hecatombe.

Só que tudo isto é uma história do capuchinho vermelho que só serve aos irmãos Metralha instalados e acantonados em todos os sectores da economia e das finanças, porque o que há é fazer, é COMBATER A CORRUPÇÃO COM TODOS OS INSTRUMENTOS DISPONÍVEIS JUDICIAIS ( O APARELHO JUDICIAL PRECISA DE SER SANEADO DE ALTO ABAIXO) E ADMINISTRATIVOS, ÓRGÃOS DE REGULAÇÃO, SUPERVISÃO E CONSELHOS DE ÉTICA ROBUSTOS, MUITO ROBUSTOS E SERVIDOS POR GENTE POBRA QUE VENHA DE FORA DO PRÓRIO ESQUEMA DA CORRRUPÇÃO E DAS SUAS PIRAMEDES, como o caso do BPN revelou e tão bem a revista Visão ( nº de 4 de Junho) retratou.

PORTUGUESES é preciso dizer basta, só há um caminho CRIMINALIZAR estes grandes crimes, destes GRANDES CRIMINOSOS, como aconteceu nos Estados Unidos com El Capone e com Madoff, porque é desta gentalha que estamos a falar e não de SRS. Doutores e Excelências. Excelências de quê, porque estiveram a ganhar milhões para gerirem falências, porque estiveram em negócios fraudulentos que deram mais valias de milhões a grandes amigos, como a revista Visão já referida ilustra.

Na teia do BPN de acordo com o referido organigrama encontram-se personalidades como: Oliveira e Costa, Dias Loureiro e outras grandes figuras públicas em exercício de funções, mas, então, como pode estar por cá tudo bem?

Será que o Tribunal Constitucional, ou o Conselho de Estado não teriam de investigar, questionar-se sobre qual o significado de alguns membros do conselho de estado aparecerem nesta teia?

Mas não, ninguém pergunta nada, isto, é uma verdadeira reinação. Não sei como vai sobreviver sem que se acabe com a democracia e a liberdade de expressão e imprensa, apesar do alto controlo a que está sujeita. Mas como na imprensa do centrão também jogam em consonância com os interesses do PS e PSD, lá vamos sabendo alguma coisa, o que estupidamente só prejudica os negócios de ambos, e, ainda bem, porque o país ganha. Exactamente por isto a aliança total entre PS e PSD seria fatal para o país, porque desde logo passávamos a ter uma imprensa 100% do Regime. Os jornais época, de outra época, e os seus clones. Um regresso ao passado que alguém de Belém já sugeriu.

Todavia a solução para PORTUGAL É DIGINIFICAR A DEMOCRACIA E O DESENVOLVIMNTO, o que exige eleger políticos dignos e competentes que promovam um justo desenvolvimento do país, apostando no que nos torna mais ricos e menos endividados, e internamente se faça uma distribuição mais equitativa da riqueza produzida, premiando o mérito e a excelência , e apoiando com dignidade os indigentes.

Com esta vocação e com este imperativo e desígnio se apresentou aos Portugueses a Nova Esquerda, mas só com os portugueses poderá fazer o que é preciso fazer de diferente e mais digno.

O PROBLEMA NACIONAL Nº1 DO QUAL RESULTAM TODOS OS OUTROS É O DA INDIGNIDADE COM QUE SE GEREM OS RECURSOS NACIONAIS, E SE DEIXAM IMPUNES OS CRIMES DE CORRUPÇÃO.

A QUESTÃO É MUITO SIMPLES: OU ACABAMOS COM A CORRUPÇÃO A TODOS OS NÍVEIS: MILHÕES DE EUROS QUE CORREM DO OGE PARA AMIGALHAÇOS; TRÁFICO DE INFLUÊNCIAS, IMPUNIDADE DOS RICOS E PODEROSOS, CHANTAGEM PSICOLÓGICA E SERVIDÃO; OU A CORRUPÇÃO VAI REDUZIR ESTE PAÍS A UM PAÍS DE MISERÁVEIS, GENTE DESEMPREGADA, BRUTA, SEM CULTURA E SEM ABRIGO. MAIS UNS 10 a 15 ANOS NESTE CAMINHO DE DESVARIO NACIONAL E SEREMOS UM PAÍS DO 3º MUNDO SOB UM REGIME DITATORIAL.

Não há nenhuma hipótese económica e ou politica de não ser assim, aliás, cá estaremos todos, se todos fizeram vencer a actual partidocracia que não resolve nenhum dos estrangulamentos do país, triste será o nosso futuro.

Andrade da silva 18 Julho 09

domingo, 19 de julho de 2009

POESIA E ESPERANÇA



A MURALHA

Ante aquela alvorada de utopia
que buscámos na vida em sobressalto
ergue-se agora um muro de basalto
duro demais para a nossa rebeldia.

Cansados da peleja, dia a dia
em planícies, montanhas ou mar alto,
sucumbimos, vergados, sobre o asfalto
da tão comprida estrada que nos guia.

Esta muralha esmaga a confiança,
aprisiona o sonho, a nossa vida
e o nosso suspirar pelo futuro.

É preciso de novo hastear a esperança
que nos foi sempre apoio na corrida.
Venham daí! Vamos saltar o muro.


28-6-2009
Carlos Domingos

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O VIL ESQUECIMENTO. VILÕES.


Os novos e os antigos democratas e os antigos anti- fascistas que ficaram bem na vida à custa de tantos sacrifícios de outros, esqueceram-se dos que perderam tudo, e deixaram-nos morrer na miséria.

Foi assim com Camões, sobre o que Jorge de Sena disse um dia : " Hoje ( num dos 10 de Junhos, já passados) muitos enchem a barriga com Camões, mas Camões morreu com fome" . Palma Inácio morre pobre, e já com outros o mesmo aconteceu. Morre esquecido e também pobre em Caracas, outro herói romântico Sérgio Moreira.

A Democracia que nasce com o 25 de Novembro 75, pela acção horrenda do chamado grupo dos nove, hoje, tão amados pelos que outrora se diziam e dizem revolucionários, logo prendeu e matou a generosidade, a visão revolucionário do 25 de Abril, e agraciou e mentiu acerca de heróis que, hoje, dizem que não cumpriram nenhuma das missões que lhes foram atribuídas no 25 de Abril, como agora o referem quanto à actuação do general Jaime Neves.

Mas esta gente, é a gente de sempre e neste grupo dos que veneram as mentes, que um dia serviram o fascismo, como grandes académicos e intelectuais em geo-estratégia, caso do Sr. Adriano Moreira, nunca se questionaram em área tão sensível a que visão do Mundo serve tamanha inteligência, será outra diversa da do antigo Ministro das Colónias de Salazar, mas, qual é?

Ainda deste lote de gente fazem parte muitos desses anti-fascistas que só reconhecem o sacrifício dos seus pares que rezam na mesma Catedral e comungam do mesmo vinho e pão. Todos aprenderam bem a lição totalitária do fascismo - o individualismo, para os pares tudo, para os outros nada. Esta é a pior semente do fascismo, do totalitarismo, da inquisição que os vilões não querem destruir, mas que é preciso ultrapassar. Proclamo-o do deserto deste blogue, de que os vilões fogem.

Por Palma Inácio, por Sérgio Moreira e por outros tantos que o ódio fascista e o individualismo dos que se auto-proclamam como anti-fascistas e revolucionários esqueceram, é preciso ultrapassar a essência deste comportamento egoísta, sectário e fanático, com raízes nos sentimentos e pensamentos mais odientos do antigo testamento , da inquisição , das ideologias totalitárias e quiçá do Islão radical, tudo tendo um elo e um elemento identificador que é o que de mais perverso tem a natureza humana, o egoísmo cego, o pensamento totalitário, o ódio ao diferente e ao HOMEM.

O 25 de Abril, a liberdade, a democracia realmente democrática exige outros pensamentos e sentimentos, desde logo, o AMOR, A LIBERDADE DE PENSAMENTO, A SOLIDARIEDADE, A TOLERÂNCIA, A GRATIDÃO E A PRÁTICA DA JUSTIÇA. Tudo isto é elementar, mas de facto é pedir de mais aos vilões, mas aqui o proclamo para que as mulheres e homens de amor e honra repliquem esta mensagem, e que para bem de Portugal ela seja pensada e ouvida por muitos, e que por todo o lado corram com os lobos disfarçados de cordeiros pascais, porque são gente cheia de egoísmo.

O MUNDO pode e deve ser dirigido pelo o altruísmo sadio e inteligente que trava o passo ao gene egoísta que tudo destrói. Do silêncio, entre estas paredes blindadas falei-vos com um verbo claro.

Que dor sinto por ver que por toda a parte reinam os surdos-mudos, e que só o são, porque têm um cartão de crédito; uma casa hipotecada; um carro que pagam a prestações; muitos euros para comerem um excesso de gorduras, ei-los gordos e anafados felizes por terem saciado a gula; muito lixo televisivo e muita Zara a vender as coisa feitas na China ao preço da chuva, e, por isto, sentem-se no melhor dos mundos, e a desgraça dos outros é a desgraça dos outros, até que um dia…mas, então, já é tarde….


andrade da silva
PS: Aos esquecidos, de 1926, até Abril 74 existiu em Portugal um Irão, uma Tailândia, um Mugabe. O 25 de Abril 74 foi há 35 anos.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

EU, CIDADÃO-MILITAR, ME APRESENTO! (XI) - TO ANGOLA 71/72. NEGAGE: O REGRESSO À ARMA-MÃE, A ARTILHARIA. (1)


MESMO EM TEMPOS QUE É PROIBIDO PENSAR, PENSA-SE ...


Em 2 de Abril 72, em Mucaba, uma vez mais, num almoço de confraternização digo um até sempre a um grupo de 200 homens que comandei com muita amizade. Levo na memória e no coração duas mortes: um alferes pacifista que se tornou odiado e um cabo, óptimo rapaz que tanto temia a prisão disciplinar, e a prisão eterna ceifou-o, tão cedo desta vida. Choro-o com muita dor, e recordo com igual dor o sofrimento dos seus pais. Pobres pais!

Nesta companhia pouco depois ainda morrerá mais um soldado, o seu comandante de pelotão, segundo o relato crítico que me foi feito, entrou num acampamento abandonado, e saiu pelo mesmo trilho, na saída uma mina assassina matou o soldado. Já estaria lá, ou foi entretanto posta. Era um erro grave, sair por onde se tinha entrado, e, neste caso, pode ter sido trágico ao ceifar uma vida. Se fosse o comandante deste Alferes, este, teria de me dar muitas e precisas informações. Não sabia desculpar estes incumprimentos tácticos.

A BTR ( bateria de artilharia) 3421 era constituída por pessoal todo meu conhecido. Estava situada numa cidade aprazível, o Negage, o que me leva a considerar esta noticia como bastante agradável. Era comandada por um capitão de artilharia que já conhecia, e aqui também irá parar o meu camarada de curso alferes Pereira que viria a demonstrar um estoicismo a toda a prova, sacrificando-se e sujeitando-se a um incómodo incomensurável ao colocar fita auto-colante na sua boca, para respirar pelo nariz, e não perturbar o sono de outro guerreiro, seu camarada. Só um grande Homem e camarada faria isto. Não sei se nas mesmas circunstâncias faria o mesmo, até porque não me lembraria de tal coisa. ( Ainda não te agradeci este grande sacrifício, mas nunca o esqueci).

A 14 de Abril faço nesta unidade o meu primeiro serviço de Oficial de dia e, aqui, por estes tempos é que se viam o que eram os portugueses que descendendo de Viriato não tinham evoluído assim tanto.

Muitos eram mesmo muito brutos e possantes, havia por aqui especialmente dois, com nomes muito a propósito: um Valente e outro Vinagre, que resolviam os seu diferendos familiares a tiro de caçadeira, como os próprios contavam e faziam-se acreditar, pessoalmente, acreditava piamente. Um deles era mesmo muito primitivo, com toda aquela cobertura de pelos ruivos mais parecia um boi, mas eram chefes informais e temidos pelos outros por causa da sua brutal força. Alguns destes rapazes comiam a módica quantia de para cima de uma dezena de postas de peixe, ou seja, o que outros nem à lei da bala comiam.

António Brito no seu livro “ Olhos de Caçador” que tive honra e o prazer de apresentar dá uma fotografia dos soldados de então, através do imortal soldado Fraga, mais geralmente chamado Silva, corajoso, esperto, meio contrabandista, meio aldrabão, mas sempre um grande trabalhador –Um VIRIATO- anónimos, mas grandes.

Um dia, lá mais para diante, vou ter encontros decididos pela história, com vinagres e companhia, e dado o meu estilo de comando sem rede e de proximidade, ou vou perder ou vou ganhar, jogando com as cartas deles, a força, as minhas seriam o Regulamento de Disciplina, mas na guerra, enfim…,como adiante se verá.

A 26 de Abril a BTR é visitada pelo meu antigo capitão que tem comigo uma acesa discussão, por cerca de 2 horas, acerca dos seguintes assuntos: castigo a um cabo de Mucaba, alterações ao processo de comando enquanto comandante interino, mas estas já estavam feitas e revia-me com muito orgulho nelas, e como era óbvio, o comportamento do seu dilecto alferes foi objecto de controvérsia.

Este capitão estava na sua 3º comissão, considerava-o muito vaidoso, mas também diziam que o era, assim duas vaidades em presença tornava tudo isto um pouco mais difícil. Reconheço que deveria ter sido um alferes, talvez um tenente e um capitão mais humilde, mas haverá algum jovem humilde e que seja Capitão? Capitão que o fosse nunca os vi lá muito humildes, e poderá um capitão sê-lo, sendo que é o verdadeiro comandante de tropa?

O capitão comanda os militares nas linhas de combate, morre ou alcança a vitória com os seus soldados, o mesmo se passa com os alferes e com os sargentos comandantes de secção e com estes últimos sempre, têm de estar todos os dias lá na frente, o capitão, de quando em vez , pode ficar um pouco mais atrás, os alferes e os sargentos nunca.


Em 27 de Abril pelas 10h fiz uma corrida de 5Km. O Negage era uma zona de paz, de completa liberdade de movimentos, por vezes havia uns sobressaltos inconsequentes, gente armada com granadas a passear nas ruas da cidade, mas era gente amiga, de cor negra, a quem, através dos administradores de posto, era dada licença de porte de armas e, então, alguns passeavam-se pela cidade com as ditas, e faziam-no com a mesma alegria e simpatia com que usavam os tais óculos de sol espampanantes, coisas iguais para a sua ingenuidade. Só que logo eram dados como terroristas e metade da cidade os queria matar, e lá a tropa tinha de resolver o assunto no terreno e no da justiça militar, feudo árido e minado e nada dado a jovens alferes.

Depois desta corrida e depois de ter verificado a minha má forma física, para ganhar mais aptidões juridica-disciplinares fui nomeado para investigar um dos tais casos de negros armados. Empenhei-me, desloquei-me à repartição de justiça do Quartel General em Carmona, recebi todo o apoio do chefe da repartição, porque era preciso responsabilizar os administradores ( pensei se estariam à espera de um alferes para isto, mas se fosse eu, esse alferes, devia ser por ser madeirense que somos atrevidos, dizem… ).

O administrador do Negage já era de elevada patente, intendente, ao que creio. De facto indaguei todas as responsabilidades do administrador e considerei-o como o responsável moral por aquela peça que podia ter um desfecho trágico. As pessoas sentiram-se ameaçadas e ao reagirem podiam agredir o negro que acossado podia atirar o “recuerdo” às pernas de alguém. Muito me esforcei e o administrador sentiu-se muito, muitíssimo, atrapalhado. Se mais nada aconteceu o senhor aprendeu que lhe podiam ser feitas perguntas muito incómodas para as quais não tinha resposta aceitável e, assim, viu-se preso na sua própria ratoeira.


Nestes tempos dizia-se que ninguém pensava, mas seria memo assim? Por mim confesso e dou prova que não, porque em 27 e 28 de Abril 72, naquelas terras de África transcrevi para estes caderninhos de farrapos de memórias pensamentos de Einstein sobre a religiosidade cósmica – apreender a totalidade da existência como uma unidade cheia de sentido - de Caraudy - A profundidade da fé de um crente depende da força do ateu que traz consigo, e a profundidade humana do ateu depende da força do crente que traz consigo, ou a fé é um sentimento, a religião uma instituição - e finalmente toda a beleza e força deste pensamento de Morávia: Para o humanista a verdadeira obra da sua vida é ele próprio, como elo de uma cadeia infinda que o liga em comunhão humana a um passado, presente e futuro ( talvez aqui tenha ido buscar o conceito de arco-voltaico que imprimi na minha acção de comando). Ou ainda ser homem não é um meio de chegar ao Céu ou à mesa posta, é um fim em si mesmo…. E, agora , calo-me.

andrade da silva 16 Julho 09




quarta-feira, 15 de julho de 2009

HOMENAGEM


VIVA PALMA INÁCIO !


Rendo a Palma Inácio a minha homenagem por ter tido a coragem de desafiar, de um modo heróico e desassombrado, a ditadura caduca, corrupta, ignorante e vergonhosa de Salazar.

Palma Inácio com os seus actos ousados demonstrou que os ditadores nunca são, nunca podem ser, pessoas com elevado grau de inteligência, para além do seu muito baixo e primário desenvolvimento moral.

Palma Inácio é a memória da inteligência e de um certo espírito de aventura contra um cabisbaixo ditador e o seu séquito, o de então e de muitos que, ainda hoje, querem apresentar esse ser brutal que castrou o pensamento cultural, artístico, científico e moral de Portugal durante décadas, como o de um grande Português. Não o foi, porque nunca um ditador pode ser um nobre cidadão, é sempre um ignominioso – ditador, ponto.

andrade da silva

terça-feira, 14 de julho de 2009

UM PORTUGAL QUE TRANSPORTO NO MEU INCONSCIENTE : O TRISTE E "PIG " PORTUGAL BUFO.




Nos idos de 1997, quando aluno do curso de sociologia, no ISCTE, na cadeira de sociologia do desenvolvimento, tive a ousadia ou a burrice (nestas coisas vou ficando velho, mas nunca aprendo a matéria da simulação. De facto devo estar a uns bons desvios padrão do comportamento cínico conveniente – um desastre para mim -, e, neste passo, quero recordar o homem do cachimbo, a sua pose majestosa e o seu discurso fulminante, Carlos Candal. Até à eternidade, irmão!) de ter uma opinião diversa dos grandes mestres que formulam teorias de educação, através dos processos de socialização que conhecemos, e que provocam tantos recalcamentos, ansiedade, depressões e sei lá mais o quê.

Bem! Olhar a nu estas realidades, parece que permitem dizer que todos estes processos estão equivocados , porque não se dirigem ao homem real, mas ao homem virtual, o conveniente, o torturado pelas regras dos que criam as normas.

Defendia e defendo que os psicólogos e os sociólogos e todos os que conhecem o ser humano deveriam proclamar que o que interessa é descobrir o homem real, nos termos que Freud definiu, ou seja, o homem que nos habita no inconsciente, e, por isto, fui colocado no índex da boa ciência sociológica, o mesmo já me tinha acontecido no mesmo ISCTE numa cadeira da professora Filomena Mónica, bela professora, toda adiantada aos tempos, a dar aulas de bota alta. Linda de morrer. Meu Deus que prazer e dor, naquelas aulas! Mas como não há bela sem senão, lá estava um, o de ler aquelas fichinhas de leitura em papel. Lembram-se, uma “estupada”, mas aqui o pomo da discórdia foi Raimond Aron e as suas teorias, quanto aos males gerais e universais da industrialização.


Ora, sendo assim, pensando que o homem real é o que habita a zona inconsciente do nosso self, fico muito preocupado com os meus sonhos, e hoje vi que ainda transporto no meu inconsciente um certo Portugal “PIG”. MY GOD!

Sonhei deste modo: estava numa fila do metro à espera de transporte, quando um homem meio curvado e que me pareceu já bastante idoso para ter estado na guerra de África, de um momento para outro, começa a contar, com uma certa piada, histórias da guerra colonial. Logo lhe dei toda atenção do mundo, o que sempre faço nestas circunstâncias. Á minha frente estava um casal de adolescentes, a rapariga dava atenção ao que o homem contava e o rapaz não. Falava o homem, fazendo gestos, como em dada noite receberam um camarada todo molhado. Tinha a sua piada, o modo como contava.

Entretanto uma senhora fala num pintor célebre e o homem disserta sobre cultura, ainda dei mais atenção, porque vi que era culto, e quando alguém culto fala, calo-me e oiço religiosamente, em silêncio. Tenho também a atitude de, quando o assunto permite, provocar alguma interactividade e de ser menos sossegado, por vezes, mesmo irrequieto. Todavia quando são assuntos que não domino e têm interesse o meu silêncio é de oiro. Contudo com esta intervenção abriu-se uma roda, e alguém disse que assim é que era democrático. Todos podíamos participar.

O tema seguinte foi das multinacionais. Tomei a palavra, e disse que as suas sucursais por Portugal eram os braços de um grande polvo que a todos nos escravizava. Quando assim falava, logo a rapariga que lançara o mote e que parecia não muita interessada nesta afirmação, quis distribuir o uso da palavra. Protestei que queria completar o raciocínio, o que fiz com grande veemência, dizendo que éramos escravos desta gente que pagavam o que queriam aos trabalhadores, transferiam a parte mais substantiva dos lucros para a empresa-mãe, e que era no pais, onde, estava a sede que se pagavam os impostos, o que era um acto vergonhoso.

Enquanto me emocionava vi a rapariga “ burguesa” a me voltar as costas, e passei a ficar no meio de vendedoras ambulantes de etnia cigana, mas como depois de me emocionar sou sempre bem educado, também o fui no sonho, pedindo desculpa por ter feito um mini comício, e preparei-me para abandonar o local .

Mas eis, se não quando, um individuo se coloca à minha frente e mostrando todo o seu poder, através de um telemóvel, me ia dizendo, pois, pois, comício! Frase que repetia, gesticulando de um modo visível e ostensivo o braço que transportava o telemóvel, como a querer afirmar todo o poder na capacidade de denúncia deste aparelho.

Nestes andares, quando ia subir as escadas do metro para sair, o Homem corta-me a passagem, e com todo o seu poder de bufo diz-me que não podia sair sem antes chegar a policia. Olhei para o nojento do bufo, pensei nos meus direitos constitucionais e apeteceu-me entrar em vias de facto com o “porco”. Só que também pensei que atrás de mim tinha todas as ciganas para o secundarem, então, inteligente ou cobardemente, para evitar sarilhos, acabei com o sonho ou com o pesadelo, e acordei chateado.

Como penso que o inconsciente está cheio de razão, como o referi no início e já o disse na universidade, o que, me valeu passar de melhor aluno na cadeira a pior, é este um Portugal que, por expiação, transporto no fundo de mim próprio, e , assim, sei que este Portugal mata muitos sonhos ou transforma-os em pesadelos, e sei ainda mais, que os sonhos são, por vezes, premonições. Todo este caldo, basta para imaginar como, enfim, dialogo com a LUA de Prata, quando o Sol se põe.

PORTUGAL.

andrade da silva

domingo, 12 de julho de 2009

Ò ALENTEJO




Reflexão literária

Ò Alentejo !



Que marca imprimes em quem nasce no teu seio!
A beleza agreste da tua paisagem, a sã convivência, teus costumes e tradições cedo inspiraram poetas como Sá de Miranda, Florbela Espanca, Macedo Papança (conde de Monsaraz) ..., escritores como Fialho de Almeida, Manuel da Fonseca, Hernâni Cidade, dramaturgos como Bernardim Ribeiro, historiadores como Túlio Espanca, pedagogos como Manuel Patrício.

Influenciaste igualmente romancistas que não sendo Alentejanos de nascimento, por circunstâncias da vida, aí algum tempo viveram. Estou a lembrar-me de Eça de Queiroz, José Régio, Vergílio Ferreira.

Outros como José Saramago sentiram um apelo interior e lá foram buscar inspiração.

Que dizer da música, dos cantares, enfim dum povo que fala verdadeiramente a cantar!
Fiel a esta tradição, Alentejana de nascença, Maria de Deus Melo, escreve um poema logo com ideia da música. Muitas vezes ao acabar de o escrever, recita-mo ao telefone cantando.

Não se queda indiferente à dureza da vida humana como o atesta o poema “O cavador” feito de recordações do mundo da sua infância.

“...cavas palmo a palmo desgraçado
o chão que nem é teu,
para teres um bocado de pão
o pouco que o homem te deu.
Depois de velho e cansado
esse pobre coração destroçado
em troca do seu tormento,
pedirá à terra a paz, o esquecimento!”

recorda-me Fialho de Almeida:

“Nestas terreolas mesquinhas, entre o cavador que estanca a vida à enxadada, ganhando apenas com que morrer de miséria, e o homem rico que pavoneia em berlinda de correias o estadão dos seus quarenta contos de hortejos e farejais;

Fialho de Almeida in “O País das Uvas”

Enfim o amor, no seu sentido trágico como recitava Demócrito “Aparência a cor, aparência o doce, aparência o amor: na realidade só os átomos e o vazio”; a lembrar Florbela Espanca num misto de tragédia e sensualidade, embebida numa certa religiosidade. A própria o reconhece num poema intitulado “Homenagem a Florbela Espanca”:

Nasci sagitária como tu
o Alentejo a arder no coração,
amor puro e alma a nú
fomos loucas no amor e na paixão.

Infelizes e incompreendidas
gritando ao mundo toda a verdade,
como se unissem em nossas vidas
a tua e a minha infelicidade.

Especial relevo, dedica a poetisa à cidade de Évora, a antiguidade das suas pedras, as belas arcadas, oferecem cenário ideal para o amor e a paixão, como refere na quadra:

Visitámos o templo de Diana
de mãos entrelaçadas de ternura,
que pouco foi o tempo p´ra quem ama
para hoje ter tanta desventura.

Tal visão tende a provocar um confronto entre o finito e o infinito levando a questionar a própria existência.

Vergílio Ferreira no seu romance “A Aparição” descreve igualmente o êxtase que lhe provoca ao chegar a esta cidade, a visão súbita do templo de Diana.

“Templo de Diana. Só nessa noite o vi bem, nessa noite de Setembro, lavado de uma grande Lua - raios imóveis de uma oração mutilada, silenciosa imagem do arrepio de séculos ...”

Numa outra passagem da mesma obra escreve:

“Évora mortuária, encruzilhada de raças, ossário dos séculos e dos sonhos dos homens,, como te lembro, como me dóis!”

Estamos então perante aquele que no fundo é o drama humano, a angústia do homem perante a sua finitude, que o leva a questionar o bem e o mal, o Deus e o Diabo, tema para o “Cântico Negro” de José Régio.


Alentejo não deixes de inspirar os Poetas.
Onde existe algo de eternidade
é na poesia,
Aquilo que o tempo não corrói,
Nem destrói,
Vital sopro de eternidade,
Para lá da bondade e da maldade.






Filipe Papança*

·
Licenciado em Matemática Aplicada, Mestre em Estatística e Gestão de Informação. Professor na Academia Militar
· Prefácio do livro de poesia de Maria de Deus Melo: "Alentejo Profundo Um Rol De Esperanças" - publicado pela Universitária Editora.

PS: Pelo grande entusiamo que o Alentejo despertou, o nosso amigo Filipe oferece-nos mais um belo texto,o que muito agradecemos.
asilva


sexta-feira, 10 de julho de 2009

SAUDAÇÃO E AGRADECIMENTO



MERECE A MAIS EFUSIVA SAUDAÇÃO A MANIFESTAÇÃO DE AMOR HERÓICO E A ATITUDE DE FALAR DA HISTÓRIA QUE O POEMA SOBRE O ALENTEJO, DE FILIPE PAPANÇA, DESPERTOU. OBRIGADO A TODOS.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ò ALENTEJO



Ò ALENTEJO

Alentejo não deixes de inspirar os Poetas.
Onde existe algo de eternidade
é na poesia
,
Aquilo que o tempo não corrói,
Nem destrói,
Vital sopro de eternidade,
Para lá da bondade e da maldade.


Filipe Papança

terça-feira, 7 de julho de 2009

O DOENTE ESTADO DA DEMOCRACIA: OU LIBERTA-SE, OU IMPLODE.





A Democracia Portuguesa está absolutamente doente, tudo está controlado por aqueles que deviam ser indiciados nos tribunais, e não são, e quando são, ainda fazem mais ruído, para dizerem que foram honestos, perante a evidência de que não o foram, assim, acontece em todos os sectores de actividade, na da banca ou no sector politico. Pergunto o que já teria acontecido a um trolha se desse o show de gozo que o Sr. Isaltino Morais dá aos tribunais?

Mas também o que teria acontecido a um pobre vendedor de galinhas se andasse envolvido em escutas telefónicas do tipo das do apito dourado? Mas o que diriam de um pobre taberneiro se para dirigir a falência de uma taberna pedisse 10 ou 20 mil euros por seis meses, no mínimo chamariam o desgraçado de gatuno, mas ao Dr. Cadilhe que por seis meses foi buscar 1o milhões, ou seja, 500 vezes 20 mil euros, dizem Sr. doutor, excelência. Uma vergonha, uma grande e intolerável imoralidade que nós todos, como míseros cidadãos, sem verve, toleramos. Vivemos em Democracia, mas temos o pensamento e a vontade aprisionados pelas grilhetas da inquisição e do fascismo.

E o mais vergonhoso é que estes senhores apropriaram-se da democracia, dos órgãos de poder, da comunicação social, reduziram a liberdade de pensamento a algo sem expressão. Há liberdade de pensar, só que isso não tem efeito, porque os donos da terra portuguesa e dos portugueses não divulgam o pensamento divergente, do que todos os demais gostam, desde que a eles esse direito não seja vedado. Pobres tolos, nunca leram Brecht. Só têm direito a voz os donos ou os seus representantes . O povo só ouve Bragas da Cruz, Sarmentos Rodrigues, Santos Silva, Barretos, Marcelos Rebelos, Pinas Mouras, Polidos Valentes, Vitorinos e outros tais, tudo o mais que venha da cidadania e não seja fazer espectáculo ou berraria não passa nas TV. Foi o que se passou com o lançamento da Nova Esquerda. Uma ignominia, própria do Irão ou da Coreia do Norte.

Mas a democracia está também aprisionada pela imoralidade dos que deixam e permitem que a corrupção seja gigantesca, à beira de provocar uma verdadeira crise social, o que traduzindo a linguagem codificada da sedes quer dizer REVOLTAS POPULARES DENTRO E FORA DO SISTEMA, IMPLOSÃO SOCIAL, mas muitos dos que se dizem democratas denunciam esta situação, todavia deixam correr o marfim e o diabo é se alguém dá o passo em frente para tentar corrigir este estado de coisas, e agem por um imperativo moral, de um momento para outro, estes cidadãos é que passam a ser os verdadeiros criminosos. Os corruptos e os seus cúmplices passam ser os anjos protectores da Democracia e da liberdade.

Sabem que isto é mentira e imoral, porque sabem que é preciso dar um passo diferente para DIGNIFICAR A DEMOCRACIA E O DESNVOLVIMENTO e não deviam atirar pedras a estes nobres cidadãos, deviam apoiá-los, porque querem restituir confiança a 82% dos portugueses que não acreditam nos tribunais, a 75% que não acreditam nos políticos e cerca de 50% que se abstêm limitando a legitimidade da democracia.

A DEMOCRACIA PORTUGUESA CORROÍDA PELA CORRUPÇÃO, PELA DECADÊNCIA DO ESPÍRITO COLECTIVO E PELO PENSAMENTO SEMI-DEMOCRÁTICO ABEIRA-SE DO DESASTRE QUE SERÁ INEXORAVELMNTE PROVOCADO PELO PS/ NEOLIBERAL ou PSD CONSERVADOR.COM, E MAIS GRAVE, NO PS, COM O SILÊNCIO OU A CRÍTICA EM RÉ MENOR DE QUEM DIZ SIM A ESTE AMBIENTE, SIMULANDO QUE DIZ NÃO.

OU A DEMOCRACIA LIBERTA-SE DE QUEM A CONSPURCA, OU IMPLODIRÁ. ( Não é preciso ser Bandarra, nem Nostradamus ).

andrade da silva


PS: O Sr. Presidente da República diz agora que o Ministro Manuel Pinho devia ter respeitado a Assembleia, todavia porque não disse o mesmo ao Presidente do Governo Regional da Madeira, quando declarou que a Assembleia Regional era uma casa de loucos e que não podia receber, por esse atestado do suserano absolutista, O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, ou seja o representante do Regime de concidadãos, Porquê?....

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Arte Combativa e Militante

Guernica- Pablo Picasso


POEMA DO AUTOCARRO

Quantos biliões de homens! Quantos gritos de pânico terror!

Quantos ventres aflitos!
Quantos milhões de litros do movediço amor!
Quantos!
Quantas revoluções na cósmica viagem!
Quantos deuses erguidos! Quantos ídolos de barro!
Quantos!
até eu estar aqui nesta paragem
à espera do autocarro.
E aqui estou, realmente.
Aqui estou encharcado em sangue de inocente,
no sangue dos homens que matei,
no sangue dos impérios que fiz e que desfiz,
no sangue do que sei e que não sei,
no sangue do que quis e que não quis.
Sangue.
Sangue.
Sangue.
Sangue.
Amanhã, talvez nesta paragem de autocarro,
numa hora qualquer, H ou F ou G,
uns homens hão-de vir cheios de medo e sede
e me hão-de fuzilar aqui contra a parede,
e eu nem sequer perguntarei porquê.
Mas...
Não há mas.
Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.
Mas eu só faço o bem, eu só desejo o bem,
o bem universal,
sem distinguir ninguém.
Todos temos culpa, e a nossa culpa é mortal.
Eles virão e eu morrerei sem lhes pedir socorro
e sem lhes perguntar porque maltratam.
Eu sei porque é que morro.
Eles é que não sabem porque matam.
Eles são pedras roladas no caos,
são ecos longínquos num búzio de sons.
Os homens nascem maus.
Nós é que havemos de fazê-los bons.
Procuro um rosto neste pequeno mundo do autocarro,
um rosto onde possa descansar os olhos olhando,
um rosto como um gesto suspenso
que me estivesse esperando.
Mas o rosto não existe. Existem caras,
caras triunfantes de vícios,
soberbamente ignaras
com desvergonhas dissimuladas nos interstícios.
O rosto não existe.
Procura-o.
Não existe.
Procura-o.
Procura-o como a garganta do emparedado
procura o ar;
como os dedos do afogado
buscam a tábua para se agarrar.
Não existe.
Vês aquele par sentado além ao fundo?
Vês?
Alheio a tudo quanto vai pelo mundo,
simboliza o amor.
Podia o céu ruir e a terra abrir-se,
uma chuva de lodo e sangue arrasar tudo
que eles continuariam a sorrir-se.
Não crês no amor?
?
Não ouves?
?
Não crês no amor?
Cala-te, estupor.
Tenho vergonha de existir.
Vergonha de aqui estar simplesmente pensando,
colaborando
sem resistir.
Disso, e do resto.
Vergonha de sorrir para quem detesto,
de responder pois é
quando não é.
Vergonha de me ofenderem,
vergonha de me explorarem,
vergonha de me enganarem,
de me comprarem,
de me venderem.
Homens que nunca vi anseiam por resolver o meu problema concreto.
Oferecem-me automóveis, frigoríficos, aparelhos de televisão.
É só estender a mão
e aceitar o prospecto.
A vida é bela. Eu é que devia ser banido,
expulso da sociedade para que a não prejudique.
Hã?
Ah! Desculpe. Estava distraído.
Um de quinze tostões. Campo de Ourique.


António Gedeão, Máquina de fogo, 1961

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O TEMPO DOS TEMPOS








"A Cabra o Carneiro e o Cevado"

Uma vez
Uma cabra, um carneiro e um cevado
Iam numa carroça todos três,
Caminho do mercado...
Não iam passear, é manifesto;
Mas vamos nós ao resto.
Ia o cevado numa gritaria,
Que a cabra e o carneiro
Não podendo na sua boa fé
Acertar com a causa do berreiro,
Diziam lá consigo:
Que mania!
Cá este nosso amigo
E companheiro
Por força gosta mais de andar a pé!...

o caso é
que o cevado gritou tanto
ou tão pouco
que o carroceiro
perde a cabeça
vai como louco
saca o foeiro
e diz:
homessa !
eu inferneiras tais não as aturo
ouvir berrar há tanto tempo é duro
o senhor não vê que esta em chora
nem ao menos
as lágrimas lhe saltam
o que é tão natural
numa senhora
goelas não lhe faltam
e de ferro
o ponto é que ela as abra
mas é cabra;;
teve outra criação
não dá alguma sem alguma razão
e julga que este cavalheiro é mudo?
tem propósito é sério é sisudo!
às vezes, dá um berro que estremece tudo
mas é só quando é preciso
tem juízo
miolo!
miolo... exclama o outro!
pobre tolo!
ele supõe que o levam à tosquia
e por isso nem pia!
e esta,$pensa que vai de carro ao tarro
vazar a teta
pobre pateta
mas porcos não se ordenham
cevados não se ordenham
nem tosquiam
demais sei eu
demais sei eu
o fim com que se criam
por isso grito e gritarei
do fundo da minha alma
até à morte
aqui d'el-rei aqui d'el-rei
gritava como um homem muita gente
não discorre com tanta discrição
infelizmente
quando o mal é fatal
a lamuria que vale
que vale a prevenção
mais vale ser insensato
que prudente
o insensato
ao menos
menos sente
não vê um palmo adiante do nariz

vê o presente!
está contente!
é mais feliz!!


João de Deus



domingo, 5 de julho de 2009

EU,CIDADÃO-MILITAR,ME APRESENTO (X) - TO ANGOLA 71/72.MUCABA: SER IGUAL A SI PRÓPRIO E DIZER NÃO AOS FALSOS HERÓIS.(3)


O - bolinha vermelha



“Aos verdadeiros e únicos capitães, capitães-generais, que sempre foram iguais a si próprios com consciência e auto-consciência dos seus deveres e da missão, face aos que comandaram e ao País”.

A vida de um comandante nunca foi fácil, já o dizia Afonso de Albuquerque “bem com o Povo, mal com El-Rei, bem com El-Rei, mal com o povo”, na arte de comandar também é bastante assim. Há muitos interesses pessoais em jogo, e tanto mais tudo isto se torna evidente, quando um desses interesses é a própria vida. Quando a vida está sob ameaça muitos dos comportamentos dos homens se tornam irracionais, como Napoleão dizia, e só com o comando de quem comanda se podem evitar verdadeiros desastres.
Na guerra é preciso tomar decisões cruciais em fracções de segundo, sem puder consultar ninguém, e , por vezes de um modo irreversível, porque a reversibilidade pode gerar o caos, o que, nestes casos, geralmente, significa mortes, muitas mortes.

Nesta companhia havia, como já referi, um alferes com um grande ascendente e, que, por isso, estando um outro alferes a comandar, ele sentia-se o segundo, se não mesmo o 1º comandante. Nada mais errado e mesmo impensável comigo, porque se ele quisesse ser o 2º comandante teria de repartir comigo as agruras do comando e não o que julgava puder ser as regalias do cargo, ou seja, “baldar-se” às operações militares por morros, matas e savanas, e, assim logo que ele intentou o 1º golpe tive de reunir os alferes e instrui-los que só a mim competiria dispensar qualquer comandante de pelotão de participar numa operação.
Se essa capacidade fosse sendo descentralizada ao longo da cadeia hierárquica todos teriam o mesmo direito de delegar, acabando as operações por serem feitas pelos guias e carregadores negros que não tinham de facto outros direitos que não os de carregarem as coisas a troco de nadas. Sobre esta matéria ficamos entendidos, mas não sobre todas.

Até uma dada operação não conhecia o comportamento deste alferes que percorria uma zona e depois já no fim das operações costumava avistar algo mais para a frente. Disseram-me depois que para zonas mais complicadas, o que, obrigava a operações inopinadas. Não sabendo disto estava no quartel, quando este alferes disse que tinha avistado inimigos para além dos limites da zona que lhe fora atribuída, assim determinei que mantivesse a pressão e que com o meu pelotão iria substitui-lo, o que fiz na tarde desse mesmo dia.

Na base onde ele estava fizemos a rendição, como já era um pouco tarde, sugeri que ficasse na base temporária e arrancasse para o quartel na manhã do dia seguinte. O alferes não aceitou a sugestão e dali arrancou. Passados alguns minutos começa uma “fogachada” por tudo quanto era sitio, tiros, granadas. De imediato arranco com o meu pelotão e quando chego à zona em que a força supostamente fora emboscada o alferes apontando para um morro diz-me que está a ver “turras” a se mostrarem, facto que achei estranho, até porque não via nada, mas se ele tivesse razão, sendo quase noite, era poderia ser uma armadilha, pelo que decidi não persegui-los e regressar com os 2 pelotões à base.
Chegados à base queria outra vez o Alf. regressar ao quartel. Decidi, então, que só regressaria com os que fossem voluntários e que o meu pelotão não voltaria a sair para protegê-los. Não houve nenhum voluntário, e o desarmado alferes pernoitou nesta base.

Nesta operação apercebi-me que o soldado que andava com o morteireto não o sabia utilizar, e que quem o distribuiu também nunca se preocupou em saber se alguma vez tinha feito fogo. Outro grande perigo eram as granadas atiradas com dilagrama, porque se isso fosse feito com munição real, lá ia o imprudente ou incompetente militar para os anjinhos e os instrutores e comandantes responsáveis por tamanha incompetência talvez chorassem a morte do infeliz. Tive de dar instrução com tiro real de morteiro em Mucaba, porque o pessoal que o transportava nunca tinha feito.
Todavia chegando de manhã ao morro dos incidentes da véspera nada vi, o capim estava intacto e o guia negro batido nestas andanças lá me deu uma justificação plausível. Como estavam perto do lusco –fusco o que o alferes viu foram alguns troncos de árvores queimados que com o ondular do capim parecia gente e os tais brilhos seriam reflexo do próprio capim. Não tendo qualquer rasto dei por boa esta explicação e por finda a busca tendo regressado a quartéis.

Para mim o caso estava encerrado quando o alferes vem pedir-me o resultado da minha acção ao que em linguagem estritamente militar, disse-lhe aos costumes nada, que tudo tinha sido uma ilusão de óptica. Ele que não, que eu é que tinha batido mal a zona, porque tinha sido realmente emboscado e que confirmava que tinha atingido dois supostos “turras” com os dilagramas, e que considerava confirmada a existência destas duas baixas. Disse-lhe que poderia pôr isso no relatório, mas que eu diria o que me parecia e que acima deixei descrito. Até ao fim do meu rápido comando este alferes não fez este relatório, nem nunca mais falou desta operação. Contam que houve muitas coisas do género, não sei, contam-se histórias…

O comandante comanda estava a 200Km da sede do Batalhão muito longe, Mucaba era uma zona de café, bastantes fazendas e muito movimento, por causa dos mercados tradicionais, havia sempre gente nas picadas com riscos acrescidos para a sua segurança e para os militares que comandava. Mesmo nos dias que fornecia escolta, às terças e quintas, dias semanais dos mercados, alguns faziam-se ao caminho antes da hora marcada, a situação era uma verdadeira “balda”, logo, como comandante militar da zona, interditei os itinerários, isto é, nenhuma viatura for dos dias e horas em que dava escolta podia circular naqueles itinerários, e se o fizessem, faziam por sua conta e risco, A minha força militar só iria confirmar os óbitos se houvesse algum azar. Determinado foi, mas não tardou muito que do batalhão me dissessem que estava a exorbitar das minha funções, porque aquela competência era de um superintendente que residia em Carmona. Deixaram de haver itinerários interditos, mas o conteúdo da ordem manteve-se.

Naturalmente que esta limitação não era respeitada por alguns e, assim, num dia que me deslocava ao Batalhão e levava comigo o capelão encontrei uma viatura atascada e dei ordem de sempre andar, sempre a andar, só que o agoirento do sacerdote não me deixava de seringar aos ouvidos, acabei por o escutar e fiz meia volta para ajudá-los a desatascarem a viatura, mas sempre lhes referi que isso deviam ao padre que nunca mais andaria comigo. Compreendi depois que o sacerdote tinha razão, mas a minha decisão tinha a ver sempre com o mesmo, poupar a vida dos soldados e a dos mais gananciosos. Mas depois de cometida a violação da regra de bom senso, só me competia ajudá-los.

Mas na guerra nem tudo são desgraças, ou melhor, há desgraças que nem parecem sê-lo, falo de uma estando numa operação apareceu pela companhia um alferes para ali ser colocado, era um daqueles que já lá andavam há tantos anos, quantos os processos disciplinares que tinha, e eram muitos.. Nesta zona havia um português. um daqueles grandes silvas que fazia negócios da treta com a companhia e de quem todos gostávamos. Era o John Smitch, aldrabão até dizer chega, mas muito simpático. Comi na sua casa o mais picante ( não gosto de picante) e saboroso ensopado de cabrito, os termómetros marcavam 40º, o vinho era o verde gatão, fresco, divino. Não comemos a panela porque era de ferro. Hoje adoro por um processo de condicionamento clássico o vinho gatão, é, será sempre o melhor, nem alvarinos, nem nada, venham ou não da confraria dos modestos a que pertenço.

O nosso alferes lá foi parar a casa do John, e depois colocou-o no jeep, bem como a uma das suas filhas, deram uma volta turística, mas no momento das despedidas o alferes deixa o pai apeado, e foge com a rapariga. É acusado de rapto, já era louco, logo a ordem para, sob prisão, marchar para Carmona, aonde, quando chega já tem outra escolta para o levar para Luanda, com a ordem clara para nem por um minuto parar em Carmona. Era sempre a andar. Estes pobres de Cristo ou eram odiados, ou eram temidos, não sei bem!

Confesso que sentia por eles uma grande ternura, talvez porque… Onde terá ido parar este alferes, talvez já tenho morrido, talvez se tenha suicidado, talvez esteja no Júlio de Matos, talvez tenha gozado com o pessoal à brava, quem sabe? Quem dá notícia deste pobres de cristo, simpáticos? Meus irmãos!
Nesta companhia usei a minha competência disciplinar e quase por ofensa puni um cabo com 10 dias de detenção porque tentou agredir um furriel, quando este lhe deu uma ordem ilegítima para ir levar pão à sua casa, o que o cabo não aceitou e voltou-se contra o sargento. Obviamente que esta ordem era ilegítima, mas o 1ºcabo não podia agredir o seu superior hierárquico, mas também ao fazê-lo ponha em causa a minha filosofia de comando de combater com rigor todos os abusos de autoridade. Tinha ali a oportunidade de praticar o que dizia e ele roubava-me a possibilidade da demonstração, pior que a falta, para mim, foi esta atitude de não ter confiado no que disse. Puniu-o com raiva e expliquei-lhe o porquê, ele compreendeu, mas de tanta raiva esqueci-me de punir o sargento.

Estava a substituir o capitão e artilharia Figueiras, um capitão quase major que depois no seu regresso lá anulou estas punições ,porque no texto constava que o cabo se tinha voltado ao sargento, o que, já não era do foro disciplinar mas criminal e que naqueles termos o homem tinha de ser julgado em tribunal, arriscando-se no mínimo a 2 anos de prisão, e que mais isto e aquilo, e que como comandante interino não podia alterar o modelo de comando. Mas alterei e gostei imenso de o ter feito, valeu bem a seca de mais de duas horas e talvez o facto de não ter ficado na lista dos preferidos do capitão, ao longo de toda a sua vida. Mas sempre o considerei um bom capitão e um bom Homem, embora vaidoso.

Vou deixar esta companhia e vou para o Negage, mas antes de partir gostaria de dizer que os alferes desta companhia eram todos gente de boas famílias, nobres, gostei de conviver com eles, mas muito mais com os sargentos e soldados, e dos sargentos refiro o Frade, bastante competente e que também abraçou o 25 de Abril, enquanto o 1º sargento que respondia pela companhia me fazia alguma pena, porque não se entendia com os papeis, o que me obrigava a despachos pelas 23 horas nas véspera do correio. Papelada que indo escrita a azul, voltava do QG toda vermelha por força das emendas. Este sargento tinha medo, por ser sensato de andar no jeep que eu conduzia mal e sem carta. Todavia julgando que me aborrecia só pediu para sair do jeep numa situação extrema pedindo-me que não levasse a mal. Ele tinha mulher e filhos, dizia. Ficou descansado quando lhe disse que se fosse ele nunca me tinha sentado no lugar do morto. De qualquer modo era amigo deste Homem que por causa do 25 de Abril deixou-me de reconhecer, mas porquê?

Mas ainda gostei de comandar aquela companhia à general Spínola. Sempre que não tinha viaturas, ou equipamento rádio suspendia a actividade operacional, e logo me mandavam o que precisava. Julgo que não notaram que o comandante não era o muito competente e veterano capitão, mas o jovem e pouco competente alferes. Numa das vezes veio entregar as viaturas do PAD (pelotão de apoio directo) do Negage um já muito idoso tenente-coronel fiquei espantado. O nosso ten-cor não estava lá muito habituado às nossas saladas de frutas que o pessoal fazia especialmente para mim, porque sabiam quão guloso era e sou por tal iguaria. O nosso tenente-coronel não resistiu, e durante a noite em vez de ter uma conversa sossegada com o travesseiro visitou com muita frequência o sitio das necessidades que se resolvem de cócoras.

Em Mucaba comandei, senti-me bem, fui muito feliz, adorei esta experiência. Como sempre o mais gratificante foi a camaradagem e a amizade. Também me custou muita cerveja manter todos os dias o jeep do comandante da companhia operacional, mas foi uma boa despesa, pelo prazer de conduzir aquele velho jeep. Que prazer! Também foi um prazer ver o “cagaço” – maldade minha, sem maldade, mas só juventude, 23 anos – do 1º sargento .

De Mucaba partirei para a bateria de arilharia situada no Negage, para fazer trabalho de artilheiro.

asilva

quinta-feira, 2 de julho de 2009

ESTADO DA NAÇÃO. PS 0, PSD -0.com, PORTUGAL LUTA, LUTARÁ...


Na discussão do Estado da Nação revisitaram-se as cenas do costume. O Primeiro-ministro a acusar os governos do PSD de só terem feito truques para camuflarem os défices públicos, o que custa aos portugueses milhares de milhões de euros. Amanhã se o PSD fosse governo diria o mesmo, indo buscar outro qualquer item, sempre a mesma dança de acusações, argumentos e contra-argumentos. Todavia aqui o governo marca um ponto face ao PSD, enquanto o PS organizou as contas públicas, o PSD iludiu a verdade. Fez maquilhagem, governou pior.

O PSD quer o passado, quer aumentar os lucros dos ricos, privatizar o estado, um estado mínimo, enquanto o Sr. Eng. Sócrates fala do Estado Social em palavras, mas todavia agravou os cuidados de saúde da classe média em termos gravosos, antes, onde, o estado cobria 50% da despesa, passou somente a cobrir 25%, agravando as condições de vida e de saúde destes grupos sociais.

Igualmente o Sr. Eng. Sócrates acusa e, bem, o PSD de ser conservador na sua luta contra a lei da interrupção voluntária, ao que se pode associar o preconceito da Sra. Ferreira Leite, em relação à homossexualidade. Em todos os campos sociais , da modernidade do pensamento e dos sentimentos, o PSD é um zero assombroso.

Falou o Sr. Primeiro-ministro da atenção que lhe merece as classes mais desfavorecidas incluindo os mais idosos, todavia muitos estão terrivelmente abandonados. Não há politicas nem para os jovens que acabam os seus cursos e ficam no desemprego, ou arranjam trabalho em situações de sub-emprego, e também ao nível do trabalho, e neste campo o governo socialista aprovou um código de trabalho com medidas que atentam contra as famílias, o que está em contradição com as medidas apregoadas.

As medidas de apoio social anunciadas são medidas casuísticas que o PSD, nem as faria, porque as preocupações sociais não faz parte dos seus programas e intenções, mas todavia os vários programas referidos são no seu todo de menor alcance financeiro, do que o dado a uma só instituição, o BPN, consequentemente, apesar de serem medidas positivas, mas porque anunciadas a 2 meses das próxima eleições, são um acto que não fica bem, parece não respeitar a ética republicana e democrática.

Também temos de denunciar o oportunismo da Sra. Ferreira Leite no seu confronto contra a arrogância, a incompetência e a teimosia do Governo no que concerne à avaliação dos professores. Todavia isto é uma atitude puramente eleitoralista, porque não é só a avaliação dos professores que está errada, mas é sim toda a avaliação de todos os servidores do estado: funcionários públicos, forças segurança e militares. Todas estas avaliações enformam do mesmo erro técnico e cientifico da avaliação dos professores, são inválidas e injustas, então, porque fala a Sra. Ferreira Leite dos professores, depois de ter sido uma péssima Ministra da Educação?

Não pode também o país aceitar e compreender que os grandes investimentos de um momento para a outro, depois de tanta agitação e gastos sejam atirados para o fundo da gaveta com a esfarrapada justificação que as eleições estão à porta e há uma crise. Todavia o que mais ressalta que serviu, para travar estes projectos foram a critica conjugada do Presidente da República e da líder da oposição, o que é um indício da falta de segurança na competência e na prioridade das decisões,

A verdade: um Estado da Nação muito Podre, onde, abundam os truques e o abocanhar de cada vez mais recursos da nação para meia dúzia de usurários, os banqueiros e os grandes grupos económicos. Hoje no seu discurso o Sr. Primeiro Ministro falou muito dos pobres, até de uma justiça para pobres. Todavia os seus quatro anos de governo foram em favor dos grandes capitalistas especuladores, sem que as entidades reguladores quer, e, sobretudo, na banca, quer no sector da distribuição, da energia, das telecomunicações, da água, das seguradoras etc. tivessem intervido com eficácia na defesa dos cidadãos em geral, que todos os dias são surpreendidos com mais taxas, por exemplo na água diz-se que o preço é baixo, contudo sobre o consumo paga-se igual preço em taxas, o que, duplica o preço da água.

Isto não pode continuar deste modo. À anunciação de medidas conjunturais os portugueses preferem politicas justas, honestas e equitativas e para que isto aconteça todos os concidadãos portugueses devem vir para a luta, para todos criarmos uma alternativa, a esta degradante alternância que se continuar, conduzir-nos-à para um fatal e triste desastre.

Andrade da silva



PS: Não foi dignificante o Sr. Primeiro-ministro dar títulos de ignorância, comportamento incorrecto etc. aos deputados. Houve um exercício de comportamento pouco edificante, com o Sr. Primeiro-ministro a distribuir muitos adjectivos mentiroso, desonesto a todos os deputados. Foi um mau serviço à democracia e um comportamento política e socialmente não aceitável que culminou com o comportamento inesperado e inqualificável, mas na sequência desta indignidade comportamental, do Ministro Manuel Pinho.
O ministro Manuel Pinho foi demitido e a agressividade do sr. Primeiro-ministro, passará em branco, talvez não?