quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DEMOCRACIA, DESENVOLVIMENTO E DIGNIDADE.



Nunca fui, nunca serei um velho do Restelo. Nunca derramei, nunca derramarei uma lágrima por causa dos rios virtuais de mel, do passado, que nunca o foram, e se tornaram em caminhos pedregosos, porque os mensageiros, de então, não foram tão sábios e generosos, quanto o deviam, e até pareceram ser.

Todavia, esta postura não me impede de gritar contra o que hoje considero errado, face à luta não incidental que travei desde 1972, com 23 anos de idade, para em 25 de Abril, a dias de fazer 25 anos de idade, derrubar o regime fascista, por ser corrupto (sublinho corrupto) e ditatorial. Lutei pela Democracia, o Desenvolvimento e a Descolonização.

A Descolonização é um capítulo encerrado, mas foi trágica, e julgo que devia ter sido dirigida com muito mais capacidade e empenhamento. Defendeu-se muito pouco os direitos da população portuguesa branca e negra, acautelou-se pouco as condições para uma transição pacífica, e deixaram-se para trás milhares de negros que serviram as forças armadas Portuguesas, por orientação do governo português, e que depois foram executados em massa pelos poderes emergentes nas antigas colónias. Para todas estas vítimas a descolonização foi uma tragédia TOTAL e irreversível.

Quanto à Democracia os períodos entre actos eleitorais revelam claramente que esta não conta com os cidadãos, não promove a cidadania, e só se interessa com a partidocracia que abrange 0, qualquer coisa % dos cidadãos, que é uma minoria que servindo de testa de ferro dos grandes interesses financeiros nacionais e internacionais detém todo o poder, fazendo com que quase 40% dos cidadãos se excluam de participarem num dos actos cívicos mais importantes – a votação para o órgão de soberania, por excelência , a Assembleia da República.

Claro que ao dizer que esta democracia está cheia de vilões, não constitui nenhum atestado de qualidade ao regime fascista, que era pior. Mas o facto do regime fascista ser inaceitável, em nada legitima uma das muitas infelizes e repetidas exclamações do Sr. Dr. Mário Soares de que se os portugueses têm liberdade de dizerem tudo (!?), estão melhor do que há 30 anos, de que se queixam?

Em boa verdade podem queixar-se de muitas coisas que só os desgraçados conhecem, nomeadamente os que podem morrer nos corredores dos hospitais de Santa Maria, ou na sala de cuidados intermédios do Curry Cabral ( são factos por mim vividos, falarei deles), mas para além disto podem queixar-se da indignidade da democracia, da mediocridade das lideranças, do total estado cataléptico da justiça etc.


Mas as eleições que, ora, terminam são uma radiografia da má qualidade da Democracia e da falta de criatividade e engenho das lideranças politicas, que não foram capazes de convencerem mais de 40% dos portugueses que vale a pena votarem em projectos diferentes, não sendo mais do mesmo. Desgraçadamente a verdade é que os grandes partidos são sempre mais do mesmo, com a agravante de terem feito uma campanha muito centrada na diabolização do Sr. Eng. Sócrates, o que fez dele um grande vencedor das eleições legislativas, e levou a que os votos de protesto que o tinham abandonado naquelas, regressassem ao doce manto cor-de-rosa nas autárquicas. Facto importante que derrota a perspectiva pequena, ignorante e tacanha dos que querem mudar o rumo das coisas explorando as conjunturas. Neste caso reforçaram a figura que diabolizaram – Sócrates.

De igual modo este ciclo de eleições dá a dimensão das exclusões nesta Democracia. A liberdade politica, em termos efectivos, só existe para os partidos que dispõem de milhões de euros e da comunicação social ao serviço da reprodução do statu-quo, os demais não conseguem fazer chegar as suas mensagens aos eleitores.

Neste contexto nem sequer o Movimento Esperança Portugal com os seus cerca de 300 mil euros o conseguiu, quanto mais os que dispuseram de 1000 euros, parece que algo deve ser feito para garantir que os partidos emergentes cheguem às pessoas, o que, estranhamente, também parece passar ao lado destes sujeitos políticos, mas será mesmo que o país endoidou?

Há também mais de 3 milhões de abstencionistas que não podem ser párias, porque se o forem PORTUGAL sucumbirá a médio ou longo prazo. Realidade de uma gravidade limite que não preocupa quem governa, porque governam com adequado suporte legal, mas duvidoso apoio popular.

Mas estas eleições dizem mais. Sinalizam que o povo Português não se revê, de um modo permanente, em propostas estouvadas, fora de prazo, apresentem-se ou não como pseudo utopias.

Não é uma utopia querer que o SOL amanhã seja azul para todos. Seria uma ideia estouvada, esquizofrénica mesmo, também não se pode prometer a paz a ninguém, num mundo conturbado e violento, dizendo às pessoas que a defesa colectiva é um mal, ou porque se há bandidagem vamos criar campos de concentração para os marginais e para todos os que suspeitamos que são filhos do mal. Estas visões peripatéticas da realidade convencem jovens, alguns estouvados e outros que em voto de protesto, com os olhos e os ouvidos tapados, conjunturalmente, votam, somando, no entanto, algumas centenas de milhar de pessoas, talvez na ordem 4 a 5% dos votantes à esquerda e outro tanto à direita.

Ainda é uma marca negra desta democracia, e de como a partidocracia para se defender de surpresas, nada tem feito para impedir que figuras do 4º Mundo e até mesmo do submundo se candidatem e ganhem eleições.

É tremendo que o voto popular sancione nas urnas esses comportamentos, todavia as pessoas o fazem, porque pensam que todos são iguais, a diferença é que uns foram apanhados ou caíram em desgraça, e os outros não, mas que, no fundo, tudo isto é um chiqueiro, onde, ninguém se safa, portanto, não há ética nenhuma, e ninguém pode atirar a primeira pedra, consequentemente, tudo está certo.

Neste Universo Dantesco ( há piores, claro, muito piores) o único modo de alterá-lo é criar leis e tribunais judiciais e de opinião que julguem e prendam os corruptos, e ainda a criação de mecanismos administrativos que não permitam que gente com perfis e comportamentos com evidencia suficiente que são ilegais e criminosos, possam concorrer à gestão da res- publica.

Ainda as eleições autárquicas deram outros sinais. Nomeada e particularmente a de Lisboa dá um muito forte aos partidos de esquerda que é preciso perante o perigo da tomada do poder pela direita, procurar, se possível o máximo denominador comum, mas, em situação-limite, o menor. Diz ainda que se este equilíbrio não for encontrado esses partidos fecham-se num gueto, donde dificilmente sairão pela via eleitoral, o que, os responsabiliza muito perante os seus militantes e os cidadãos, em geral, e, assim, deverão dizer a todos, como vão sair dos becos que vão construindo.

Naturalmente, que considero como o máximo ético morrer nas cruzes pelas suas convicções, mas quantos Cristos e Spartacus existem no seio da sociedade do hedonismo?

E O FUTURO?

A situação a que chegamos com um desenvolvimento que serve muito bem a 30 % dos cidadãos, bem a outros 20%, razoavelmente a 30% e mal a muito mal a 20%, dá a dimensão de que o actual regime serve bem a 50% ou mais da população, e que estes 50% são apoiantes e beneficiários do centrão e do conservadorismo, portanto, a faixa de cidadãos mobilizáveis para projectos de futuro que rompam com este podre statu-quo são poucos, muito poucos, são os que nos menos de 50 % de críticos e adversários do centrão não sejam apoiantes do PCP e do BE, de um modo militante. Quer isto dizer, na minha opinião, que formulo, como hipótese, que o segredo estará nos cidadãos que votam branco e nulo e nos que se abstêm por uma decisão activa de não participarem, no que consideram um teatro grotesco, e ainda haverá os que votam no mal menor, mas querem pertencer a uma família.

Em conclusão pode haver uma multidão expectante à espera de uma direcção politica que destrua o chiqueiro, dignifique a democracia, ou, contrariamente, o que há é uma comunidade de cidadãos absolutamente vencida, derrotada à espera do colapso total, para se revoltar, ou deixar morrer de inércia, estupidez, álcool, telenovelas, futebol e, em última instância, voltar-se para sagrado, e fazer de Portugal, o Portugal Tibetano.

PORTUGAL CONSEGUIRÁ?

andrade da silva

2 comentários:

Anónimo disse...

Por esse país fora temos muitos autarcas que se dedicam de corpo e alma à causa pública, muitas vezes em detrimento da sua vida familiar. Não aparecem nas televisões e nos jornais, trabalham.
Por isso o voto na escolha das pessoas que nos representam nos concelhos e freguesias além de ser importante é uma responsabilidade ética de cada português em consciência mostrar a sua voz.

http://revolucionaria.wordpress.com/2009/10/11/liberdade-2/#comments


http://revolucionaria.wordpress.com/

andrade da silva disse...

Reconheço e conheço esse grande esforço que, como é natural neste país, fica muito longe dos ecrans, porque infelizmente à nossa Comunicação Social abutre e mesmo big - é preciso chamar os bois pelos nomes - só se interessa com o escândalo e a esquizofrenia daquelas idas e vindas sem sentido do candidato-espectáculo de não sei donde,para não sei onde, ou seja de nenhures,para nenhures.

Divulgue aqui as obras e os actos heróicos que conhece.

Abraço
asilva