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Numa clara demonstração do seu carácter irreverente, veja- se a resposta de Natália Correia ao deputado João Morgado (CDS), em 1982 no Assembleia da República, na sequência de um "eloquente" discurso daquele: «A igreja Católica proíbe o aborto, porque entende que o acto sexual é para se ver o nascimento de um filho». Ao que Natália Correia, ao tempo deputada do PSD, ripostou:
Já que o coito diz Morgado
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menino ou menina
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca, truca,
sendo só pai de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou parca ração! Uma vez.
E se a função faz o órgão diz o ditado
consumado essa excepção,
ficou capado o Morgado.
A Defesa do Poeta
"Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto.
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim.
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes.
Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei.
Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição.
Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis,
sou um poeta, jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis.
Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém,
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além.
Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?
Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza,
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa.
Sou um instantâneo das coisas
apanhadas em delito de perdão
a raiz quadrada da flor
que espalmais em apertos de mão.
Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.
Comentário de um leitor, a quem, muito agradeço. Muito Obrigado.
CARA AMIGA E AMIGO LEITOR NÃO DEIXEM DE LER EM COMENTÁRIOS A ODE AOS POETAS, DE MIGUEL TORGA.
asilva
4 comentários:
Ode aos Poetas - Miguel Torga
in "Odes", 1946; "Poesia Completa", 2000)
Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!
Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.
Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz!
E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!
Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão!
Muito, muito Obrigado, por tão oportuna selecção, embora tanto tempo e tanta coisa nos separe por um lado desses longinquos anos de 1946, e, por outro, parece haver um abismo que nos aproxima.
abraço
asilva
Gostaria de entrar em contacto com o coronel andrade da silva
SOU FILHO DA SUA PRIMA DE LOIVO, MARIA DA GLORIA SILVA ARAUJO.
O PRIMO TALVEZ JÁ NÃO SE RECORDE, NO ANO 1994, FALAMOS AO TELEFONE, QUANDO EU ESTAVA A CUMPRIR O SERVIÇO MILITAR.PASSADOS ESTES ANOS TODOS, DESCOBRI NA INTERNET QUE ESCREVE PARA ALGUNS BLOGS, ONDE MUITO ME ALEGREI E FAZIA MUITO GOSTO DE ENTRAR EM CONTACTO COM O PRIMO. JÁ TENTEI TELEFONAR P/ O NUMERO QUE A MINHA MÃE TINHA, MAS NÃO ESTA ATRIBUIDO. MEU CONTACTO 962689540 E 251709200 email: paulosobrosa@sapo.pt.
UM ABRAÇO ATÉ BREVE
Bem
Eu já mandei um e-mail para o que referes e já telefonei, para o numero referido, mas não consegui entrar em contacto contigo.
abraço
asilva
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