domingo, 3 de janeiro de 2010

PRESIDENTE DA REPÚBLICA: O NIM E A REELEIÇÃO

O Sr. Presidente da República traçou a bissectriz do ângulo zero, nulo, vazio, deu negativa ao governo e à oposição, mas disse que o governo tinha de governar. Apesar de estar a governar mal, vai governar, porque tem legitimidade para isso, mas terá de fazer alianças com as oposições e estas com o governo. Não se vê bem como, mas lá terá de ser, segundo julga o Sr. Presidente

O governo aceita fazer alianças para cumprir o seu – muito seu e exclusivamente seu programa – e as oposições só aceitam negociar para que o governo cumpra outro programa, que não seja o seu que acabou por ser sufragado somente por uns 15% dos 10 milhões que somos, o que, também não importa nada.

Também é verdade que o que o Sr. Presidente disse foram meros lugares comuns, e o que disse de substantivo são as ideias, uma a uma, das oposições.

Obviamente que um governo minoritário tem de negociar, isto é, num contexto de negociação, o governo e as oposições têm de criar compromissos, ou dito de outro modo, o programa de governo efectivo não poderá ser bem o do PS, nem o das oposições, terá de ser um mais democrático, negociado. Qualquer democrata compreende isto, mas a condição indispensável é ser intrinsecamente democrata.

Mas o Sr. Presidente fez uma afirmação gravíssima - caminhamos para uma situação de explosão social - resta saber quando e como a mesma vai eclodir. É certo que as desigualdades e a corrupção se não forem estancadas tanto em Portugal, como na China, romperão o equilíbrio social, e o seu restabelecimento poderá ser feito pela direita e a extrema-direita. Para desgraça de todos nós pode ser esta a solução suicidária na Europa e em Portugal. Mas o Sr. Presidente da República pode forçar a aliança ao nível do centrão, o que, adiará a explosão, podendo, assim, garantir a sua reeleição.

Todo o discurso do Sr. Presidente da Republica é o de cônsul do Regime, entra em competição nesse papel com o de outros candidatos à presidência da República, mas parece-me com vantagens para a sua candidatura.

De qualquer modo com estes cônsules tudo se vai manter na mesma, é um mero adiamento, porque em Portugal e na Europa, primordialmente tem é de se fazer um novo contrato social e civilizacional. Sem este, de facto, a médio prazo a situação vai tornar-se explosiva. As velhas mezinhas adiam, camuflam, mas não curam. (Em breve abordarei este novo contrato civilizacional, de que já falei a alguns, sendo por uns apedrejado selvaticamente e por outros aplaudido, e nestes estiveram em lugar de destaque as mulheres, por isto a minha Pátria, chama-se Mátria).

Mas o que disse realmente o Sr. Presidente da República?

Julgo que a melhor pista de leitura é dada pelo arguto Filipe Menezes, o Presidente da República, de um modo muito claro, disse que o governo vai mal e a oposição também, pelo que o pais está numa encruzilhada, e ele não fará nada até à sua pretendida reeleição, então, com renovada legitimidade democrática unipesssoal, mandará de férias o mau governo e o Sr. Eng. Sócrates a quem, por razões intrínsecas, extrínsecas e transcendentes não suporta, e, isso, nem a trilateral é capaz de alterar. Mas para que tudo isto aconteça serão precisas várias coisas, a saber:

Como diz Filipe Menezes, se o país está mal, o PSD está pior, portanto, os trunfos do Sr. Presidente da República para a sua reeleição serão:

1 – O concerto do PSD e a sua aliança com o CDS para converterem a maioria sociológica de direita em maioria politica;

2- É um Cônsul, mais bem colocado que outros que chamam a si esse papel, porque no actual quadro parlamentar tem a capacidade de fazer pontes preferencialmente à direita PS -PSD ou PSD-CDS, o que agradaria mais à Europa e também como se tem visto pontes à esquerda com o apoio do Bloco de Esquerda, e ninguém o pode acusar de anti-comunista feroz, como Reagan denominou Mário Soares, o que é uma longa e vasta escola e prática no PS que vai muito para além dos ditos Soaristas que também são furiosos anti-esquerda socialista;

3- No caso do mau governo do PS levar à sua inevitável demissão lá para os meados de 2011 pretende o actual PR que o PSD sozinho ou coligado com o CDS obtenha a maioria absoluta, e, assim, ele, é o melhor candidato do Portugal real – não insistam que sociologicamente somos uma maioria de esquerda, leiam com atenção o caso de Beja, até porque o PS se cinde entre esquerda e direita, sociais-democratas e liberais, neste último caso por causa da inexistência do partido liberal, mal que também afecta o PSD e toda política nacional – para realizar o grande sonho da direita, uma maioria parlamentar, um governo e um presidente, sonho de Sá Carneiro que até o tentou efectivar, com recurso a um militar muito de direita e tão apagado como Américo Tomás.


Seria importante saber que atoardas e patetices as pitonisas do regime e do radicalismo pequeno-burguês têm para esta situação dilemática ou outra qualquer equação problemática, sendo certo que a análise que aqui se faz e outras pela sua grande crueza probabilística serão esquecidas, põem a nu o que se quer escondido, e não interessa a nenhuma oligarquia partidária, o proclamar-se, como emerge da realidade, que uma verdadeira alternativa exige novos sujeitos políticos.

Neste quadro que pode tornar-se trágico a não ser que muitos desejem, sem o confessar, o regresso a um regime criminoso de extrema-direita proto- fascista, adaptado aos tempos de hoje, é preciso fazer emergir novos lideres e nova força politica que revolucione no sentido da dignidade e do fim da actuação oligárquica, o modo de ser e fazer politica.

Nesta estrumeira o que mais aparecem são lideres que submergem e não líderes impolutos, corajosos, dignos, independentes que emirjam deste contexto, e que com criatividade, inquestionável espírito democrático criem um novo ambiente em que seja possível desenvolver a plena capacidade dos portugueses na construção do seu futuro, que começa por um presente digno, com trabalho para todos os jovens, protecção para todos os indigentes e para os milhões de idosos que já hoje constituem a nossa população.

Não posso deixar de manifestar a minha angústia e revolta pela silêncio cúmplice e mesmo apoio a este estado de coisas daqueles, a quem o povo chamou de CAPITÃES DE ABRIL. Para além dos que se alimentam das benesses do poder, onde estão estes heróis da Pátria? Para além destes que são iludidos com migalhas do poder, será que muitos outros não vegetarão nos becos da imbecilidade da cidade, restando muito poucos para ladrarem? Mas isto será moral ou patrioticamente, mas sobretudo, matrioticamente aceitável?

Que diria a Natália Correia aos gloriosos e vetustos capitães do 25 de Novembro que iam ao Botequim receber a força da Alma da Diva? Será que estão a honrar a sua amizade? Será que ela com a sua verve não lhes faria, agora, um terrível e nefando poema – um libelo fulminante?


Bem, do deserto falei, e deixo aqui um testemunho pungente – mais pungente, porque também me queria calado, só as gritantes injustiças e um imperativo ético, moral e nacional e a amizade sincera e companheira de alguns me alentam neste louco e ridículo persistir contra os castelos da ignomínia, da intolerância e da manipulação - que os donos da cidade e das almas atirarão à fogueira, mas seria bom que todos pensassem que quem alguma vez por pensamentos, desejos, omissões ou actos tenha atentado contra a liberdade de expressão é uma alma gémea de D. Alberto João e, por isso, não está em condições morais, democráticas e civilizacionais para liderar Portugal e os Portugueses no Futuro, para que este seja realmente FUTURO.

Funchal Madeira 3 Jan. 10

Andrade da silva

PS: o Diário de Noticias da Madeira e outros revelam que em Portugal vive-se num regime com dois sistemas um no Continente e outro na Madeira, onde, a Constituição da República não vigora, o mesmo diz o sindicato da PSP, e talvez o mesmo confirme o silêncio do cónego Manuel Martins, transferido a seu pedido (?) da paróquia da Sé, para a de Machico, depois de ter falado da pobreza na cidade, e ter distribuído culpas aos governos da República e Regional. Coisas parecidas com outras que muitos calam e consentem, feitas por falsos democratas que também existem aos montes no Continente, e pior são multicores, mas no fundo veneram os REIS BOKASSAS, são seus discípulos.

5 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Companheiros
Quando o povo não intervém, como mudar o País?
de quem esperar o que o povo se recusa: o direito de ser o sujeito na peça real a que se assiste?
é ao Povo de Portugal de erguer a voz
e dizer quando se farta de excessos de pouca-vergonha e desfaçatez. Quem pode acudir a quem não se queixa?
Povo de Portugal é de tua vida que se trata, peça única onde por uma só vez és o actor!
não o sejas de forma passiva, que a tua quietude contra ti se volta e voltará!
Grita por ti, chama pelos teus, esses que partilham, mesmo se os não conheces, os mesmos dramas, as mesmas dores, mágoas, aflições!
unam-se pelo direito de existir!!
Faz ouvir a tua voz!
Aqui estou
Marilia Gonçalves

Ana Rita disse...

"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Mas há aqueles que lutam toda a vida, e esses são os imprescindíveis"
- Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão

Marília Gonçalves disse...

Molière: “Nous ne sommes pas seulement responsables de ce que nous faisons, mais aussi de ce que nous ne faisons pas.”

Anónimo disse...

"Um grama de ação vale mais do que uma tonelada de teoria”.
- Friedrich Engels

andrade da silva disse...

Concordo que a acção é fundamental, mas como dizia Marx o homem distingue-se dos demais animais por ter a capacidade de prever as consequências da sua acção, conceber antes de realizar: acção sem visão é comportamento temerário, visão sem acção é paralisia, interessa pois juntar visão e acção para a construção do Futuro, mas naturalmente que neste espaço falamos mais da visão, para acção serão precisos muitos mais cinco, a trazerem muitos mais cinco, o que, por razões várias e algumas muito óbvias não está a acontecer com este blogue, não há falsas ilusões, mas é imperativo insistir, também nas vésperas do 25 de Novembro fui avisado por um meu grande amigo dos nove que se não desse o fora me ia lichar, o que sabia, todavia continuei, até ser derrotado, deportado para a Madeira e finalmente preso ao lado do povo alentejano, na luta iniciada no 25 de Abrilm 74. O imperativo ético assim o determinava.

Ana Rita
Um abraço escreva para este espaço ele também é seu. É de todos.

Abraços
asilva