quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

GENERAL INVERNO VIVO E PRESENTE


Desde há muitos anos que, quando chego à Madeira, vejo com preocupação o afunilamento das Ribeiras e a construção de casas em zonas de risco, em terras que pela sua abundância de água têm nomes como Serra de Água. Todavia diziam-me, os que julgam que sabem destas coisas, que a pluviosidade tinha diminuído, e que os Invernos à antiga já não regressariam. Sempre duvidei destas teorias, exactamente porque sou um ignorante impenitente, enfim…

Mas seja como for este ano, porque tinha de viajar para a Madeira no dia 27 de Dezembro dei cuidada atenção aos sinais do mau tempo, e, assim, verifiquei que no amanhecer do dia 27, o esplendoroso Sol foi sendo, cada vez mais, submerso por densas e cinzentas nuvens que o venceram , já lá vai para meia dúzia de dias.

Tendo embarcado nos muito seguros aviões da TAP, honra a esta grande companhia Nacional – não só os estrangeiros dizem bem das nossas boas coisas, pelo menos, delas falo – atravessei um furacão ao aterrar no Funchal. Foi uma sensação muito estranha, julguei-me a ver um daqueles filmes em que os aviões atravessam um temporal, com o avião a dançar por tudo quanto era sitio, rompendo com os motores na potencia máxima o temporal à procura de terra segura. Pensei como, por segundos, debaixo de um ruído ensurdecedor dos furiosos ventos, toda aquela gente, 200 e tal pessoas, estavam a viver um experiência em comum que poderia ter os seus percalços e, bem perto de mim, viajava uma alta patente militar, um Major- General que viveu esta experiência. Desta feita ambos e todos nos safamos, mas nem sempre é assim, apesar da baixa probabilidade, o fim da história podia ser outro. Como frágil é, ou pode ser, a vida para quem quer que seja, realidade bem conhecida de quem já combateu nas linhas da frente, lá, onde, se morre.

Tudo isto para proclamar a presença viva e vigorosa do general Inverno com as suas divisões de ventos furiosos, chuvas torrenciais, mares revoltos, isto é, vi na Madeira os Invernos assustadores de quando era pequeno. Vi aquelas ondas enormes, aquele uivar fortíssimo dos ventos, aquele fustigar das chuvas que como chicotadas nos beijam a face e molham até aos ossos.
Senhoras e senhores tenham juízo - o general Inverno não está morto.

Lamento os sofrimentos; lamento e condeno os crimes contra a natureza; lamento e condeno que se construam casas em zonas de cheias e de risco de desabamento de terras; lamento a angústia de muitos e o abandono a que as autoridades votam os desprotegidos, porque os pobres e o povo só existem nas vésperas de eleições, fora deste contexto somos invisíveis, não existimos. Só existem os poderosos e os que aparecem todos os dias nas TV, os demais somos considerados um bando. Todavia glorifico a poderosa natureza.

Sinto uma grande sintonia com a natureza, apesar do “sustinho” que apanhei, e de estar retido em casa por causa das chuvadas. Adoro, de facto, esta invencível e insubmissa natureza. Glória à Natureza. Solidariedade para os que sofrem e um alerta aos decisores:

MEUS SENHORES VÓS PRENDEIS, MATAIS, ENGANAIS OS HUMANOS, MAS SOIS IMPOTENTES PERANTE A VIDA CÓSMICA. ABANDONAI A VOSSA ARROGÂNCIA E RESPEITAI A NATUREZA. TENDE JUÍZO OU MORREREMOS: NÓS E VÓS. NÓS PRIMEIRO, MAS VOSSEMECÊS IREIS DEPOIS.

andrade da silva

PS: BOM ANO PARA AMIGAS E AMIGOS QUE NOS ACOMPANHAM NESTA AVENTURA SEM REDE, SEM MECENAS, QUASE CLANDESTINA DE SER SIMPLESMENTE IGUAL A SI MESMO, LIVRE E AMAR UNILATERALMENTE, SEM ESPERAR RECOMPENSA, O OUTRO E A NATUREZA, A ISTO, CHAMAMOS LIBERDADE E CIDADANIA.

Marília não esqueci o desafio sobre a análise psicossocial à violência. O texto está feito, considero-o interessante, se fosse outro a escrever diria
que na minha opinião estava inspirado, mas como no caso da carta da canção, não tenho ninguém por quem o mande, mas virá à luz do dia.

3 comentários:

Unknown disse...

Bonito o seu texto, sobre a experiência vivida e sofrida !!!!!!Deve ter sido bonito e assustador. Tem toda a razão, nós pouco mandamos, vamos ficando com a sensação, mas ela também é boa.Bam ano para si e para todos. Fernanda Neves

Marília Gonçalves disse...

BOM ANO NOVO Companheiros, Amigos, Leitores
Que o Ano 2010 seja um Ano de concretizações, de coragem e de luta, por um Portugal prospero e justo, em que o povo reencontre o direito a sonhar e a sorrir!
Sejamos pois activos na nossa Esperança para que a realidade possa estar à altura do que mais desejamos:
Um Portugal de Abril!

abraço amigo
Marilia Gonçalves


Caríssimo Companheiro Andrade e Silva, nunca tive dúvidas sobre a sua capacidade de responder com brio e idealidade consciente às perguntas que fiz, aflitivas perguntas, sobre a violência e os caminhos a procurar!
Quanto ao susto alado que apanhou, creia que teve grande piloto da nossa Tap, a dirigir tal situação!
há momentos em que gostaríamos de ter asas também... mas o facto é que a TAP foi sempre e continua a ser merecedora da maior confiança, sei do que falo que meu marido nela passou a vida activa quase toda!
o meu abraço para si, e coma por aí uma bela fatia de bolo de mel à nossa saúde
FELIZ ANO NOVO e bom regresso
Marília

andrade da silva disse...

Obrigadas Amigas
Obrigada Dra. Fernanda. Bom Ano.

Julgo que devo ter exagerado um pouco no susto aéreo,de facto quis dizer uma palavra mais militar, mas lá arranjei uma mais suave, mas depois de 40 anos a voar e depois de duas idas à Bósnia em pleno inverno aquele voo foi o mais assustador, mas o mais importante está na mestria dos grandes pilotos e pessoal da TAP, é como os vejo, apesar das viagens serem caras.

José Augusto a falar em TAP não posso deixar de me lembrar da tua simpática filha que também faz parte desta grande equipa, um grande abraço para ela e para ti.

Bom ano para vocês todos.

Marilia o meu texto não a vai tranquilizar, porque, infelizmente, na minha opinião há mais de Hitler em cada um de nós do que de Teresa de Calcutá, as sombras e a hostilidade estão mais presentes na vida dos povos do que a fraternidade, mas devemos fazer o que podemos para que não seja assim.

BOM ANO.
asilva