terça-feira, 23 de março de 2010

ONTEM.... HOJE?!... AMANHÃ?!....


Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

JOSÉ RÉGIO

Soneto (quase inédito), escrito em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos.
Enviado por e-mail, por uma amiga.

2 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Companheiros, Amigos, Leitores

ai as repetições da Historia!...
mas nem todas se vão repetir, como o tempo do 24 de Abril
ou um 25 de Novembro!
Mas é inacreditável como os os nossos poetas e escritores se podem manter actuais na estagnação politica e governamental...
até um dia!
Marília

Eça de Queiroz e Guerra Junqueiro - Analistas em 2009

Portugal está perdido.

O país perdeu a inteligência e a consciência moral.

Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.

Os carácteres corrompidos.

A prática da vida tem por única direcção a conveniência.

Não há princípio que não seja desmentido.

Não há instituição que não seja escarnecida.

Ninguém se respeita.

Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.

Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.

Alguns agiotas felizes exploram.

A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.

O povo está na miséria.Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.

O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.

A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.

Diz-se por toda a parte, o país está perdido.


Eça de Queirós

Lisboa, 1871


“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

[…] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro […]

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

[…] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos […] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, […] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar…”

Guerra Junqueiro
1920
Mas outro dia começa, os povos acabam sempre por despertar! Veja-se o sobressalto na Grécia, as eleições na França, quem esperava que o Sarkozy quando ganhou as presidenciais, caísse tão rapidamente na opinião popular?
o Capitão esteve no Alentejo, falou e ouviu o povo Alentejano, outros noutros locais ouvirão a mesma revolta o mesmo descontentamento.
O Povo, as mães acordam sempre quando os filhos têm fome!
Eu acredito no Povo de Portugal!
por conseguinte acredito no Futuro!
não há fatalismo que a Unidade Popular não vença. E a Unidade vem ai!

abraço
Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

sobre os plebeus vou postar um texto, amanhã.


Aos plebeus,o que é dos plebeus, à impotência das elites o que é das elites.
asilva