domingo, 1 de fevereiro de 2009

O FASCISMO E A CARNE PARA CANHÃO


Ainda há gente que contra toda a evidência e verdade, sem vergonha e sem qualquer rebate de consciência, defende o regime fascista ( nunca julgado, hipótese que o General Fabião aventou, mas não agendou) e insiste que era possível ganhar a guerra colonial, só que nunca disseram como, ou foram capazes de o fazer em 13 anos, e pior escondem um dos piores crimes daquele regime, o completo abandono dos cidadãos feridos em combate, os com doenças mentais e as suas famílias.

Como já aqui dei noticia, em1972, num aerograma escrito da Damba/Angola para um camarada do meu curso, dava notícia da minha frustração e do meu julgamento, quanto ao facto de nos considerarem carne par canhão.

Só que naquela altura falava da factualidade da guerra, isto é, considerava que do ponto de vista da condução da guerra, da conquista das populações e da desmotivação dos militares a guerra estava perdida, mas não conhecia algo de muito grave que só agora, numa conferência realizada na Associação de Deficientes das Forças Armada ( ADFA), em que esteve presente o Sr. General Loureiro dos Santos soube, ou seja, o regime fascista na fase inicial da sua implantação revogou toda a legislação que protegia os direitos dos mutilados da I guerra, o código do inválido, retirando-lhes o estatuto simbólico de beneméritos da nação e um conjunto de protecções sociais e económicas de que gozavam, admitindo-se na própria lei que muitos daqueles ex-combatentes seriam arrastados para a indigência e pobreza, casos em que se previa a sua clausura forçada em asilos, e adiantava-se que o estado pagaria os funerais dos extremamente pobres.

De um modo idêntico o Estado Novo procedeu, apesar das condecorações aos chamados heróis da Pátria, com os mutilados da guerra de África, escondendo-os nos hospitais.

O país não podia conhecer a realidade cruel do que acontecia em África, e, assim, também se evitava que o principio dos vasos comunicantes entre militares combatentes e mutilados funcionasse. Todavia apesar de todos os estratagemas do regime fascista, alguma coisa se ia sabendo, e hoje ao saber de toda a maldade legislativa daquele regime contra os mutilados de guerra, ainda sinto, se é que isso é possível, uma maior honra e alegria por ter participado na luta revolucionária, embora traída por bastantes dos que fizeram o 25 de Abril1974.

Quanto mais sei do regime fascista e da recuperação de personagens desse regime e dos seus métodos de acção, como o do banimento cívico dos cidadãos críticos, que desde o 25 de Novembro 75 se tem vindo a operar, melhor compreendo que o regime do 24 de Abril era fascista, e que o 25 de Novembro 75 não foi e nunca quis ser a correcção de alguns erros do 25 de Abril, mas sim a iniciação de um regime formalmente democrático, mas que mantivesse os principais quistos do fascismo: a intolerância, o autoritarismo, o oportunismo, o amiguismo, a traficância de influências e, tudo isto, encontrou adequado acolhimento nos sucessivos governos e outras organizações que sob a bandeira do 25 de Abril continuaram e continuam a perseguição e o banimento dos que, de um modo genuíno e DESINTERESSADO, isto é, sem qualquer beneficio material, social ou politico, serviram as classes mais oprimidas de Portugal.


No fascismo fria, cruel e sistematicamente destruiu-se o código dos inválidos criado na 1ª República, promulgaram-se em1936 leis com efeitos retroactivos para ressarcir verbas de pensões atribuídas aos militares combatentes, esqueceu-se durante muito tempo os militares que ficaram feridos na guerra de África e dos que lá morreram, deixando por lá milhares de mortos, e só em 1973 se promulga legislação que contempla a situação dos que ficaram com deficiência, mas sem nunca se preocupar com a sua reabilitação e reintegração social, o que só vem a acontecer depois do 25 de Abril, com o DL43/76, em que o Estado consente fazer este decreto em parceria com a ADFA.

Disse o Sr. General Loureiro dos Santos, naquela palestra, que num regime Democrático seria inaceitável tratar os militares, sobretudo os feridos e as famílias dos que morreram como no regime fascista, julgo que é um principio intocável e válido para todos os cidadãos. Quando o estado tratar a totalidade ou parte dos seus cidadãos como no regime fascista, será pelo menos moralmente contraditório chamar-se de democrático.

Seja como for no regime democrático actual continua a esquecer-se muito os militares e as suas famílias, não falarei tanto no plano económico, só que aos familiares dos militares mortos, pais, mulheres e filhos e mesmo dos feridos não interessa só o cheque que, por vezes, também não chega, mas também que se cuide das suas almas, do seu mundo intra-psiquico, e, aqui, as dificuldades são imensas. Se, por exemplo, pela conjugação excepcional de boas vontades se conseguiu apoiar a família do soldado Ribeirinho morto no atentado de Bali, já em relação a outros mortos, apesar dos funerais de estado, tudo foi muito mais difícil a nível do necessário apoio psicológico e mesmo quanto às despesas dos artefactos que imortalizam a memória dos nossos heróis. Enfim mais outras tristes histórias existem, o que é muito grave face ao tão baixo número de baixas, tendencialmente zero, só que, como dizia o general Douglas Macarthur, para quem morre e os seus familiares a perda é de 100%.

Pessoalmente não faço qualquer vaticínio de quão mal se pode tratar os cidadãos em geral e os militares em particular sem que nos tempos que passam e com o autoritarismo e mediocridade que reinam pela Europa, a começar por quem é quem na Comissão Europeia, se ponha em causa se o regime é democrático ou não.

Na Europa já há muito que se abandonou as traves mestras, a marca de água, da social-democracia. Os tempos de hoje até que os povos se levantem, até um novo Maio 68, viveremos numa democracia cada vez mais apoucada, corrupta, degradada, servida por gente que não sabe ser tolerante e perceber que a democracia é o regime e o estado social e de alma que não exclui a cidadania e o pensamento critico, o que, infelizmente, é o que mais se pratica em Portugal, até quando?

Mas porque não calo a minha maldita voz, entre tantos ámen, porque não me calo, se nada tenho para além do que todos os cidadãos anónimos devem ter, auto-consciência da minha humanidade e dos direitos e deveres que essa circunstância impõe, mas se imensos dos demais e honrados cidadãos se calam e consentem, porque resistem alguns, sobretudo eu se nada tenho da força ( digo-o, com verdade e sinceridade) da Marília e de outras heroínas de Portugal, porque lhes anima uma esperança que não me habita?

Os meus olhos vêm um país de “cangados” e uma elite sem qualquer luminosidade. Estas elites são meras sombras cadavéricas do passado fascista que ainda, em muitas circunstâncias, guia Portugal. (Talvez haja algum pessimismo nesta noite de sábado. Estes Invernos cruzados não ajudam nada ao Madeirense que sou, filho de um minhoto de princípios do antes quebrar que torcer, e de uma mãe que no fulgor dos seus anos, nunca deixou que pata alguma a espezinhasse. Maldição a minha de que muito me orgulho, mas… )

PORTUGAL.


andrade da silva




4 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Companheiro Leitores, Amigos,

Talvez porque me reconheci em tanto verso de um sem fim de poetas desde criança, sempre fiz o que estava ao meu alcance para divulgar a poesia de cada um, como se minha fosse, primeiro dizendo poesia em público, depois com a Internet, espalhando-a com o mesmo empenho.Claro que é uma gota de água no oceano (talvez por isso me agradou tanto aqui no blogue, o nome do contador de visitas,"contagotas"uma força mais a despertar-nos, que recebemos e tentamos retribuir)
de tudo o que há por fazer, mas eu que reconheço renasço de cada dor, pela poesia, gostaria de poder viver com ela a cada instante...mas não posso.
Que poesia pode haver em tanto horror a que assistimos,presentemente numa trágica repetição de vidas humanas destroçadas, esboroadas no tempo para sempre... em tanta dor de tanto irmão, espalhado pelo mundo, Na afliçao ds crianas,a morrer de fome a beber no lodo do chio, a partícula da água, numa luta indispensável pela sobrevivência, e morrendo apesar dela, ali, sob o olhar das impotentes mães.
Como pode calar a consciência quem escreve poesia? Quem sente e pensa Poesia?
De que estranho manancial brota em terreno de indiferença?!
Não escrevo por considerar a minha poesia um passo no progresso poético, apenas escrevo por
necessidade, quando o grito fermenta e faz crescer esse pão que me é necessário, e que se exprime em versos.
Mas sempre que cruzo esse grito de poesia, nos outros poetas acende-se uma luz no meu caminho, a mesma luz, caminho como o dos outros por vezes mais escuro.
E é a Poesia que me levanta sempre, desde os outros poetas que me ensinaram em menina o valor da leitura e me trouxeram pela mão até à minha...
aqui deixo pois um poema e o abraço fraterno a quem pelo blogue passa e nos vai lendo
Marília Gonçalves


de
Lopes Morgado, Mulher Mãe


SÓ POR ISSO, MÃE

Mesmo que a noite esteja escura,
Ou por isso,
Quero acender a minha estrela.

Mesmo que o mar esteja morto,
Ou por isso,
Quero enfunar a minha vela.

Mesmo que a vida esteja nua,
Ou por isso,
Quero vestir-lhe o meu poema.

Só porque tu existes,
Vale a pena!

andrade da silva disse...

Obrigado Marilia pela sua poesia, mas sobretudo pala sua indómita força.
abraço
asilva

Marília Gonçalves disse...

Há sempre alguém que resiste....

e que o diga por suas palavras encontrando o mesmo fio de pensamento de tantos outros que o pensam, e julgam não o saber dizer...
Somente o silêncio devia ser proibido, ante crimes sem perdão:
por isso meus irmãos aqui vamos no caminho dum efectivo reencontro da HUMANIDADE
Marília

de Sidónio Muralha;

Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se carácter custa caro
pago o preço.
Pago embora seja raro.
Mas homem não tem avesso
e o peso da pedra eu comparo
à força do arremesso.
Um rio, só se for claro.
Correr sim, mas sem tropeço.
Mas se tropeçar não paro
não paro nem mereço.
E que ninguém me dê amparo
nem me pergunte se padeço.
Não sou, nem serei avaro,
se carácter custa caro
pago o preço.

Marília Gonçalves disse...

COMPANHEIROS DE ABRIL

Do grande activista e Resistente com a canção por arma, o nosso Zeca Afonso, fica bem patente o olhar humano e solidário com que olhava e via os soldados levados para as eis colônias portuguesas, a defender intersses duns quantos, porque que eu saiba no Povo de Portugal, ninguém tinha interesse em defender a possessão de terras que nada tinham a ver consigo, que pagou caro o preço da guerra, salvo erro, cerca de metade do orçamento de estado passava para alimentar essa guerra maldita enquanto e digo-o sem ironia cada filho de Portugal até uma simples banana se a quisesse comer tinha que a pagar.De além-mar ao povo português, nada, mesmo nada pertencia.
Que interesse tinha pois o povo português em sustentar uma guerra que em nada lhe dizia respeito a defender territórios onde nada, absolutamente nada possuía e que pagou por mais de uma década, com o sangue de seus próprios filhos, que ou voltavam numa pobre urna, ou mutilados e diferentes, marcados pela dor pelo sofrimento que esses dramas tinham por consequência.

Porque amo o ser humano, solidários que somos, partilhando esse destino de que somos os únicos no reino animal a ter consciência, sou e serei pela PAZ, e pela força da palavra e da razão
para resolver conflitos que qualquer guerra nunca soluciona, criando outros, irreversíveis no caminho que abriu, por falta de visão, de inteligência e de Humanismo!
Abraço Capitães,porque a vossa força soube encontrar esse enérgico não que floriu numa manha luminosa de Abril e aproximou irmãos que se combatiam, sem motivo outro que a defesa dos grandes interesses duns quantos contra os que se batiam pelo direito legitimo de ser quem eram na Terra herança de seus antepassados desde sempre..
Capitães de Abril o meu sincero e infinito afecto por cada um. Que se por mais não fosse era motivo mais que suficiente.
Mas Abril rasgou muralhas por onde irrompeu a Liberdade e a Democracia que todos juntos saberemos defender e proteger de cada ameaça que à queima-roupa sobre ela disparam sem vergonha nem escrúpulos.

Marília Gonçalves


Menina Dos Olhos Tristes
José Afonso

Composição: José Afonso


Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar