Sou uma das pessoas que menos compreende a morte, de facto prossigo a estupidez, ainda por cima impossível, da eternidade terrena. Mas se não compreendo a morte muito menos a degradação e o sofrimento atroz. Sendo um defensor da eternidade na terra desde que se tenha um pouco de pão, muito amor e muito sexo, não entendo o sadismo de alguns, o egoísmo de muitos e o estado psicótico de poucos, no seio da comunidade dos que querem manter viva gente morta, ou em grande sofrimento. Não posso entender tanta insensibilidade.
Penso que as Igrejas defendendo o principio que tudo acontece segundo um plano de Deus, quer a alegria, quer a dor, não podem defender outra posição que não seja o sofrimento que regenera a alma e dá o céu. Não acredito nestas “ verdades reveladas”, mas compreendo, e compreendo até que a Igreja coloque a eutanásia na lista dos pecados mortais, que Deus saberá perdoar ou não, mas tudo o que no seu comportamento vá para além disto, e queira impor a sua regra, de mera crença, aos cidadãos que pensam de outro modo e sofrem é uma acto totalitário, inaceitável.
Não compreendo que os que não têm profissões de fé tão rígidas, ou não as praticam com tanta devoção nos demais domínios da vida, queiram obrigar filhos desamados a nascerem, para depois sofrerem, ou que pessoas em grande sofrimento continuem a sofrer, só para satisfazerem a sua crença, ou mesmo o seu sadismo, isto é, o gostarem de ver as pessoas a contorcerem-se, como gostam de ver árabes ou negros a serem vitimados por guerras, quer por racismo, quer porque todas essas tragédias valorizam a sua segurança pessoal e o seu conforto, ou ainda, como não têm um cordeiro pascal humano para oferecerem aos seus deuses, servem-se destes míseros sofredores para esse efeito e, assim, acalmarem as iras dos deuses por causa da totalidade dos seus pecados mortais, a gula, a luxúria, a inveja, a avareza, a vingança, a soberba . Quando assima contece, estes comportamentos são pura e simplesmente intoleráveis.
Defendo a eutanásia, como um acto de amor e libertador, para evitar a degradação e o sofrimento máximos, porque nunca nenhum ser humano deveria passar. Nenhum Deus quer que alguém sofra tanto. Só gente desvairada e sem sentimentos pode falar em nome de um Deus tirano. Muitos homens são tiranos, mas os Deuses, não criados pelos homens, só podem ser bondosos, e saberão compreender que quem ama o seu semelhante, como a si mesmo e quer que em determinado momento o seu ente querido parta, não para dispor dessa vida como se fosse um Deus, mas sim, para o apoiar no máximo que pode no fim doloroso e triste da sua passagem, por este nosso querido e belo planeta azul. Neste acto só pode existir humanismo e amor.
Só os bárbaros defensores do sofrimento e da tortura podem considerar a eutanásia como uma execução, porque aquela é praticada com muita dor e sofrimento por quem ama aquele que vai partir. Todavia compreendo e considero um acto da maior coragem e nobreza que, de acordo com as suas convicções, os que crêem suportem a tragédia da dor até ao último átomo. Merecem o meu respeito e o meu amor, não o merecem, quando querem impor essa conduta aos outro como a moral e juridicamente correcta, quando a sua posição releva de uma respeitável crença, que como tal é uma norma da sociedade dos crentes e não dos outros.
Obviamente que defendo a eutanásia, como defendo a interrupção da gravidez em casos muito extremos, e que nunca se possam confundir com execuções. Para mim, até, a interrupção da gravidez deve ter um carácter de maior excepcionalidade que a eutanásia, porque se pode evitar muito mais facilmente uma gravidez indesejada, do que uma doença terminal.
Obviamente que a eutanásia deve ser juridicamente consagrada com todos os cuidados para que nunca se possa constituir como um instrumento de execução nas mãos de governos desrespeitadores dos direitos humanos, ou excessivamente economicistas, ou nas mãos de familiares criminosos . É evidente também que falo, do modo que o faço, no contexto de sociedades democráticas, civilizadas, do século XXI e respeitadoras dos direitos humanos, só nestas sociedades faz sentir falar dos problemas sociais e humanos, nas outras reina o crime e o arbítrio.
andrade da silva 4 Fev 09
Penso que as Igrejas defendendo o principio que tudo acontece segundo um plano de Deus, quer a alegria, quer a dor, não podem defender outra posição que não seja o sofrimento que regenera a alma e dá o céu. Não acredito nestas “ verdades reveladas”, mas compreendo, e compreendo até que a Igreja coloque a eutanásia na lista dos pecados mortais, que Deus saberá perdoar ou não, mas tudo o que no seu comportamento vá para além disto, e queira impor a sua regra, de mera crença, aos cidadãos que pensam de outro modo e sofrem é uma acto totalitário, inaceitável.
Não compreendo que os que não têm profissões de fé tão rígidas, ou não as praticam com tanta devoção nos demais domínios da vida, queiram obrigar filhos desamados a nascerem, para depois sofrerem, ou que pessoas em grande sofrimento continuem a sofrer, só para satisfazerem a sua crença, ou mesmo o seu sadismo, isto é, o gostarem de ver as pessoas a contorcerem-se, como gostam de ver árabes ou negros a serem vitimados por guerras, quer por racismo, quer porque todas essas tragédias valorizam a sua segurança pessoal e o seu conforto, ou ainda, como não têm um cordeiro pascal humano para oferecerem aos seus deuses, servem-se destes míseros sofredores para esse efeito e, assim, acalmarem as iras dos deuses por causa da totalidade dos seus pecados mortais, a gula, a luxúria, a inveja, a avareza, a vingança, a soberba . Quando assima contece, estes comportamentos são pura e simplesmente intoleráveis.
Defendo a eutanásia, como um acto de amor e libertador, para evitar a degradação e o sofrimento máximos, porque nunca nenhum ser humano deveria passar. Nenhum Deus quer que alguém sofra tanto. Só gente desvairada e sem sentimentos pode falar em nome de um Deus tirano. Muitos homens são tiranos, mas os Deuses, não criados pelos homens, só podem ser bondosos, e saberão compreender que quem ama o seu semelhante, como a si mesmo e quer que em determinado momento o seu ente querido parta, não para dispor dessa vida como se fosse um Deus, mas sim, para o apoiar no máximo que pode no fim doloroso e triste da sua passagem, por este nosso querido e belo planeta azul. Neste acto só pode existir humanismo e amor.
Só os bárbaros defensores do sofrimento e da tortura podem considerar a eutanásia como uma execução, porque aquela é praticada com muita dor e sofrimento por quem ama aquele que vai partir. Todavia compreendo e considero um acto da maior coragem e nobreza que, de acordo com as suas convicções, os que crêem suportem a tragédia da dor até ao último átomo. Merecem o meu respeito e o meu amor, não o merecem, quando querem impor essa conduta aos outro como a moral e juridicamente correcta, quando a sua posição releva de uma respeitável crença, que como tal é uma norma da sociedade dos crentes e não dos outros.
Obviamente que defendo a eutanásia, como defendo a interrupção da gravidez em casos muito extremos, e que nunca se possam confundir com execuções. Para mim, até, a interrupção da gravidez deve ter um carácter de maior excepcionalidade que a eutanásia, porque se pode evitar muito mais facilmente uma gravidez indesejada, do que uma doença terminal.
Obviamente que a eutanásia deve ser juridicamente consagrada com todos os cuidados para que nunca se possa constituir como um instrumento de execução nas mãos de governos desrespeitadores dos direitos humanos, ou excessivamente economicistas, ou nas mãos de familiares criminosos . É evidente também que falo, do modo que o faço, no contexto de sociedades democráticas, civilizadas, do século XXI e respeitadoras dos direitos humanos, só nestas sociedades faz sentir falar dos problemas sociais e humanos, nas outras reina o crime e o arbítrio.
andrade da silva 4 Fev 09
1 comentário:
Companheiros, Amigos, Leitores
Ora aqui está um assunto que pede largo debate, por razões óbvias.
Grandes esclarecimentos, que implicam sentimentos, lei, ética e uma legislação rigorosa, para que onde a eutanásia for aceite como ideia e pela lei, não possa nunca haver deslizes inerentes a interesses de que tipo forem.
Como sabem vivo em França, ainda no tempo em que era presidente Jacques Chirac, deu-se aqui o caso trágico dum jovem tetraplégico, mas em plena posse de suas faculdades mentais, que desesperado e sem esperança do sofrimento em que vivia, pediu à mãe que o ajudasse a morrer, Imagino o abismo que essa mulher atravessou de perguntas, de revolta de desespero e dor... mas ante os rogos do filho acabou por aceder ao pedido, o caso foi descoberto e a senhora foi presa... e absolvida pelo próprio Presidente Chirac, por ser um caso de excepção que a ausência de lei adequada à eutanásia, levou uma mãe a ter que dar a morte a seu próprio filho. Não é humanamente justo que a lei ignore tais casos de sofrimento sem remissão, que possam obrigar uma mãe, no seu derradeiro grito de amor por seu filho,a dar-lhe a morte.
Esse seria o papel duma equipa hospitalar, muitíssimo bem enquadrada, e com uma lei explícita e que não deixe a possibilidade de uma errónea interpretação podendo presta-se a intenções malévolas
Mas com disse, penso que é assunto que exige um alargado debate que explicite as condições extremas que podem surgir em estado final de doenças prolongadas quando toda a esperança está perdida, e quando só o horror do sofrimento subsiste.
Outros países da Europa já praticam a Eutanásia aprovada pela lei.
Marília Gonçalves
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