sexta-feira, 7 de novembro de 2008

GRANDE DOR. CHORO. GUSMÃO NOGUEIRA UM LEAL COMPANHEIRO JÁ NÃO ESTÁ ENTRE NÓS.




Não sei viver de outro modo , a não ser com imensa dor, a morte de um ente querido ou de um amigo do coração. Cedo, como já aqui contei, convivi com a morte, a do meu pai, e o que sei dela é a dor e a grande saudade, nada mais sei, e antes da minha morte mais nada vou saber e, assim, continuarei a sofrer com imensa dor a morte dos homens bons, companheiros leais e camaradas que vão caindo.

Não sei quando morreu Gusmão Nogueira, tomei conhecimento hoje ao ler O Referencial que já não está connosco. Foi pena não termos sido todos convocados para dizer o último adeus a este camarada.

Choro a sua morte, não sei conviver com esta realidade de outro modo, como chorei a de Fabião, Vasco Gonçalves e Salgueiro Maia, porque eles representam o Abril que reconheço. Para mim a pureza do 25 de Abril está no próprio e único 25 de Abril que existiu e nunca traiu o povo, tudo o mais que se ousou chamar de confirmação do 25 de Abril, não sei o que seja, de 25 de Abril.

Mas para além do capitão de Abril, o Gusmão Nogueira, representava genuinamente o que de mais honroso e digno há no homem, a fraternidade, a solidariedade, a amizade, a bondade.

O Gusmão Nogueira foi o meu advogado gracioso nas disputas jurídicas que tive de travar preterição, após preterição nas minhas promoções, por ter-se provado em autos parciais que o meu comportamento no processo do 25 de Abril denotava exuberância, fanatismo ideológico e irresponsabilidade, esta, tão grave que me levou a pedir escusa dos generais que me julgaram a partir de 1977, que eram somente os mais antigos generais do Exército, e que, obviamente, confirmaram a minha má índole de dizer o que penso, e defender os interesses daqueles que dizemos ser e, até são, os mais desfavorecidos.

Gusmão Nogueira acompanhou-me até ao Supremo tribunal de Justiça, mas também aí se os generais diziam mata-se, eles diziam esfola-se, porque aquela má índole era matricial, logo incurável e, assim, face à falta de recursos financeiros tive de sair do campo de batalha, pelo que venceram, algumas vezes, os generais.

Para além de camarada Gusmão Nogueira era um homem bom, generoso, genuíno, discreto que não se fazia notar por nenhum malabarismo de oportunismo, bluf e ou jogo. Era honesto e fraterno, embora não goste muito do termo pelas sua conotações era, de facto, um puro, alguém de quem se gostava muito.

Para mim Gusmão Nogueira, pela sua amizade, sinceridade, humildade, numa feira de presunção e petulância de cravos tingidos rapidamente de vermelho, para taparem as outras camadas, como tantas vezes acontece nos jantares do 25 de Abril, era a companhia e a da sua mulher que escolhia para jantar nesta data, porque com eles estava com o 25 de Abril.

Há 2 anos não sei se o Gusmão esteve no jantar, nesse ano não fiquei na sua mesa, fui para a de uma grande mulher a Lay, esposa de um capitão Abril desencantado, o Ferreira de Sousa, e do irmão de um outro capitão precocemente desaparecido, o Miranda, na companhia destes sinto que Abril ainda respira, com outros nem tanto.

Gusmão Nogueira ficará durante toda a minha vida no lugar onde guardamos os grandes amigos, no coração e no espírito. Sobre esta pequena homenagem, esta dor dolorosa, pela tua partida deixo cair uma sentida lágrima de saudade, amizade, mas também de um muito obrigado por teres sido quem fostes. Nesta lágrima vai também a desilusão que sinto por não termos sido convocados para te dizermos um até sempre.

GUSMÃO NOGUEIRA, CARO CAMARADA E LEAL COMPANHEIRO, ATÉ SEMPRE. A TUA BONDADE E OS TEUS ACTOS GENEROSOS SÃO ETERNOS.


Andrade da silva 7 Novembro
08

3 comentários:

Jerónimo Sardinha disse...

Caro Andrade da Silva,

Que bela expressão da tua alma sofrida.
O momento e a razão que provocaram esse sentimento, escapam-me.
Sou solidário contigo.
Não poderei dizer mais, pois não conheci o ilustre CAPITÃO DE ABRIL.
Sou mais solidário ainda, porque é mais um que desaparece, sem ver cumprido o "o seu e nosso ideal".
Consola-te, sabendo que se juntou a outros idealistas e ilustres, como ele. E como TU.

Fraterno Abraço,
Jerónimo Sardinha

José-Augusto de Carvalho disse...

Bom dia, prezado Andrade da Silva!
Nestes momentos de dor, as palavras perturbam o silêncio do recolhimento.
Consigo no desgosto, o calor fraterno do meu abraço.
José-Augusto

8 de Novembro de 2008 12:00

andrade da silva disse...

Caros Amigos

Obrigado pelo Gusmão Nogueira ele teria gostado muito de vos ter conhecido e vocês a ele.

Obrigado aos que falaram por e-mail do Gusmão, um grande e leal companheiro.

Para que nunca seja tarde, vamos ouvir o convite da ANA e falemos amanhã dia dos nossos amigos e pessoas amadas a todos eles, o blogue vai ajudar-vos nessa tarefa.
Até amanhã companheiros.
abraços
asilva