( à Teresa Pilar, Ana Rute, Maria José e
Jerónimo Sardinha)
Como é sabido, não sou um escritor e muito menos um crítico de arte, mas, como cidadão, respiro o belo, venero a paixão e, tudo isto, encontrei em Gaudí de Barcelona, ou na Barcelona de Gaudí. Ao nível da minha dimensão crítica há uma indelével identidade entre ambos.
Gaudí nasceu na Catalunha, no século XIX, no momento do nascimento da Revolução Industrial que lhe ofereceu todas as novas possibilidades tecnológicas, mas também todos os seus dramas, como o dos camponeses expulsos das terras e atirados para os excedentes de uma mão-de-obra desqualificada, vivendo na miséria, mas aproveitável para algumas das actividades emergentes.
Algo semelhante acontece nos dias de hoje, só que os desempregados destes tempos, no âmbito da revolução informática, necessariamente vão aumentar os exércitos de desempregados, irreversivelmente. No actual modelo social e económico não há volta a dar a este triste texto. Só em África ou na China haverá emprego para estes exércitos de abandonados.
Gaudí encontrou em Guell, um burguês endinheirado, um aliado para a sua perspectiva urbanística revolucionária, a da criação de uma cidade-jardim para a burguesia. A ideia não seduziu os destinatários, mas algo se construiu, desta convergência nasceu o lindo parque Guell, onde, a arte e a natureza se encontram de um modo harmonioso.
Em 1923 um filho de Guell cede o Parque à câmara de Barcelona, pelo que hoje todos podemos desfrutar desta rara beleza. Bem-haja este e todos os grandes mecenas, que face ao desinteresse dos poderes públicos pela cultura do Belo e defesa da Natureza fazem um grande bem aos seus concidadãos.
Gaudí reconhecido internacionalmente como um mestre das artes, não precisaria desta referência humilde de um viajante e um visitador, mas, como simples cidadão, não poderia deixar de manifestar o meu encantamento por este grande Homem, não só pelas obras que fez, pela sua descoberta da natureza, das cores (sou madeirense) e das formas estranhas e belas. Pelo quanto vivo a luz e as cores teria uma veneração especial por Gaudí, mas ainda a tudo isto, que já é tudo, se junta o mais, do mais, no homem, a PAIXÃO.
Na minha veneração à paixão de Gaudí quero englobar todas as paixões das mulheres e dos homens de todo o mundo. Neste universo de belo imenso, infinito, menciono de um modo particular e sentido, a Teresa Pilar – arquitecta e mulher bondosa – a Ana Rute e a Maria José, heroínas do quotidiano, pela sua doação, de alma e coração, às suas causas e ainda este endiabrado homem Jerónimo Sardinha, a quem a paixão leva tão longe, sem qualquer cansaço.
Gaudí, como todos os apaixonados, dedicou-se à sua grande obra com amor infinito, e, assim ,durante 40 anos construiu a Igreja da Sagrada Família, a sua obra prima que nunca abandonou, como se de uma amante se tratasse, com ela partilhou cama e tecto, vivendo nos estaleiros da Igreja, onde, também foi professor.
Um eléctrico havia de ceifá-lo desta vida, mas continua vivo.
Julgo que ao nível das sensibilidades e desta grande fonte de inspiração que foi para Gaudí a natureza, Barcelona, é bem uma Barcelona de Gaudí, não só pela imensa presença das suas obras por toda a cidade: casa Vicens, Palácio Guell, Palácio Episcopal, parque Guell, com aqueles fantásticos lagartos, a inimaginável casa do guarda e o templo Dórico, a casa Milá e a obra que é a marca de água de todo o grande valor deste Homem –A Igreja da Sagrada Família – que faz a síntese das crenças profundas deste grande arquitecto e da sua paixão pela natureza, mas também porque, por toda a cidade, outras obras e fachadas de prédios reconduzem-nos à criatividade gaudiana.
Creio que a bondade e a beleza têm uma influência imensa na vida futura dos povos. Talvez, sem este apaixonado pela natureza, Barcelona não se tivesse preocupado tanto com a defesa do ambiente, como actualmente acontece e, nisto, quero ver a alma do fascínio deste homem pelo Belo, a Arte, a Terra-mãe.
Todos beneficiamos da genialidade, mas sobretudo da bondade das mulheres e dos homens que se dedicam a cultivar aquilo que os transcende, como, entre outras e outros, as e os amigos que referi, a quem poderia juntar todas as boas amigas que conheço que pela sua beleza e generosidade, bem mereciam uma imaginação e um criador que as imortalizasse numa obra eterna.
Humildemente, sem verbo adequado e sem inspiração à altura do homem que canto, deixo aqui a minha homenagem a todos os grandes criadores de todos os tempos, aos que esquecidos morrem por aí, mesmo à beira de nós, sem que os vejamos e ainda aos artistas do Futuro. Bem- aventurados sejais. Obrigado por serdes quem sois.
andrade da silva
4 comentários:
Amigo Caríssimo, João :)
Que Maravilha de Hino ao Grande Mestre Gaudi, que nobreza a tua em te lembrares de um PoetaEscultorArquitecto indivisível nas suas infinitas Artes de Criar para o Mundo.
A transcendência da Obra de Gaudí é de tal forma poderosa que caí de joelhos perante a sua Obra "Sagrada Família" aos meus 26 anos, ao vislumbrá-la diante de mim pelas 11h da noite quando cheguei a Barcelona.
A Emoção perante o indiscritível de uma Catedral inacabada, que ele dizia ia durar 100 anos a construir...
Dizes bem, Gaudí continua vivo...Um Espírito Iluminado não morre e a presença de Gaudi sente-se em cada Obra sua em Barcelona.
Visitei-as quase todas, tendo trazido algumas centenas de slides.
É uma experiência inesquecível sentir Gaudi a trabalhar as formas, quando se pensa que a Arquitectura é uma Escultura para habitar.
Só mesmo a presença de outros Espíritos Iluminados como os Mecenas que nele acreditaram, puderam deixar incalculável legado à Humanidade.
Que Alegria imensa podermos ser elevados pela Beleza e Criatividade de todos aqueles que têm as ideias e daqueles que as concretizam.
Humildemente te agradeço teres-te lembrado de mim num texto, onde só Gaudí deveria ser mencionado.
É o meu Mestre dos tempos de Faculdade. Os tempos onde se pode realmente ser Arquitecta(o).
Depois, só com a força de um Mecenas se fazem Obras, como por exemplo a Maravilhosa Quinta da Regaleira.
Uma vida longa é oferecida a todos os que Amam o Belo e dele fazem o seu alimento.
Bem Hajas pela tua sensibilidade João:)) Vais ultrapassar os 100 anos, já sabes,porque amas o Belo, aguenta-te:)))))
Abraço do tamanho do Mundo,
Tereza Del Pilar.
00.36h
20 Setembro 2008"
Teresa
Para ler e sentir o pulsar da tua alma e do teu coração neste pequeno texto de homenagem a Gaudí, mas também a ti, valeu bem escrevê-lo.
Julgo que Gaudí gostará da vossa companhia, creio que ficará feliz e honrado. Ele era um homem bom, e a melhor honra que se pode fazer a um homem bom é asssociar à sua obra e nome, pessoas generosas e apaixonadas, e neste caso ainda mais, porque, sem saber, falei do teu mestre, e tu rende-lhes uma grande homenagem. Gaudí ficará feliz por saber que ainda o tens como mestre.
Quanto às palavras que me diriges, são de facto e sinceramente bem maiores que eu. Obrigado.
joão
Benvindo!!!
Uma semana tao agitada internacionalmente, e tu noutra galactica distante... a alimentar a alma!
Sem duvida que as pessoas que apreciam arte (e nao eh preciso ser critico de arte) sao pessoas que apreciam o belo em toda a sua dimensao.
Gaudi nao foi excepcao. Ha um dito dele “ The closed curve is the sense of limitation as the tangent is the expression of infinity.” que na sua simplicidade de palavras diz tudo!
Tudo o que eleva o espirito, tudo o que causa admiracao e agrado, tudo o que eh generoso, tudo o que eh perfeito, tudo o que grada ao olhar, tudo o que desperta os sentidos… tudo isto eh o belo!
Saint-Exuperry tb disse que o belo eh invisivel para os olhos… Sera??
A paixao nao pode estar afastada do belo, sem duvida, ou nao seja a paixao um sentimento excessivo, um excesso de entusiamo. Mas paixao tem a ver tb com sofrimento, e eh isto que acontece aos apaixonados, embora corram por gosto como Gaudi correu!
Gaudi alem de ser um apaixonado pela natureza como constataste, foi tb um arquitecto que ja nessa altura apoiava a reciclagem. Em alguns dos seus trabalhos usou ja nessa altura, imagina, pedacos de vidro de pratos partidos que pediu a uma fabrica de ceramica. Um outro trabalho dele eh muito famoso por ter usado vidros de garrafa de champagne (para alguns deve ter sido considerado um doido para a altura!).
Que bom que os teus olhos deslumbraram coisas belas!
Obrigada pela dedicatoria, e pelo texto cheio de encanto!
AnaRute
ANA
Tudo é mudança, já o dizia o nosso Camões e afirma-o Neale Walsch, num livro extraordinário o DEUS DE Amanhã, onde, refere, por exemplo, a constante mudança da estrutura das pedras que nos parecem tão estáveis.
Li este magnífico livro sobre a saúde das nossas almas e do ambiente em 2004, logo produzi um texto sobre o estado de saúde da Terra que distribui no meu serviço e junto dos meus alunos universitários, gente adulta e formada. Com tristeza verifiquei que deram muita pouca atenção, mais tarde espantei-me como o marketing resolve todas as coisas, pois pouco tempo depois vem Gore dizer as mesmas coisas, todo o mundo dá atenção. Gore fica rico e deve neste momento ter uma peugada ecológica altamente poluidora. É neste mundo que vivemos.
Tudo isto significa mudança com esperança, mas muita dor, da minha parte sinto-me e sei que faço parte do número de homens ridículos e idiotas que continuam a lutar pelo inelutável pelo belo e pela paz.
O Mundo, a maioria das pessoas preferem a destruição, a hipocrisia e a morte, desde que não as chateiem. É evidente que o meu desejo maior é deixar de ser idiota e sonhador e integrar-me no rebanho sendo picado em silêncio, a caminho das novas e sofisticadas câmaras de gás da alma, mas porque ainda há belo e gente digna contínuo, CONTINUAMOS
Sim! Adoro o Mundo, a beleza, a generosidade humana e de facto penso que a essência do Homem é a bondade, a maldade é um acidente, sobretudo criado e alimentado pelos poderosos para infectar os desgraçados, tornando feio o que podia ser belo, como viu e retratou o mundo Gaudí, para o que teve de viver de e para a sua paixão, paixão única, como tão bem Camões cantou.
Obrigado pelas tuas citações que são sempre interessantes e muitos úteis. Bom fim-de-semana, quando a essas arábias ele chegar.
asilva
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