E SE FOSSE NATAL um estado de espírito de TODOS OS DIAS?
Aproxima -s e o Natal , o dia que nos projecta na infância!
E por estranho que pareça por uns quantos dias, há dentro de nós um eco vindo das profundezas da imaginação, que nos murmura que tudo de bom vai ser possível. Como se um sopro divino nos bafejasse e transformasse o mau em bom, a mesa vazia em dispensa cheia.
Corre pelos ares um vago som, um ténue perfume de ternura.
Uns dias! Apenas uns quantos dias num ano inteiro; o sonho então parece quase real.
E sem esforço que nos obrigue, sem luta que nos active e subitamente somos o sorriso que nunca temos para quem por nos passa.
É que o sorriso é raro porque brota de mina que poucas vezes atingimos: estamos bem connosco! iludidos?
E estamos bem com os os outros. Ou pensamos estar.
Mas que voz nos interpela que só a ouvimos nesta altura do ano, que voz é essa que negamos e recusamos diariamente no decorrer dos meses e dos anos com o breve interregno do Natal?
Que necessidade traz do nosso intimo esse sonho adiado de ano em ano?
E quem nos impede de o concretizar?
Que vontade efémera, que hesitação, que receio, ultrapassa o desejo de viver alegre e sem preocupações?
Longe de mim referir aqui a religiosidade da época
Apenas me espanto diante dessa vontade tão acesa de fraternidade que esmorece em poucos dias para se tornar de novo efémera realidade no ano seguinte?
a que necessidade interior corresponde tal comportamento?
Que contradições trazemos em nós que nos fazem esquecer no decorrer do ano que fazemos parte dum todo e que o todo é por definição solidário?
porque passamos indiferenteS diante do sofrimento alheio?
O que nos faz silenciar o nosso? Não o querer ver?
A nossa mágoa, a nossa dor de nos sentirmos, de afinal nos sabermos sós?
às vezes encontro-me a pensar com os meus botões e pergunto-me: porque não efectivar a festa, as festividades da época De Natal numa partilha com os outros? uma partilha sempre renovada.
A festa da família restrita, alargada à grande Família HUMANA, numa comunicativa e renovada alegria por sucessivas surpresas e descobertas no enriquecimento do desvendar de diferenças e costumes.
AH! A tudo isto vem juntar-se esta forjada crise dos detentores do dinheiro e fartos duma fartura que os povos desconhecem, porque quem trabalha a fartura que melhor conhece é a dos dias que sobram depois de se ir nos gastos essenciais, o magro vencimento numa vida que nos foi tornada cada vez mais cara, com preços de bens essenciais inacessíveis, de casas que nem se conseguem alugar e comprar ainda menos.
Vamos lá a mais um esforço para conseguir festejar o Natal, nesta obrigatoriedade da sociedade consumista em que ocultamos a solidão e o desespero no despejar das montras tornadas atractivas para num ultimo sopro pagarmos o que afinal fomos nós que por nossas mãos e cérebros que construímos. Levando-nos os últimos tostões. Complexidade duma época em que festejamos solitários quando deveríamos festejar solidários!
Em que festas pelas ruas e populares seriam muito mais comunicativas e enriquecedoras de experiências humanas e fraternas.
Mas enquanto nos deixarmos isolar e dividir, continuaremos servos da gleba fechados onde nos querem; um sonho irrealizável, enquanto os detentores do dinheiro vão mesmo às escondidas sendo cada vez mais ricos sobre a nossa popular pobreza!
mas apesar de tudo desejo-vos a todos um Natal Fraterno e Solidário.
E que viva a Fraternidade entre todos os Povos do Mundo
e viva o Povo de Portugal!
Marília Gonçalves
4 comentários:
Cara Marilia
Responderei em post a este belo texto.
asilva
Cara Marília,
Já lhe deixei as boas vindas, na mensagem informativa.
Fico muito feliz por fazer parte do grupo dos "preocupados".
Fico também mais tranquilo consigo, pois a saúde parece ter-se renovado. Ainda bem.
O seu artigo, tem a força que todos nós deveríamos ter, uns para com os outros, mas que infelizmente é cada vez mais fachada e lugar comum.
A sociedade tem vindo a tornar-se cada dia mais egoísta e egocentrista. Podemos sempre dizer que esta é uma das "virtudes" do capitalismo, mas a verdade, é que somos nós que nos afastamos velozmente dos valores intrínsecos do humanismo, da solidariedade e da amizade.
Que bom seria, se cada um de nós se preocupasse com o que preocupa o nosso próximo e fossemos capazes de ter uma mão estendida.
Não existimos sózinhos. Não sobreviveremos sózinhos. Mas insistimos e persistimos no erro.
Pessoalmente, tenho a felicidade de compreender isto melhor, pois ainda tenho amigos desse padrão ultrapassado. A todos eles, o meu grande BEM HAJA, através do seu magnífico artigo.
Para si e família, um BOM NATAL, com paz, harmonia, amor e fraternidade.
Um grande abraço, fraterno e companheiro,
Jerónimo Sardinha
Que texto magnifico!
E que nocao tao clara da realidade!
Nao tem nem neve nem sininhos a tilintar… Tem sim perguntas interessantes e tem concerteza o intuito de nos por a meditar.
Que podemos entao fazer para nao perdermos o animo no dia seguinte??
Pensamos ou estamos bem com os outros so mesmo no Natal para “ingles ver” e por isso nao sentimos nada diferente nos dias a seguir.
A religiosidade da epoca tem mesmo que ser referida, porque o Natal so tem a ver com religiao; mas pondo as religioes de parte (porque ate ensinam todas o mesmo mas em alturas diferentes do calendario), e numa altura em que o mundo esta a mudar drasticamente e tao rapido, eh bom que quem tem a nocao de conseguir fazer o Natal ser todos os dias (desculpem o portugues), que insista e a transmita a quem nao a tem!
Ha concerteza inumeras e diferentes formas de o fazer.
Andei a rebuscar e encontrei o poema que queria de Ary dos Santos. Aqui fica:
Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitros de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.
Do pais onde nao ha “Snow” mas sim uma grande tempestade de “Sand”, aqui ficam os meus votos de Festas felizes.
Ana Rute
Que texto magnifico!
E que nocao tao clara da realidade!
Nao tem nem neve nem sininhos a tilintar… Tem sim perguntas interessantes e tem concerteza o intuito de nos por a meditar.
Que podemos entao fazer para nao perdermos o animo no dia seguinte??
Pensamos ou estamos bem com os outros so mesmo no Natal para "ingles ver" e por isso nao sentimos nada diferente nos dias a seguir.
A religiosidade da epoca tem mesmo que ser referida, porque o Natal so tem a ver com religiao; mas pondo as religioes de parte (porque ate ensinam todas o mesmo mas em alturas diferentes do calendario), e numa altura em que o mundo esta a mudar drasticamente e tao rapido, eh bom que quem tem a nocao de conseguir fazer o Natal ser todos os dias (desculpem o portugues), que insista e a transmita a quem nao a tem!
Ha concerteza inumeras formas que o fazer.
Andei a rebuscar e encontrei o poema que queria de Ary dos Santos. Aqui fica:
Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitros de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão
Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.
Do pais onde nao ha "Snow" mas sim uma grande tempestade de "Sand", aqui ficam os meus votos de Festas felizes.
Ana Rute
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