sexta-feira, 29 de agosto de 2008

OS JOGOS OLÍMPICOS DE PEQUIM


PEQUIM AO PÓDIO

DIREITOS HUMANOS FACHA NEGRA

PORTUGAL (?)


Pretendem alguns que a análise dos jogos olímpicos são na actualidade um dos temas centrais de discussão em Portugal, porque permitem fazer uma radiografia do que somos como país, com o que não discordo.

Parece, no entanto, estranho que só o tenham descoberto após algum fracasso, para outros até mesmo algo mais grave, quase desastre, e nada tenham feito durante a olimpíada, ou seja, durante os últimos 4 anos, para evitar o que veio a acontecer, quanto à suposta desmotivação e falta de perfil de alguns atletas e do Comité Olímpico

Sem esquecer a dimensão interna, estes jogos Olímpicos preocuparam-me e preocupam-me, quanto ao que valeram como referendo internacional do regime ditatorial chinês.

O modelo social e económico chinês não mereceu nenhum destaque critico, até numa revista importante de cariz supostamente democrático, como é a “National Geographic”, no seu número de Agosto, só se fazem elogios rasgados à China, no que é acompanhada, com grande exaltação, pelo “Alentejo Popular”.

Considera-se mesmo no “Alentejo Popular” que o êxito chinês se deve à boa e justa Governança do partido comunista chinês, facto que merece a minha total discordância, pelas sucessivas denúncias que a Amnistia Internacional tem feito da violação dos direitos humanos, particularmente de execuções extra-judiciais, o que, pela credibilidade desta Instituição, não pode ser considerado como uma campanha orquestrada pelo Ocidente, ou seja, o mundo capitalista, contra o regime chinês

De facto quando me debruçava sobre estas preocupações, e analisava estes jogos olímpicos como a legitimação de um regime ditatorial que para fazer a cidade Olímpica deslocou forçadamente mais de um milhão de pessoas e que tudo foi construído com um trabalho sem direitos, fui surpreendido por declarações inaceitáveis de atletas portugueses, e por resultados que pareciam revelar pouco empenho, de tal sorte que, para quem não é especialista nestas áreas, parecia pouco explicável este situação, conquanto no meu caso e no das pessoas de algum senso não fosse expectável nenhuma chuva de medalhas. Não somos um país muito diferente do que éramos há 4, 8 ou 12 anos, com excepção do futebol.

Hoje, já há mais alguns dados, sobretudo a entrevista de Rosa Mota à revista Visão (28 de Agosto) que apesar de bastante gaga permite perceber algumas coisas, desde logo, que a respeitável Rosa Mota quando lhe acenam com um lugar no Comité Olímpico fica gaga.

Para esta iminente atleta estes jogos não foram nem os piores, nem os melhores, o que muito pouco diz. Todavia quando faz a comparação global destes com os de 84, em Los Angeles, nas mesmas modalidades, a vantagem vai para Los Angeles, por uma diferença de 8 pontos ( 26-18).

Aponta como erros mais prováveis o facto de alguns atletas trabalharem mais para a foto do que para o treino, e de que os investimentos nesta representação, como nunca antes foram feitos, podem ter sido mais utilizados na promoção dos dirigentes do que na preparação dos atletas.

Não deixa de ser estranho que esta e outras personagens ao longo de 4 anos não tenham denunciado nada, e agora que o Presidente do comité deve ir embora e com urgência, comecem a falar e a dizerem que é preciso mudar.

Quem conhece alguma coisa da vida destas gentes percebe o oportunismo destas intervenções. As nossas personagens políticas, sociais e desportivas só sabem bater nas pessoas depois de as cegarem, como, aliás, está a acontecer com o ex-poderoso Pinto da Costa, acrescento, no entanto, que não me simpatizo com o actual comité há muitos, muitos anos.

Nestes jogos também não me passou despercebido o facto de Vanessa Fernandes e o próprio Nelson Évora serem pessoas humildes em termos económicos, mas, logo após, a vitória de Nelson, o DN anunciava na sua primeira página que a marca Nelson Évora passava a valer 14 milhões de euros, o que francamente me entristeceu, porque comecei a ver a alma olímpica manchada pela venalidade. Será?

Partilho das preocupações dos que consideram que se deve discutir a natureza do que somos. Todavia é preciso ter a dimensão de quanto é difícil sair do redil da mediocridade.

Se num primeiro momento, por exemplo, a Vanessa Fernandes teve a coragem de dirigir algumas criticas aos que tiveram excesso de exposição na CS, acto de coragem que muitos exaltaram, e bem, depois, só e abandonada, recusada pelo grupo, a atleta, teve de fazer o indecoroso exercício de expiação pública, engolindo, letra a letra, tudo o que tinha dito, para afirmar, finalmente, que todos os atletas fizeram o seu melhor, o que poderá não ser a verdade total, mas também não será a mais acabada mentira (?).

Para além disto há uma questão que me intriga, porque será que os nossos resultados olímpicos na classe dos atletas com alguma deficiência são muito superiores aos dos olímpicos e nos colocam ao nível de outros países de que estamos muito distantes na competição olímpica. Qual o significado humano, social, politico, sanitário e demográfico, ou outro desta situação?

Aos atletas que ganharam e a todos os que fizeram o seu melhor um grande reconhecimento e continuem na senda do amadorismo, a serem grandes nas modalidades desportivas.

Todavia os grandes atletas não podem perder a consciência critica de que o seu esforço poderá ser politicamente usado para defesa de valores contrários à humanidade, como julgo que foi o caso destes jogos em Pequim que apesar do seu fascínio, grandeza e beleza, não podem fazer esquecer que a grandiosidade chinesa, a do seu grande povo, está manchada por sangue, por trabalho sem direitos no contexto de uma sociedade injusta, dicotómica, cidade-campo, com centenas de milhar de magnatas e milhões de miseráveis que pelo valor do patriotismo, ensinado por Confúcio, põem o país acima de tudo: TUDO PELA GRANDE CHINA, NADA CONTRA A CHINA.

Nós, os portugueses, temos uma longa e dolorosa experiência de décadas, sob uma idêntica filosofia, com os resultados que conhecemos, conquanto na China a mesma filosofia seja a base de um elevado crescimento económico. Todavia nenhum crescimento pode ser aceitável, se for feito com desrespeito pela dignidade humana de cada e de todos os homens.

andrade da silva 27 agosto 08

4 comentários:

Ana Daya disse...

Li muito rapidamente este teu artigo. Deixo-te tb rapidamente umas palavrinhas.

Tambem concordo que os Jogos Olimpicos nos permitem definir como sao os portugueses e como esta o pais.

Dantes havia uma humildade “subserviente” de que so por conseguir estar nos Jogos Olimpicos era uma honra (e ate eh). Mesmo que os resultados finais nao fossem os desejados, aceitava-se que somos uns coitadinhos, mas conseguimos pelo menos estar la.

Ora como o nivel de exigencia aumentou, e apesar de conseguirmos la estar, a corrida ao ouro prova que passou a ser um objectivo extremamente imporante para o mundo (as medalhas nao podem ir so pros amerianos e chineses), e comecaram os problemas que envolvem e pressionam todas estas activiades que requerem MUITO esforco, determinacao, concentracao, perfeicao, etc.

Nao acho que o “alentejo popular” tenha aderido completamente ao evento. Entre tantas manifestacoes e polemicas, houve ainda um boicote on line que muitos “ alentajanos populares” subscreveram… mas sabes o resultado final destas coisas.

Vi uma reportagem na CNN sobre os atletas chineses e de como comecavam a treinar criancas com 4 anos, ja para altas competicoes, como por exemplo estes jogos. Deparei-me com comentarios que considero tao patetas e cheios de ignorancia por parte dos seus pais – muito orgulhosos!

Perguntaram-lhe ainda se os seus filhos gostavam do esforco que estavam a ser obrigados a ter. Obviamente que os pais responderam que nao, que choravam muito por vezes ate com dores, e que por enquanto nao gostavam. Mas a honra de servir o pais mais tarde era maior.

Para quem concorda com este tipo de disciplina rigida, e quem quer passar as suas expectativas para os seus filhos, esta eh a pocao magica e a oportunidade para o fazer.

Questiono-te isto: e nao poder ser crianca, que resultados desastrosos tera? Sabes melhor responder a isto!

Sinceramente, e nao eh por falta de ambicao, mas os “ouros” nao sao o mais importante da vida.

NO entanto, parece-me que se consegue “ouro” com determinacao, perseveranca, com objectivos definidos a seguir com criterio e medida… Nem oito nem 80…

Nesta area e em todas as outras da vida, que tipo de esforco fazemos nos portugueses?
Nao estamos a aprender a gostar de resultadoa rapidos com pouco esforco, tipo micro ondas? Aqui esta entao o resultado!

Ana Rute

andrade da silva disse...

Cara Ana

Julgo que a China para além da beleza das pessoas,da sensibilidade da sua arte e das cores vermelho, cor de ouro e toda aquela festa de cores, de que tanto gosto, tem uma politica desumana em todos os sectores, desde o controle forçado da natalidade aos métodos brutais de tornarem as crianças atletas, mas os chineses regem-se por principios de Confúcio que são pouco compreensíveis para um ocidental livre pensador, e que podem ser muito aproveitados fora do seu contexto natural por ditadores, aliás, algo idêntico se passa na India com o hinduismo.

Gostaria de dizer que o Presidente do Comité olímpico deveria ter defendido mais os atletas,sobretudo o que foi punido por aquilo que disse e que foi um gracejo, aliás a avaliação deve ser feita por aquilo que fizeram como atletas e não por aquilo que disseram.

Creio que o primeiro e mais importante acto é demitir este presidente e este comité olimpico.

É pena que os nossos leitores não tragam a esta abordagem algum dado sobretudo quanto aos jogos olimpicos de deficientes, cujo êxito refere um meu amigo que se deve ao facto de nestes estarmos em igualdade de circunstâncias com os demais ,serão todos amadores e não há diferenças sensíveis ao nível dos vários estados no que se refere aos investimentos, isto é, não haverá tanto negócio. Será?....

abraço
asilva

Ana Daya disse...

Eh verdade, alguns paises da asia regem-se pelas regras de Confucio. Nao so cada pessoa, mas mesmo os governos promovem as os valores “confucianos”.

Isto tudo porque o Sr. Confucio eh tao complexo, que envolve todas as areas da sociedade (social, moral, filosofica e ate uma especia de religioso). Ele esta muito voltado para a moralidade humana, certo?

Curioso que no seu tempo, as suas ideias nao foram assim tao bem aceites, e agora sao leis…
O fulano preocupava-se com o desenvolvimento individual de cada um…
Aquela frase q tds dizem mas nem tds sabem de onde vem - “O que nao desejas pra ti, nao facas aos outros” era uma regra de ouro de Confucio.

Isto pra mim eh uma contradicao muito grande. Cm eh habitual, eles aplicam o que lhes convem cm em qq outro governo cm neste caso o da China, cm referiste, ha ditadores q aproveitam fora do seu contexto natural.

Concordo mais uma vez contigo qd disseste que os atletas devem ser julgados pela sua prestacao como atletas e nao pelo que disseram. A Rosa Mota agora no final ja dizia que os atletas nao foram preparados para falar com a comunicacao social, o que eh verdade! A comunicacao social aproveitou-se, afinal vivem disso e muitos dels nao tem escrupulos e ate distorcem as coisas para a noticia chocar melhor aos olhos do “alentejo popular” (gostei desta!)

Ohhh claro que os para-olimpicos nao tem tanta publicidade por todos os motivos, incluindo em especial o da falta de humanidade e pior que tudo por ignorancia (menos negocio cm afirmaste eh um deles)! A maior parte das pessoas so se apercebe desse tipo de dificuldades quando o azar lhes bate a porta, e a vida muda radicalmente.

Ontem na RTPi passou um programa sobre “vencedores” portugueses (eu chamo-os assim) que depois de acidentes e terem ficado paraplegicos ou tetraplegicos decidiram lutar por continuar a serem iguais e terem uma vida “normal”… Imediatamente pensei que se calhar eu agiria diferente, nao dando hoje o devido valor ao que eh ter 2 bracos e 2 pernas e ser independente!

Enfim…
Olha-me esta do Confucio: "Una casa será fuerte e indestructible cuando esté sostenida por estas cuatro columnas: padre valiente, madre prudente, hijo obediente, hermano complaciente."
Na China, quem eh o pai, a mae, e os filhos?
E em Portugal?

AnaRute

andrade da silva disse...

ANa

Confúcio deve ser lido com uma atitude critica adequada.

Quanto aos jogos paralimpicos dizem alguns dos meus amigos que neste jogos somos mais iguais aos outros em termos do amadorismo e dos investimentos publicos e concluem que quando as circunstãncias nacionais são idênticas aos dos outros ressalvada a nossa dimensão demografica cumprimos bem o papel que nos compete.

É uma leitura interessante, que explicaria muita coisa, mas pessoalmente não estou em condições para advogar, de um modo fundamentado, qualquer opinião, para além do grande carinho e reconhecimento por estes atletas por serem , como dizes e bem vencedores.

Outros talvez pudessem dizer ummnpouco mais.

andrade da silva