quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

25 DE NOVEMBRO 1975, MAS ONDE ESTAVAM OS NOVE? MEMÓRIAS ESFARRAPADAS, SEM INTERESSE.



Quem viu a reportagem da RTP1 no dia 25 de Novembro 09, se tinha alguma informação sobre este acontecimento, deve ter ficado perplexo, porque até a exibição deste documentário, parecia ter sido aquela sombria acção dirigida pelo “grupo dos nove”, mas afinal parece que foi mais arquitectado pelo, então, tenente coronel( ten-cor) Almeida Bruno que com toda a isenção partidária, como lhe competia e era obrigação dos militares, contactou o CDS, partido democrático, para combater o PCP que, segundo eles, e de acordo com a análise do, então, Sr. tenente- coronel Ramalho Eanes tinha pressa em tomar o poder, depois da eleição para a Constituinte. Eleição que claramente dizia que o país estava voltado, já na altura, para o centrão, o que , cortava a meio o processo revolucionário, e, assim, disto, só se podia sair e chegar ao poder, através de uma revolução que teria como sua vanguarda o PCP e os militares otelistas (?) e gonçalvistas, estes, de certeza.

Com base nestes pressupostos é feito o enquadramento político por Melo Antunes, enquanto, para além dos contactos do Sr. ten-cor Almeida Bruno com o CDS, o Sr. Major Monge fazia com o PS, como se o “grupo dos nove” não tivesse uma ligação umbilical ao PS e outros com PSD.

Com base nesta visão com alguma lógica geopolítica, diga-se, e interpretando que as manifestações e o cerco dos operários à Assembleia Constituinte e outra bagunça eram mesmo a tentativa de tomada do poder pelos comunistas, as forças militares comandadas por aqueles militares para conterem o golpe comunista lançam as suas forças contra as unidades perigosas, em 25 de Novembro 1975.

No mesmo passo, o general Costa Gomes, adverte Álvaro Cunhal que se reagisse lançaria o país num banho de sangue, argumento que deve ter convencido Álvaro Cunhal e, por isso, o PCP regressou a abrigos seguros, também o mesmo deve ter sido dito aos fuzileiros navais e a Otelo que foi para casa, abandonando as forças sob o seu comando. A atitude de abandono das forças sob o seu comando nunca deveria ter tomado, porque se queria evitar sangue, somente cabia-lhe ficar no posto de Comando e ordenar às suas forças que ficassem em quartéis, e, desde logo, ao Regimento de Comandos, à Escola Prática de Cavalaria e ao Regimento de Estremoz, isto é, se ele fosse um comandante não teria havido 25 de Novembro nenhum, de qualquer modo nunca um comandante poderia, em circunstância alguma, abandonar os seus soldados. O acto de abandono das suas tropas é um acto inqualificável, ponto.

Mas aqui voltámos à questão, se o PCP estava a preparar um golpe, o “grupo dos nove”, através dos serviços de informação militar e outros deve ter um exacto conhecimento dos planos, assim penso, porque no 11 de Março a comissão coordenador do MFA sabia com grande pormenor o que ia acontecer, só não sabiam as datas, de resto tinham conhecimento muito perfeito do plano de operações.

Nessa altura, como delegado do MFA da Escola Prática de Artilharia, fui chamado a Lisboa e foi claramente exposto, numa casa semi- acabada, tudo quanto ia acontecer, como o bombardeamento ao Ralis etc, portanto, não entendo, como é que os que iam fazer aquilo que aconteceu, como diz o Sr. General Almeida Bruno de nada soubessem, mas a Comissão Coordenadora do MFA sabia de tudo, foi premonição?

Mas sobre este 11 Março 75, seria bom lembrar que mais um militar referido na reportagem, como estando ao lado das forças democráticas no 25 de Novembro foi o, então, sr. Major Casanova Ferreira que estando no comando da PSP, em 7 de Março 75, ordenou à PSP de Setúbal para que montasse na janela do 1º andar da esquadra uma metralhadora, a fim de fazer fogo sobre a população que cercava a esquadra, apesar desta estar protegida por um cordão de forças militares por mim comandadas, e com a garantia que sob o meu comando ninguém passaria incólume o cordão de segurança.

Acrescente-se que em Setúbal havia um Regimento que mandou uma força comandada por um oficial miliciano, meu antigo colega, como professor, na Escola Superior Politécnica do Exército e, actualmente, professor no ISCAL que logo respirou de alívio com a chegada das forças de Vendas Novas. Mas porquê Vendas Novas e o capitão Andrade da Silva? Coisas do Diabo, não haveria capitães melhores ou tão competentes no regimento de Setúbal?

Acrescento que fui sempre nomeado por ESCOLHA para estas missões, não era nem o mais moderno, nem o mais antigo, portanto, por escala nunca me caberia a sistemática primazia no comando destas acções, mas se era o pior de todos que grande seria a irresponsabilidade desses comandantes que me nomearam e louvaram, mas se estava entre os melhores, ou era mesmo o melhor, então, de que me ACUSARAM?
De ser comunista ou do PCP, porque não deixei MATAR, ASSASSINAR, MASSACRAR POVO e fazer ajustes com os latifundiários? Mas qual a moral destas encenações?

Naquele 7 de Março de 1975, uma vez mais, as forças da Escola Prática de Artilharia, com honra, orgulho, competência e sacrifício cumpriram a sua missão, e, logo, que o aspirante ou alferes Pauleta me falou da metralhadora, a colocar na já referida janela, imediatamente ordenei aos policias que a retirassem, e que se fizessem um só tiro que fosse, todas as armas que tinha para fazer o cordão de defesa seriam voltadas contra eles, e que não ficaria pedra sobre pedra, o que, foi compreendido nos seus exactos termos, sem qualquer dúvida, aliás, nunca houve dúvidas acerca do que com toda a clareza dizia, outro facto, de que os torpes acusadores se esqueceram, porquê?

O cerco durou uma noite e dois dias, ninguém foi molestado, mas infelizmente a evacuação da esquadra fez-se durante a tarde do 2º dia, com excesso de espectáculo, com uma força de chaimites, agora, comandada por um brigadeiro. Durante a madrugada a população regressou aos seus doces lares, e as condições foram as ideais para se fazer a evacuação. Nos termos em que foi feita os polícias foram humilhados, e, isto, seria de todo evitável, porque não foi?


Parece, assim, que estes militares no 11 de Março estavam num golpe contra-revolucionário que dizem desconhecer, mas que a comissão coordenadora do MFA, donde saiu o “grupo dos nove” sabia muito bem, o que é estranho, e mais estranho se torna, quando, agora, se sabe que são estes oficiais contra-revolucionários no 11 de Março que estão no comité do 25 de Novembro lutando pela democracia, ombro a ombro, com o “grupo dos nove” que em 28 de Setembro e no 11 de Março os combateu, como contra-revolucionários, para não dizer fascistas, simplesmente estranho.

Certo, certo ao meu nível é que se fui contactado pela coordenadora do MFA para após o 28 de Setembro controlar o capitão Mira Monteiro, e para no 11 de Março pegar em armas, levantar a EPA para defender a Revolução, no 25 de Novembro em nenhum encontro com os camaradas com quem me reunia ( a esquerda apelidada de gonçalvistas) foi sugerida nenhuma acção militar e, de qualquer modo, nem sequer podem dizer que estes oficiais seriam comunistas e totalitários, o que é um despudor e um acto cobarde.
Sim, porque carga de água é do PCP quem não tinha nenhuma ligação operacional ou de dependência ao PCP, mas são isentos e apartidários os que contactaram e combinaram com o PS, o PSD e o CDS a guerra do 25 de Novembro? Mas também não podem, porque muitos desses oficiais além de hoje estarem, ombro a ombro, com o tal “grupo dos nove”, têm desempenhado altos cargos a nível Governamental nos últimos governos, a não ser que fossem totalitários, mas agora já não sejam, enfim…

Mas onde pára a ética e a verdade disto tudo? E também se a comissão coordenadora do MFA tinha todos os planos da pólvora das forças spinolistas no 11 de Março, também deveria e deve ter as do golpe comunista do 25 de Novembro, porque, então, não as mostram e, já agora, gostaria de saber para que data estava combinado o golpe, e o que caberia à Escola Prática de Artilharia fazer?

Só mais um apontamento parece que quando se diz que alguém é comunista, se quer dizer que é burro que nem um penedo, mas nós não seríamos assim tanto, também se sabia que quem saísse em primeiro lugar perdia, portanto …

Mas ainda mais uma questão, se os tais “golpistas” do 11 de Março não tinham o plano de operações que a comissão coordenadora do MFA conhecia, e se foi desta comissão que saiu o “grupo dos nove”, e que também ninguém sabe quem deu a ordem aos pára-quedistas para ocuparem as bases no 25 de Novembro 75 que páginas tantas, também não sabiam que iam fazer isso, mas fizeram, o que é que isto poderá querer dizer?

Embora não seja especialista em enigmas ou coisas policiais, parece-me que houve a reincarnação de um Richelieu. Será que quem fez as listas dos oficiais a prender no 11de Março, foi o mesmo que se diz que as fez no 25 de Novembro, mais concretamente, qual terá sido o papel histórico no meio disto tudo da CIA, e do, então, major/ ten-cor inquisidor-mor e do MRRP,(?) como geralmente se dizia sobre o Sr. Major Aventino Teixeira , o que tem alguma consistência democrática, porque um dos mais ferozes e aguerridos adversários do PCP era o MRRP, pelo que talvez para a direita fosse muito democrático .

O papel do PS nesta acção é mais dedutível, a nível internacional pela ligação a Carlucci e ao chanceler alemão e a nível interno ao “grupo dos nove”. Évora nas vésperas do 25 de Novembro encheu-se de slogans do PS a proclamarem: PEZARAT AMIGO O POVO ESTÁ CONTIGO.

Claro que não descarto a hipótese que o grande arquitecto das derrotas primeiro dos spinolistas que depois são recuperados para derrotar os Otelistas e os Gonçalvistas, seja uma alma e um inspirador do “grupo dos nove”, tendo ou não como alter-ego comum o do Sr. general Eanes que ao que se dizia seria o major Aventino Teixeira, que, como Deus, por ter muitos cargos, ao que diziam, estava em toda a parte, ou seja, em nenhures, ao não ser nos locais duros da alto conspiração.

Pessoalmente não conheci, este major- cardeal, mas tenho pena, porque ao que dizem era muito inteligente e perverso politicamente, e, só por isso, acho-o capaz de ser um dos Richelieu destes tempos. Ele ou outro, se as coisas se passaram assim, são mentes diabólicas, mas inteligentíssimas. Mas a alma disto tudo pode estar no grupo dos nove, e pode não ter sido a mente brilhante de Melo Antunes? Então quem?

Mas se sabiam que não havia um golpe comunista em marcha, porquê e para quê puniram, estigmatizaram militares que estavam no canal de comando legitimo: Chefe Supremo das Forças Armadas, Chefe do Estado Maior do Exército, Comando Operacional do Continente?

Entre muitos, este era o meu caso, em que o general Fabião a um pedido do brigadeiro Azeredo para ir ajudá-lo a resolver a questão agrícola da Madeira, então, com uma estrutura medieval, não o permitiu, por considerar que a minha presença no Alentejo era uma garantia de não correr sangue. Por aquilo que vivi, julgo que foi mesmo assim, afirmo-o sem qualquer pitada de narcisismo, mas com muita honra e orgulho. A honra e orgulho que os meus pais plebeus me ensinaram, pelo exemplo.

Nem sei se no meu caso terá algo a ver com ser adjacente, lá das ilhas, e de me “armar em esperto”, como o grande Melo Antunes e o Major Morais da Silva me diziam e ameaçavam. Numa dada reunião ameaçaram-me, porque tinha “ a mania de ser esperto, mas que ainda me “lichava”, - Melo Antunes, anos mais tarde, pós 25 de Novembro, numa comemoração do 25 de Abril no Teatro Aberto há-de cumprimentar-me, incitando-me, com a expressão – FORÇA!, mas, então para quê? - quando barafustava contra um dado comportamento sobranceiro da marinha, que muito me irritava, habitualmente pela voz do comandante Victor Crespo ou outro lá iam afirmando que se fossem eles a fazerem as coisas tudo seria mais avançado,, mas na hora da verdade… enfim, era difícil vê-los nas primeiras linhas, coisas….

Enfim, memórias sem interesse. A história não é feita nem destes pormenores, nem por quem quer, mas por quem pode.

Andrade da silva

7 comentários:

Marília Gonçalves disse...

a História um belo dia levanta-se do pó

e torna-se Luz!

Marilia

Anónimo disse...

Os homens erram, os grandes homens confessam que erraram.
Voltaire

Anónimo disse...

A história é apenas uma série de crimes e desgraças.
Voltaire

Marília Gonçalves disse...

Não há segredos que o tempo não revele.
Jean Racine

andrade da silva disse...

Mas a história também pode ser outra coisa que não só crimes e sangue, e esta compete ser feita por quem ama a vida, o mundo e o homem.
abraços
asilva

Anónimo disse...

Um Grande Abraço Solidário de Vendas Novas.

andrade da silva disse...

Grande Abraço para Vendas Novas e todo o Alentejo.
asilva