sábado, 5 de dezembro de 2009

VÍRUS H1MORTE1 CONTRA O 25 DE ABRIL 74


A propósito do post do Augusto em defesa da casa do Salgueiro Maia.”



Matam as memórias, matam as pessoas, civilmente, e tudo, o egoísmo consente. Estamos, há tanto, à beira do abismo, mas poucos querem saber disto. O regabofe é do salve-se quem puder, como, aliás, sempre foi a regra neste Portugal.

SALVEMOS A MEMÓRIA DO 25 de ABRIL, mas também protestemos contra o derrube sistemático não só da memória, mas dos tais capitães de Abril vivos que se não forem de Novembro, ou do 11 de Março 75 são tratados como párias e inimigos da Nação, são mesmo objecto de escárnio e ódio, porque ser de Abril, defensor da liberdade para o Povo, é ser pior que era um comunista no fascismo. É como ser um negro no regime de segregação racial da África do Sul no tempo do apartheid: não se prende, não se mata, pura e simplesmente, o ente, não existe. É o que a maioria também faz com os sem abrigo, eles são transparentes, ninguém os vê, não existem.

É deste vergonhoso modo que as esquerdas e as direitas procedem para com os capitães reais, efectivos, do 25 de Abril. Só que as esquerdas e os centros-esquerdas falam em abstracto para os seus militantes dos capitães do 25 de Abril, seria vergonhoso e mau para os lideres não o fazerem, porque o povo é grato, mas no fundo desprezam-nos, porque não fazemos parte das galerias particulares e patrimoniais dos únicos e exclusivos heróis, os seus, os dos partidos.

Portugal não pode sobreviver com dignidade e liberdade a tanto desaforo velhaco com um cheirinho a neo-fascismo e neo-nazismo, com tanto e tamanho desenvolvimento e liberdade de acção em Itália.

Para quem julga que o fascismo, embora, diverso do mussulinismo, nazismo e salazarismo nunca mais regressa, seria oportuno lerem a impressionante reportagem sobre as mil liberdades dos neo-nazis italianos, sob a protecção de Berlusconi e do neo-fascista Presidente da câmara de Roma que a revista Visão publicou na semana de 18 a 25 de Novembro, e, logo, se aperceberão, como esta Europa dos barrosos, dos chernes, tudo consente.

Por ora, SALVEMOS A CASA DO SALGUEIRO MAIA, que na minha opinião foi um dos heróis individuais do dia 25 de Abril, ele e o grande soldado que não disparou sobre este grande capitão, e de quem miseravelmente não se fala, e tanto a liberdade e a vitória do 25 de Abril lhes ( ao soldado e ao alferes que não cumpriram a ordem para executarem o Salgueiro) deve.

Tudo teria sido muito diferente, se tivessem morto o Salgueiro Maia, falo, porque sei a grande vontade que a Escola Prática de Artilharia tinha para vender cara a derrota, claro depois de afastar o cavalo de Tróia que a comandava, um capitão do 24 de Abril, que, por conveniência e esperteza, se fez do 25 de Abril. Se a coisa desse para o torto, o cavalo de Tróia, sabia bem como safar-se, bastava denunciar os mais activos à PIDE. Misérias tristes, estas, daquele grandioso dia que até foi capaz de vencer a víbora fascista que transportava no seu ventre.

Mas a quem interessa saber outras verdades daquele dia, se as verdades são peçonha? As mentiras oficializadas dão segurança, a tal ponto que um homenzinho escreveu uma história da Escola Prática de Artilharia em completo delírio, quando fala da tomada da unidade no 25 de Abril. Nada do que conta é verdade, e a sua incompetência é de tal ordem que a história que narra é o oposto ao relatório da operação que pública, claro, este, em letra ilegível. Truques velhos, mas que se dão resultado nos contratos aldrabões dos bancos e das companhias de seguros, porque diabo não haviam de surtir o mesmo efeito ao nível da aldrabice da história?


Claro que nada disto, é o necessário e suficiente para fazer soçobrar um país com dez séculos de história, mas que o enlameia, enlameia, ou talvez mesmo, nem isso!

PORTUGAL DE ABRIL QUE TE FAZEM? PORQUE SUCUMBES? ONDE PÁRA O LENDÁRIO POVO QUE ENCHEU AS RUAS DE LISBOA PARA QUE O FASCISMO PARTISSE PARA TODO O SEMPRE?

NÃO GRITO DE RAIVA OU FRUSTRAÇÃO, LADRO PARA DENUNCIAR A CARAVANA DE MALDADES, ESCÂNDALOS, MENTIRAS QUE PASSA. MAS SEI QUE HÁ PIORES E MAIS HORRIPILANTES CARAVANAS DE TIRANETES NA ITÁLIA, NA RÚSSIA, NA CHINA, NO UGANDA, NA SOMÁLIA, MAS QUE CONFORTO ME DÁ A EXISTÊNCIA DE SOMBRAS E VÍRUS MORTAIS NÃO SÓ SOBRE A MINHA CASA, QUANDO ESTES ME PODEM MATAR, O QUE, PARA MIM, COMO PARA TI, SERÁ SEMPRE A DERROTA TOTAL E ABSOLUTA.

PORTUGAL!

andrade da silva

PS:
Memórias

A última vez que vi Salgueiro Maia estava eu em convalescença no hospital militar principal, por causa de uma operação à sinusite – fui considerado pelas enfermeiras um doente tranquilo, que dava pouco trabalho, estranharam mesmo que nunca me tenha queixado de uma dor, ou um qualquer incómodo, disse-lhes que não havia nada de extraordinário nisso, não tinha sentido nada de anormal. Já antes num endireita o homem estranhou o meu silêncio, quando me recolocava um dedo no respectivo encaixe, mas aqui ele mandou-me abraçar a uma grande “ brasa”, anestesia sobrenatural, mas a coisa foi de tal excepcionalidade que o senhor perguntou o que fazia na vida, respondi-lhe militar, capitão inquieto, e o bondoso endireita exclamou: Ah!... enfim, mas dor, dor senti -.

O Salgueiro apareceu por lá todo muito folgazão e dinâmico, como sempre o conheci, a convidar o pessoal de enfermagem para um qualquer encontro. Sabia-o doente, mas não com que grau, todavia estranhei o distanciamento com que me falou, era seu amigo, embora não intimo, tinha conspirado na sua casa – o tal grupo das unidades tipo A de que ninguém fala, pelo que nem sei que estrutura seria aquela - e apesar de ter participado no 25 de Novembro, a partir do qual passei a ser perseguido e punido,, desculpava-o, porque, segundo o Dinis de Almeida, ele lhe terá dito junto ao Ralis que as sua forças nunca fariam fogo contra nenhum camarada e que essa função cumpriria, consequentemente, pareceu-me alguém dividido, por tudo isto muito estranhei a sua frieza, mas a vida é assim, o ser humano é muito instável, coisas…

Mais tarde soube da gravidade da sua doença e da sua tão funesta consequência, e, aqui, já com os meus conhecimentos de psicologia reinterpretei o seu comportamento, estaria na fase de negociação ou negação do cancro, e não estaria disponível para falar de MFA, ou coisas tais, ou mesmo da minha doença, compreendi-o, porque é considerado que no caso das doenças terminais os doentes passam por várias fases uma, a da negação - isto não me pode estar a acontecer; outra, a da negociação - isto está acontecer, mas vou-me salvar os médicos, as descobertas, Deus vão-me salvar; outra, a da revolta, da depressão, enfim, nada está a resultar, estou perdido, mas ainda a pessoa luta; outra, a do completo abandono, o doente já não quer viver mais, mas a família, esta, por amor e esperança e à mistura algum egoísmo, é preciso dizê-lo – a falta que ele/ela me fará - e a moral podre dos hipócritas e da Igreja Católica – o verdadeiro ódio ao homem - querem o homem doente a sofrer até morrer – MALDITOS! – ( o meu pai em fase terminal escrevia-me da cama do hospital a dizer que se queria enforcar, tinha eu 16 anos – Malditos, grandes fp).

A hipocrisia é maior, porque os doutores da Igreja e os demais poderosos terão cuidados paliativos a 250€ dia no Hospital da Luz, para além do custo dos tratamentos, enquanto, os desgraçados podem até morrer, agonizarem, num corredor de um qualquer hospital, ou na morgue dos vivos, a sala dos cuidados intermédios - falo de factos vividos e não de historiazinhas das telenovelas - do Hospital Curry Cabral, incidente desumano que aconteceu, como aqui já dei noticia, a um amigo meu, e, que, apesar de ter sido objecto da respectiva reclamação e queixa policial nada ainda aconteceu.



1 comentário:

Marília Gonçalves disse...

no ritual do riso

despe-se o olhar de sombra

acumulado e triste

paraíso? não existe!

apenas este esforço, esta vontade

de transformar o mundo

o mundo que nós somos

tão profundo

que o passo conseguido

é do passado e é vencido.

Mas esta teimosia irreverente

esta consciência aguda de ser gente

vai-nos soltar a voz até ao grito!

Ah glória a todos nós

por tanto gesto aflito.

por este tropeçar e prosseguir.

por este querer andar

mesmo a cair

e levantar o mundo de amanhã.

Glória a todos nós à humanidade

que leva ao peito a ferida d' ansiedade

e grita ainda que a espera não é vã.

Glória a ti pois. A ti!

`Ó homem que te elevas

monstro parindo as suas próprias trevas

e nelas chora e ri



Marília