quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

DA MADEIRA




BOM ANO 2010 !
BOA PASSAGEM !

FELIZ ANO 2010

Com o abraço amigo e solidário para todos

Marília

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

GENERAL INVERNO VIVO E PRESENTE


Desde há muitos anos que, quando chego à Madeira, vejo com preocupação o afunilamento das Ribeiras e a construção de casas em zonas de risco, em terras que pela sua abundância de água têm nomes como Serra de Água. Todavia diziam-me, os que julgam que sabem destas coisas, que a pluviosidade tinha diminuído, e que os Invernos à antiga já não regressariam. Sempre duvidei destas teorias, exactamente porque sou um ignorante impenitente, enfim…

Mas seja como for este ano, porque tinha de viajar para a Madeira no dia 27 de Dezembro dei cuidada atenção aos sinais do mau tempo, e, assim, verifiquei que no amanhecer do dia 27, o esplendoroso Sol foi sendo, cada vez mais, submerso por densas e cinzentas nuvens que o venceram , já lá vai para meia dúzia de dias.

Tendo embarcado nos muito seguros aviões da TAP, honra a esta grande companhia Nacional – não só os estrangeiros dizem bem das nossas boas coisas, pelo menos, delas falo – atravessei um furacão ao aterrar no Funchal. Foi uma sensação muito estranha, julguei-me a ver um daqueles filmes em que os aviões atravessam um temporal, com o avião a dançar por tudo quanto era sitio, rompendo com os motores na potencia máxima o temporal à procura de terra segura. Pensei como, por segundos, debaixo de um ruído ensurdecedor dos furiosos ventos, toda aquela gente, 200 e tal pessoas, estavam a viver um experiência em comum que poderia ter os seus percalços e, bem perto de mim, viajava uma alta patente militar, um Major- General que viveu esta experiência. Desta feita ambos e todos nos safamos, mas nem sempre é assim, apesar da baixa probabilidade, o fim da história podia ser outro. Como frágil é, ou pode ser, a vida para quem quer que seja, realidade bem conhecida de quem já combateu nas linhas da frente, lá, onde, se morre.

Tudo isto para proclamar a presença viva e vigorosa do general Inverno com as suas divisões de ventos furiosos, chuvas torrenciais, mares revoltos, isto é, vi na Madeira os Invernos assustadores de quando era pequeno. Vi aquelas ondas enormes, aquele uivar fortíssimo dos ventos, aquele fustigar das chuvas que como chicotadas nos beijam a face e molham até aos ossos.
Senhoras e senhores tenham juízo - o general Inverno não está morto.

Lamento os sofrimentos; lamento e condeno os crimes contra a natureza; lamento e condeno que se construam casas em zonas de cheias e de risco de desabamento de terras; lamento a angústia de muitos e o abandono a que as autoridades votam os desprotegidos, porque os pobres e o povo só existem nas vésperas de eleições, fora deste contexto somos invisíveis, não existimos. Só existem os poderosos e os que aparecem todos os dias nas TV, os demais somos considerados um bando. Todavia glorifico a poderosa natureza.

Sinto uma grande sintonia com a natureza, apesar do “sustinho” que apanhei, e de estar retido em casa por causa das chuvadas. Adoro, de facto, esta invencível e insubmissa natureza. Glória à Natureza. Solidariedade para os que sofrem e um alerta aos decisores:

MEUS SENHORES VÓS PRENDEIS, MATAIS, ENGANAIS OS HUMANOS, MAS SOIS IMPOTENTES PERANTE A VIDA CÓSMICA. ABANDONAI A VOSSA ARROGÂNCIA E RESPEITAI A NATUREZA. TENDE JUÍZO OU MORREREMOS: NÓS E VÓS. NÓS PRIMEIRO, MAS VOSSEMECÊS IREIS DEPOIS.

andrade da silva

PS: BOM ANO PARA AMIGAS E AMIGOS QUE NOS ACOMPANHAM NESTA AVENTURA SEM REDE, SEM MECENAS, QUASE CLANDESTINA DE SER SIMPLESMENTE IGUAL A SI MESMO, LIVRE E AMAR UNILATERALMENTE, SEM ESPERAR RECOMPENSA, O OUTRO E A NATUREZA, A ISTO, CHAMAMOS LIBERDADE E CIDADANIA.

Marília não esqueci o desafio sobre a análise psicossocial à violência. O texto está feito, considero-o interessante, se fosse outro a escrever diria
que na minha opinião estava inspirado, mas como no caso da carta da canção, não tenho ninguém por quem o mande, mas virá à luz do dia.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Para uma Passagem de Ano


de Francisco Miguel

Exame de Consciência

Porque tardais
em ser realidades
meus sonhos de ventura para todos?
Porque tanto tardais?

Acaso não merecem
há muito tempo jà
a esperada paz os que sofrem
por si
e por desconhecidos
irmãos e camaradas
-companheiros de lutas incruentas,
de sonhos e desditas...

O seu acumulado sacrifício
ganhou esse direito.

Mas eu?...
Que fiz para lho dar?...
Que palavra, que gesto, que revolta
esqueci ou calei na hora própria
por comodismo, inércia ou cobardia?

Eu fui talvez sem querer, o grão de areia
a emperrar a máquina da história.
Eu
-e tu?...
e quantos mais também!
Tivéssemos nós querido
despertar a vontade adormecida
marchar em frente, unidos,
de cara descoberta,
alma lavada,
em busca dos fraternos ideais...

é tempo ainda. Amigo
Eu vou.
E tu, desperta e vem...

Francisco Miguel

BILHETE



INTEMPÉRIES DE NATAL: “TO BE, OR NOT TO BE….”


Foram governo, Servidores da Causa Pública, os membros do governo que nesta fase dura de intempéries, durante esta quadra tão sensível, estiveram onde deviam estar, ou seja, junto das populações, ou dos órgãos de apoio àquelas a envidarem esforços para atenuar os dramáticos efeitos da fúria dos elementos da natureza.

Foram Servidores da Causa Pública as televisões que estiveram no terreno a pressionarem as instâncias do Estado para darem resposta às populações em necessidade.

Foram Servidores da Causa Pública os bombeiros e a protecção civil que cumpriram o seu dever apoiando as populações com água e outros materiais que lhes faziam falta.

Serviu a Causa Pública um dos Presidentes de uma das câmaras que criticou duramente a EDP, por não ter meios eficazes para fazer frente à situação que a intempérie provocou, todavia seria bom, o Sr. presidente, ver se a sua câmara está apetrechada no que lhe diz respeito, para fazer frente a estas situações. Não vá um dia se provar que as suas palavras foram pedradas para o ar e não ao charco

Não serviu a Causa Pública o Parlamento, não vimos nenhum deputado em Campelo ou noutra qualquer zona, mas porquê? Não tem um o Parlamento uma comissão de acompanhamento de catástrofes? Se não tem, como é que tal omissão é possível na Casa da Democracia?

Também não estiveram nas zonas afectadas os partidos da oposição, mas marcaram uma presença em lugares cómodos e aquecidos, para comentarem o discurso do Sr. primeiro-ministro – uma falta e um contraste muito graves que roçam o escândalo.

Também a EDP e o seu chairman, António Mexia, este, tão presente nas TV para, desde os EUA, anunciar tanta e tão avançada tecnologia para levar as energias limpas a todo o Munido, esteve ausente, e não é capaz de ter planos de emergência para as situações como as de Campelo, tão facilmente resolúveis com o recurso aos pesados geradores de campanha das Forças Armadas e da força policial- Militar da Guarda Nacional Republicana. Mas se são tão magnânimos e sábios, estes gestores públicos, porque se esquecem das coisas da dimensão mais elementar, ou seja, servir bem os utentes?

Outros não estiveram presentes, e acho que não foram Servidores da Causa Pública, mas sobre estes, que sendo Estado estão numa segunda linha, que cada um julgue, por si, as suas ausências. Direi, no entanto, que no tempo de D. Pedro I, este, teria saído à rua, mais que não fosse para uma cantata de apoio, ou um gesto de justiça… enfim, outros tempos.

Mas gostaria, para além, de manifestar a minha opinião, sobre o ser ou não ser Servidor da Causa Pública, dizer que, apesar de toda a consideração que tenho pelos povos bárbaros no contexto das suas épocas, como acontece com os povos Celta e outros, creio que no século XXI deveria haver mais literacia civilizacional, julgando com algum discernimento os actos , as decisões e as omissões de quem nos governa, louvando os bons actos e criticando os negativos.

Na minha opinião, a presença e o esforço do Ministro da Administração Interna para explicar a situação foi positivo, pecou por não ordenar à grande e poderosa GNR que montasse geradores em Campelo, ou se a poderosa GNR não os tem, que os requisitasse às Forças Armadas. A população de Campelo, creio, poderia ter tido luz no Natal, então, porque não a teve, e se nas Forças Armadas ou na GNR não houver essa capacidade, como se pode explicar tal insuficiência?

É indigno o que se passou em Campelo.

Abraço e uma palavra solidária aos que têm sofrido com estas intempéries, e com as que ainda aí virão.

NATAL2009
andrade da silva

sábado, 26 de dezembro de 2009

BOAS FESTAS




PAZ

LUZ

JUSTIÇA

HARMONIA
FRATERNIDADE

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009




Desejos de Natal


Que neste Natal,
eu me possa lembrar dos que vivem em guerra,
e fazer por eles uma prece de Paz.

Que eu me possa lembrar dos que odeiam,
e fazer por eles uma prece de Amor.

Que eu possa perdoar a todos os que me magoaram,
e fazer por eles uma prece de Perdão.

Que eu me lembre dos desesperados,
e faça por eles uma prece de Esperança.

Que eu esqueça as tristezas do ano que termina,
e faça uma prece de Alegria.

Que eu possa acreditar que o mundo ainda pode ser melhor,
e faça por ele uma prece de Fé.

Obrigada Senhor
Por ter alimento,
quando tantos passam o ano com Fome.

Por ter Saúde,
quando tantos sofrem neste momento.

Por ter um Lar,
quando tantos dormem nas Ruas.

Por ser Feliz,
quando tantos choram na Solidão.

Por ter Amor,
quando tantos vivem no Ódio.

Pela minha Paz,
quando tantos vivem no horror da Guerra.

Feliz Natal e um Ano Novo cheio
de Paz e Prosperidade para Todos e para aqueles a quem Amam!

São os votos sinceros do,
Jerónimo Sardinha
Natal/09

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Mulher Natal


Demónio- mulher- que nada!
desde Eva até aos ateus
sempre diabolizada
nos olhos de cada deus
que pela vida passando
apenas sabe de ti
aquilo que a noite aponta
mesmo se o dia sorri
só noite
a sombra é que vence
e nos encalces da história
cada Adão que por si pense
pensa em nome da memória
vê como no passado
mulher em vestes de medo
desfaz o dia sem glória
cultiva o verbo segredo
quando as Evas num grito
ainda lhe falam de amor
ouve ainda estridente apito
como pânico maior
e nunca a palavra é ganha
e nunca Adão se retrata
e Eva desce do tempo
e despe as vestes do nada.



Boas-Festas aos que erguem o olhar rumo à Esperança e ao Futuro


Marilia Gonçalves


BILHETE




Um dia, uma vida, todos os dias são de:

NATAL, em cada dia, nasço
E grito um Hossana de “ Gracias” à vida”;

PAIXÃO, o galo canta e encontra-me apaixonado,
A Lua se levanta, e beijo-a, libidinosamente.
A paixão é a minha vida;

MORTE, ao cair da alva, morro.
Então, dialogo com a morte,
E ela me diz que a vida é finita,
E descubro a vã glória do narcisismo.

RESSURREIÇÃO, quando vos vejo,
Vos oiço, vos amo e a todos os entes da natureza:
O sol, a lua, os ventos, as montanhas, as plantas,
Os mares, as aves, os minerais, os animais
E tudo o mais, e, primordialmente,
A ti grande Mãe-Natureza,
Vigorosa, invencível,
E a ti vida Cósmica,
Eterna e Gloriosa,
Ressuscito,
Segundo uma ou outra forma:
Virtual ou real,
Mas espero que com alguma virtude.

Até um amanhã de NATAL, PAIXÃO, MORTE e RESSURREIÇÃO.
GRACIAS!

Andrade da silva


BOM NATAL, BOAS FESTAS.

ABRAÇO FRATERNO.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

04 - A MEMÓRIA DOS HOMENS * Talvez um poema de Natal





Para além da falácia das leis,
no granito esculpida,
há momentos, na Vida,
em que todos os homens são reis.

Os momentos totais da grandeza
que, gerando destinos a esmo,
dão ao Homem a luz da certeza
da promessa cumprida em si mesmo.

Os momentos dum Gólgota aflito,
sufocado p'las nuvens escuras...
Dimensão, sem tamanho, num grito
a rasgar profundezas e alturas...

É urgente, no tempo perjuro,
situar o Presente
e querer, definitivamente,
prevenir o Futuro.



José-Augusto de Carvalho
In Vivo e desnudo, 1996.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009


Opinião





O palhaço

2009-12-14

O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada.
O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.
O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado.
O palhaço é um mentiroso.
O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas.
O palhaço é absoluto.
O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços.
O palhaço coloca notícias nos jornais.
O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si.
O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço.
O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha.
O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos.
O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas.
O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também.
O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem.
O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres.
O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.
Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.
O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.
E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha.
O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político.
Este é o país do palhaço.
Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.
Ou nós, ou o palhaço.

Gentil deferência de "O Jornal de Notícias"
Jerónimo Sardinha
21Dez09

domingo, 20 de dezembro de 2009


Lágrima



Lágrima vivida,
Sofrida,
Por uma pessoa desaparecida.
Lágrima de despedida.
Alma sofrida
Espera do redentor
Espírito consolador
Despertar do amor.



Filipe Papança


PS: Com as Boas Festas do Filipe, e com os nossos votos de Bom Natal para ele, a sua família e amigos.

Natal de Alguns


É NATAL ?

Soluçam os sinos

de longe em Belém.

Há gritos de dor

do Filho e da Mãe.

Vestida de luto a Paz,

da neve sulca a brancura.

Em cimeiras fantoches

os “senhores” do Mundo

zelam pelos interesses

dos poderes maiores

e a Terra suspira

em triste agonia...

Afundam-se vales.

Aldeias inteiras soçobram

ao peso da poluição!

Ó poder maldito

do metal mais vil!

Ó feras mais feras

voltai para o covil!



20/12/ 09

Ilda Regalado

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

SÓCRATES DE MALAS AVIADAS?


Do modo irrequieto que já conheço no Dr. Villaverde Cabral, de quando foi meu professor de sociologia rural, no ISCTE - onde, a sua hiperactividade me deixava incomodado, e mais quando dizia que a sociologia era uma questão de erudição, a par da defesa que fazia do mérito da campanha do trigo de Salazar, mas teria neste caso razão, o professor ? Julgo que não, julgo que esta sua atitude fazia parte do seu reportório de irrequietismo biológico e psíquico – vem agora anunciar no programa da TVI, em que parlamenta, que o Sr. Eng. Sócrates está de mal aviadas. Recordam Guterres e esquecem Sócrates, coisas…

Julgo que é outra vez o seu irrequietismo que o leva a julgar que o primeiro-ministro está de saída e que nada o preocupa sobre quem possa suceder ao Eng. Sócrates. Mas será mesmo que este grande professor da sociologia não tem motivos para se preocupar com quem possa ser o sucessor do actual primeiro-ministro, mesmo que Sócrates suceda a Sócrates, agora, com maioria absoluta? Mas se não for ele, quem poderá ser?

Este irrequieto professor não está nada preocupado com a actual situação, e parece que a sua única despreocupação resulta do facto dos militares terem deixado de ser árbitros nestes bloqueamentos.

Diz o senhor Doutor que os militares não intervirão, acrescenta, felizmente, claríssimo, como foi ele que fez o 25 de Abril 74, tem carradas de razão e bom senso –um grande português - mas este Doutor não se preocupa mesmo nada que seja a direita e a extrema-direita a arbitrarem a saída para todo este definhamento da democracia e do estado de direito?

Não posso acreditar.

Mas o 1º Ministro está de saída, porquê?

Porque governa em minoria, mas em democracia não é possível governar em minoria, ou será que Portugal é tão corrupto e manhoso, como Salazar julgava e, daí, a ditadura e a PIDE etc.?

Mas será porque as acusações que lhe fazem são verdadeiras, e o Presidente da Republica vai demitir o Primeiro-Ministro, porque, com um primeiro-ministro sob suspeita, não funcionam as instituições, nem a democracia?

Ou são as acusações falsas e, mesmo assim, se vai decapitar o governo, em vez de se perseguirem os violadores da lei, mas se isto acontecer além de se estar a beneficiar o infractor, comete-se um golpe de estado constitucional, ou não ? E, se assim for, como poderá, doravante, se garantir a estabilidade governativa?

Perante tudo isto, considero que só uma pulsão muito juvenil pode levar a olhar a substituição, ou a continuação do actual Primeiro-ministro sem despreocupação, ou não será que tudo isto pode conduzir a um novo tipo de totalitarismo, ou democracia vigiada e musculada, com comissões de regulação ou exame prévio da comunicação social, que, naturalmente, quando difama deve ser perseguida juridicamente, e outras coisas tais? Não estamos a italianizar o país? Parece só faltar uma agressão, pois os tiros para o ar já os houve, e a diabolização do primeiro-ministro cria o ambiente para que o teatro se monte, com um ou outro director.

Todavia e contrariamente ao irrequieto Prof. Cabral preocupa-me o impasse em que vivemos. Na minha opinião neste momento não há nenhuma alternativa mais democrática ao actual estado de coisas e para além dos discursos irrequietos muito pouco se tem feito para dar a resposta adequada ao esgotamento deste governo, como do rotativismo. Andam todos numa roda-viva em torno do velho, sempre do velho, parecemos umas baratas tontas, tão só, baratas tontas, sem criatividade, capacidade de visão e risco, uns desgraçados.

Preocupa-me ainda o facto do Presidente da República não puder ser destituído, o que - numa situação de grande conflituosidade que o leve a usar de mecanismos menos isentos no limite da legalidade, sem nenhum controlo, e sem que nenhuma acção possa ser movida contra a sua actuação - poderia permitir GOLPES DE ESTADO PALACIANOS., e, deste modo, morreria a doente democracia, por quanto tempo?

A única válvula de escape para um colapso destes pode ser a rua, o que, será sempre muito perigoso e com elevado custo. Não será por acaso que a GNR reforça os seus efectivos, melhora equipamentos e valoriza a sua vertente militar, até parece com prejuízo da instituição Militar, o que, historicamente sempre foi um mau prenúncio para a democracia, e sempre que esta enfraquece, o PS também sofre grave prejuízo que pode ser excepcionalmente grave, embora, o neofascismo ainda ache aceitável que se matem comunistas, e considere um crime matar socialistas, mas, em todo o caso, acharão normal prender os socialistas do PS. Coisas…

Naturalmente que o quadro politico é muito preocupante, e quem diz atordoadas que não interessa considerar quem pode ser o primeiro-ministro, desde que o Sr. Eng. Sócrates saia, deve ser por qualquer desconexão sináptica, a precisar de revisão ao nível dos dendrites, ou dos neurotransmissores.

É grave, muito grave que ao irrequietismo intelectual e psicológico dos estádios precoces e primários do desenvolvimento cognitivo, não se sucedam os ciclos de lúcida, produtiva e inquestionável inteligência e moralidade.

De facto o que pode vir a seguir, pode ser excepcionalmente grave. Não queiram dar razão a Salazar. Se ele a tiver, é porque somos um país de infra-homens e manhosos.

SALAZAR NÃO PODE TER RAZÃO. BUSQEM, BUSQUEM TARECOS, - à moda do boneco televisivo de Pinto da Costa, porque o original nunca poderia aqui ser evocado, por razões óbvias - no fundo da arca de 9 séculos de história há de certeza gente de ALMA e de mérito.

Pelo menos vejo no Dr. Marinho um homem que fala a linguagem da gente, impoluto, independente, com coragem e determinação, porque o esquecem?

18 de Dezembro de 2009

andrade da silva

Oportunismos e vampirismo miniaturizado (a)



AMINETU HAIDAR
e o Regresso


Activistas e militantes Humanistas e apoiantes da causa do Povo Saharui travaram as mais renhidas lutas pela libertação de AMINETU HAIDAR
(e logicamente no final aparece Sarkozy como salvador) de causa inevitavelmente ganha pela luta internacional apoiando a coragem de
AMINETU HAIDAR na sua prolongada greve da fome, pelo direito ao reconhecimento da Pátria pela qual o povo do Sahara Occidental se bate há tantos anos a tão alto preço.

Marilia Gonçalves

(a)Gestos que diminuem (neste caso o tal senhor em pontas nem precisava mais)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

os Porquês das Violências


Caríssimo Andrade Silva, Companheiro

Hoje meu amigo, dirijo-me a si, como técnico da saúde mental, como o especialista que é em psicologia, debruçado cada dia sobre o pensar humano e suas dores e deformações.
Por um email recebido sobre dotes artísticos de monstros históricos, ando há dias perplexa, sem encontrar resposta para esta pergunta, o que transforma uma criança inocente num futuro ente nocivo à sociedade e que grau pode atingir essa transformação?
Que frustrações, que humilhações, que caminhos sem saída destroem o que seria um ser humano, na íntegra?
Por dores e traumas todos passamos, uns mais outros menos, e nem todos nos tornamos psicopatas, nem tão pouco, como no caso de alguém com poder para tal, num monstro histórico, como desgraçadamente ainda no século vinte, vimos, vitimar tantos milhões de pessoas. Monstro que não é, por nosso mal exemplo único e que espalham pelo Mundo horror e sofrimento!
Onde e quando se perde um ser humano de si próprio, que razões ou motivos fazem com que um cérebro vacile e caia nesse terrível precipício que é o desamor ou pior, o ódio pelos outros seres da mesma espécie, seus irmãos.
Por que caminhos se destruíram seus sentimentos meninos e a sua sensibilidade, para que um genocídio seja possível, para que haja assassinos em série, para que se assista a jovens e até a crianças a serem capazes do impensável e de hediondos crimes?
Por onde lhes ficaram os sentimentos, ou que limites têm?
No fundo quem somos nós? que sociedade ou que gente nos modela, para que se cale em nós o sorriso ingénuo e inocente, para nos perdermos da capacidade de sonhar, de criar, de amar o Belo, e tornar essa esperança leve poisada sobre um berço, num futuro monstro criminoso?
Que caminho procurar ou reencontrar, que atitudes ter ou que atitudes abandonar para evitar tais males, tanto horror? Quais são nossas fronteiras entre o normal e o que deixa de o ser?
Que novo olhar teremos que poisar sobre a vida, sobre a organização da sociedade, para que possamos viver pacificamente, com nosso olhar humano poisado respeitoso e terno sobre a vida?
Que poluição mental, que carências afectivas e educativas, teremos que combater para que a vida nos não reserve mais dores que aquelas que as leis da Natureza nos impõe!
Como evitar a solidão, como evitar que as crianças cresçam entregues a si mesmas, sem que exemplos de amor e ternura lhes ensinem o caminho do respeito que devem a si próprios e a outrem? Onde descobrir tempo, para o mais necessário, acompanhar desde o berço a formação afectiva e social do pequenino ser humano? Para que todos nós possamos viver numa Paz efectiva que é afinal uma das nossas primeiras necessidades?
Como encontrar ou reencontrar o caminho do Humano?

Marília Gonçalves

PS- a participação e opinião dos leitores do blogue seria importante assim como de todos os que estudiosos se debruçam sobre tais problemas

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

PÁTRIA ETERNA. E OS VAMPIROS?





Não sei se há para aí algum esquizofrénico descompensado, armado em profeta- titanic a dizer que Portugal vai acabar, se há , o pobre diabo, deveria compulsivamente ser internado.

A situação dos países é outra, é a das suas gentes, sobretudo as mais desfavorecidas que morrem de fome e doença nas suas pátrias eternas, enquanto para os czares, os ditadores, os bokassas e os criminosos governantes do Irão, da Somália etc. não há melhores países que os seus. Para os que são massacrados, punidos em público as suas pátrias e o seus Países não existem, são apátridas.

Para mim, a Pátria existe, e considero que ter uma Pátria e ser patriota, bem como defender e garantir segurança às pessoas e defender a ingerência interna para proteger os direitos humanos são valores intrinsecamente de esquerda, que as gentes entendem, sobretudo os que são vilipendiados. Os pseudo intelectuais não o compreendem, também só sabem se auto- venerarem, e imporem à sociedade um prestígio que não têm, porque muitos limitaram-se a seguir um rito formalizado para obterem títulos académicos ou outros, para os quais não têm um mínimo de competência, e, por vezes, mesmo maturidade cognitiva, para além dos casos de iniludível senilidade (não me obriguem a citar nomes e a referir declarações esdrúxulas).

Se a Pátrias existem eternamente, se os países continuam para além das máfias que os governam, é preciso entender que países deixam os vampiros aos vindouros. Ignorar que Hitler não matou a Alemanha, mas matou milhões de judeus seria inaceitável, do mesmo modo que Pinochet não matou o Chile, mas eliminou milhares de chilenos; que Mobutu não pulverizou o Congo, mas espoliou o povo; que Estaline não derrotou a Rússia, mas esmagou milhões de cidadãos; que a Espanha não sucumbiu com Franco, mas que este fez uma guerra civil para se tornar vitorioso; que a Itália existe apesar de Mussolini, mas que por causa dele a Itália andou nas guerras do Eixo; e que Salazar também não derrotou Portugal, mas destruiu muitas famílias e desencadeou uma guerra para manter o seu poder.

Esquecer estas realidades, seria opor à esquizofrenia, a mera retórica. As Pátrias e os países continuam, sejam quais forem as vicissitudes porque passem, logo, o que mais importa é saber que país queremos construir.

É preciso restituir Portugal aos portugueses desempregados. É urgente dar esta Pátria aos jovens que precisam de ter oportunidades para estabelecerem o seu projecto de vida. É imperativo que Portugal não seja só Portugal para os banqueiros, os ricos e os que glorificam Portugal, mas o Portugal deles é a mesa farta, muitos euros no bolso e muitos enganados a dizerem Ámen às suas atordoadas de pompa e circunstância.

Mas para além de dizer que Portugal é eterno, porque, obviamente, o é, importaria dizer como, aqui e agora e em 2012, 2013 Portugal não vai ser como a Suazilândia, a Arábia Saudita, a China, a Rússia etc que apesar de continuarem a serem países eternos, são bem mais Pátria para os algozes do povo. Para este a Pátria é madrasta, campo lento da morte e terra de dores e desespero.

SIM!

Qual será a pátria de um português sem abrigo?

Qual será a Pátria de um português escravizado?

Mas qual será a Pátria de um português desempregado que durante anos e anos não arranja um emprego?

Mas qual será a Pátria de um português que lhe tiram a casa, porque não pôde pagar duas prestações ao banco, ao memo banco que perdoa milhões de euros ao filho do banqueiro?

Mas qual será a Pátria de um pequeno comerciante português afogado em taxas e sobretaxas dos bancos?

Será Portugal? Duvido, será mais a Pátria do desespero, do ódio e da revolta, dificilmente Portugal.

É preciso restituir Portugal aos Portugueses, o que, se recusa a esquizofrenia de qualquer profeta animado pelas profecias Maias de 2012, também não pode adormecer sobre a retórica sonolenta dos que ignorando 2012, 2013, olham somente para a gesta de 9 séculos, como se esta não tivesse conhecido o Domínio Castelhano e os absolutismos de D. Miguel, 200 anos de inquisição, 50 anos de fascismo e trinta e tais anos de democracia manchados pela mais vergonhosa corrupção.

Obviamente que não é preciso mudar nada para Portugal continuar. Não é preciso mesmo mudar nada, porque os 10% de portugueses que detêm toda a riqueza, não querendo ser súbditos espanhóis, tudo farão para continuarem Portugal, mas tornarão cada vez mais portugueses estrangeiros no seu país.

Será este Portugal eterno que interessa manter, sem nada fazer contra os vampiros que são também eternos e sugam o sangue ao povo – alma e vida das Pátrias?

PORTUGAL!

Andrade da Silva

domingo, 13 de dezembro de 2009

04 - A MEMÓRIA DOS HOMENS * O Monte das Águias


Da aldeia de Alambra, o Monte das Águias dista quase uma légua e com um ribeiro cruzando o caminho. É o Ribeiro das Águias, seco no verão, mas um danado nos dias de invernia puxados a chuva.
José das Águias, conhecido nas redondezas por Ti’Zé das Águias, era o único habitante do Monte.
Seguramente, José era o seu nome. Nascera num tempo em que os sobrenomes raramente eram indicados e se sucediam aos nomes próprios, aquando do registo de nascimento. O sobrenome das Águias deveria ter sido tomado de empréstimo ao Monte assim designado, onde nascera e sempre vivera, exceptuados os anos de cumprimento do serviço militar.
José das Águias era um veterano da Grande Guerra de 1914-18. Da Flandres trouxera a memória ensanguentada da violência dos homens e as consequências, não muito graves, dos gases alemães. A sua constante companheira era uma caçadeira «Liegeoise», calibre 16, e o Lampeiro, um fiel cão de caça, sentido deveras, dando sinal de intruso a grande distância.
Lampeiro era um cão feliz. Se era o melhor amigo do dono, também tinha no dono o seu melhor amigo. Tinha vida livre e tratamento privilegiado. Dormia onde queria, sob telhas ou ao relento, conforme decidisse, e comia com o dono, numa tocante partilha igualitária. A sua ocupação era estar atento aos intrusos e parar uma ou outra peça de caça.
Lampeiro raramente ia à aldeia. O dono confiava-lhe a guarda do Monte sempre que se ausentava.
Ti’Zé das Águias ia sempre ao romper do dia. Lá fazia o seu avio, petiscava na venda do Jerónimo e regressava pouco depois, chegando sempre ao Monte antes de anoitecer. Era uma hora e meia de caminho na ida e uma hora e meia de caminho no regresso. Caminhava bem, como bom caçador que era, mas a passada ficara mais lenta, vergado às limitações que a idade trouxera.
Ti’Zé das Águias nunca casara. A sua ocupação fora sempre zelar pelo Monte. E assim continuaria, pois era essa a sua vontade e o interesse do dono do Monte, um doutor que vivia na cidade e ali se deslocava, de vez em quando, quase que só nos tempos da caça.
O mês de Dezembro vinha frio e sem chuva. A nortada assobiava. Ti’Zé das Águias acendia a lareira antes do amanhecer. Aquecia água numa panela de ferro talvez mais velha do que ele. Fazia café, o tradicional café de mistura, que trazia da aldeia. Depois, bebia uma caneca do café ainda bem quente e comia pão e linguiça, habilmente cortados com a navalha.
Sentado a seu lado, Lampeiro sempre petiscava com o dono.
Apenas o tempo chuvoso prejudicava as idas à aldeia. Tio’Zé das Águias não confiava no ribeiro nem na ponte de madeira, tão baixa que, à mais pequena enxurrada, a água lambia o tabuleiro e a estrutura gemia aflita. Lembrava-se que, quando mais novo, várias vezes passara a ponte com o tabuleiro completamente coberto de água. Agora, a velhice aconselhava-lhe a maior prudência.
Já se vivia a quadra do natal. Na aldeia, as mulheres andavam preocupadas com as crianças. Vivia-se, mais uma vez, o período de gastarem o que mal podiam numas roupas para elas, novas ou transformadas. Era a memória do menino que nascera há quase dois mil anos. E era a memória dele que projectava um carinho acrescido sobre as suas crianças.
Ti’Zé das Águias entendia o natal assim: o tempo das crianças. Ouvira falar vagamente da história daquele menino. Em outro tempo, quando tinha de ir à vila tratar de alguns assuntos do Monte, vira a animação na quadra do natal; mas isso fora há muito, ainda o patrão era vivo e a agricultura na herdade era de grande azáfama. Depois da morte do patrão, a situação modificara-se. O menino Luís era doutor e não tinha tempo para olhar pela herdade. Não tinha tempo e nem era homem do campo. Quase só o via pelas rolas, em Agosto; e, depois, quando abria a caça geral, em Outubro. E só aos fins-de-semana.
Naquele fim de tarde e antevéspera de natal, Lampeiro deu sinal. Ti’Zé das Águias veio à porta ver o que se passava. Avistou uma mulher, ainda longe, que caminhava vagarosamente. Esperou que ela se aproximasse, para saber quem era. E ficou surpreendido quando verificou que não a conhecia. Quem seria? E o que quereria dele? E foi ainda a braços com a interrogação que a mulher chegou.
Sem temor, a mulher saudou-o com um boa tarde, senhor!Ti’Zé das Águias correspondeu à saudação e esperou que ela lhe dissesse ao que ia.
Senhor, começou a mulher, não me conhece, mas sou pessoa de bem e venho pedir-lhe agasalho; e enquanto aqui estiver, poderei dar uma ajuda na casa.Ti’Zé das Águias convidou-a a entrar e a aquecer-se na lareira. A mulher agradeceu e entrou. Pousou a um canto a trouxa de roupa que trazia e foi aquecer-se.
Sentados, em silêncio, olhavam o lume. Passados uns largos minutos, Ti’Zé puxou da navalha e arretalhou umas bolotas que a mulher dispôs sob a cinza escaldante.
Assadas as bolotas, comeram com gosto e falaram da Vida e das suas vidas.
Ti’Zé ficou sabendo que a mulher, uma mulher exausta das inclemências da existência e precocemente envelhecida, se chamava Maria do Céu, que era viúva, sem filhos, que andaria pelos sessenta anos, e que decidira abandonar os subúrbios da cidade e regressar para sempre ao Sul, sem nada de seu e sem destino definido.
Lampeiro olhava o lume e achava normal toda a situação.
No dia seguinte, a mulher levantou-se com a aurora e começou a tratar da casa. Quando ti’Zé apareceu, pouco depois, já a panela de ferro chiava na lareira.
Ti’Zé olhou, satisfeito. E disse de si para si: temos mulher!A mulher, ao vê-lo, deu-lhe os bons dias e disse: esta casa está precisando duma barrela ao meu jeito. E, logo à noite, de uma ceia, porque é véspera de natal.
Ti’Zé correspondeu à saudação e sorriu. Depois, sentou-se à lareira e comeu, como habitualmente: uma caneca de café e uma fatia grossa de pão com linguiça. A mulher acompanhou-o na refeição. E Lampeiro teve, pela primeira vez, duas pessoas a repartir com ele comida e carinho.
Lá fora, o dia resplandecia sob o sol nascente e um céu todo azul. Nos álamos, a passarada gorjeava, num hino de amor à vida. As galinhas, sempre madrugadoras, há muito que andavam por ali. Saíam e recolhiam a seu bel-prazer, sem peias.
Ti’Zé das Águias saiu, para ver o dia e inspeccionar todas as redondezas da habitação. A tranquilidade era plena. Apenas a nortada assobiava. Era o nordeste, trazendo de Espanha aquele frio seco.
Desceu uns metros até ao poço. Bem perto, o quinchoso, muito bem tratado. Ali, Ti’Zé tinha as suas verduras, os cheiros e algumas árvores de fruto. Só comprava na aldeia o que a terra não dava.
Regressado a casa, pediu a Maria que o acompanhasse, para lhe indicar o quinchoso, o poço e o galinheiro. Ela seguiu-o, satisfeita. Percebia que encontrara um lar e que a vida lhe sorria.
Cerca do meio-dia, uma açorda de poejos com bacalhau e azeitonas novas foi a refeição. Comeram devagar, entre palavras arrastadas e silêncios prolongados. A mulher falou da infância triste, da adolescência suada nos campos, e do seu homem, com quem se juntara aos 19 anos, da ida, com o seu Tóino, para os subúrbios da cidade grande, do acidente que o vitimou, na construção civil, e da sua decisão de regressar ao Sul, sem eira nem beira, confiando no destino. Ti’Zé das Águias falou do pai, caseiro no Monte, e da mãe, dois mouros de trabalho. Ali nascera e ali ficara como ajuda do pai. Depois, a guerra levara-o. Quando regressou, continuou como ajuda até à morte do pai. A mãe pouco tempo sobreviveu ao companheiro. Ficou, então, sozinho, como caseiro. Ensinou ao menino Luís, o filho do patrão, os segredos e mistérios da vida animal e vegetal, a caçar, as andanças das aves de arribação e outras tantas coisas do campo. O menino foi crescendo e estudando. Saiu doutor e fixou-se na cidade. Depois, aconteceu a morte do patrão e o fim da agricultura. O rendimento da herdade era agora a cortiça, a lenha e as pastagens. Ficara no Monte para olhar por tudo.
Já o dia declinava quando a mulher levantou a mesa e lavou a louça. Depois, foi tratar da ceia para a longa noite de Inverno.
Ti’Zé das Águias saiu para o terreiro. Ali esteve até ao lusco-fusco. O vento amainara e o pôr de sol era uma aguarela incendiada.
Lampeiro dividia o seu tempo entre a casa e o terreiro. Em casa, sentado à lareira; no terreiro, ora andando de um lado para outro, farejando e olhando, ora a ventos, procurando perceber o que se passaria nas redondezas, ora estiraçado ao sol que, baixo, quase nada aquecia
Ti’Zé das Águias, regressando a casa, foi sentar-se à lareira. Lampeiro seguiu-o.
Maria preparava para a ceia um frango de cabidela. Haveria figos secos e nozes à sobremesa. Passariam a meia-noite à lareira.
Um manto de paz descera sobre o Monte. Maria foi olhar o tempo. Voltando para dentro, disse: o céu está todo limpo e cheiinho de estrelas. Teremos uma noite linda.Ti’Zé assentiu com um gesto.
Diligente, Maria tratava de alindar a mesa. Ti’Zé ajeitou o lume, levantou-se e foi lavar as mãos. Depois, sentou-se à mesa, para jantar. Lampeiro, seguindo o dono, sentou-se a seu lado. Maria sentou-se também à mesa e serviu a janta.
Ti’Zé, enquanto comia, elogiou: Ah, Maria, há quantos anos eu não provava uma cabidela assim! Desde a morte da minha mãe, acho eu.Maria, agradecida, respondeu, com um sorriso: Ainda bem que está ao seu gosto, Ti’Zé.
Lampeiro,
sentado entre ambos, olhava, ora para um, ora para outro, seguindo o diálogo.
Puxando do seu velho relógio de algibeira, Ti’Zé exclamou: aqui estamos ceando e as horas correndo. É meu costume deitar-me cedo, mas, hoje, teremos de passar a meia-noite a pé, pois o tal menino dizem ter vindo ao mundo a essa hora.
É verdade
, confirmou Maria. Assim reza a tradição e também lá na cidade assim ouvi. E prosseguiu: Lá na cidade era uma canseira, toda aquela gente de um lado para o outro, comprando roupas e brinquedos para as crianças. Era um grande negócio para as lojas!Ti’Zé, atalhou: Pois, deveria ser. Vi essa canseira na vila. Não seria igual, mas teria as suas parecenças. Aqui, na aldeia, as coisas não são assim. O povo mal ganha para o sustento. E as crianças terão de se sujeitar, coitadinhas!
Tadinhas delas
, lamentou Maria. Dizem que somos todos iguais, mas o natal e tudo o mais está sujeito à força do dinheiro. E também dizem que o menino nasceu pobrezinho para dar o exemplo…
É verdade, também ouvi dizer isso
, confirmou Ti’Zé das Águias, mas, pelos vistos, o exemplo deste menino não medrou. Isto de ser rico e querer ser pobre é uma história muito mal amanhada!Maria, sorrindo, rematou: Se fosse bom ser pobre, não haveria ricos…Ti’Zé das Águias sorriu também e disse: É bom conversar destas coisas da Vida, mas não adianta. A força está nas mãos de quem manda. O povo vai esperando por dias melhores, mas ninguém sabe quando será. Sabe, Maria, quem tem a barriga cheia não se lembra de quem tem fome.Maria confirmou: É verdade e esse ditado diz tudo. Diz-se agora que as coisas vão mal lá para as Africas e que já mandaram soldados para lá. É mais uma desgraça que vem aí!Ti’Zé das Águias sentenciou: Os homens não se entendem. O que um quer, o outro não quer. E o povo é só penar! Sabe uma coisa: se só houvesse dois homens, um seria contrabandista e o outro guarda-fiscal. É assim, não se entendem, não há união.
Eu sempre vi o mundo assim. E vou morrer sem ver mudança. Já não me adianta esperar. Pode ser que os mais novos ainda vejam alguma coisa de melhor. Eu já não tenho idade para lá chegar.
As horas passavam e a meia-noite estava prestes. Passaram da mesa para a lareira. Maria levou um taleiguito de figos e Ti’Zé começou a partir as nozes.
Maria comentou, divertida: Já viu que eu me chamo Maria e vosmicê se chama José? É verdade! Só falta aqui um menino…Ti’Zé recomendou: Juízo, Maria! Dizem que é a Sagrada Família e a gente não é assim.Maria apressou-se a esclarecer: Foi só uma brincadeira, não ofendi ninguém.
Tá visto que não
, reconheceu o velho. E, brincadeira por brincadeira, o seu nome é Maria do Céu e o meu é José das Águias. E as águias voam por essas alturas além…
Contrariamente ao que Ti’Zé poderia supor, a mulher não aderiu ao gracejo. Ficou pensativa e inquieta. Depois, num murmúrio, arriscou: Ti’Zé, até parece que foi o destino que me trouxe a pedir-lhe agasalho e fez com que vosmicê mo desse!...Ti’Zé das Águias olhou-a fixamente. E assim ficaram, olhos nos olhos, como que querendo cada um sondar o que o outro pensava. Parecia que o tempo parara. Até que Maria do Céu, despertando daquele enleio, disse, arrebatada: É isso, Ti’Zé! Foi um milagre! O nosso milagre de natal!
*
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 12 de Dezembro de 2009.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

JÁ ESTÁ A ACONTECER: NUVENS CINZA AVOLUMAM-SE A ORIENTE E A OCIDENTE.




O conflito está a acontecer no país do faz de conta, neste país uns dizem uma coisa, outros, dizem outra, mas o país parece estar a ser conduzido para o caos.

Neste país, não muito grande, relativamente pobre, com poucos milhões de habitantes vive-se num quadro surrealista, muito próximo de outros países de reis, tipo Bokassa, que para alimentarem a sua dezena de mulheres e vinte filhos exploram ao máximo a população que, também nessa longínqua Suazilândia, tudo aceita até o dia que a fome bater à porta da maioria do povo.

Mas no país de ficções que mais me preocupa neste momento, existe uma teia de elfos repartidos por vários clubes que estão por toda a parte, cumprindo os desígnios dos seus clubes-partidos, contrários e inconciliáveis entre si. Neste reino de Elfos, diabinhos, criam-se instituições culturais, sindicais, políticas e outras, mas por todo o lado está instalada a teia, isto é, não é possível ser independente e criativo, tudo morre, e de pé só ficam os eucaliptos e as catatuas, para quê?

O desígnio maior é a indução da convulsão que promova o poder ditatorial. Neste país de que falo, ninguém é capaz de compreender o valor da negociação e o que seja o comportamento democrático. Neste país de elfos maldosos o que importa é o poder pelo poder; a expropriação das riquezas de todos em prol de 10%, e, até, houve em tempos um grande poeta que falou de um esquisito banqueiro, do que outros há 200 anos já falaram, e tiraram-lhes uma fotografia muito negra. Essas figuras pardas nos colocariam o garrote ao pescoço, que um dia esses mesmos banqueiros puxariam e muitos “esticariam o pernil”, ou seriam reduzidos a escravos.

Todavia nesta terra prima afastada, esclareça-se, mas com o mesmo DNA da Suazilândia, à beira de um abismo, uns Elfos dizem que lhes compete governar de um dado modo, outros, dizem que não será bem assim, porque o país não é monocolor, e nem todos pensam do mesmo modo, mas enquanto decorre esta batalha e o país vai a caminho do precipício, outros elfos dizem que há contas ocultas, que muitas coisas se desconhecem da riqueza pública, e que todas estes jogos florais destinam-se a camuflar a realidade, mas o que parece certo é que nesta terra muitos ou todos endoidaram e o desastre pode ser o desfecho inesperado.

Mas talvez não seja assim, porque desde a querida Vénus, o pequeno país tem gozado de protecção Divina, sucessivamente renovada pelos deuses e as senhoras divinas das religiões monoteístas, de Mitra ou de Cristo, ou mesmo de Alá, sei lá! Talvez tudo isto seja teatro de marionetas, mas também no teatro se morre ou simula a morte, porém os campos de batalha também se chamam de Teatros de operações, onde, se morre, e quem parte não vê o dia seguinte nascer.

Mas seria muito bom e justo haver muitos dias seguintes de Sol e inteiros, para os elfos-povo, facto que numa longínqua primavera se sonhou, desejou e desenhou como possível, mas outros têm sido os caminhos, contudo ouso, sei que parvamente, perguntar: porque não se realizam mais os sonhos?

O vento sopra e só transporta poeiras, e, por entre estas, as palavras confundem-se com o cisco que as compõem. Já não há ventos para as trovas.

Enfim, é o fado de uma terra que tanto amo, e que tanto me cansa, já, mas tudo passa, para quem tem uma vida com termo certo e breve. A natureza só aceita contratos a recibos verdes com os plebeus. Também, por aqui, não nos safamos.

ELFOS!

andrade da silva

SOS

SOS SOS SOS

Appel à action d'Amnesty International pour soutenir sept défenseurs sahraouis des droits humains arrêtés au Sahara Occidental



Lutar pelo que é justo torna-nos Seres Humanos e distancia-nos do irracional

Marília

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

SOS



A pátria é nos lugares onde a alma está acorrentada.
Voltaire





COMUNICADO URGENTE DE POETAS DEL MUNDO EN ESPAÑA SOBRE AMINETU HAIDAR

ESPAÑA-Toledo. Poetas del Mundo en España le rogamos a todos los poetas y a toda la gente de buena voluntad que hagan suyo el presente Comunicado y lo reenvíen por todos los medios a su alcance a sus contactos, blogs, Medios de Comunicación para defender la más justa y digna causa que debemos de asumir TODOS, cuantos apoyamos, sin reservas ni fisuras y con absoluta decisión,
LOS DERECHOS HUMANOS.

. E-mail: amnestyis@amnesty.org.
envia:

acreditaciones@mpr.es, montas@un.org,
maciej.popowski@europarl.europa.eu,llmdepuig@senado.es,
coepa.del@parliament.uk, herta.daeubler-gmelin@bundestag.de,
epmadrid@europarl.europa.eu, sonia.dona-perez@diplomatic.gouv.fr,
InfoDesk@ohchr.org, dirk.debacker@consiliu.europa.eu,
eurobarometer@ec.europa.eu, leonor.ribeiro-da-silva@ec.europa.eu,
ofiprensa@psoe.es, atencion@pp.es, cdc@convergencia.cat,
comunicacion@izquierda-unida.es, prensa@upyd.es,
prensa@coalicioncanaria.org, info@nobel.se, comments@nobelprize.org,
juanfernando.lopezaguilar@europarl.europa.eu,
Michael.Denison@fco.gov.uk, Madlin.sadler@fco.gov.uk,
Sarah.Schaefer@fco.gov.uk, Matthew.gould@fco.uk,
hallp@parliament.uk, lisa.glover@fco.gsi.gov.uk, ukrep@fco.gov.uk,
charles.moore@fco.gov.uk, nicolas.sarkozy@elysee.fr,
claude.gueant@elysee.fr, henri.guaino@elysee.fr, cecom@casareal.es


Envoyer un message avec votre nom et votre ID d'email:

todosconaminatou@gmail.com

PLATE-FORME DE SOLIDARITÉ AVEC LE Aminatou Haidar







COMUNICADO URGENTE DE POETAS DEL MUNDO EN ESPAÑA SOBRE AMINETU HAIDAR

POETAS del MUNDO en ESPAÑA, desde la histórica y culta, abierta y universal, digna Ciudad de Toledo, hace un llamamiento a Todos los POETAS del MUNDO y muy en especial a los POETAS en ESPAÑA y a sus hermanos en MARRUECOS para que levanten su voz en defensa de la Vida y de los Derechos Humanos de Aminetu Haidar, pidiéndoles encarecidamente, y con carácter de absoluta urgencia, al Gobierno y al Rey de España, que tengan la honradez y el coraje de hacer lo imposible, para resolver esta dramática situación; y al Gobierno y al Rey de Marruecos, que obren con inteligencia y humanidad, para permitir volver a Aminetu Haidar con sus hijos, su familia y con el Pueblo Saharaui; y vivir dignamente, en paz y en libertad, si es que ambos Gobiernos y respectivos Reyes, de España y de Marruecos, verdaderamente anhelan el respeto de sus poetas y de sus ciudadanos.

Poetas del Mundo en España

En Toledo, a 6 de diciembre de 2009.


Publicación: 10-12-2009

APORTES POÉTICOS:

Atónitos todos...


El atónito ojo contempla sin un parpadeo:
ya no hay lágrimas para tanta ceguera...

Un hombre asemeja a otro hombre
que a otro asemeja, que pasan
se rozan y entre ellos tropiezan;
no se ven, no se oyen, no saben entenderse.

El zig-zag de los pasos traza líneas sin rumbo
cada uno abrazado a su sin par problema,
que es el mismo de todos, el mismo de siempre
y por todos se ignora y nadie lo enseña...

En el cutre salón donde sólo hay “espejos”,
el atónito ojo contempla sin ningún parpadeo
-atónito él, atónito yo, atónitos todos- ...
¡No, ni una lágrima más ante tanta ceguera!

Antônio L. Ros Soler [13284122].
Alrosoler [c] alrosoler@hotmail.com

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

25 DE NOVEMBRO 1975, MAS ONDE ESTAVAM OS NOVE? MEMÓRIAS ESFARRAPADAS, SEM INTERESSE.



Quem viu a reportagem da RTP1 no dia 25 de Novembro 09, se tinha alguma informação sobre este acontecimento, deve ter ficado perplexo, porque até a exibição deste documentário, parecia ter sido aquela sombria acção dirigida pelo “grupo dos nove”, mas afinal parece que foi mais arquitectado pelo, então, tenente coronel( ten-cor) Almeida Bruno que com toda a isenção partidária, como lhe competia e era obrigação dos militares, contactou o CDS, partido democrático, para combater o PCP que, segundo eles, e de acordo com a análise do, então, Sr. tenente- coronel Ramalho Eanes tinha pressa em tomar o poder, depois da eleição para a Constituinte. Eleição que claramente dizia que o país estava voltado, já na altura, para o centrão, o que , cortava a meio o processo revolucionário, e, assim, disto, só se podia sair e chegar ao poder, através de uma revolução que teria como sua vanguarda o PCP e os militares otelistas (?) e gonçalvistas, estes, de certeza.

Com base nestes pressupostos é feito o enquadramento político por Melo Antunes, enquanto, para além dos contactos do Sr. ten-cor Almeida Bruno com o CDS, o Sr. Major Monge fazia com o PS, como se o “grupo dos nove” não tivesse uma ligação umbilical ao PS e outros com PSD.

Com base nesta visão com alguma lógica geopolítica, diga-se, e interpretando que as manifestações e o cerco dos operários à Assembleia Constituinte e outra bagunça eram mesmo a tentativa de tomada do poder pelos comunistas, as forças militares comandadas por aqueles militares para conterem o golpe comunista lançam as suas forças contra as unidades perigosas, em 25 de Novembro 1975.

No mesmo passo, o general Costa Gomes, adverte Álvaro Cunhal que se reagisse lançaria o país num banho de sangue, argumento que deve ter convencido Álvaro Cunhal e, por isso, o PCP regressou a abrigos seguros, também o mesmo deve ter sido dito aos fuzileiros navais e a Otelo que foi para casa, abandonando as forças sob o seu comando. A atitude de abandono das forças sob o seu comando nunca deveria ter tomado, porque se queria evitar sangue, somente cabia-lhe ficar no posto de Comando e ordenar às suas forças que ficassem em quartéis, e, desde logo, ao Regimento de Comandos, à Escola Prática de Cavalaria e ao Regimento de Estremoz, isto é, se ele fosse um comandante não teria havido 25 de Novembro nenhum, de qualquer modo nunca um comandante poderia, em circunstância alguma, abandonar os seus soldados. O acto de abandono das suas tropas é um acto inqualificável, ponto.

Mas aqui voltámos à questão, se o PCP estava a preparar um golpe, o “grupo dos nove”, através dos serviços de informação militar e outros deve ter um exacto conhecimento dos planos, assim penso, porque no 11 de Março a comissão coordenador do MFA sabia com grande pormenor o que ia acontecer, só não sabiam as datas, de resto tinham conhecimento muito perfeito do plano de operações.

Nessa altura, como delegado do MFA da Escola Prática de Artilharia, fui chamado a Lisboa e foi claramente exposto, numa casa semi- acabada, tudo quanto ia acontecer, como o bombardeamento ao Ralis etc, portanto, não entendo, como é que os que iam fazer aquilo que aconteceu, como diz o Sr. General Almeida Bruno de nada soubessem, mas a Comissão Coordenadora do MFA sabia de tudo, foi premonição?

Mas sobre este 11 Março 75, seria bom lembrar que mais um militar referido na reportagem, como estando ao lado das forças democráticas no 25 de Novembro foi o, então, sr. Major Casanova Ferreira que estando no comando da PSP, em 7 de Março 75, ordenou à PSP de Setúbal para que montasse na janela do 1º andar da esquadra uma metralhadora, a fim de fazer fogo sobre a população que cercava a esquadra, apesar desta estar protegida por um cordão de forças militares por mim comandadas, e com a garantia que sob o meu comando ninguém passaria incólume o cordão de segurança.

Acrescente-se que em Setúbal havia um Regimento que mandou uma força comandada por um oficial miliciano, meu antigo colega, como professor, na Escola Superior Politécnica do Exército e, actualmente, professor no ISCAL que logo respirou de alívio com a chegada das forças de Vendas Novas. Mas porquê Vendas Novas e o capitão Andrade da Silva? Coisas do Diabo, não haveria capitães melhores ou tão competentes no regimento de Setúbal?

Acrescento que fui sempre nomeado por ESCOLHA para estas missões, não era nem o mais moderno, nem o mais antigo, portanto, por escala nunca me caberia a sistemática primazia no comando destas acções, mas se era o pior de todos que grande seria a irresponsabilidade desses comandantes que me nomearam e louvaram, mas se estava entre os melhores, ou era mesmo o melhor, então, de que me ACUSARAM?
De ser comunista ou do PCP, porque não deixei MATAR, ASSASSINAR, MASSACRAR POVO e fazer ajustes com os latifundiários? Mas qual a moral destas encenações?

Naquele 7 de Março de 1975, uma vez mais, as forças da Escola Prática de Artilharia, com honra, orgulho, competência e sacrifício cumpriram a sua missão, e, logo, que o aspirante ou alferes Pauleta me falou da metralhadora, a colocar na já referida janela, imediatamente ordenei aos policias que a retirassem, e que se fizessem um só tiro que fosse, todas as armas que tinha para fazer o cordão de defesa seriam voltadas contra eles, e que não ficaria pedra sobre pedra, o que, foi compreendido nos seus exactos termos, sem qualquer dúvida, aliás, nunca houve dúvidas acerca do que com toda a clareza dizia, outro facto, de que os torpes acusadores se esqueceram, porquê?

O cerco durou uma noite e dois dias, ninguém foi molestado, mas infelizmente a evacuação da esquadra fez-se durante a tarde do 2º dia, com excesso de espectáculo, com uma força de chaimites, agora, comandada por um brigadeiro. Durante a madrugada a população regressou aos seus doces lares, e as condições foram as ideais para se fazer a evacuação. Nos termos em que foi feita os polícias foram humilhados, e, isto, seria de todo evitável, porque não foi?


Parece, assim, que estes militares no 11 de Março estavam num golpe contra-revolucionário que dizem desconhecer, mas que a comissão coordenadora do MFA, donde saiu o “grupo dos nove” sabia muito bem, o que é estranho, e mais estranho se torna, quando, agora, se sabe que são estes oficiais contra-revolucionários no 11 de Março que estão no comité do 25 de Novembro lutando pela democracia, ombro a ombro, com o “grupo dos nove” que em 28 de Setembro e no 11 de Março os combateu, como contra-revolucionários, para não dizer fascistas, simplesmente estranho.

Certo, certo ao meu nível é que se fui contactado pela coordenadora do MFA para após o 28 de Setembro controlar o capitão Mira Monteiro, e para no 11 de Março pegar em armas, levantar a EPA para defender a Revolução, no 25 de Novembro em nenhum encontro com os camaradas com quem me reunia ( a esquerda apelidada de gonçalvistas) foi sugerida nenhuma acção militar e, de qualquer modo, nem sequer podem dizer que estes oficiais seriam comunistas e totalitários, o que é um despudor e um acto cobarde.
Sim, porque carga de água é do PCP quem não tinha nenhuma ligação operacional ou de dependência ao PCP, mas são isentos e apartidários os que contactaram e combinaram com o PS, o PSD e o CDS a guerra do 25 de Novembro? Mas também não podem, porque muitos desses oficiais além de hoje estarem, ombro a ombro, com o tal “grupo dos nove”, têm desempenhado altos cargos a nível Governamental nos últimos governos, a não ser que fossem totalitários, mas agora já não sejam, enfim…

Mas onde pára a ética e a verdade disto tudo? E também se a comissão coordenadora do MFA tinha todos os planos da pólvora das forças spinolistas no 11 de Março, também deveria e deve ter as do golpe comunista do 25 de Novembro, porque, então, não as mostram e, já agora, gostaria de saber para que data estava combinado o golpe, e o que caberia à Escola Prática de Artilharia fazer?

Só mais um apontamento parece que quando se diz que alguém é comunista, se quer dizer que é burro que nem um penedo, mas nós não seríamos assim tanto, também se sabia que quem saísse em primeiro lugar perdia, portanto …

Mas ainda mais uma questão, se os tais “golpistas” do 11 de Março não tinham o plano de operações que a comissão coordenadora do MFA conhecia, e se foi desta comissão que saiu o “grupo dos nove”, e que também ninguém sabe quem deu a ordem aos pára-quedistas para ocuparem as bases no 25 de Novembro 75 que páginas tantas, também não sabiam que iam fazer isso, mas fizeram, o que é que isto poderá querer dizer?

Embora não seja especialista em enigmas ou coisas policiais, parece-me que houve a reincarnação de um Richelieu. Será que quem fez as listas dos oficiais a prender no 11de Março, foi o mesmo que se diz que as fez no 25 de Novembro, mais concretamente, qual terá sido o papel histórico no meio disto tudo da CIA, e do, então, major/ ten-cor inquisidor-mor e do MRRP,(?) como geralmente se dizia sobre o Sr. Major Aventino Teixeira , o que tem alguma consistência democrática, porque um dos mais ferozes e aguerridos adversários do PCP era o MRRP, pelo que talvez para a direita fosse muito democrático .

O papel do PS nesta acção é mais dedutível, a nível internacional pela ligação a Carlucci e ao chanceler alemão e a nível interno ao “grupo dos nove”. Évora nas vésperas do 25 de Novembro encheu-se de slogans do PS a proclamarem: PEZARAT AMIGO O POVO ESTÁ CONTIGO.

Claro que não descarto a hipótese que o grande arquitecto das derrotas primeiro dos spinolistas que depois são recuperados para derrotar os Otelistas e os Gonçalvistas, seja uma alma e um inspirador do “grupo dos nove”, tendo ou não como alter-ego comum o do Sr. general Eanes que ao que se dizia seria o major Aventino Teixeira, que, como Deus, por ter muitos cargos, ao que diziam, estava em toda a parte, ou seja, em nenhures, ao não ser nos locais duros da alto conspiração.

Pessoalmente não conheci, este major- cardeal, mas tenho pena, porque ao que dizem era muito inteligente e perverso politicamente, e, só por isso, acho-o capaz de ser um dos Richelieu destes tempos. Ele ou outro, se as coisas se passaram assim, são mentes diabólicas, mas inteligentíssimas. Mas a alma disto tudo pode estar no grupo dos nove, e pode não ter sido a mente brilhante de Melo Antunes? Então quem?

Mas se sabiam que não havia um golpe comunista em marcha, porquê e para quê puniram, estigmatizaram militares que estavam no canal de comando legitimo: Chefe Supremo das Forças Armadas, Chefe do Estado Maior do Exército, Comando Operacional do Continente?

Entre muitos, este era o meu caso, em que o general Fabião a um pedido do brigadeiro Azeredo para ir ajudá-lo a resolver a questão agrícola da Madeira, então, com uma estrutura medieval, não o permitiu, por considerar que a minha presença no Alentejo era uma garantia de não correr sangue. Por aquilo que vivi, julgo que foi mesmo assim, afirmo-o sem qualquer pitada de narcisismo, mas com muita honra e orgulho. A honra e orgulho que os meus pais plebeus me ensinaram, pelo exemplo.

Nem sei se no meu caso terá algo a ver com ser adjacente, lá das ilhas, e de me “armar em esperto”, como o grande Melo Antunes e o Major Morais da Silva me diziam e ameaçavam. Numa dada reunião ameaçaram-me, porque tinha “ a mania de ser esperto, mas que ainda me “lichava”, - Melo Antunes, anos mais tarde, pós 25 de Novembro, numa comemoração do 25 de Abril no Teatro Aberto há-de cumprimentar-me, incitando-me, com a expressão – FORÇA!, mas, então para quê? - quando barafustava contra um dado comportamento sobranceiro da marinha, que muito me irritava, habitualmente pela voz do comandante Victor Crespo ou outro lá iam afirmando que se fossem eles a fazerem as coisas tudo seria mais avançado,, mas na hora da verdade… enfim, era difícil vê-los nas primeiras linhas, coisas….

Enfim, memórias sem interesse. A história não é feita nem destes pormenores, nem por quem quer, mas por quem pode.

Andrade da silva