Sagres: Navegar é preciso...
Naquele dia, fui saudar o promontório.
Um dia que tardou na minha sede antiga.
Levei-lhe, no ondular dolente duma espiga,
anseios deste pão salgado e merencório.
No longe que entrevi, sem barcos e vazio,
numa apagada e vil tristeza que Camões
fixou num estertor de angústia, morte e frio,
apenas um sem fim rendido de aflições.
Do mar chegavam sons vestidos de gemidos.
Trazia a maresia um cheiro a náusea e morte.
Distante e todo azul, um céu de indiferença.
Ali, pregado ao chão, vergados os sentidos,
olhando já sem ver, o nítido recorte
da pátria por haver, das nossas mãos suspensa...
José-Augusto de Carvalho
3 de Dezembro de 2008.
Viana * Évora * Portugal
Memória da ida a Sagres, em 1964.
1 comentário:
Falta Cumprir-se Portugal
e falta mesmo sim, urgentemente!
é realmente tempo de levantarmos o nosso chão e dar-lhe o Brio de ser!
Marilia
O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.
Fernando Pessoa
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