Cara Marília, Caro Carlos Domingos, Caros Drs. Xencora Camotim e Goucha Soares
Como um dos jovens tenentes que em Novembro de 72 gritava, em carta de Angola, que vou publicar, endereçada a outro tenente, contra o regime fascista, em cujo derrube me empenhei desde a Alvorada do Movimento dos Capitães, fazendo questão por ser dos primeiros a assinar, de um modo legível, o meu nome nos documentos de protesto; por ter sido quem quase sozinho fez o plano de tomada da Escola Prática de Artilharia; chefiou a equipa que prendeu o comandante da unidade, e depois acompanhou os alentejanos na sua luta contra os latifundiários absentistas, senhores à Idade média e fascistas, sinto a maior alegria, por ler os vossos textos, bem como, as palavras de saudação do grande amigo Dr. Goucha Soares que com o Dr. Xencora Camotim, graciosamente, me defenderam no 3º Tribunal Militar de Lisboa, contra uma acusação infame, e uma sentença que raptou, nos idos de 77, um inocente durante dois anos.
Estas e muitas outras coisas ao longo de todos estes anos os vencedores do 25 Novembro calaram, para que se pense que os vencidos naquela data eram uns perigosos comunistas, totalitários. Pessoalmente nunca fui de nenhum partido e muito menos um totalitário, pelo que sempre pensei que a luta por Abril passa por repor algumas verdades históricas que alguns por conveniência pessoal ou por capitulação têm calado.
Nunca lamberei feridas, mas não serei cobarde, calando o que deve ser dito. Lutarei no presente pelo futuro, mas não esquecerei o passado, e tanto mais livre estou para fazer o que deve ser feito, porque nada peço, nada pedi, nada pedirei e nada espero. Sou guiado por um imperativo que muitos reconhecem como louco e estúpido, outros até de arrogante, mau feitio etc., mas que no caso de alguns é tão natural como respirar, sendo este o meu caso, de simples cidadão que exerce a sua cidadania, e entende que a “moralidade é fazer o que deve ser feito sem olhar às conveniências”. Muito simples, simplesmente, simples.
É ainda pelo passado de luta anti-fascista e pelas liberdades que com a maior alegria oiço as vozes dos que antes de nós e connosco lutaram e lutam por Abril, campo em que me encontro desde 1972, depois de ter passado pela guerra colonial, e daqui ninguém me tira. Entre outras coisas, sou filho de gente de bem e daquela rocha negra, basáltica, vulcânica que dá fundura e convicções aos que têm como Mátria, a Madeira.
Um grande e fraterno abraço para todos os que nos acompanham.
Andrade da silva 28 de Dezembro de 2008
Estas e muitas outras coisas ao longo de todos estes anos os vencedores do 25 Novembro calaram, para que se pense que os vencidos naquela data eram uns perigosos comunistas, totalitários. Pessoalmente nunca fui de nenhum partido e muito menos um totalitário, pelo que sempre pensei que a luta por Abril passa por repor algumas verdades históricas que alguns por conveniência pessoal ou por capitulação têm calado.
Nunca lamberei feridas, mas não serei cobarde, calando o que deve ser dito. Lutarei no presente pelo futuro, mas não esquecerei o passado, e tanto mais livre estou para fazer o que deve ser feito, porque nada peço, nada pedi, nada pedirei e nada espero. Sou guiado por um imperativo que muitos reconhecem como louco e estúpido, outros até de arrogante, mau feitio etc., mas que no caso de alguns é tão natural como respirar, sendo este o meu caso, de simples cidadão que exerce a sua cidadania, e entende que a “moralidade é fazer o que deve ser feito sem olhar às conveniências”. Muito simples, simplesmente, simples.
É ainda pelo passado de luta anti-fascista e pelas liberdades que com a maior alegria oiço as vozes dos que antes de nós e connosco lutaram e lutam por Abril, campo em que me encontro desde 1972, depois de ter passado pela guerra colonial, e daqui ninguém me tira. Entre outras coisas, sou filho de gente de bem e daquela rocha negra, basáltica, vulcânica que dá fundura e convicções aos que têm como Mátria, a Madeira.
Um grande e fraterno abraço para todos os que nos acompanham.
Andrade da silva 28 de Dezembro de 2008
6 comentários:
Companheiro, Amigo
a resposta ao teu post fica para as horas adiantadas, quando a sombra e o silêncio se povoam de luzes e lembranças, mas pelo muito respeito que por ti sinto? fica aqui desde já um poema que continua URGENTE
Abril é uma urgência Universal
Abril é uma urgência universal
O mundo fraterno a construir
O uivo a florir no vendaval
De maculadas pombas a cair.
Abril sobre o vácuo do sentir
Mais um Abril aurora flor de luz
Incendiando os olhos do porvir
Na vastidão a previdência de Argus.
Um grito do pensar nova razão
Estridência de seara a repartir
Onde cada se humano seja irmão
E a evidência o tempo a construir.
A bruma do pensar que se desfaz
Ribeiras transparentes a correr
Para que possa enfim surgir a PAZ
Onde a lei final será viver!
Marília Gonçalves
cara Marilia
Concordo que Abril no que queria significar de liberdade, justiça, paz, fraternidade e desenvolvimento continua a ser uma urgência e mesmo uma EMERGÊNCIA UNIVERSAL, como tão belamente, o seu lindo e vigoroso poema canta.
Quanta à resposta agradeço a deferência, todavia pedia-lhe que por minha causa, de modo algum, acontecessem lembranças a desoras que lhe roubassem o justo e legitmo descanso.
Os que batalham têm de ter um justo e mereciddo descanso, sei-o por ser pessoa e pelas minhas diferentes vertentes profissionais a de militar e a de psicólogo.
abraço
asilva
Meu Capitão
Conhecemo-nos sem nunca termos ouvido falar um do outro. Conhecemo-nos porque alguém que estimo e que era um bom amigo na adormecida Avenida da Liberdade, em circunstâncias particulares, nos pôs em contacto um com o outro. E Meu caro sempre vi nessa pessoa um leal e verdadeiro amigo seu, Trata-se do Pedro Lauret que me disse que o Andrade e Silva na madrugada de Abril de 74 tinha sido um dos primeiros a sair com os homens sob seu comando, para as acções que lhe incunbiam. Falou de si com respeito e estima.
E eu meu Caro amigo queria deixar aqui um pedido, de Cidadã portuguesa e combatente antifascista
é que por favor Meus Capitães separem depressa o trigo do joio, porque vocês unidos Portgal avança, desunidos é um triunfo para as forças reaccionárias que andam a rir nas costas do Povo de Portugal, a beber-lhe o sangue e a vê-lo sofrer na indiferença! porque esta cisão os serve a eles; abutres que são, e lhe simplifica a vida.
Capitães, meus Capitães, Falem uns com os outros, encontrem-se, falem ente vocês como gente civilizda que são, e depressa verão que a vossa Unidade e Coesão vai abrir novos caminhos de Esperança a concretizar Portugal.
Quanto a si sei a sua coragem, valenia e honesta generosidade, terei o maor gosto logo que a saúde mo permita que seja o Andrade e Silva a apresentar-me aos Capitaes de Abril, sempre em Luta por Portugal, pelo povo amado. Pelas conqistas de Abril que devolveram a Dignidade a cada filho de Portugal e lhe abriam as portas dum futuro que saberia seu, pelo que seria interveniente e activo!
Vamos Companheiros as Pazes pela Paz e por Portugal
em Frente e que atràs fiquem apenas os traidores a Abril onde quer que se escondam.
O meu abraço amigo para si
e Aqui Estou
Marília Gonçalves
Cara Marilia
Subscrevo as suas palavras uma a uma, letra a letra, fiz e faço isso no terreno, no dia a dia, segundo a segundo, procurei sanar um tenebroso conflito entre o Costa Martins e O Vasco Lourenço, intervim nessa contenda com a máxima lealdade para ambos, dizendo a ambos o que cada um devia saber, entrei nisso sem conhecer muito bem o Costa Martins, para mim era e é um capitão de Abril que foi vilipendiado e que numa carta que escreveu para o expresso dizia que por causa disso esteve para ser executado em Angola e que perdeu uma filha, nada disto me podia deixar indiferente, mas o resultado é o que conhece silenciamento do blog avenida da liberdade, um ataque injusto e cerrado do meu leal amigo Lauret, nos seus comentários do Blog, do Costa Martins nada mais soube.
Enfim a realidade é esta, e há coisas que voltam a repetir-se, e de facto na minha opinião há hábitos e comportamentos que o 25 de Novembro cristalizou e que mantêm-se vivos e actuantes e que apesar de todos não serem muitos para continuar Abril, as circunstâncias são outras, mas tudo se repete.
Antes do 25 de Abril havia a linha que defendia os generais como chefes do movimento e a que defendia que devia ser o mais ilustre capitão, pós 25 de Abril foi o que se viu e culminou no 25 de Novembro, hoje é o mesmo quadro, os que vivem muito bem com o neo-liberalismo, embora ponham cravo ao peito nos 25 se Abris e os poucos que acham que o neo-liberalismo é um regresso à idade média, isto é, continua a haver os que tiram proveito da circunstância de se dizerem os verdadeiros homens de Abril e os que são marginalizados e ofendidos por lutarem pelo 25 de Abril que o Povo legitimou nas ruas que de facto não foi para a implantação de nenhum regime comunista, mas de igual modo não foi para o da impunidade dos poderosos e injustiça contra os mais desprotegidos, o que não é de hoje, também acontecia no tempo do conselho da revolução recauchutado, após o 25 de Novembro.
A defesa de Abril faz-se sobretudo hoje com o povo português que precisa de ouvir a voz dos que falam verdade e o amam e não a de impostores e traidores. Se o povo português quiser ouvir quem lhes mente e engana não precisará de ouvir mais gente para além de quem os governa, para quê ouvir, então, vozes do dono, se pode ouvir o dono?
Infelizmente a realidade é diferente do que desejamos, e o hoje a coragem que ponho no que digo e faço é exactamente a mesma que me fez saltar nas primeiras horas da alvorada de Abril para a frente. De facto em cima da hora no dia 24 de Abril 74 tive na escola Pratica de Artilharia de tomar uma decisão crucial de substituir um tenente operacional que o momento do assalto ao gabinete do comandante não estava por um pacifista confesso, esta ausência podia ter paralisado a acção, porque aquele tenente era entre nós o mais operacional tinha a especialidade comando, o que entre nós militares e sobretudo tenentes era o máximo. Pelo menos isto ,esta decisão pessoal e sobre a hora, o sucesso do movimento me deve, se tivesse ficado paralisado a Escola Pratica de Artilharia não teria sido tomada quando foi, e quanto ao mais nada se poderá saber, mas tudo teria sido muito, muito, muitíssimo mais complicado.
Enfim histórias que só valem como isso histórias que pura e simplesmente têm sido abafadas, porque dá jeito aos senhores que se apoderaram da totalidade da verdadeira história do 25 de Abril que deve ser contada, até porque não será por aqui que o povo português perderá ou vencerá as lutas que tem pela frente.
Obviamente que não luto hoje contra o 25 de Novembro para converter uma derrota efectiva numa vitória simbólica, isso seria seguir a metodologia cinematográfica americana. Hoje procuro dar o meu contributo nas circunstâncias actuais para a solução dos problemas actuais, mas foi por isto que se instalou um conflito entre nós que teve o resultado que conhece.
um abraço
ailva
Capitão
aqui fica para ti, porque o mereces
Marília
Carlos Domingos, Portugal
CANÇÃO DE ALANDROAR
Aquela branca flor de alandroeiro
era a única luz do alandroal.
Nem a lua rompia o nevoeiro
nem o sol punha um riso matinal.
Ali reinava a treva o dia inteiro.
Ser de noite era um estado natural.
Não duravam as flores no canteiro
e apodrecia a água no canal.
O vento ameaçava, em tal berreiro
que tremia de medo o canavial.
Trovejava o relâmpago certeiro
zunindo como um látego infernal.
Tal o rancor, o ódio verdadeiro
a abater-se em torrente no local,
que até mesmo o impávido coveiro
pedia ajuda aos mortos do coval.
Mas o povo sorria, prazenteiro,
numa beatitude divinal.
Bailava e patinhava no lameiro
indiferente aos dentes do chacal.
Os homens riam com olhar rafeiro
e as crianças, em saltos de pardal,
vinham brincar com ossos no palheiro
e mascarar a dor de carnaval.
Foi quando rebentou a flor. Primeiro
era um botão, um tópico, um sinal.
Depois desabrochou e, logo, um cheiro
a espaço aberto dominou o vale.
Vieram as crianças a terreiro
entoando cantigas de natal.
Veio o pastor, o cavador, o oleiro,
o almocreve, a ceifeira, o maioral.
Uma flor branca abriu ao povo inteiro
o clarão de uma esperança universal.
Amainou a água turva do ribeiro,
deixou de ser agreste o matagal.
Estoiraram foguetes no outeiro,
repartiu-se irmãmente o pão e o sal.
Já se apertava o braço ao companheiro,
abriam-se olhos negros no olival.
Eis que, lá longe, surge um cavaleiro
galopando veloz, branco de cal,
num corcel negro a deslizar ligeiro
como nuvem em pleno temporal.
Aproxima-se mais o viageiro
(esqueleto emergido do coval).
Traz na boca um sorriso traiçoeiro
e, a tiracolo, o ódio no bornal.
Desembainha um arrepio. Ligeiro
esconde-se nas sombras de um portal.
Desfere um golpe. E a flor do alandroeiro
cai, desfeita de dor, no lodaçal.
Um grito de alma ecoa no terreiro.
Um pesadelo instala-se, brutal,
quando a flor branca rola no ribeiro
e parte, envolta num palor mortal.
No mesmo instante, a meio de um junqueiro,
brota uma flor de sangue, sem igual.
Desde esse dia de ódio derradeiro
nunca mais ninguém riu no alandroal.
Carlos Domingos
Muito obrigado
Mas muito mais que eu merece a sua bravura, de quem muito acredita e nada a fará recuar.Perante a sua tão grande força, confessso as minhas fragilidades, e faço-o com sinceridade, nunca por falsa modéstia, porque também reconheço que algumas vezes venço as minhas fraquezas.
abraço
asilva
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